Epístola Aos Hebreus
INTRODUÇÃO
De acordo
com a Bíblia de Jerusalém, a epístola aos Hebreus teve sua autenticidade posta
em dúvida desde o Cristianismo primitivo. Atribuíam a autoria da Carta a um dos
discípulos de Paulo, embora concordassem que a inspiração viera dele. O lugar e
a data de composição são incertos.
Noticias da Espiritualidade
As dúvidas
acima expostas, no entanto, são dissipadas e as lacunas preenchidas, no
capitulo IX, 2ª parte, do livro “Paulo e Estevão”, onde Emmanuel afirma-nos que
a epístola foi escrita por Paulo, em Roma, onde se encontrava prisioneiro.
Em virtude
de sua cidadania romana, ele pode usufruir das vantagens da “custodia libera”,
que permitia que ele vivesse fora do cárcere, apenas acompanhado por um guarda,
até que o seu processo fosse julgado. Após se instalar num aposento humilde,
ele solicitou a Lucas que convocasse os maiorais do Judaísmo, na capital do
Império, a fim de lhes apresentar uma exposição dos princípios cristãos.
Como poucos
pareciam compreender os novos ensinamentos, Paulo encerrou a exposição, não sem
antes afirmar que os judeus encontravam-se surdos, espiritualmente.
Alguns
pediram a Paulo para que ele os ensinasse na sinagoga e Paulo respondeu que
“preso como estou, não poderia fazê-lo, mas hei de escrever uma Carta aos
nossos irmãos de boa-vontade”.
Daí por
diante, assinala Emmanuel: aproveitando as ultimas horas do dia, os
companheiros de Paulo observaram que ele escrevia um documento a que dedicava
profunda atenção. Às vezes, era visto a escrever com lágrimas, como se
desejasse fazer da mensagem um depósito de santas inspirações.
Em dois
meses entregava o trabalho a Aristarco para copiá-lo, dizendo: - "Esta é a
epístola aos hebreus. Fiz questão de grafá-la, valendo-me dos próprios
recursos, pois que a dedico aos meus irmãos de raça e procurei escrevê-la com o
coração.”. Era o ano de 61 d.C.
CONTEÚDO
Nesta
epístola, Paulo assinala qual o significado da vinda de Jesus e quais as mudanças
que isto acarretava na interpretação do Antigo Testamento. Com a lucidez que o
caracterizava, Paulo, “segundo o espírito que vivifica”, analisa temas
fundamentais do Judaísmo: a aliança, o sacerdócio, as obras da lei, bem como a
liturgia e os rituais.
Era um apelo
do coração para fortalecer a fé dos judeus convertidos ao Cristianismo e aos
que se obstinavam em combatê-lo.
As revelações
Todas as
revelações que foram feitas a Israel, ao longo dos milênios, chegaram através
dos profetas. Em Jesus, no entanto, encontramos a mais pura revelação, eis que
a Boa Nova é a tradução da Lei Divina.
“Muitas
vezes e de modos diversos falou Deus, outrora, aos Pais pelos profetas; agora,
nestes dias que são os últimos, falou-nos por meio do Filho, a quem constituiu
herdeiro de todas as coisas, pelo qual fez os séculos.” (Hb 1:1-2).
A condição de Jesus
“É ele o
resplendor de sua glória e a expressão de sua substância, tão superior aos
anjos quanto o nome que herdou excede o deles.” (Hb 1:3-4).
“Vemos,
todavia, Jesus, que foi feito, por um pouco, menor que os anjos, por causa dos
sofrimentos da morte, coroado de honra e de glória. E que pela graça de Deus
provou a morte em favor de todos os homens.” (Hb 2:9).
Graças a
Misericórdia Divina, Jesus, encarnado, revelou-nos uma nova concepção de Deus,
apresentando-o como Pai Amoroso e Misericordioso.
Por amor a
Humanidade, Jesus provou a morte para semear a Boa Nova, convidando todos a
edificação do Reino de Deus. Veio não para condenar, mas para salvar o Homem,
traçando no “Amai a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo” a
verdadeira forma de adoração a Deus.
A Superioridade de Jesus
No capitulo
8 desta epístola, Paulo destaca a figura do sumo sacerdote, que era a
autoridade máxima no quadro da hierarquia sacerdotal do Judaísmo.
Qual é o
papel do sacerdote em qualquer religião? Ser mediador entre o Homem e Deus.
Quem o
investe desta prerrogativa? Os próprios Homens.
Jesus, no
entanto, não tem sua autoridade constituída pelos Homens, mas diretamente por
Deus. Nisto reside sua absoluta superioridade em relação aos sacerdotes
nomeados aqui na Terra.
Nesta
comparação, Paulo busca destacar a natureza superior de Jesus, que propôs uma
Nova Aliança, como vemos neste trecho: “Agora, porém, Cristo possui um
ministério superior. Pois ele é o mediador de aliança bem melhor cuja
constituição se baseia em melhores promessas. De fato, se a primeira aliança
fora sem defeito, não se trataria de substituí-la pela segunda.” (Hb 8:6-7).
Prosseguindo
em sua argumentação, Paulo recorre ao livro do profeta Jeremias (31:31-34) para
destacar que já havia sido predito uma nova aliança, que substituiria à antiga.
E qual o
vínculo desta nova aliança? O Amor, que estará inscrito nos corações dos
Homens: a Lei de Deus relevada por Jesus.
Os Rituais Judaicos
“Pois,
naquele regime, apresentam-se oferendas e sacrifícios sem eficácia para
aperfeiçoar a consciência de quem presta o culto. Tudo são ritos carnais
referentes apenas aos alimentos, às bebidas, às abluções diversas e impostos somente
até ao tempo da correção”. (Hb 9:9-10).
Observemos
que Paulo refere-se aos rituais como coisas que ficaram no passado. O Judaísmo
preconizava os rituais exteriores de purificação, que deveriam ser prestados no
santuário, “edificado pelas mãos dos Homens”.
Este
santuário continha locais específicos para a realização dos rituais e um
sacerdócio constituído para realizar os cultos, especialmente os cultos que
purificavam os Homens de seus “pecados”.
Qual o
significado dos rituais? Dirá Paulo: “... a Lei é totalmente incapaz, apesar
dos mesmos sacrifícios sempre repetidos, oferecidos sem fim a cada ano, de
levar à perfeição aqueles que se aproximam de Deus.” (Hb 10:1).
Por essa
afirmação contundente de Paulo, vemos a ineficácia de qualquer ritual exterior
para a chamada “purificação”. A verdadeira purificação, como nos ensina Jesus,
é através da constante prática do amor e da caridade.
Jesus Revela a vontade de Deus
Jesus, na
condição de mediador entre os homens e Deus ofereceu-se a si mesmo para revelar
qual é a vontade de Deus. Ele “se manifestou para abolir o pecado por meio do
seu próprio sacrifício.” (Hb 9:26). O que isto significa?
Definindo o
“pecado” como uma transgressão as Leis de Deus, compreendemos que Jesus ao
revelar o Amor como o Maior Mandamento, convida o Homem a harmonizar-se com as
Leis Divinas, pela prática do Bem. Sua exemplificação demonstrou o verdadeiro
significado do Amor.
Quando não
observamos a Lei do Amor, ferimos também a nós mesmos, pois responderemos pelas
consequências que advém destes atos e seremos chamados a reparar o mal que
impusemos a outrem. Só a reparação propicia paz à consciência, libertando-a dos
processos de culpa.
Sacrifícios
e oferendas são inócuos para harmonizar a consciência com as Leis Divinas e não
isentam a criatura da necessidade de aprender a dissolver o mal pela prática do
bem.
Exortações à Renovação e a Libertação
“Aproximemo-nos,
então, de coração reto e cheio de fé, tendo o coração purificado de toda má
consciência...” (Hb 1O:22).
Como Paulo
dirige-se em particular aos judeus convertidos, ele faz um veemente apelo para
que renovem suas concepções e crenças, libertando-se efetivamente. Que não
retrocedam no caminho.
Como
prosseguir sem esmorecer, sem desanimar?
A Libertação
é um processo. O caminho que percorremos para aderirmos, de coração, a Jesus e
pede paciência, perseverança e fé. O ontem criou raízes em nossos corações. Há
que nos esforçarmos para erradicá-las.
Neste
sentido, Paulo traça um roteiro, enfatizando as condições essenciais para o
êxito:
• Incentivo à caridade
“Velemos uns
pelos outros para nos estimularmos à caridade e as boas obras”. (Hb 10:24)
A vida nas
comunidades cristãs, às vezes atribuladas pelas circunstâncias do mundo, exigia
o exercício constante da fraternidade. Por isso, Paulo faz esse chamamento para
que haja companheirismo entre os membros, um velando pelo outro.
Viver
naquelas comunidades, envolvidos pela Mensagem de Cristo, representava uma
bendita oportunidade de aprendizado e trabalho. Salienta, pois, o apóstolo, a
necessidade da valorização das possibilidades que o hoje nos apresenta na
realização do Bem.
• Perseverança na dor
Paulo
menciona os sofrimentos que a adesão ao Cristo havia acarretado em suas vidas e
os conclama à perseverança, refletindo sobre a dor como processo educativo do
Pai:
“É para a
vossa educação que sofreis. Deus vos trata como filhos. Qual é, com efeito, o
filho cujo pai não educa?” (Hb 12:7).
As dores são
recursos educativos da alma. Como assevera Paulo:
“Toda
educação, com efeito, no momento não parece motivo de alegria, mas de
tristeza.” (Hb 12:11).
Porém, qual
é o papel da dor senão educar para o Amor?
Como
avançar, sem as experiências que nos são necessárias?
Embora a dor
seja-nos necessária, são poucos os que conseguem compreendê-la em sua feição
educativa. Muitos são os que se rebelam, os que acusam a Deus de injusto, os
que se desesperam, os que fogem. Quem assim precede perde valiosas
oportunidades de crescimento.
Vencida a
tempestade, contabilizamos os frutos interiores que ela proporcionou: mais
experiência, mais fortaleza, mais amadurecimento, mais compreensão. Como afirma
Paulo: “Depois, no entanto, produz naqueles que assim foram exercitados um
fruto de paz e de justiça.” (Hb 12:11).
Portanto,
conclui Paulo: “... reerguei as mãos enfraquecidas e os joelhos trôpegos” (Hb
12:12), ou seja, não recuemos diante da luta, ainda que sejamos defrontados por
inúmeras dificuldades, pois se ouvirmos as sugestões da ignorância, de cansaço,
da maldade, do desencanto paralisaremos nossas mãos nos cuidados com a lavoura
de Bem e perderemos a colheita.
• Fé
Em suas
argumentações, Paulo destaca o papel que a fé exerceu na vida de todos os
patriarcas, profetas, juízes da história do povo judeu. E o faz, dirigindo-se
aos judeus recém-convertidos, exortando-os ao desenvolvimento da fé.
“A fé é a
garantia dos bens que se esperam, a prova das realidades que não se veem.” (Hb
11:1).
Somos
chamados à sublime herança que nos é destinada. Ignoramos as experiências que
nos estão reservadas, mas sabemos que o alvo é a melhoria de nós mesmos. Como
superar obstáculos, vencer dificuldades, superar provas ásperas, guardar
serenidade diante da dor se não for pela fé?
É a fé que
produz esperança, dilata a paciência, oferece sustentação, que alimenta a
perseverança. E tudo porque a fé é um saber, um sentir consciente, força que
sustenta o coração, para percorrermos o caminho das lutas do dia de hoje à
vitória do dia de amanhã.
Não sabemos
o futuro, mas a fé dá-nos a certeza de que o futuro propiciar-nos-á colheita
farta, se a despeito de todas as dificuldades na plantação do Bem,
perseverarmos.
Que
realidades podemos visualizar através dos olhos da fé? As realidades
espirituais para as quais todos nós marchamos, dia após dia, a convicção na
existência do Espírito imortal, a convicção de que há muitas moradas na casa de
Pai, a convicção de que o patrimônio espiritual é a nessa conquista legítima.
• Esperança
“A
esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme...” (Hb
6: 19).
Paulo arremata a sua exortação, com a
seguinte conclusão:
“Portanto,
também nós, com tal nuvem de testemunhas ao nosso redor; rejeitando todo fardo
e o pecado que nos envolve, corramos com perseverança para o certame que nos é
proposto, com os olhos fixos naquele que é o iniciador e consumador da fé,
Jesus...” (Hb 12: 1-2).
Na lição 76
de “Pão Nosso”, Emmanuel assevera:
“Em toda
parte da Terra, o discípulo respira rodeado de grande nuvem de testemunhas
espirituais, que lhe relacionam os passos e anotam as atitudes, porque ninguém
alcança a experiência terrestre, a esmo, sem razões solidas com bases no amor e
na justiça. Faze, pois, o bem possível aos teus associados de luta, no dia de
hoje, e não te esqueças dos que te acompanham, em espírito, cheios de
preocupação e amor.”
Concluindo o
seu pensamento sobre a nova aliança, Paulo enfatiza que:
“Procurai a
paz com todos, e a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor...” (Hb
12:14)
A verdadeira Adoração a Deus
“Temos um altar...”
(Hb 13:10).
Não mais o
altar de ouro, de pedra, de bronze, diante do qual ajoelhamos reverentes, mas o
altar do coração, em que nos cabe apresentar as nossas oferendas de amor aos
semelhantes.
“Não vos
esqueçais da beneficência e da comunhão, porque são estes os sacrifícios que
agradam a Deus” (Hb 13:16).
Paulo,
demonstrando plenamente seu entendimento sobre a revelação do Cristo, não
apenas deixou patenteado na carta aos hebreus esses sublimes ensinamentos, mas,
toda sua trajetória, após o seu encontro com Jesus é um legado de
exemplificação a
Humanidade...
exemplificação de trabalho e esperança, abnegação e resignação, persistência e
fé.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente: “A
esperança, com efeito, é para nós qual âncora da alma, segura e firme”.
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém.
- Kardec, Allan - A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Livro dos Espíritos - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo Ed. FEESP.
- Xavier,
Francisco C./Emmanuel - Paulo e Estevão.
- Xavier, Francisco
C./Emmanuel - Pão Nosso.
Fonte da
imagem: Internet Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário