Ato Dos Apóstolos
Saulo
e Estevão
SAULO,
O DOUTOR DA LEI
A sociedade
judaica, à época de Jesus, era composta por diversas classes que se dividiam,
especialmente, por convicções religiosas ou políticas.
Kardec, na
introdução de “O Evangelho Segundo Espiritismo”, afirma que a mais influente
seita era a dos fariseus, que eram defensores severos da Lei Mosaica. Suas
convicções levavam a discussões intermináveis pela interpretação das Escrituras.
Em Israel,
aqueles que se dedicavam ao rigoroso estudo da Lei, detendo-se em cada
particularidade, eram chamados “Doutores da Lei”. Saulo era um deles.
Nascido em
Tarso, na Cilícia (atual Turquia), entre 1 a 5 d.C. (cf. Bíblia de Jerusalém),
era filho de Isaac, pertencente à tribo de Benjamin. Como era costume à época,
seu pai, que era um mercador de tecidos e fabricante de tendas, ensinou-lhe
ofício de tecelão.
Ainda jovem,
foi levado por seu pai a Escola do Templo de Jerusalém, tomando-se discípulo de
Gamaliel. Notavelmente brilhante, era um de seus alunos mais fervorosos e
devotados.
ESTEVÃO, PRIMEIRO MÁRTIR (At 6:8-15/At 7)
“Estevão,
cheio de graça e de poder operava prodígios e grandes sinais entre o povo.
Intervieram então alguns da sinagoga chamado dos libertos, dos cireneus e
alexandrinos, dos da Cilícia e da Ásia, e puseram-se a discutir com Estevão.
Mas não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito com qual ele falava.
Subornaram então alguns para dizerem: ‘Ouvimo-lo pronunciar palavras blasfemas
contra Moisés e contra Deus’. Amotinaram assim a povo, os anciões e os escribas
e, chegando de improviso, prenderam-no e o levaram à presença do Sinédrio. Lá
apresentaram testemunhas falsas que depuseram: ‘Este homem não cessa de falar
contra este lugar santo e contra a Lei. Pois ouvimo-lo dizer repetidamente que
esse Jesus, o Nazareu, destruirá este lugar e modificará as costumes que Moisés
nos transmitiu’. ‘Todos as membros da Sinédrio, com os olhos fixos nele,
tiveram a impressão de ver em seu rosto o rosto de um anjo.” (At 6: 8-15).
“Estevão,
porém, repleto do Espírito Santo, fitou os olhos no céu e viu a glória de Deus,
e Jesus, de pé, a direita de Deus. E disse: ‘Eu vejo os céus abertos, e o Filho
do Homem, de pé, à direita de Deus. Eles, porém, dando grandes gritos, taparam
os ouvidos e precipitaram-se sobre ele. E, arrastando-o para fora da cidade,
começaram a apedrejá-lo. As testemunhas depuseram seus mantos aos pés de um
jovem chamado Saulo. E apedrejaram Estevão, enquanto ele dizia esta invocação:
‘Senhor Jesus, recebe meu espírito ’. Depois, caindo de joelhos, gritou em voz alta.
‘Senhor não lhes leves em conta este pecado’. E, dizendo isto, adormeceu.” (At
7: 55-60).
Nesta
impressionante passagem, encontramos a grandiosa figura de Estevão, o primeiro
mártir do Cristianismo.
Embora não
haja, no Novo Testamento, muitas referências sobre a sua trajetória, os
pequenos trechos que encontramos mostram-nos toda a intensidade de sua devoção,
todo seu empenho, todo seu esforço e sacrifício para a divulgação do
Cristianismo nascente.
Na obra
“Paulo e Estevão”, psicografada por Francisco C. Xavier, pelo Espírito
Emmanuel, conhecemos sua epopeia.
Especialmente,
vale relembrar que Estevão, antes de abraçar o Cristianismo, assim como sua
irmã Abigail, era fervoroso adepto da religião judaica.
Em certo
momento de sua vida, ao proteger seu pai em defesa de suas terras, foi preso e
condenado às galeras.
Essa pena,
onde muitos encontravam a morte, consistia no aprisionamento em porões de
navios, onde o ambiente era insalubre, sendo obrigados, de forma impiedosa, a
remar, com um mínimo de repouso e alimentação escassa.
Após uma
série de momentos de tribulação, foi acolhido na Casa do Caminho por Pedro que,
então, passou a ser o seu orientador.
A partir desse
momento, ele se toma um grande divulgador da Boa Nova. Dotado de grande
magnetismo, tocava os corações com seu verbo inflamado, e, através de suas
faculdades mediúnicas, tornara-se um valioso instrumento da Espiritualidade.
Sua
dedicação, sua fé, sua presença acolhedora e caridosa arrebanhava multidões... Muitos
abandonavam o Templo para ouvi-lo pregar o Evangelho de Jesus
Os
sacerdotes, os Doutores da Lei, todos aqueles que queriam manter a hegemonia e
o poder sobre a nação, por meio de uma religião formal, estavam enfurecidos e
obstinados a perseguir os “caminheiros”.
Saulo de
Tarso, o Doutor da Lei, tornou-se, nesse momento, seu principal perseguidor. Em
determinado momento, então, condenou Estevão a morte por apedrejamento.
Nesse
instante culminante, Estevão, que verdadeiramente havia se inspirado pelas
lições do Mestre, que com grande renúncia havia se entregado a propagação do
Evangelho... Nesse momento final, exemplificou a verdadeira força, a verdadeira
coragem, a verdadeira grandeza... Como havia ensinado Jesus, sem resistir,
pacificamente, demonstrou sua capacidade plena de amar e, por seus verdugos,
orou a Deus pedindo que fossem perdoados...
