ANIMISMO E MISTIFICAÇÃO
Animismo:
sistema fisiológico que considera a alma como causa primaria de todos os fatos
intelectuais e vitais (do latim: anima = alma +ismo + doutrina).
George Ernst
Sthal (1660-1734) médico e químico alemão refutou o estudo, em medicina, da
anatomia, da filosofia e da química, por entender que a cura de um doente
estava baseada na alma. Assim, estabeleceu o sistema que se tornou célebre pelo
nome de animismo.
O Espiritismo,
desde o inicio, expõe o fenômeno anímico como a manifestação da alma do médium,
portanto, em conceituação diferente daquela fixada por Stahl. A alma do médium
pode manifestar-se como qualquer outro Espírito, desde que goze de certo grau
de liberdade, pois recobra os seus atributos de Espírito e fala como tal e não
como encarnado.
Devemos
lembrar que, o perispírito é o órgão sensitivo do Espírito, por meio do qual
este percebe coisas espirituais que escapam aos sentidos corpóreos. Pelos
órgãos do corpo, a visão, a audição e as diversas sensações são localizadas e
limitadas às percepção das coisas materiais, pelo sentido espiritual, ou
psíquico, elas se generalizam: o Espírito vê, ouve e sente, por todo o seu ser,
tudo o que se encontra na esfera de irradiação do seu fluido perispirítico.
(GE. Cap. XIV item 22)
Kardec
conta-nos um fato anímico: Um senhor, habitante da província, nunca quis
casar-se, malgrado as instancias de sua família. Um dia, estando em seu quarto,
ficou admiradíssimo de se ver em presença de uma jovem, vestida de branco, e a
cabeça ornada com uma coroa de flores. Surpreso com essa aparição, e estando seguro
de que estava acordado, informou-se se alguém tinha vindo nesse dia; mas lhe
disseram que pessoa alguma fora vista. Um ano depois cedendo às novas
solicitações de uma parenta, decidiu ir ver a jovem que lhes propunham. Chegou
no dia de Corpus Christi, e, quando voltava da procissão, uma das primeiras
pessoas que vê (entrando na casa é uma jovem que reconhece como sendo a que lhe
tinha aparecido; estava vestida do mesmo modo). Ele ficou desorientado e, de
sua parte, a jovem soltou um grito de surpresa e sentiu-se mal.
Voltando a
si, disse: eu já tinha visto esse senhor em igual dia do ano precedente. Isso
foi em 1835. (LM, Cap. VII, item 117).
Ernesto
Bozano em seu livro - “Animismo ou Espiritismo‘?” Cap. III esclarece que, as
comunicações mediúnicas entre vivos (fenômenos anímicos) provam a realidade das
comunicações mediúnicas com os desencarnados (fenômenos espíritas).
Os Espíritos
Erasto e Timóteo, explicam: “O médium, no momento em que exerce sua faculdade,
o seu estado não difere sensivelmente do estado normal, sobretudo nos médiuns
escreventes. Acrescenta que, a alma do médium pode se comunicar como a de
qualquer outro” (LM. Cap. XIX, item 223). Cada médium revestirá o pensamento
recebido com suas próprias palavras, e Kardec ressalta que “a expressão desse
pensamento pode e deve mesmo mais frequentemente, ressentir-se da imperfeição
desses meios” (LM, Cap. XIX, item 224).
“Como um
médium cuja inteligência atual ou anterior esteja desenvolvida, nosso
pensamento se comunica instantaneamente, de Espírito a Espírito, graças a uma
faculdade peculiar a essência mesma do Espírito. Nesse caso encontramos no
cérebro do médium os elementos apropriados a roupagem das palavras correspondentes
a esse pensamento. É por isso que apesar de diversos Espíritos se comunicarem
através do médium , os ditados por ele recebidos trazem sempre o cunho pessoal
do médium, quanto à forma e estilo.
Porque
embora o pensamento não seja absolutamente dele, o assunto não se enquadre em
suas preocupações habituais, o que desejamos dizer não provenha dele de maneira
alguma, ele não deixa de exercer sua influência na forma, dando-lhe as
qualidades e propriedades características de sua individualidade” (LM , cap.XIX
item 225)
Para que se
possa distinguir se o Espírito do médium ou outro Espírito que se comunica, é
necessário observar a natureza das comunicações, através das circunstâncias e
da linguagem. Quanto à diferenciação entre o pensamento do médium e do Espírito
comunicante no médium intuitivo, Kardec diz que: “A distinção, de fato, e às
vezes bastante difícil de se fazer. Pode-se, entretanto, conhecer o pensamento
sugerido pela razão de não ser jamais preconcebido, surgindo na proporção em
que escreve...”
André Luiz
conceitua animismo como o “conjunto dos fenômenos psíquicos produzidos com a
cooperação consciente ou inconsciente dos médiuns em ação” (“Mecanismos da
Mediunidade”, Cap.23). Em outro livro, o mesmo autor conceitua o fenômeno
anímico como uma forma de desdobramento da alma, que se vê possuída. Há uma
espécie de manifestação anímica descrita por André Luiz mostrando que, muitas
vezes, o que se assemelha a um transe mediúnico, nada mais é do que o médium
desajustado, revivendo cenas e acontecimentos no seu mundo subconsciente,
fenômenos esse motivado pelo contato magnético, pela aproximação de entidades
que partilharam as remotas experiências. (“Nos Domínios da Mediunidade”, Cap.
22)
Nessa hora,
o médium se comporta e se expressa como se ali estivesse realmente um Espírito
a se comunicar.
Nessas
condições, diz André Luiz, “a ideia de mistificação talvez nos impelisse a
desrespeitosa atitude, diante do seu padecimento moral. Por isso, nessas condições,
é preciso armar o coração de amor, a fim de que possamos auxiliar e
compreender. Um doutrinador sem tato fraterno apenas lhe agravaria o problema, porque,
a pretexto de servir à verdade, talvez lhe impusesse corretivo inoportuno ao
invés de socorro providencial. Primeiro, é preciso remover o mal, para depois
fortificar a vitima na sua própria defesa.” (“Nos Domínios da Mediunidade”,
Cap. 22)
Mistificar:
enganar, burlar, trapacear, tapear, iludir. O primeiro sentido foi o de iniciar
alguém nos mistérios de um culto, tomá-lo iniciado. Deriva do grego “mysthés”,
donde procede “mysthérion“ mistério. As mistificações são o escolho mais
desagradável da prática mediúnica, mas, para evitá-la, há um meio muito simples,
que é o de não pedir ao Espiritismo nada mais do que ele não pode e deve
dar-vos: seu objetivo é o aperfeiçoamento moral da humanidade.
Desde que
não vos afasteis disto, jamais sereis mistificados, pois não há duas maneiras de
se compreender a verdadeira moral, mas somente aquela que todo homem de bom
senso pode admitir...
Se nada pedem,
aceitam o que dizem, o que dá na mesma. “Se recebessem com reserva e
desconfiança tudo o que se afasta do objetivo essencial do Espiritismo, os
Espíritos levianos não os enganariam tão facilmente”. (LM, 2ª parte, Cap.
XXVII, item 303). Do que se conclui que só é mistificado aquele que merece.
Perguntou-se
ao Espírito Emmanuel se a mistificação não demonstra desamparo dos mentores da
esfera espiritual. Ele respondeu “A mistificação experimentada por um médium
traz, sempre, uma finalidade útil, que é a de afastá-lo do amor próprio, da
preguiça no estudo de suas necessidades próprias, da vaidade pessoal ou dos
excessos de confiança em si mesmo. Os fatos de mistificações não ocorrem à
revelia de seus mentores mais elevados, que somente assim, o conduzem a
vigilância precisa e as realizações da humildade e a prudência no seu mundo
subjetivo” (“O Consolador”, perg. 401).
O charlatão
mais hábil geralmente é aquele seguido por maior contingente de pessoas. Assim,
é conveniente lembrar que, no intercâmbio com o mundo invisível, os novos
discípulos devem precaver-se contra os perigos representados por criaturas
desse gênero. O orgulho e a ostentação é o que impulsionam essas pessoas a agirem
assim. A técnica de o homem se apresentar como o melhor, o mais bem aquinhoado,
de salientar-se a frente dos outros, de ter a presunção de converter
consciências alheias, são atributos divorciados da verdade.
Abusa-se de
tudo, mesmo das coisas mais sagradas; por que não se abusa da Doutrina
espírita? Mas o mau uso que se faz de uma ideia não pode prejudicar a própria ideia.
Onde não há
especulação, o charlatanismo nada tem a fazer.
O objetivo
da Doutrina Espírita é a Reforma Intima do ser humano, tendo como foco
principal a revisão de Valores onde o senso de justiça se faz, urgentemente,
necessário. Devemos ter como parâmetro o exemplo de Jesus.
Bibliografia:
KARDEC,
Allan. A Gênese: Cap. XIV item
22
KARDEC, Allan. Livro dos
Médiuns: cap. VII, item 117; cap. XIX, item 224 e225 – 2a Parte - Cap. XXVIII,
item 303
XAVIER,
Francisco Cândido (Espírito André Luiz). Mecanismo da Mediunidade: Cap. 23
XAVIER,
Francisco Cândido, VIEIRA, Waldo (Espírito André Luiz). Nos Domínios da
Mediunidade: Cap. 22
XAVIER,
Francisco Cândido (Emmanuel). O Consolador: perg. 401
Fonte da
imagem: Internet Google.