Epístola Aos Efésios
INTRODUÇÃO
Paulo
escreveu esta epístola na condição de prisioneiro e tudo indica que ele estava
em Roma, entre o ano de 61 e 63 d.C.
A quem Paulo
destina esta Carta? Hoje há muitas dúvidas se a carta foi dirigida aos cristãos
de Éfeso, pois as palavras “em Éfeso” não estão presentes em alguns dos
manuscritos que estão entre os considerados mais confiáveis. Era provavelmente
uma carta destinada a circular entre as igrejas domésticas de Éfeso, seus
arredores e, sobretudo, as comunidades do vale do Lico.
É uma
notável síntese de Paulo sobre a condição de Jesus e a revelação do Amor como
caminho de redenção para todos.
Quando Paulo
escreveu aos Efésios, ele já não vivia para o Cristo, mas em Cristo. Isto
explica toda a carta. Ele queria comunicar toda a extensão do entendimento que
havia alcançado sobre o Cristianismo e despertar, nos corações dos cristãos, o
mesmo amor, a mesma fé, a mesma esperança que sentia em seu coração.
CONTEÚDO
Os Desígnios Misericordiosos de Deus: a
redenção
Paulo inicia
louvando e agradecendo a Deus pela sua Misericórdia e Amor, pois Ele nos enviou
Jesus para nos revelar a Lei do Amor e, através dela, ser propiciada a
reconciliação de todos os Homens, pois que todos são filhos de Deus.
Nas mãos
misericordiosas de Jesus repousam os destinos da Terra. Ele é o enviado de
Deus, tanto para os judeus, que esperavam o cumprimento das profecias, como
para os gentios, pois Deus não faz distinção entre as pessoas.
Paulo afirma
que, em suas orações, roga a Deus por todos, para: “Que Ele ilumine os olhos
dos vossos corações, para saberdes qual é a esperança que o seu chamado
encerra, qual é a riqueza da glória da sua herança entre os santos e qual é a
extraordinária grandeza do seu poder para nós, os que cremos, conforme a ação
do seu poder eficaz.” (Ef 1:18-19).
Esta é a
suplica que Paulo endereçava a Deus por todos os cristãos. Que bela esta
metáfora acerca “dos olhos do coração”, para que o cristão possa iluminar a sua
visão através do sentimento de fé.
A necessidade da renovação espiritual
No capitulo
2, Paulo assinala que a redenção é alcançada pela renovação espiritual. Muitos
de nós, antes do conhecimento do Evangelho, agíamos de acordo com as nossas
tendências inferiores, buscando a satisfação de nossos desejos, sintonizados
com os Espíritos inferiores, e, assim, caminhávamos em desacordo com as Leis de
Deus.
No entanto,
Deus, em sua Misericórdia, pelo muito que nos ama, enviou-nos Jesus para que
ele nos revelasse qual é a Lei Divina que nos propicia a libertação do mal, à
medida que nos esforçamos para vivenciar o bem.
O Homem
alcançará a vitória espiritual pela fé em Jesus, o que implica em aceitar o que
ele nos ensinou e a seguir a sua exemplificação.
Portanto, a
salvação não vem pelas “obras da lei”, pois estas obras dizem respeito a
preceitos exteriores, que são ineficazes para transformar o Homem. A redenção
vem pela prática das boas obras.
Em “O Livro
dos Espíritos”, na questão 653, Kardec indaga:
P. “A
adoração necessita de manifestações exteriores?”
R. “A
verdadeira adoração é a do coração. Em todas as suas ações, pensai sempre que o
Senhor vos observa.”
Desde que
fomos criados por Deus, estamos destinados a viver a Lei do Amor, conforme a
sua vontade.
“Pois somos
criaturas dele, criados em Cristo Jesus para as boas obras que Deus já antes
preparara para que nelas andássemos.” (Ef 2:10).
A reconciliação entre todos
“Ele é a
nossa paz: de ambos os povos fez um só, tendo derrubado o muro da separação e
suprimido em sua carne a inimizade - a Lei dos mandamentos expressa em
preceitos - a fim de criar em si mesmo um só Homem Novo, estabelecendo a paz, e
de reconciliar a ambos com Deus...” (Ef 2: 14-16).
Os judeus
consideravam-se o povo eleito e acreditavam que as obras da lei tomava-os
justos perante Deus. A aliança com Deus dava-se pela prática da circuncisão.
Para eles, os gentios, como incircuncisos, estavam excluídos do plano da
salvação. Mas, com Jesus, todos são chamados a viverem segundo a verdadeira Lei
de Deus, diante da qual todos os atos de adoração exterior ficavam destituídos
do sentido que lhes eram atribuídos. Jesus vem para edificar o homem novo, para
reconciliar todos os povos, na medida em que revela que somos todos filhos de
Deus.
Estas
considerações, escritas há tanto tempo, infelizmente prosseguem como
advertências nos dias de hoje, pois quantos religiosos continuam a preconizar
que só a religião a que eles pertencem é o caminho para Deus.
Em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XV item 8, Kardec referiu-se ao dogma
‘fora da igreja não há salvação’, nos seguintes termos:
“É, portanto,
exclusivista e absoluto. Em vez de unir os filhos de Deus, divide-os. Em vez de
incitá-los ao amor fraterno, mantém e acaba por legitimar a animosidade entre
os sectários dos diversos cultos. Esse dogma é, portanto, essencialmente
contrário aos ensinamentos do Cristo e a lei evangélica.”
E contrapôs
a esta máxima, aquela que indica o caminho da evolução espiritual: “Fora da
caridade não há salvação”, lema este que é o titulo de uma mensagem trazida
pelo Espírito Paulo, em 1860, em Paris, que consta no item 10 do mesmo capítulo
acima citado.
No tocante a
esta máxima, Kardec assevera:
“A máxima -
Fora da caridade não há salvação - é a consequência do princípio de igualdade
perante Deus e da liberdade de consciência. Tendo-se esta máxima por regra,
todos os homens são irmãos e, seja qual for a sua maneira de adorar o Criador,
eles se dão as mãos e oram uns pelos outros.”
A missão de Paulo
“Certamente
sabeis da dispensação da graça de Deus que me foi dada a vosso respeito. Por
revelação me foi dado a conhecer o mistério, como atrás vos expus sumariamente:
lendo-me, podeis compreender a percepção que tenho do mistério de Cristo.” (Ef
3:2-4).
Tão elevada
compreensão alcançou Paulo sobre a missão, as lições e o Amor incomensurável de
Jesus que instaurou um novo tempo, um novo entendimento, uma nova revelação
para todos, a fim de que edificassem uma Nova Humanidade.
Assim, ele
orou a Deus, pedindo:
“... que
Cristo habite pela fé em vossos corações e que sejais arraigados e fundados no
amor. Assim tereis condições para compreender com todos os santos qual é a
largura e o comprimento e a altura e a profundidade, e conhecer o amor de
Cristo que excede todo conhecimento, para que sejais plenificados com toda a
plenitude de Deus.” (Ef3:17-19).
Viver nova vida em Cristo
“Exorto-vos,
pois, eu, o prisioneiro no Senhor a andardes de modo digno da vocação a que
fostes chamados: com toda humildade e mansidão, com longanimidade,
suportando-vos uns aos outros, com amor procurando conservar a unidade do
Espírito pelo vínculo da paz.” (Ef 4:1-3).
Esta exortação
é um apelo à busca da coerência entre o saber e o fazer; um apelo a uma nova
vida, de acordo com os preceitos de Jesus.
O que
significa viver nova vida em Cristo?
Significa
pensar, sentir, agir como cristão... e Paulo dedicar-se-á, nos capítulos 4, 5 e
6, a esclarecer quais são as atitudes compatíveis com os valores cristãos e
como é possível vencer a luta interior.
O Homem deve
progredir e o faz em contato com outros homens, pois as potencialidades que
traz consigo, em gérmen, só podem encontrar campo adequado ao desenvolvimento
quando vive em sociedade.
Como
adquirir paciência, alcançar entendimento, exercitar o perdão e a tolerância,
como aprender a amar senão no convívio com os semelhantes?
Os laços
sociais são essenciais ao progresso moral. Para conviver em harmonia e
estabelecer a paz é necessário abraçar o Evangelho e combater o egoísmo, a
grande chaga da Humanidade, que dificulta tanto o nosso progresso individual
quanto social.
Profundamente
inspirado, Paulo destaca a necessidade de cultivarmos a humildade, para que
reconheçamos a nossa real condição moral. Nesta perspectiva, podemos então
exercitar a compreensão, pois reconhecemos que todos nós temos arestas a aparar
e, assim, há que se ter paciência e tolerância. Nesta disposição interior, os
conflitos dissipar-se-ão, pois a paz será o vinculo que nos une uns aos outros.
Os cristãos como membros de um mesmo corpo
Como
alcançar a desejada harmonia nas relações humanas?
Paulo
vislumbra o caminho, tomando o corpo humano como metáfora para situar os
cristãos como membros de um corpo, cuja cabeça é Jesus.
Se o cristão
perceber-se como um “membro do corpo de Cristo”, compreendera que Jesus é a
“cabeça” e governa com amor e sabedoria, pois suas orientações fluem para que
todos desenvolvam o amor, no espírito de serviço.
Quanto às
funções, quem nos concede as possibilidades de serviço é Jesus. Cada um é
chamado a servir onde pode produzir mais e melhor, visando ao aprimoramento
espiritual.
“...
seguindo a verdade em amor; cresceremos em tudo em direção daquele que é a
Cabeça; Cristo...” (Ef 4:14).
Como remover
o homem velho e ser um novo Ser?
Paulo
convida-nos a abandonarmos velhos hábitos, como a mentira, a cólera, o furto, a
maledicência, a amargura, a malícia, enfim, os atos contrários as Leis de Deus,
e nos conclama a aquisição de novos hábitos: falar a verdade, trabalhar,
partilhar com os necessitados, perdoar, falar construtivamente, ser
misericordioso, compassivo, bondoso.
“... andai
como filhos da luz, pois o fruto da luz consiste em toda a bondade, justiça e
verdade!” (Ef 5:8-9).
Ainda no
capitulo 5, a exemplo de outras epístolas, Paulo aborda a ética que deve
iluminar as relações familiares: o respeito mútuo, a reciprocidade e o amor.
O combate espiritual
Na conclusão
da Carta, Paulo fala do combate espiritual que o cristão trava no seu íntimo e
da necessidade de se fortalecer no Senhor, relacionando todos os recursos
defensivos que o Homem utiliza-se para enfrentar um combate e lhes atribuindo
significado espiritual.
“Portanto,
ponde-vos de pé e cingi os rins com a verdade e revesti-vos da couraça da
justiça e calçai os pés com o zelo para propagar evangelho da paz, empunhando
sempre o escudo da fé. E tomai o capacete da salvação e a espada do Espírito,
que é a Palavra de Deus.” (Ef 6: 14-17).
Para
enfrentar este combate é preciso vestir a “couraça da justiça”.
Figura esta
utilizada por Paulo para representar a defesa de que podemos nos revestir,
através da renovação mental, pela prática do Bem.
A ação do
Bem, com a quebra voluntária de nossos sentimentos inferiores, produzem
vigorosos fatores de transformação, renovando-nos a atmosfera espiritual. Os
fluidos espirituais, que nos circundam, estão impregnados da qualidade de
nossos pensamentos felizes ou infelizes, revelando a nossa posição íntima. É
por esta emissão de forças mentais que atraímos ondas semelhantes as nossas. Se
emitirmos bons pensamentos, atrairemos a influência dos Bons Espíritos.
Paulo
fornece o roteiro de semelhante construção: abraçar a verdade (o Evangelho),
exercitar a justiça, desenvolver a fé, ser instrumento de paz, propagar a Boa
Nova pelo verbo e pela ação. E para perseverar neste roteiro de emancipação
espiritual, há que orar e vigiar.
Finalizando,
Paulo expressa o seu carinho pelos cristãos de todos os tempos, dizendo:
“Aos irmãos
paz, amor e da parte de Deus, o Pai, e do nosso Senhor Jesus Cristo. A graça
esteja com todos os que amam a nosso Senhor Jesus Cristo, com amor perene!” (Ef
6:23-24).
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente:
“... revesti-vos da couraça da justiça e calçai os pés com o zelo para propagar
evangelho da paz, empunhando sempre o escudo da fé...”
Bibliografia
A Bíblia de
Jerusalém.
Kardec,
Allan - O Livro dos Espíritos - Ed FEESP.
Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed FEESP.
Aos Efésios
- Lamartine Palhano Junior.
Xavier,
Francisco C /Emmanuel - Paulo e Estevão.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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