Epístolas Universais
Introdução
As epístolas
do Novo Testamento, como já exposto anteriormente, são cartas dirigidas aos
cristãos ou aqueles que estavam receptivos a mensagem do Cristo.
Se nas
Epístolas de Paulo havia, em principio, um destino mais determinado, ou seja,
eram dirigidas a pessoas, grupos ou comunidades específicas, nas chamadas
Epístolas Universais não há em regra essa intenção.
Com efeito,
as Epístolas Universais visavam todos os cristãos, visavam alcançar todos
aqueles que estavam convertendo-se a Doutrina de Jesus.
No Novo
Testamento, além das Epístolas Paulinas, encontramos sete outras que formam o
conjunto das Epístolas Universais, quais sejam:
- 1 de
Judas;
- 02 de
Pedro;
- 03 de
João, e
- 01 de
Tiago.
Antes,
porém, de as analisarmos, precisamos fazer algumas considerações.
Muitos
estudiosos da Bíblia e, especialmente, do Novo Testamento, perdem-se, às vezes,
em discussões intermináveis, acerca da veracidade de um ou outro fato relatado.
Outras vezes, a contenda prende-se em decidir, de forma categórica, a exata
autoria de um texto. Discussões essas, muitas vezes, estéreis, pois pelo rigor
literário, por uma suposta exatidão de interpretação, acabam por se afastar do
“espírito” da Boa Nova.
Não se trata
esta consideração - ressalte-se com vigor - de um desmerecimento do estudo
acurado e meticuloso de todos os grandes homens que, com afinco, dedicam-se,
escrupulosamente, ao estudo da História e, especialmente, das Escrituras.
Mas,
precisamos estar atentos para não darmos mais importância aos fatos históricos
ou teológicos, do que a essência do Evangelho; atento para não atribuirmos
excessivo valor a inteligência e, em decorrência, assistirmos ao esfriamento do
sentimento de compaixão e fraternidade, esfriamento do desejo de implantar o
ensinamento de Jesus na Terra para alcançar a renovação de toda a Humanidade.
É importante
ressaltar esse ponto, pois, entre os estudiosos, vamos repetir, há muitos
debates extenuantes para definir se os nomes atribuídos as Epístolas são, de
fato, daqueles que a redigiram.
Nessa
acurada análise, esses estudiosos examinam diversos indícios que evidenciariam
uma autoria diferente do nome indicado. Dentre esses indícios, podemos citar: o
estilo literário, a maior ou menor erudição, os fatos relacionados que seriam
de época diversa da que viveu o autor indicado, ou, ainda, o endereçamento a
certas coletividades que se formariam em momento, da mesma forma, diverso...
No entanto,
é preciso assinalar que na Antiguidade era muito comum, em diversos povos,
utilizar o nome de alguém importante, alguém conhecido, para revestir de
credibilidade algum escrito, eis que o nome famoso conferia autoridade e, por
isso, tomava o texto mais aceito.
Nesse
sentido, podemos, por analogia, recordar que Kardec, por diversas vezes,
discorrendo sobre a identidade dos Espíritos Superiores, afirma, de forma
categórica, que eles não se prendem a questões menores de personalidade ou
individualidade: o que é relevante é o conteúdo, a mensagem que se quer passar,
a elevação do ensinamento que se quer transmitir.
Em resumo, o
conjunto de todos os livros do Novo Testamento compõe um acervo de onde podemos
extrair todo o néctar do conhecimento das grandes verdades, extrair a mais pura
mensagem deixada pelo Cristo.
Abramos
nossos olhos para que possamos realmente “ver”.
CONTEXTO HISTÓRICO
Importa-nos,
ainda, relembrar o cenário histórico e social das primeiras comunidades
cristãs.
O vasto
Império Romano prosseguia soberano. Paulo, como já vimos anteriormente, com
suas viagens missionárias, fizera com que a mensagem do Cristo ressoasse por
muitos cantos do oriente e do ocidente.
Muitas
comunidades cristãs haviam sido formadas. Os mais diversos povos haviam sido
alcançados. Era uma infinidade de etnias, de culturas, de línguas, de costumes.
Era, ainda, o período da chamada Pax Romana, época em que os povos dominados,
pagando regularmente seus impostos, viviam com certa liberdade e uma paz
relativa, condicionada.
