Epístolas
Paulinas
Epístolas Pastorais
Do conjunto
das 14 epístolas escritas por Paulo, três foram chamadas de pastorais a partir
do século XVIII, pois tinham como objetivo orientar dois de seus fiéis
discípulos, Timóteo e Tito, quanto à organização das igrejas e quanto a
necessidade de preservar a pureza do Evangelho de Jesus combatendo os falsos
doutores. Timóteo e Tito eram extremamente afinados com o pensamento de Paulo e
a eles Paulo dirige se como a filhos muito amados.
A 1ª
epístola a Timóteo e a epístola a Tito serão abordadas em conjunto, dado que o
conteúdo a forma e o contexto histórico são muito semelhantes. Foram escritas
na Macedônia por volta do ano 64 d.C.
1ª EPÍSTOLA A TIMÓTEO E A EPÍSTOLA A TITO
CONTEÚDO
A Luta Contra os Falsos Doutores
“Com efeito,
há muitos insubmissos, palavrosos e enganadores, especialmente no partido da
circuncisão, aos quais é preciso calar, pois estão pervertendo famílias
inteiras, e, com o objetivo de lucro ilícito, ensinam o que não tem direito de
ensinar”. (Tito 1:10-11).
“Se eu te
recomendei permanecer em Éfeso, quando estava de viagem para a Macedônia, foi
para admoestares alguns a não ensinarem outra doutrina, nem se ocuparem com
fábulas e genealogias sem fim, as quais favorecem mais as discussões do que o
desígnio de Deus, que se realiza na fé.” (1 Tm 1:3-4).
Na categoria
de falsos doutores estão todos aqueles que ensinavam doutrinas contrárias aos
ensinamentos de Jesus. A interpretação deles acerca do Evangelho era deturpada
por crenças arraigadas, eis que eram os judeus convertidos ao Cristianismo que
continuavam presos ao formalismo judaico, aos preceitos da lei.
Com efeito,
havia tanta dificuldade em compreender que a mensagem de Jesus conclamava o
Homem a renovação de suas concepções, crenças e hábitos, que os mesmos se
opunham aos ensinamentos de Paulo.
Paulo
libertara-se pelo conhecimento da verdade, despojando-se integralmente do
Judaísmo legalista, que ele, um dia, esposara. Na sua missão de evangelizador,
irá se deparar com muitas lutas para extirpar do Cristianismo os elementos que
não lhe pertenciam, para preservar a nascente da fonte, a fim de que suas águas
jorrassem cristalinas.
O que fazer
quando a erva daninha cresce, senão arrancá-la energicamente para que as
sementes valorosas germinem? Em toda parte existem os semeadores de cisão,
operando a perturbação e a discórdia. Paulo fora constituído semeador e seus
inúmeros colaboradores auxiliavam-no a zelar pela fonte, pela germinação,
florescência, frutescência.
É neste
sentido que Paulo delega a cada um de seus colaboradores, a função de preservar
o Cristianismo nascente das influências dos que se achavam enclausurados na
estreiteza de suas visões. Seus colaboradores trabalhavam lado a lado com ele,
eram por ele orientados, acompanhavam seus inúmeros sofrimentos. Que
permanecessem empenhados na mesma luta!
É neste
sentido que hoje todos nós, sob as bênçãos da Doutrina Espírita, recebemos as
mesmas exortações dos Bons Espíritos para prosseguirmos na revivência da
Doutrina Crista em sua essência, despojado de todos os dogmas, falsas
interpretações, rituais exteriores que desfiguraram o Cristianismo ao longo do
tempo.
Vejamos as recomendações de Paulo:
“Rejeita,
porém, as fábulas ímpias, coisas de pessoas caducas. Exercita-te na piedade.”
(1 Tm 4:7).
“Evita
controvérsias insensatas, genealogias, dissensões e debates sobre a Lei, porque
para nada adiantam, e são fúteis.” (Tito 3:9).
A DOUTRINA DO AMOR E DA COMPAIXÃO
E destacando
que a Doutrina de Jesus é a doutrina da compaixão, do amor, da fé, assinala:
“Quanta a
ti, sê para os fiéis modelo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na
pureza. Desvela-te por estas coisas, nelas persevera, a fim de que a todos seja
manifesto o teu progresso. Vigia a ti mesmo e a doutrina. Persevera nestas
disposições porque, assim fazendo, salvarás a ti mesmo e aos teus ouvintes.“ (1
Tm 4:12, 15-16).
Estas
recomendações são fundamentais para os cristãos, pois todos somos instrumentos
de evangelização pela influência que exercemos uns sobre os outros. O cristão é
chamado a viver em conformidade com as lições do Mestre. E a excelência do
Evangelho é divulgada pelos atos valorosos dos verdadeiros cristãos.
O apelo de
Paulo é dirigido a Timóteo, a Tito, a cada um de nós.
Como
assinala Emmanuel em “vinha de Luz”, lição 14: “Geralmente, o primeiro impulso
dos que ingressam na fé constitui a preocupação de transformar compulsoriamente
os outros”.
Nestas
disposições, por vezes, a criatura tenta convencer o outro através de
acaloradas discussões, condenando ideias alheias, criticando, sem respeitar o
caminho de cada um.
Porém, o
discípulo que se limita a teoria, exportando conceitos edificantes, descansando
as margens do caminho, sem trabalho ativo no Bem, nem cuidara de si mesmo nem
estará apto a edificar a fé nos corações alheios.
Recomendações Sobre a Mediunidade
“Não
descuides do dom da graça que há em ti, que te foi conferido mediante profecia,
junto com a imposição das mãos do presbítero.” (1 Tm 4:14).
No
Cristianismo primitivo, a imposição de mãos, realizada pelos apóstolos e
colaboradores, assinalava a adesão à fé em Jesus e favorecia o desabrochar das
faculdades mediúnicas.
O dom da
graça significa mediunidade. A recomendação de Paulo no tocante “a não
descuidar” demonstra a necessidade de exercitar a mediunidade, pois toda
faculdade da alma requer esforço e dedicação para se aprimorar e produzir bons
frutos.
Assevera
Emmanuel em “vinha de Luz”, lição 127: “O problema da mediunidade,
principalmente, é dos mais ventilados, esquecendo-se, não raro, o impositivo
essencial do serviço. É indispensável aplicar nobremente as bênçãos já
recebidas, afim de que possamos solicitar concessões novas”.
“Não é
razoável, porém, conferir instrumentos novos a mãos ociosas, que entregam
enxadas À ferrugem”.
“Recorda,
pois, meu amigo, que podes ser o instrumento do Mestre, em qualquer parte”.
Orientações para Organizar as Igrejas
Paulo
instrui Timóteo e Tito quanto a organização das comunidades cristãs, para que
cada membro desempenhasse a sua função de forma responsável e digna, e para que
houvesse harmonia entre todos.
Nestas
epístolas, embora Paulo tenha pedido que eles se estruturassem por funções
religiosas, na organização das comunidades, a ênfase dada pelo apóstolo dos
gentios era “na função” e não “na posição” que o cristão ocupava na comunidade.
Com o
enfoque nas funções, Paulo assinalava as qualidades de que eles deveriam ser
portadores: ser irrepreensível, fiel à esposa, sóbrio, cheio de bom senso,
simples no vestir, hospitaleiro, competente no ensino, indulgente, pacífico,
que soubessem governar bem as próprias Casas. (1 Tm 3:1-13; 5:17-25 e Tt
1:5-9).
Eram todos
chamados a viver de acordo com a ética cristã.
Do conjunto
de recomendações, queremos destacar:
“Pois se
alguém não sabe governar bem a própria casa, como cuidará da Igreja de Deus?”
(1 Tm 3:5).
É um apelo a
viver em família como um cristão.
A família é
escola de aprimoramento das almas. É campo abençoado em que a Misericórdia
Divina reúne, no tempo e no espaço, corações entrelaçados por sentimentos de
amor, ou por sentimentos de aversão, para a necessária transformação.
Se em nosso
lar, onde se encontram os nossos grandes compromissos do coração, nós nos
convertemos em espinheiros de irritação, de intolerância, de prepotência; se
escasseiam os gestos de gentileza ou colaboração; se negligenciamos as
necessidades afetivas daqueles que convivem conosco, como poderemos
exemplificar na Seara do serviço cristão?
Cooperação e
carinho em favor dos familiares representam realização essencial pelas possibilidades
de trabalho iluminativo.
Há no
entendimento de Paulo um estreito paralelo entre a família e a comunidade
cristã. Ele utilizou muitas vezes a imagem da família como metáfora para
designar os vínculos nas comunidades cristãs, onde o título de irmãos, face a
paternidade de Deus, conclama a convivência pautada pelo respeito, amor,
compaixão, compreensão.
Não só ele
se dirige a Tito e a Timóteo como um pai, como recomenda a Timóteo, em sua 1ª
epístola, que se houvesse necessidade de censurar alguém na comunidade, que ele
o fizesse como a um membro da família: censurar um ancião como a um pai; aos
jovens como a irmãos; as senhoras como a mães... (1 Tm 5:1-2).
Paulo
recomenda honrar as viúvas, auxiliar as que não tinham família que pudesse
auxiliá-las e que fossem dignas e verdadeiramente necessitadas.
Aborda a
necessidade dos servos cumprirem seus deveres para com os seus senhores e
incentiva os ricos a partilhar, para que se enriqueçam com boas obras.
Finaliza recapitulando suas principais
recomendações:
“Timóteo,
guarda o depósito, evita o palavreado vão e ímpio, e as contradições de uma
falsa ciência, pois alguns, professando-a, se desviaram da fé.“(1 Tm 6:20-21).
“Todos os da
nossa gente precisam aprender a praticar o que é bom, de sorte que se tornem
aptos a atender às necessidades urgentes e, assim, não fiquem infrutíferos.”
(Tito 3:9).
2ª. EPÍSTOLA A TIMÓTEO
Noticias
da Espiritualidade
No livro
“Paulo e Estevão”, capitulo X, 2ª parte, Emmanuel traz-nos informações sobre o
momento histórico em que Paulo escreveu a 2ª epístola a Timóteo.
A carta foi
escrita de Roma, pouco antes do seu martírio. Paulo encontrava-se preso
novamente. Fora preso nas catacumbas com outros cristãos, após o incêndio de
Roma, em 64 d.C. Através de Acácio Domício, Paulo consegue comparecer perante
Nero para fazer sua defesa pessoal. Nero sentiu-se fortemente impressionado
pelo discurso que Paulo fizera em favor dos cristãos, considerando-o extremamente
perigoso.
Assim,
embora lhe concedesse liberdade, deliberou, secretamente, que Paulo fosse
morto. Ao sair da prisão, instalou-se no lar de Lino e Claudia. Paulo valeu-se
da colaboração de Lucas para as cartas.
A 2ª
epístola a Timóteo foi a última carta que escreveu. Estava tomado de emoções
contraditórias, porque ao mesmo tempo em que sentia o término de sua missão na
Terra, ele procurava combater estes presságios, pensando na continuação de seus
esforços na evangelização.
CONTEÚDO
Nesta 2ª
epístola, o teor das recomendações é o mesmo da 1ª epístola. O que difere é o
forte colorido emocional que transparece em cada recomendação. Paulo sente que
se aproxima o momento de sua morte: “Quanta a mim, já fui oferecido em libação,
e chegou o tempo de minha partida.” (2 Tm 4:6).
Paulo estava
prestes a partir. No entanto, a continuidade da missão a que ele se dedicara
integralmente, a difusão do Evangelho de Jesus, prosseguiria através daqueles
que com ele colaboraram.
Que
mensagens derradeiras desejava ele confiar ao seu amado filho espiritual? O que
um pai desejaria transmitir de mais caro ao seu filho?
A dedicação
a Jesus, a perseverança, a fé, a resignação nos sofrimentos, a esperança. Paulo
partiria. Timóteo permaneceria. Que permanecesse integro na fé e na caridade!
Em cada
linha, uma orientação afetuosa, uma reminiscência de suas lutas, como se ele
estivesse fazendo o inventario de sua vida e, ao mesmo tempo, deixando, em seus
exemplos e exortações, um legado a Timóteo.
“O que de
mim ouviste na presença de muitas testemunhas, confia-o a homens fiéis, que
sejam idôneos para ensiná-lo a outros. Procura apresentar-te a Deus como um
homem provado, trabalhador que não tem de que se envergonhar, que dispensa com
retidão a palavra da verdade.” (2 Tm 2:2 e 15).
Lendo esta
Carta, que tem a tônica da despedida do grande apóstolo, pensamos: “Que exame
de consciência efetuou o apóstolo, compreendendo um vasto período de tempo
desde o dia em que Jesus o chamara na estrada de Damasco! Quantas lutas, quantas
alegrias, quantos afetos, quantos perigos, quantos testemunhos no desdobramento
de sua missão!”
Que
lembranças, que imagens deveriam estar sendo evocadas, para que vitoriosamente
ele pudesse dizer a Timóteo: “Combati o bom combate, terminei a minha carreira,
guardei a fé!” (Tm 4:7).
Efetivamente,
algumas semanas após a carta a Timóteo, Paulo sofre o martírio. Parte,
vitorioso ao encontro de Jesus. O apóstolo soubera transpor o abismo que o
separava do Cristo.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comentar:
“Todos os de nossa gente precisam aprender a praticar o que é bom e, assim, não
fiquem infrutíferos”.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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