Epístola De Tiago
INTRODUÇÃO
A Epístola
de Tiago é uma das que mais geram debates, entre os estudiosos, para definição
de seu autor.
Conforme
consta da Bíblia de Jerusalém, na introdução as Epístolas, o autor não se
apresenta como sendo Tiago, filho de Zebedeu, apóstolo de Jesus, que Herodes
mandou matar no ano 44, nem como o outro apóstolo do mesmo nome, Tiago, filho
de Alfeu. Quando as igrejas aceitaram a canonicidade desta epístola,
identificaram seu autor como Tiago, irmão de Jesus, que foi martirizado, por
mão dos judeus, por volta do ano 62. Muito ainda se discute, especialmente por
ter sido escrita diretamente em grego, com elegância e riqueza de vocabulário,
diferentemente do que se esperaria de um galileu da época.
Abandonando
essas polêmicas e fixando-nos no texto da Epístola, encontramos um conteúdo
riquíssimo, um tanto diferente das demais epístolas, por se assemelhar aos escritos
sapienciais, ou seja, de sabedoria, que são como que coletâneas de provérbios e
exortações morais. Sua essência é um convite à verdadeira devoção a Deus, que é
através das obras.
EPÍSTOLA DE TIAGO
Tiago inicia
apresentando-se como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” e se dirige às
“Doze Tribos da Dispersão”, referindo-se aos cristãos de origem judaica e
dispersos pelo mundo. Analisemos, então, alguns dos ensinamentos e exortações
trazidas por Tiago:
• A paciência diante das provações.
“Bem-aventurado
o homem que suporta com paciência a Provação! Porque, uma vez provado, receberá
a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tg 1:12).
Em nosso
mundo, as aflições são comuns a todos: ricos e pobres, senhores ou empregados,
jovens ou idosos. Vivemos num mundo de provas e expiações. Ninguém pode escapar
a essa circunstância.
A época em
que foi escrita esta epístola de Tiago é marcada como uma das mais violentas
para os cristãos. As perseguições eram intermináveis, eles estavam acuados, em
várias partes do império, seus encontros tinham que ser escondidos. Em Roma,
eles se reuniam nas catacumbas, para fugir das autoridades. Muitos foram
capturados, torturados e martirizados. Grande era o momento de provação.
Nesse
cenário, muitos foram os que suportaram resignadamente cada provação. E eram
felizes por ter a oportunidade de testemunharem sua fé. Esses primeiros
cristãos deixaram-nos os mais belos exemplos de renúncia e abnegação.
Por isso,
Tiago conclama todos a também suportarem seus fardos até o final. Lembremos que
o Pai nunca coloca um fardo maior do que o filho pode suportar.
A nós
espíritas, há quem muito mais foi explicado, fica o apelo de procedermos da
mesma forma. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Cap. V, item 18, temos:
“Bem-aventurados
os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança
e a sua submissão a vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as
alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho vira o repouso.”
• A afabilidade.
“Isto podeis
saber com certeza, meus amados irmãos. Que cada um esteja pronto para ouvir,
mas lento para falar e lento para encolerizar-se; pois a cólera do homem não é
capaz de cumprir a justiça de Deus”. (Tg 1:19-20).
Os seres
humanos, em geral, tendem a valorizar mais a própria opinião do que a dos
outros. Isso faz com que muitos ensinamentos sejam ignorados, pois o desejo
maior é de falar, em vez de ouvir. Mas, ressaltemos, para se aprender é preciso
saber ouvir.
A sociedade
judaica, por exemplo, aquela época, apresentava-se fragmentada por vários
grupos, cada um querendo ser dono da verdade. Além das fronteiras de Israel,
também havia diversas cisões entre os povos.
Por isso,
nesta Carta, Tiago exorta ao cultivo do respeito, do entendimento, da
afabilidade. Preceitos estes indissociáveis da Doutrina Cristã.
Em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. IX, item 6, encontramos esta síntese:
“A
benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a
afabilidade e a doçura, que são a sua manifestação.”
• A religiosidade.
“Com efeito,
a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar
os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do
mundo.” (Tg 1:27).
Nesta
assertiva de Tiago, encontramos uma das mais belas sínteses do que significa
religiosidade.
Especialmente
aquela época, devemos lembrar, nas religiões em geral predominava o culto
exterior. Por ser mais fácil que a renovação interior, as multidões procuravam
louvar a Deus apenas através dos rituais, dos sacrifícios, e acreditavam assim
ter “cumprido seu dever” diante de Deus.
O esforço em
abolir essas crenças deveria ser muito grande. Jesus, a propósito, empenhou-se
em demonstrar que o verdadeiro culto a Deus é através dos sentimentos do
coração. Por isso, o Mestre, especialmente, acolhia os excluídos, os
abandonados, os desvalidos...
Tiago, dessa
forma, recorda esse ensinamento de Jesus, para que as pessoas exercessem a
verdadeira religiosidade.
• A fé sem obras é morta.
“Meus
irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará
isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que
vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém
dentre vós lhe disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos ’, e não lhes der
o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a
fé, se não tiver obras, está completamente morta.” (Tg 2:14-17).
A grande
maioria dos Homens tende ao ceticismo. As mais sublimes verdades são, diversas
vezes, desprezadas por falta de fé. Muitos querem um sinal.
