Epístolas Universais
Epístolas De João
Dentre as
sete Epístolas Universais, três são atribuídas ao apóstolo João, que além do
quarto Evangelho também seria autor do livro do Apocalipse.
Sobre a
autoria dos livros do Novo Testamento, como expusemos em aula anterior,
lembramos que muitos sãos os debates dos estudiosos para chegar a uma
definição.
Em relação
às Epístolas de João, é consenso que, de maneira geral, as três cartas são
semelhantes, eis que possuem a mesma linguagem; logo, seriam do mesmo autor.
Outro ponto
interessante é que a ordem de surgimento das cartas de João talvez seja inversa
à ordenação apresentada. Observação esta que, a propósito, consta das anotações
do quadro cronológico da Bíblia de Jerusalém.
Outra
característica marcante destas epístolas é a reafirmação da natureza carnal do
corpo do Cristo. Isto se justifica porque, desde o primeiro século houve
movimentos que negavam a real encarnação de Jesus.
Afirmavam
que o corpo do Cristo seria uma mera aparência com que o “Filho do Homem”
apresentava-se na Terra. Essa Corrente de pensamento que se infiltrou dentro
das comunidades, foi denominada Docetismo. Por isso encontramos as fortes
exortações como: “... todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne
é de Deus; e todo espírito que não confessa Jesus não é de Deus”.
Passemos as epístolas:
1ª EPÍSTOLA DE JOÃO
Esta
primeira carta é marcada pelas exortações, especialmente para a atenção e o
cuidado com as diversas infiltrações que podiam minar o edifício do
Cristianismo, especialmente aquelas que negavam a humanidade de Jesus.
Por isso,
logo ao início, João se apresenta como o apóstolo e testemunha viva do Jesus
histórico, ao dizer: “... o que ouvimos; o que vimos com nossos olhos, o que
contemplamos, e o que nossas mãos apalparam...” (Jo 1:1).
E prossegue
conclamando ao caminho de retidão, a comunhão com Deus, ao fortalecimento da fé
e do amor. É relevante notar o carinho com que se dirigia às comunidades: “Amados”
ou “Meus filhinhos”.
Busquemos
alguns trechos de sua primeira carta:
• Caminhar na Luz
“... Deus é
Luz e nele não há treva alguma. Se dissermos que estamos em comunhão com ele e
andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” (I Jo 1:5-6).
Nesta
afirmação de João: “Deus é Luz” temos o emprego simbólico da palavra luz. O
significado figurado da palavra luz é de iluminação da consciência, de
sabedoria, de verdade, de vida...
Quanto à
definição exata dos atributos de Deus é algo que está além de nossa capacidade
de compreensão, conforme resposta dos Espíritos Superiores a questão 13 de “O
Livro dos Espíritos”, quando Kardec enumerou todos os atributos de Deus que nós
somos capazes de conceber, como: Eterno, Infinito, Imutável, Imaterial, Único,
Todo-Poderoso, Soberanamente Justo e Bom, obteve a seguinte resposta:
“... mas
ficais sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente, e
para as quais a vossa linguagem, limitada as vossas ideias e as vossas
sensações, não dispõe de expressões...”
Exatamente
por isso, quando nos expressamos sobre os atributos de Deus, usamos figuras.
João, neste trecho, chamou-O de Luz, justamente querendo dizer a Luz que brilha
por todo o Universo, o Criador da vida e Regente Soberano.
Por outro
lado, as Trevas também têm seu valor figurado, e significa ignorância,
iniquidade, o egoísmo, o orgulho, e todas as demais más paixões humanas.
Então afirma
João que: “Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas,
mentimos...” (Jo 1:6).
Sim. Para
alcançarmos a luz do conhecimento, da sabedoria, do amor, que combate toda
obscuridade, temos que vivenciar os ensinos de Jesus, que também disse:
“Eu sou a
Luz do Mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da
vida".
• Observar os Mandamentos, especialmente o
da caridade.
“Porque esta
é a mensagem que ouvistes desde o início que nos amemos uns aos outros...” (I
Jo 3:11).
“Filhinhos,
não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade. Nisto
saberemos que somos da verdade.” (I Jo 3:18-19).
Dentre os
ensinamentos de Jesus, ressalta-se o amor ao próximo, eis que o maior
mandamento é: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”.
João lembra
aqui o principal ensinamento do Mestre, pois todas as grandes virtudes decorrem
da caridade. O convite é premente, pois fácil é conhecer a Boa Nova e
reconhecer seu valor inestimável, mas, poucos são os que a põe em prática. Essa
é uma verdade que se aplica em todos os tempos. Na expansão do Cristianismo,
grande foi o esforço dos apóstolos, por carta ou pessoalmente, para infundir o
sentimento verdadeiro que resulta em caridade real.
• Os falsos profetas da erraticidade
“Amados, não
acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de
Deus, pois falsos profetas vieram ao mundo.” (I Jo 4:1).
Os Espíritos
manifestaram-se em todas as épocas da Humanidade. Analisando a Bíblia,
encontraremos, tanto no velho como no Novo Testamento, as mais diversas
manifestações entre os dois Planos.
Nesse
intercambio, encontramos, então, relatos bíblicos que descrevem os Espíritos
enviados por Deus para auxiliarem os Homens, mas, também, encontramos várias
passagens em que são narrados graves processos obsessivos que oprimiam a
muitos.
Jesus,
durante a sua missão, expulsou muitos Espíritos inferiores, e, principalmente,
convocou seus discípulos a fazerem o mesmo: “Curai os enfermos, ressuscitai os
mortos, purificar os leprosos, expulsai os demônios...”.
Vemos, pois,
que os discípulos tinham pleno conhecimento da natureza diversa dos Espíritos.
Em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XXI, item 10, encontramos:
“Os falsos
profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais
numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam
a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe
os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.”
Os Espíritos
mistificadores, que tinham o objetivo de enganar e confundir, pululavam em
abundancia a época de Jesus. Eram incontáveis os números dos obsidiados, e os
Espíritos que, inutilmente, tentaram impedir o avanço do Cristianismo, pois
todos eles fugiam espavoridos diante da presença insuperável de Jesus.
Essa
presença dos maus Espíritos é uma circunstância constante de nossa vida.
Segundo nossas ações, e pela lei de afinidade podemos atrair os bons ou maus
Espíritos.
A mensagem
de João, em sua epístola, é bastante atual. Precisamos estar vigilantes!
• A fonte da caridade
“Não há
temor no amor: ao contrário: o perfeito amor lança fora o temor porque o temor
implica castigo, e o que teme não chegou à perfeição do amor." (I Jo
4:18).
Em princípio,
praticamente todos nós temos algum temor, algum medo. Em nossa sociedade, são
muitas as situações que podem, por ventura, gerar alguma apreensão.
É um impulso
natural, um instinto, a auto conservação. No entanto, quanto mais evoluímos
mais vamos nos tornando capazes de superar os temores, e sendo capazes de fazer
pequenos sacrifícios pelo próximo. Este é, a propósito, um dos mais belos
convites de Jesus, quando estava ensinando aos discípulos e diz que “não veio
para ser servido, mas para servir”, propondo que eles fizessem o mesmo.
Os
discípulos aprenderam a lição e se tornaram, por sua vez, grandes servidores.
Arriscaram a própria vida, sujeitaram-se a muitos perigos e suportaram todas as
agressões, com coragem! Esses atos aproximam-se do perfeito amor!
Quando o
desejo de crescer é verdadeiro, quando há sinceridade nas ações, quando nos
comprometemos com os princípios cristãos, desenvolvemos uma fé que nos
fortalece, que nos dá uma coragem que nem imaginávamos, que nos deixa com o
coração intrépido para fazer o Bem. Nesse momento, o amor venceu o medo.
2ª EPÍSTOLA DE JOÃO
Esta carta,
assim como a terceira, é pequena. João se autodenomina “O Ancião”, e convida à
vigilância e cuidado com os adversários da Doutrina Crista. Vejamos:
• Vigilância.
“Acautelai-vos,
para não perderdes o fruto de nossos trabalhos, mas, ao contrário, receber
plena recompensa.” (II Jo 8).
A mensagem
de Jesus emociona a muitos. Suas palavras de consolo, de esperança,
demonstrando as recompensas futuras que cabe aqueles que seguirem seus
ensinamentos, despertam o ânimo dos Homens.
No entanto,
esse entusiasmo inicial, muitas vezes, esfria. É que para verdadeiramente
seguir o Evangelho há que existir esforço e renúncia. Quantos são os que estão
dispostos a isso?
Dentre
aqueles que tinham iniciado o trabalho, aquelas tarefas dignificantes em favor
do semelhante, dentre esses, muitos desistem no meio do caminho por
invigilância, e se deixam levar pela vaidade, pelo auto fascínio, pelo desejo
de recompensas rápidas... Esses acabam perdendo o fruto do trabalho: a alegria
de servir, a recompensa segundo suas obras!
Sejamos
vigilantes e perseveremos até o fim.
• Fidelidade.
“Todo o que
avança e não permanece na doutrina de Cristo não possui a Deus.” (II Jo 9).
Neste ponto
João conclama a fidelidade. Lembremos que, especialmente naquela época, muitos
eram os cultos e as religiões que se espalhavam pelo Império Romano, e que
cultuavam as facilidades da vida, a idolatria, etc...
As
Comunidades Cristãs sofriam muitas investidas desses outros grupos. Muitos se
infiltravam no movimento cristão para, propositadamente, corrompê-lo.
Era
necessário, então, que se mantivessem alertas. Era preciso permanecer na
doutrina do Cristo; lutar pela sua integridade, da forma que Jesus a havia
deixado.
A mesma
atenção cabe-nos plenamente ainda hoje. Quantos não são os que ainda tentam
corromper os ensinamentos do Cristo? Quantos não tentam distorcer os
ensinamentos da Doutrina Espírita?
Precisamos
buscar essa fidelidade a Jesus, para que permaneçamos com Deus.
3ª EPÍSTOLA DE JOÃO
E, por fim,
nesta última carta de João, vemos que “O Ancião” possui autoridade moral para
se pronunciar sobre a atitude de indivíduos da comunidade, reprovando ou
elogiando. Faz também um chamamento à união e a fraternidade.
• União da Comunidade.
“Não há
alegria maior para mim do que saber que meus filhos vivem na verdade.” (III Jo
4)
As
Comunidades Cristãs, pelo trabalho valoroso dos apóstolos e outros seguidores
fiéis do Cristo, cada vez mais se fortaleciam. Era o resultado de muita
dedicação, de muito esforço, de muito empenho que, então, mostrava seus frutos.
João,
contemplando esse crescimento, declara-se feliz por ver a chama de fraternidade
reinante entre “seus filhos”, ou seja, todos aqueles que abraçaram a causa
cristã e a ela se devotaram, vivenciando a Lei do Amor.
Nós, quando
vemos hoje como o Cristianismo expandiu-se pelo mundo, também não ficamos
felizes? Podemos, pois, compreender as emoções vividas pelo grande apóstolo.
Ficamos ainda exultantes em ver o Espiritismo resgatar a essência do
Cristianismo como o Mestre deixou-nos.
• Amor aos estrangeiros.
“Caríssimo,
procedes fielmente agindo assim com teus irmãos, ainda que estrangeiros.
Devemos, pois, acolher esses homens, para que sejamos cooperadores da verdade.”
(Jo 3:5 e 8).
Na época que
por ora analisamos, os conflitos entre povos e culturas diversas eram muito
intensos. Existia, em muitos casos, verdadeira aversão a estrangeiros. O povo
judeu, lembremos, era um exemplo de um grupo relativamente fechado e que,
muitas vezes, valorizava apenas seus próprios costumes.
Inúmeros
foram os judeus convertidos ao Cristianismo, mas, em muitos deles, persistia
certa repulsa por outros grupos. Tal conduta era, absolutamente, oposta aos
preceitos cristãos.
Por isso,
nesta epístola, João convoca a todos os integrantes dos núcleos cristãos a
exercerem o Amor maior, sem restrições; convocava-os a aceitar todos os
estrangeiros até mesmo para que isso servisse de testemunho da mensagem do
Cristo.
Os tempos
mudaram, mas, ainda hoje, existe muita aversão entre grupos de culturas,
religiões, ou países diferentes.
A Humanidade
precisa avançar e superar essas rejeições resultantes do desamor. Sejamos nós
os primeiros a exemplificar essa lição.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente o
ensinamento de João que mais lhe chamou a atenção.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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