Mas, diante
de tanta diversidade, como manter íntegra a Mensagem de Jesus? Como, em meios
impregnados pelo misticismo, pela magia, pelo paganismo, por uma série de
crenças infundadas e superstições... Como manter a pureza da Boa Nova?
Como,
também, impedir que aqueles que agiam de má-fé e, propositadamente, cobrissem
de máculas a Doutrina Crista?
As
distâncias eram enormes. Lembremos que a época o transporte era muito difícil,
para chegar a algum destino era preciso fazer, às vezes, longas caminhadas, de
dias e dias; outras, viajar sobre o lombo de animais; as travessias por mar
também eram muito demoradas, eram usados pequenos barcos; os caminhos eram
cheios de perigos...
O trabalho
era monumental. As cartas eram, pois, um dos meios de reavivar a fé, de exortar
a observância dos princípios evangélicos, de forma íntegra.
EPÍSTOLA DE JUDAS
Esta
epístola, afirmam os estudiosos, deve ter sido escrita por volta do ano 80
d.C., e era dirigida aos “que foram chamados, amados por Deus Pai e guardados
em Jesus Cristo.”
Conforme
consta da Bíblia de Jerusalém, na introdução as epístolas, ela foi aceita desde
o ano 200, pela maioria das igrejas, como Escritura canônica.
Este Judas
não era o Judas Iscariotes, que cometeu suicídio. Também não era o Judas Tadeu,
filho de certo Tiago. Este Judas apresenta-se como irmão de Tiago; talvez seja
aquele que em Marcos 6:3 e em Mateus 13:55 é apontado como sendo irmão de
Jesus.
Este ponto,
como repetidamente frisamos acima, não demanda nossa atenção, pois, por ora,
não há elementos para convicção definitiva. Fixemo-nos, pois, no aspecto
principal: o seu conteúdo.
Em sua
epístola que é relativamente pequena, Judas dirige a sua atenção aos “falsos
doutores”, reprovando-os com vigor, e exorta os fiéis a conservarem a fé
autêntica, e a convencerem os vacilantes.
Esta carta,
como veremos adiante, em muito se assemelha a Segunda Carta de Pedro.
Assinalemos alguns pontos:
• Infiltração
“... De
fato, infiltraram-se entre vós alguns homens já há muito marcados para esta
sentença, uns ímpios, que convertem a graça do nosso Deus num pretexto para
licenciosidade e negam Jesus Cristo, nosso único mestre e Senhor.” (Jd 4).
Toda nova
doutrina, especialmente em seu período de propagação, sofre inúmeras investidas
contra sua integridade. Muitos podem tentar rebatê-la, contrariá-la por
completo, outros, no entanto, podem aceita-la parcialmente. Quando a aceitação
é condicionada, incompleta, ou seja, apenas de algumas partes, ocorrem as
deturpações doutrinárias.
Infiltração
é, então, esse movimento sorrateiro, disfarçado, de ir entrando, de ir
acomodando-se, de começar a fazer parte, mas, ressalte-se, sem aceitação total
dos princípios doutrinários.
Por isso o
alerta. A exortação é para que haja muita cautela, muito cuidado, muita atenção
para não permitir que elementos contrários à essência do Cristianismo
infiltrem-se e pervertam, em benefício próprio, a Doutrina Cristã. Ainda hoje
não devemos ter esse cuidado, agora com a Doutrina Espírita?
• Os falsos doutores
“... Ora,
estes agem do mesmo modo: na sua alucinação conspurcam a carne, desprezam a
autoridade e injuriam as Glórias.
Ai deles,
porque trilharam o caminho de Caim; seduzidos por um salário, entregaram-se aos
desvarios... São nuvens sem água, levadas pelo vento, árvores que no fim do
outono não dão fruto, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz, ondas bravias do
mar a espumarem a sua própria imprudência, astros errantes, aos quais está
reservada a escuridão das trevas para a eternidade.” (Jd 8, 11-13).
Qual a época
que não tem os falsos doutores? Que não há aqueles que usam sua inteligência
para se beneficiarem materialmente dos mais simples?
Em geral,
revestem-se de uma falsa moralidade, de um falso senso de dever, mas, na
verdade, transbordam hipocrisia e mentira.
Suas
palavras, no entanto, são, muitas vezes, doces, suaves, conclamando ao dever e
a virtude; seus discursos são estruturados, eloquentes.
Eis o
perigo! Em meio a suas falas, baseadas em muitas verdades, mesclam, misturam
inverdades; com sofismas, ou seja, de forma enganosa, conduzem a conclusões
falsas. Essas impregnações são, ressalte-se, como um câncer, pois, pouco a
pouco, podem ser capazes de degenerar a mais pura das doutrinas.
Há que se
estar vigilante contra os pretensos doutores de todos os tempos. A conclusão
deste trecho citado relembra-nos o Mestre, quando afirma que toda árvore má,
que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo.
• O livro de Henoc
“A respeito
deles profetizou Henoc, o sétimo dos patriarcas a contar de Adão, quando disse:
Eis que o Senhor veio com as suas santas milícias exercer o julgamento sobre
todos os homens e arguir todos os ímpios de todas as obras de impiedade que
praticaram e de todas as palavras duras que proferiram contra eles os pecadores
ímpios: são uns murmuradores, revoltados contra o destino, que procedem de
acordo com suas concupiscências; sua boca profere palavras arrogantes, mas
estão sempre prontos a bajular quanto o seu interesse está em jogo”. (Jd
14-16).
Prossegue a reprimenda aos falsos mestres.
Nesta parte
há citação do texto do patriarca Henoc, que, posteriormente, seria considerado
como um texto apócrifo.
O processo
de aceitação, de canonização dos textos evangélicos foi lento, e atravessou os
primeiros séculos. Essa decisão sobre a natureza de um escrito bíblico, ou
seja, se ele era autêntico ou apócrifo, ficaria, então, para momento posterior
aos primeiros passos do Cristianismo.
O livro de
Henoc, é interessante citar, segundo os estudiosos, remonta ao ano 80 a.C.; e,
juntamente com outros livros que no futuro seriam considerados apócrifos, eram
aceitos pacificamente no primeiro século. Com efeito, eram populares e
regularmente lidos nas reuniões judaicas.
Ao espírita,
lembremos, todos os livros, todos os escritos, todos os textos produzidos pela
Humanidade têm seu valor específico, cabendo a cada um, por esforço próprio,
separar o joio do trigo. Seu objetivo deve ser o aprimoramento pelo estudo:
“Espíritas, amai-vos e instruí-vos”.
• Exortação aos fiéis
“Vós, porém,
amados, lembrai-vos das palavras de antemão preditas pelos apóstolos de nosso
Senhor Jesus Cristo, pois vos diziam: No fim do tempo surgirão escarnecedores,
que levarão vida de acordo com as próprias concupiscências ímpias.” (Jd 17-18).
Todos os
movimentos contrários à propagação da Boa Nova foram previstas por Jesus. Neste
ponto, recorde-se que o Mestre havia alertado sobre os ímpios que se
levantariam contra o Evangelho.
Concupiscência
é o forte desejo de obtenção de prazeres mundanos. “Concupiscências ímpias”,
então, são quando esse desejo desenfreado apoia-se na crueldade, no egoísmo, na
perversidade. Tudo pelo bem estar próprio, ainda que com prejuízo do próximo.
Nada poderia ser mais contrário à mensagem do Cristo.
• Os deveres da caridade
“Mas vós,
amados, edificando-vos a vós mesmos na vossa Santíssima fé e orando no Espírito
Santo, guardai-vos no amor de Deus, pondo a vossa esperança na Misericórdia de
nosso Senhor Jesus Cristo para vida eterna. Procurai convencer os hesitantes; a
outros procurai salvar arrancando-os ao fogo; de outros ainda tende misericórdia...”
(Jd 20 e 21).
Não temos
aqui a síntese do dever cristão?
A mais pura
mensagem do Cristo não é o convite à fé, a esperança, a misericórdia, a
compaixão sem limites, não é, ainda o esforço na propagação do Evangelho
“convencendo os hesitantes”, especialmente pelos exemplos?
Sejamos nós
esses exemplos!
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Para nós
espíritas, que lição podemos tirar da Epístola de Judas?
Fonte da
imagem: Internet Google.
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