Tantos
outros acreditam nas verdades eternas, acreditam nas palavras de Jesus, mas
isso é tudo. Acreditam que seja verdadeira, mas não se movem para transformá-la
em realização. É que não possuem a verdadeira fé.
Que proveito
pode haver? - indaga Tiago.
Nenhum -
podemos dizer - pois é uma fé morta!
Tiago, em
sua epístola, conclama a todos a cultivarem a fé viva.
Essa fé
manifesta-se através das obras.
A verdadeira
fé é o combustível que alimenta o Espírito e o torna capaz de grandes
realizações. O cristão, quando é movido por essa chama, sairá de si mesmo e
sentirá a dor do outro como se fosse sua própria dor; cada necessitado que
encontrar pelo caminho, ele reconhecerá como um irmão, auxiliando, amparando,
fornecendo abrigo, alimento e consolo.
O convite
está feito: fortaleçamos nossa fé!
• A prudência com a palavra.
“Notai que
também os navios, por maiores que sejam, e impelidos por ventos impetuosos,
são, entretanto, conduzidos por um pequeno leme para onde quer que a vontade do
timoneiro os dirija. Assim também a língua, embora seja pequeno membro do
corpo, se jacta de grandes feitos! Notai como pequeno fogo incendeia floresta
imensa. Ora, também a língua é fogo.” (Tg 3:4-6).
Um dos
vícios humanos mais reprováveis é a maledicência, eis que desencadeia uma
infinidade de intrigas, desavenças, desacertos e cisões.
Esse é um
dos males que, aparentemente, pouco mudou desde o tempo em que foi redigida esta
epístola. Naquele período, os grupos criticavam-se violentamente, trocavam
severas acusações pessoalmente, outras vezes, ocultamente, diziam inúmeras
maledicências; ainda hoje vemos que persiste, em nossa sociedade, esse hábito
pernicioso.
A análise desta
carta leva-nos a ponderação:
Quantos
males poderiam ser evitados se fossemos prudentes com as palavras? Quantas
famílias não foram destruídas por palavras maldosas? Quantas amizades não foram
desfeitas por línguas ferinas?
Concluímos,
dessa forma, que a prudência com a palavra é um dever de todo cristão, eis que
sempre buscará a conciliação, a união, a fraternidade. O cristão acrescente-se,
fará aos outros aquilo que quer para si.
• Não julgar.
“Não faleis
mal uns dos outros, irmãos. Aquele que fala mal de um irmão ou julga seu irmão,
fala mal da Lei e julga a Lei. Ora, se julgas a Lei, já não praticas a Lei, mas
te fazes juiz da Lei.” (Tg 4:11).
A “Lei” a
que se refere Tiago é a Lei Divina. Não praticar a “Lei” é, portanto, não
observar a Lei do Amor.
Este é um
ponto capital, e Tiago, especialmente aquela época, em que os judeus
acusavam-se constantemente, define-o, de forma grave, pois o ato de julgar já
havia sido definido por Jesus como um ato contrário a Lei Divina.
Um cristão
que, porventura cometesse o ato de julgar o seu próximo, seja por um mau
exemplo da doutrina que abraçou, seria, pois, como se estivesse “falando mal da
Lei”.
O
Espiritismo aclara ainda mais este ponto, pois reaviva o sentimento de
indulgência, ou seja, de tolerância, de compreensão, de compaixão, em uma
palavra: o perdão.
• A oração.
“Sofre
alguém dentre vós um contratempo? Recorra à oração.” (Tg 5:13).
“A oração
fervorosa do justo tem grande poder.” (Tg 5:16).
Uma
circunstância muito comum aos Homens, em todos os tempos, é a fragilidade da
fé. Mesmo aqueles que possuem uma religião, e que oram regularmente, quando são
atingidos pela tribulação, esquecem-se do poderoso recurso da oração.
Jesus, em
todos os momentos, e principalmente naqueles mais difíceis, ligou-se ao Pai e
orou fervorosamente.
A oração
quando é sentida, e quando aquele que ora é movido pelos melhores sentimentos,
tem um infinito poder, por isso disse Tiago: “A oração fervorosa do justo tem
grande poder”.
E qual de nós
que não têm “contratempos” como indagou Tiago? Todas as agruras da vida, todos
os espinhos do caminho, são reais, e estão presentes na existência de todos
nós. No entanto, nós podemos ficar abatidos, fragilizados, desesperados..., ou, se tivermos fé, e recorrermos a oração nos
instantes mais difíceis, veremos esses momentos serem suavizados, pois seremos
fortalecidos, seremos encorajados. Como Um Orvalho Divino, seremos banhados
pelo bálsamo que alivia nossas dores.
Em “O Livro
dos Espíritos”, na resposta à questão 660, encontramos:
“... aquele
que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações
do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir.”
Busquemos a
prece em todos os nossos dias!
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente “A
fé sem obras é morta”.
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém
- Kardec,
Allan – O Livro dos Espíritos - Ed FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed FEESP.
- Corbin,
Alain (Organizador -Autores Diversos) - História do Cristianismo.
- Carrez
M./Dornier P./Dumais M./ Trimaille M. - As Cartas de Paulo, Tiago Pedro e
Judas.
- Atlas
Bíblico Interdisciplinar - Escritura - História - Geografia - Arqueologia -
Teologia - Ed. Paulus.
Fonte da
imagem: Internet Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário