Epístolas Paulinas
Epístola
Aos Romanos
INTRODUÇÃO
A Epístola
aos Romanos foi escrita em Corinto por volta de 58 d.C. Esta carta irá exercer
incalculável influência na estrutura da teologia das igrejas católica e
protestante. Muitos artigos de fé destas religiões cristãs encontram sua
fundamentação na interpretação do pensamento de Paulo exposto nesta epístola.
Notícias da Espiritualidade
Relata-nos
Emmanuel em Paulo e Estevão cap. VII 2ª parte que Paulo em Corinto não falava
em outra coisa senão do projeto de visitar Roma no intuito de auxiliar os
cristãos ali existentes a estabelecerem instituições semelhantes às de Jerusalém,
de Antioquia, de Corinto. Pensou então em preparar a sua chegada fazendo-a
preceder de uma carta recapitulando a doutrina consoladora do Evangelho e
nomeando com saudações afetuosas todos os irmãos do seu conhecimento.
CONTEÚDO
Paulo inicia
a carta apresentando-se como apóstolo de Jesus, chamado para pregar o Evangelho
a todos os gentios. Enaltecendo a fé dos romanos, destaca o seu vivo desejo de
levar-lhes o Evangelho, pois ele se sente devedor “a gregos e a bárbaros, a
sábios e a ignorantes”.
Tese central - A redenção de todos se dá
pela fé em Jesus
Antes da
revelação da Boa Nova, todos, judeus e gentios, caminhavam de forma contrária
as Leis de Deus. Os gentios por não terem se interessado em conhecer as Leis
Divinas, deixavam-se levar pelos valores do mundo, sem discernirem entre o bem
e o mal.
Os judeus
tinham o conhecimento das Leis de Deus, orgulhavam-se deste conhecimento,
sentiam-se aptos a julgarem e a condenarem os outros; porém, fazendo as mesmas
coisas que condenavam nos outros, acabavam por condenar a si mesmos.
Paulo, no
capitulo 2, estabeleceu uma distinção entre a Lei Divina, o Decálogo, e a Lei
Mosaica. As “obras da lei” decorriam da observância às prescrições exteriores
dadas por Moises, prescrições estas que Paulo, em suas epístolas,
constantemente se refere, como: a circuncisão, as regras de alimentação, a
observância do sábado, os rituais de purificação.
Neste
sentido, para os judeus, a circuncisão significava (e ainda significa) o selo
da aliança com Deus. Mas, dirá Paulo, as obras da lei são apenas formalidades,
que não conduzem ninguém a Deus. Há uma circuncisão na carne e ha uma
circuncisão do coração. Os verdadeiros circuncidados são os do coração, os que
vivem a prática do Bem. Portanto, tanto há verdadeiros circuncidados entre os
judeus, como entre os gentios. Há transgressores tanto entre os judeus, como
entre os gentios.
Papel da fé
Paulo
conclui seu pensamento, afirmando: “Porquanto nos sustentamos que o homem é
justificado pela fé, sem as obras da Lei.” (Rm 3:28). A partir deste enunciado,
traz o exemplo de Abraão, aquele com quem Deus estabeleceu o Pacto da Aliança,
através da circuncisão, para afirmar que a fé em Deus precedeu todas as obras
de Abraão. “Abraão creu em Deus, e isto lhe foi levado em conta de justiça.”
(Rm 4:3).
Assim,
acontece o mesmo com aqueles que creem em Jesus. A fé em Jesus precede as obras
do cristão. Paulo não se referia exclusivamente ao ato de crer, mas a fé ativa,
aquela que impulsiona o Homem a viver conforme os ensinamentos de Jesus, em
quem deposita a sua fé.
Qual é o
papel da fé? Encontramos em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XIX, item
11, pelo Espírito protetor José: “A fé, para ser proveitosa, deve ser ativa;
não pode adormecer. Mãe de todas as virtudes que conduzem a Deus deve velar
atentamente pelo desenvolvimento das suas próprias filhas. A esperança e a
caridade são uma consequência da fé. (...) Pois, se não tiverdes fé, que
reconhecimento tereis e, por conseguinte, que amor?”
A reconciliação com Deus
A transgressão
gera a desarmonia com as Leis de Deus. Mas, através de Jesus, a Misericórdia
Divina derramou-se profusamente sobre os Homens, pois Jesus, ao introduzir no
mundo o exemplo do verdadeiro Amor, traçou o caminho que reconcilia o homem com
Deus: “o amor que cobre uma multidão de pecados”.
Libertação
“Assim
também vós, considerai-vos mortos para o pecado e vivos para Deus em Cristo
Jesus.” (Rm 6:11).
Paulo
considera que quando transgredimos as Leis de Deus, ficamos escravos do
“pecado”, ou seja, iludidos no erro e, então, ficamos submetidos às
consequências dos atos contrários as Leis de Deus. O cristão é chamado a ser
uma nova criatura, a se libertar do Mal pela prática do Bem: “... e, assim,
livres do pecado, vos tornastes servos da justiça.” (Rm 6:18 ).
A luta interior
“Sabemos que
a Lei é espiritual; mas eu sou carnal, vendido como escravo ao pecado.
Realmente não consigo entender o que faço; pois não pratico o que quero, mas
faço o que detesto.” (Rm 7:14-15).
“Verifico,
pois, esta lei: quando eu quero fazer o bem, é o mal que se me apresenta.” (Rm
7:21).
A mais
expressiva descrição sobre todos os sentimentos e lutas, que visitam os nossos
corações quando sinceramente abraçamos o projeto de nossa renovação interior,
está condensada nestes versículos de Paulo.
Nosso agir
decorre de hábitos cristalizados que, na maioria das vezes, são inconscientes.
Simplesmente reagimos às situações, conforme nossos condicionamentos. São as
sombras de nossa inferioridade que nos impelem a agir desta ou daquela maneira (impulsos).
Como agir de
conformidade com o que queremos? Agindo conscientemente, ou seja, sendo senhor
de nossas ações, governando emoções, sentimentos e os impulsos que deles
decorrem. Para tanto é necessário o autoconhecimento e exercitarmos o “Orai e vigiai”.
Neste esforço, paulatinamente, vamos adquirindo novos hábitos, até que o Bem
esteja definitivamente instalado em nós.
Os
ensinamentos revelados por Jesus despertam-nos para a busca dos valores
espirituais. A cerca disto, assevera Paulo: “Com efeito, os que vivem segundo a
carne desejam as coisas da carne, e os que vivem segundo o espírito, as coisas
que são do espírito.” (Rm 8:5).
Viver
segundo a carne é deixar-se conduzir pelo fascínio que a matéria exerce, ser
governado pelos desejos e impulsos inferiores, é viver somente a vida material,
concentrar suas aspirações nos bens da Terra.
No entanto,
aquele que vive segundo as leis sublimes do espírito, assinala Emmanuel, em
‘Pão Nosso’, lição 82: “... respira em esfera diferente do próprio campo material
em que ainda pousa os pés. Avançada compreensão assinala-lhe a posição íntima.
Vale-se do dia qual aprendiz aplicado que estima na permanência sobre a Terra
valioso tempo de aprendizado que não deve menosprezar.”
Contudo,
todos, tanto os que já despertaram espiritualmente, como aqueles, que ainda
permanecem adormecidos, todos alcançaremos, em nossa trajetória evolutiva, a
condição da perfeição relativa. Paulo destaca: “E se somos filhos, somos também
herdeiros; herdeiros de Deus e co-herdeiros de Cristo...” (Rm 8:17).
A visão de Paulo sobre Israel
Do capitulo
9° ao 11°, o apóstolo aborda a questão da posição dos judeus face ao Evangelho
e enfatiza a Misericórdia de Deus para com todos.
Os judeus
mantinham-se obstinados em não aceitar Jesus como enviado de Deus, não obstante
o patrimônio de fé, as profecias, a promessa, o exemplo de fé dos patriarcas.
“Desconhecendo
a justiça de Deus e procurando estabelecer a própria, não se sujeitaram a
justiça de Deus. Porque a finalidade da Lei é Cristo para a justificação de
todo aquele que crê.” (Rm 10:3-4).
A posição
dos judeus em relação a Jesus entristecia profundamente o coração de Paulo e
ele assim se expressa: “Irmãos, o desejo de meu coração e a prece que faço a
Deus em favor deles é que sejam salvos. Porque, eu lhes rendo testemunho de que
têm zelo por Deus, mas não é zelo esclarecido.” (Rm 10:1-2).
Eles ouviram
os ensinamentos de Jesus, mas não os acolheram porque seus corações estavam
endurecidos; a fé que eles tinham era uma fé caracterizada pela intransigência,
pela rigidez, que os impedia de ouvir novos ensinamentos.
O que
acontecera com aqueles que não acolheram Jesus? Todos despertarão, todos
compreenderão no exercício do Amor o caminho traçado por Jesus, pois a
Misericórdia de Deus abrange todos os seus filhos e o Pai a todos destinou para
o Amor.
As lições de Jesus na prática: renovação,
libertação e progresso espiritual
“E não vos
conformeis com este mundo, mas transformai-vos, renovando a vossa mente, a fim
de poderes discernir qual é a vontade de Deus, o que é bom, agradável e
perfeito.”
“(...) eu
peço a cada um de vós que não tenha de si mesmo um conceito mais elevado do que
convém, mas uma justa estima, ditada pela sabedoria, de acordo com a medida da
fé que Deus dispensou a cada um.” (Rm 12:2-3).
Eis um
convite à vivência da humildade. Em geral, ou superestimamos as nossas supostas
qualidades e nos inflamos de orgulho e vaidade, ou nos sentimos inferiorizados,
concentrando-nos nas nossas dificuldades e imperfeições. Em ambos os casos, o
autoconceito não traduz a realidade, pois que todos nós temos qualidades já
adquiridas e virtudes por adquirir.
A humildade
auxilia-nos a colocarmos as qualidades já adquiridas a serviço do Bem, e a não
vermos nelas motivo de nos vangloriarmos ou motivo para pleitearmos posições de
destaque na Seara de Jesus. É ainda a humildade que nos ajuda a reconhecer o
quanto temos a vencer.
Que cada um
assuma o posto de serviço para o qual foi chamado por Jesus e realize a sua
tarefa com amor, cooperando com todos.
“Que vosso
amor seja sem hipocrisia, detestando o mal e apegados ao bem; com amor
fraterno, tendo carinho uns para com os outros, cada um considerando o outro
como mais digno de estima.” (Rm 12:9-10).
No final do
12° capitulo, Paulo aborda uma lição fundamental: Como agir perante o mal que
nos alcança?
“Abençoai os
que vos perseguem; abençoai e não amaldiçoeis. (...) A ninguém pagueis o mal
com o mal! (...) Não te deixes vencer pelo mal, mas vence o mal com o bem.” (Rm
12: 14,17 e 21).
Em geral, o
Homem reage pelos mesmos padrões. No entanto, o cristão recebeu de Jesus lições
diferentes neste sentido: não retribuir o mal com o mal. E isto porque
enfrentar o mal com armas semelhantes é intensificar o mal, acarretando
consequências imprevisíveis e dolorosas.
A
indulgência auxilia-nos a compreender que todos nós, pelas sombras que há em
nossos corações, estamos suscetíveis de ferir os nossos semelhantes de
múltiplas formas.
Se formos
indulgentes, passaremos a considerar qualquer ofensor como um irmão, temporariamente
em desequilíbrio, atravessando a chamada nuvem do momento infeliz; passaremos a
exercer a compaixão diante daquele que conscientemente pratica o mal, eis que
aquele que semeia o mal terá que recolher os espinhos.
No entanto,
a recomendação de Jesus, reiterada por Paulo, vai além: fazer o bem a quem nos
faz o mal. Assim, o esquecimento do mal é o primeiro passo. O segundo passo
consiste em fazer o bem a quem nos faz o mal.
O primeiro
liberta-nos das consequências negativas do mal que abrigamos em nós pelo
rancor, pela mágoa, pelo ressentimento. O segundo ilumina o coração e faz
germinar a semente do amor incondicional.
“A caridade
não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude da Lei.”
(Rm 13:10).
Cuidado com os falsos ensinamentos
Nos
capítulos 14 e 15, Paulo faz uma reflexão sobre a alimentação, que era um traço
distintivo do povo judeu e um dos preceitos da lei. Isto acarretava conflitos
nas comunidades cristãs formadas por judeus e gentios, pois os judeus queriam impor
aos gentios a observância dessa lei. Vejamos as suas considerações a respeito
do assunto:
“Eu sei e
estou convencido no Senhor Jesus que nada é impuro em si. (...) o Reino de Deus
não consiste em comida e bebida, mas é justiça, paz e alegria no Espírito
Santo. (...) não destruas a obra de Deus por uma questão de comida”. (Rm 14:14,
17 e 20).
Faz então um
apelo, a exemplo de todas as outras epístolas, em relação aos que ensinavam uma
falsa doutrina. “Rogo-vos, entretanto, irmãos, que estejais alerta contra os
provocadores de dissensões e escândalos contrários aos ensinamentos que
recebestes. Evitai-os”. (Rm 16:17).
Epílogo
Paulo
reafirma sua condição de apostolo dos gentios, fala de seu projeto de ir a Roma
e a Espanha e saúda a todos. Paulo irá a Roma, com certeza, mas como
prisioneiro por amor ao Cristo.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente: “A
caridade não pratica o mal contra o próximo. Portanto, a caridade é a plenitude
da Lei”.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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