Epístolas Universais
Epístolas De Pedro
Dentre as
Epístolas Universais, duas são atribuídas a Pedro. Conforme consta da Bíblia de
Jerusalém, na introdução a essas epístolas, a primeira carta foi aceita sem
contestação, desde os primórdios da igreja, a segunda, só receberia aceitação a
partir do século III. Sobre a questão da autoria das cartas, e especialmente em
relação à segunda, extraímos este trecho:
“... Mas se
um discípulo posterior se valeu da autoridade de Pedro, pode ser que tivesse
algum direito de o fazer, talvez porque pertencesse aos círculos que dependiam
do apóstolo, ou então porque utilizasse escrito proveniente dele e o adaptasse
e completasse. Isso não equivale necessariamente a cometer falsificação, pois
os antigos tinham ideias diferentes das nossas sobre a propriedade literária e
a ilegitimidade da pseudônima.”
Este extrato
reafirma o que já havíamos exposto anteriormente sobre esse ponto. Sigamos para
as cartas.
1ª EPÍSTOLA DE PEDRO
O autor
desta primeira epístola afirma escrever da “Babilônia”, no entanto - dizem os
estudiosos - provavelmente referindo-se a Roma; talvez por analogia a
semelhante decadência moral da capital do império.
É dirigida,
nominalmente, aos “estrangeiros da Dispersão”, indicando os nomes de cinco
províncias. Esses “estrangeiros dispersos” são compostos pelos judeus que
aceitaram o Cristianismo, e se espalharam por vários polos do mundo romano,
formando inúmeras comunidades cristãs; mas, também, compostos por todos aqueles
convertidos do paganismo ao Cristianismo.
Aqueles que
viviam em “terras estrangeiras”, muitas vezes, eram vítimas de preconceitos e
perseguições. Isso se aplica ainda muito mais aos cristãos que, convictos da
mensagem sublime de Jesus, rejeitavam todos os costumes pagãos, seus deuses,
seus ídolos, seus cultos politeístas...
O objetivo
principal desta primeira epístola é fortalecer a fé daqueles cristãos que
passavam por inúmeras tribulações, que eram injuriados, que eram excluídos e
viviam a margem da sociedade em que se encontravam.
É um apelo à
resignação, a aceitação das aflições do mundo. É uma conclamação a vida
fraternal entre a comunidade, a suportar as hostilidades através da união entre
os cristãos. Tem por isso, uma tonalidade de ânimo, de alegria, de esperança.
Lancemos
nossa visão sobre alguns dos tópicos essenciais:
•Amor e fidelidade para com o Cristo
“Nisso
deveis alegrar-vos, ainda que agora, por algum tempo, sejais contristados por
diversas provações, a fim de que a autenticidade comprovada da vossa fé, mais
preciosa do que o outro que perece cuja genuinidade é provada pelo fogo,
alcance louvor, glória, e honra por ocasião da Revelação de Jesus Cristo”. (I
Pd 1:6-7).
A mensagem
do Cristo é única, incomparável.
Enquanto
muitas outras correntes doutrinárias pregam a satisfação pessoal, Jesus
ensinou-nos a renunciar; enquanto muitas outras filosofias, escolas de
pensamento, seitas pregam o benefício particular, a glória do mundo, Jesus
ensinou-nos a suportar, pacificamente, as aflições do mundo para, assim,
alcançarmos o “Reino de Deus”.
Muitos, por
isso, não conseguem compreender essa especial felicidade de passar por
“provações”.
Temos, neste
trecho, um canto de louvor ao Cristianismo. “Bem-aventurados os aflitos ” -
disse o Mestre.
• A regeneração pela palavra
“Pela
obediência à verdade purificastes as vossas almas para praticardes um amor
fraternal sem hipocrisia. Amai-vos uns aos outros ardorosamente e com coração
puro. Fostes regenerados, não de uma semente corruptível, mas incorruptível,
mediante a Palavra viva de Deus, a qual permanece para sempre. Com efeito, toda
a carne é como a erva e toda a sua glória como a flor da erva. Secou a erva e
sua flor caiu; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre. Ora, é esta a
Palavra cuja Boa Nova vos foi levada”. (I Pd 1:22-25).
As palavras
de Jesus, que representam a Lei Divina, permanecerão para sempre.
Cidade,
povos, culturas passarão, mas as palavras de infinita sabedoria do Cristo são
indeléveis, ecoarão pela eternidade. Felizes os que a ouvem e se regeneram.
• Deveres dos cristãos entre os gentios
“Amados,
exorto-vos, como a estrangeiros e viajantes neste mundo, a que vos abstenhais
dos desejos carnais que promovem guerra contra a alma. Seja bom o vosso
comportamento entre os gentios, para que, mesmo que falem mal de vós, como se
fosseis malfeitores, vendo as vossas boas obras glorifiquem a Deus, no dia de
sua visita”. (I Pd 2:11-12).
A principal
marca de Jesus é a sua exemplificação.
É muito
fácil, a todos nós, falar. É muito fácil cantar hinos e louvores a Deus. É
muito fácil ler as Escrituras e enunciar incontáveis adjetivos a sua harmonia
Providencial.
Mas, todos
esses atos quase não valerão se não forem sinceros.
O convite de
Pedro as comunidades era para demonstrarem, aos gentios, o amor cristão. Esse
convite é plenamente atual também a todos nós: amar mais!
• Para com as autoridades
“Sujeitai-vos
a toda instituição humana por causa do Senhor; seja ao rei, como soberano, seja
aos governadores, como enviados seus para a punição dos malfeitores e para o
louvor dos que fazem o bem, pois esta é a vontade de Deus...” (I Pd 2:13-15).
Toda
violência, toda reivindicação agressiva não pode partir de um cristão, eis que
são contrárias aos ensinamentos de Jesus. O Mestre, a propósito, ensinou-nos a
“dar a César o que é de César”. A época da redação desta epístola, o Império
Romano seguia oprimindo os mais fracos. Por isso, para as comunidades cristãs,
para conter qualquer manifestação de violência ou desobediência a Lei, Pedro
fazia um convite a paz.
Opressores e
leis que continuam sendo mudadas existiram em todos os tempos. Lembremo-nos, no
entanto, que todas as renovações deverão ser conquistadas não pela imposição,
mas pelo ensinamento paciente e fraterno.
• Para com os senhores exigentes
"Vós,
criados, sujeitai-vos, com todo o respeito, aos vossos senhores, não só aos
bons e razoáveis, mas também aos perversos. É louvável que alguém suporte
aflições, sofrendo injustamente por amor de Deus." (I Pd 2:18-19).
Se a
obediência e resignação é um lema para viver nas grandes coletividades, também
o é para os pequenos grupos, para os pequenos relacionamentos.
Aos que se
fizerem pequeninos, e suportarem resignadamente suas provações, Jesus reconhecera
como verdadeiros discípulos.
• Entre irmãos
“Finalmente,
sede todos unânimes, compassivos, cheios de Amor fraterno, misericordiosos e
humildes de espírito. Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao
contrário, bendizei, porque para isto fostes chamados. Afaste-se do mal e
pratique o bem, busque a paz, e siga-a...” (I Pd 3:8-9 e 11).
Não temos
aqui o lema de todo cristão?
A busca
incansável do Bem implica na constante auto renovação, auto avaliação, implica
em fazer o bem sempre, mesmo, e especialmente, após cada injúria, cada
maldizer.
Eis a
essência da mensagem do Mestre!
• A supremacia do amor
“Acima de
tudo, cultivai, com todo ardor o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão
de pecados.” (I Pd 4:8).
Qual aquele
que nunca magoou alguém? Quem é que está totalmente isento de ações que, de
alguma forma, feriram o sentimento de alguém? Quantas não são as ações que
trazem malefício ao próximo?
No entanto,
seja qual a ação que tenhamos feito, se formos capazes de ser humildes e
reconhecer nosso erro, e se nos esforçarmos para corrigi-lo, então, teremos
agido como cristãos.
Temos, pois,
que trabalhar para tirar da “terra” toda “semente” ruim que tenhamos lançado. E
se agirmos virtuosamente, sendo fraternos e compassivos em todos os momentos,
então, teremos aprendido pelo amor. Quantas não serão as aflições futuras que
evitaremos?
2ª EPÍSTOLA DE PEDRO
Nesta
Segunda Carta, conforme introdução da Bíblia de Jerusalém, o autor tem dois
objetivos principais: alertar sobre os falsos doutores e responder sobre a
inquietação gerada pela demora da Parusia (a aguardada volta do Cristo).
A linguagem
apresenta diferenças tão significativas em relação à primeira carta que esta, a
segunda, tornou-se um dos escritos bíblicos que mais encontrou dificuldade para
ser aceito, pela igreja, na relação dos livros ditos “inspirados”.
Como já
exposto, esta Carta, em seu conteúdo, assemelha-se a Epístola de Judas. Por
isso, muitos estudiosos afirmam que a segunda Epístola de Pedro trata-se de uma
versão revista e ampliada da Epístola de Judas.
Alguns
especialistas datam-na como redigida no ano 66 da nova era. Se for o caso,
seria o último escrito do Novo Testamento. Não há, por ora, como sabermos com
certeza.
Abstraindo-nos
a essas deduções de ordem histórico-teológicas, observamos que se destacam,
nesta segunda Carta de Pedro, a vocação Cristã, a certeza da Parusia vindoura,
e o anúncio de um mundo novo em que a justiça prevalecera.
Selecionemos
alguns trechos:
• A busca do aprimoramento espiritual
“... aplicai
toda a diligência em juntar a vossa fé a virtude, a virtude ao conhecimento, o
conhecimento ao autodomínio, o autodomínio à perseverança, a perseverança à
piedade, a piedade ao amor fraterno e o amor fraterno à caridade.” (II Pd
1:5-7).
Encontramos neste
trecho um verdadeiro incentivo ao aprimoramento do Ser. A busca constante da
virtude, da superação pelo esforço e pelo devotamento, a ação continua no Bem,
e o empenho em praticar a caridade representam os valores do verdadeiro
cristão.
Temos, assim,
Uma verdadeira síntese da caminhada daquele que abraçou o Cristianismo e,
segundo os ensinamentos do Mestre, torna-se apto a participar do “banquete
espiritual”.
• A palavra profética
“Temos,
também, por mais firme a palavra dos profetas, a qual fazeis bem em recorrer
como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela
d’alva em nossos corações.” (II Pd 1:19).
A ação
profética é não há dúvida, marcante entre o povo judeu. Muitos foram os grandes
profetas que despontaram entre eles. Homens valorosos, que pregavam a virtude.
Por isso, Jesus dizia que não havia vindo para contradizê-los. No entanto,
quantos foram os que deram ouvidos a eles? Pedro aqui convoca a comunidade a
recorrer à luz. Daqueles ensinamentos.
• Os falsos doutores
“Houve,
contudo também falsos profetas no seio do povo como haverá entre vós falsos
mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou
e trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” (II Pd 2:1)
Os falsos
doutores existiram em todos os tempos. Como uma erva daninha são capazes de
perverter qualquer ensinamento. No Cristianismo nascente eram muitos aqueles
que se infiltravam, arrogando-se sabedoria e autoridade, com o objetivo de
fazer desmoronar o edifício cristão. Era necessário estar vigilante.
Ainda hoje
esses falsos doutores tentam corromper as mais belas verdades. Precisamos estar
atentos!
•Novo apelo
“O que nós
esperamos, conforme sua promessa é novos céus e nova terra, onde habitará a
justiça. Assim, vista que tendes esta esperança, esforçai-vos ardorosamente
para que ele vos encontre em paz, vivendo vida sem mácula e
irrepreensível." (Pd 3:13-14).
O ser humano
tem, em sua consciência, a eterna aspiração a um Mundo diferente, onde impere a
Justiça e o Amor, onde o mais forte não oprima o mais fraco, onde haja
verdadeira união e fraternidade. Assim como os primeiros cristãos, todos nós
sonhamos com esse Mundo!
Esse dia
chegara, com certeza. Mas depende de nós, de nosso trabalho, de nosso esforço,
de nossa dedicação e compromisso com Bem para implantar na Terra o Evangelho do
Mestre Jesus.
Façamos a
nossa parte!
QUESTÃO
REFLEXIVA:
O que
podemos fazer para despertar nas pessoas o desejo de construir um mundo melhor?
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Corbin,
Alain - (Organizador Autores Diversos) – História do Cristianismo.
- Carrez
M./Dornier P./Dumais M. / Trimaille M. - As Cartas de Paulo, Tiago Pedro e
Judas.
- Atlas
Bíblico Interdisciplinar - Escritura - História - Geografia - Arqueologia -
Teologia - Ed. Paulus.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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