Seu exemplo,
inesquecível e comovente, jamais será esquecido por todos os verdadeiros
cristãos!
Diante da
conduta irreprovável de Estevão, esse episódio marcou para sempre a vida e a
trajetória de Saulo. Ele nunca mais seria o mesmo!
Afirma
Emmanuel, no prefácio de sua incomparável obra “Paulo e Estevão”:
“Sem
Estevão, não teríamos Paulo de Tarso. O grande mártir do Cristianismo nascente
alcançou influência muito mais vasta na experiência paulina, do que poderíamos
imaginar tão só pelos textos conhecidos nos estudos terrestres.”
CONVERSÃO DE SAULO - (At 9:1-19)
Saulo
respirando ainda ameaças de morte contra os discípulos do Senhor dirigiu-se ao
sumo sacerdote. Foi pedir-lhe cartas para as sinagogas de Damasco, a fim de
poder trazer para Jerusalém, presos, os que lá encontrassem pertencendo ao
Caminho, quer homens, quer mulheres.
Estando ele em
viagem e aproximando-se de Damasco, subitamente uma luz vinda do céu envolveu
de claridade. Caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: ‘Saulo, Saulo, por
que me persegues? Ele perguntou: ‘Quem és; Senhor?’ E a resposta: ‘Eu sou
Jesus, a quem tu persegues. Mas levanta-te, entra na cidade, e te dirão que
deves fazer ’ Os homens que com ele viajavam detiveram-se, emudecidos de
espanto, ouvindo a voz, mas não vendo ninguém. Saulo ergueu-se do chão. Mas,
embora tivesse os olhos abertos, não via nada. Conduzindo-o, então, pela mão,
fizeram-no entrar em Damasco. Esteve três dias sem ver; e nada comeu, nem
bebeu.
Ora, vivia
em Damasco um discípulo, chamado Ananias. O Senhor lhe disse em visão: Ananias!
Ele respondeu: ‘Estou aqui, Senhor!’ E o Senhor prosseguiu: levanta-te, vai
pela rua chamada Direita e procura, na casa de Judas, por alguém de nome Saulo,
de Tarso. Ananias partiu. Entrou na casa, impôs sobre ele as mãos e disse:
‘Saulo, meu irmão, o Senhor Jesus, me enviou, o mesmo que te apareceu no
caminho por onde vinhas. E para que recuperes a vista e fiques repleto do
Espírito Santo. Logo caíram-lhe dos olhos, umas como escamas, e recuperou a
vista. Recebeu, então, o batismo e, tendo tornado alimento, sentiu-se
reconfortado.” (Atos 9;1-19).
Poucos
momentos são tão decisivos na vida de alguém. Dentre as diversas conversões que
temos relatos, a de Saulo é uma das mais impressionantes, e, ainda hoje,
emociona a todos aqueles que ouvem a sua história.
Ele havia
saído à captura dos cristãos; seu coração estava cheio de ódio daqueles
“caminheiros” que, segundo acreditava, eram blasfemadores, violadores da Lei.
Não haveria trégua: ele os perseguiria até o fim! Mas... Então... Às portas de
Damasco...
Tal
episódio, surpreendente e intrigante, faz-nos refletir: Como é possível que
alguém tão convicto de suas posições, tão arraigado as suas tradições, judeu
ortodoxo, defensor rigoroso da Lei Mosaica, possa, em um átimo de segundo,
sofrer uma transformação tão intensa, de tal magnitude?
É que Saulo
havia encontrado Jesus. A mensagem sublime do Mestre havia inundado sua alma,
conduzindo-o a nova compreensão da Lei Divina.
Saulo,
lembremos, embora fosse defensor da Lei Mosaica, fazia-o com verdadeira
devoção, e desejava, dentro do seu entendimento, o Bem.
Jesus, que podia
sondar as almas, reconhecendo-lhe o potencial, veio, em pessoa, convocá-lo à
sua Seara.
Saulo, que
até então negava Jesus, reconhece: então era verdade! Ele estava em choque.
Suas crenças desmoronaram, alicerce de suas convicções tinha afundado.
A partir
daquele dia, ele estaria a serviço do Mestre para toda e qualquer tarefa. Ele
era “Vaso Escolhido”.
PREGAÇÃO EM DAMASCO E ENCONTRO COM BARNABÉ
(At 9:19-3)
“Saulo
esteve alguns dias com os discípulos em Damasco e, imediatamente, nas
sinagogas, começou a proclamar Jesus, afirmando que é o Filho de Deus. Todos os
que ouviam ficavam estupefatos e diziam: ‘Mas não é este que devastava em
Jerusalém os que invocavam esse nome, e veio para cá expressamente com fim de
prendê-los e conduzi-los aos chefes dos sacerdotes?’
Decorridos
muitos dias, os judeus deliberaram entre si como matá-lo. Mas Saulo teve
conhecimento dessa trama. Vigiavam até as portas da cidade, de dia e de noite,
para o matarem. Então os discípulos, uma noite, fizeram-no descer pela muralha,
oculto num cesto.
Tendo
chegado a Jerusalém, tentava associar-se aos discípulos; mas todos tinham medo
dele, não acreditando que fosse, de fato, discípulo. Então Barnabé tomou-o
consigo, levou-o aos apóstolos e contou-lhes como, no caminho, Saulo vira o
Senhor qual lhe dirigiu a palavra; e com que intrepidez, em Damasco, falara no
nome de Jesus. “Daí por diante, ia e vinha entre eles, em Jerusalém, falando
com intrepidez no nome do Senhor.” (At 9:19-28).
Aqueles que
conheciam Saulo não podiam compreender o que poderia ter-lhe ocorrido para
apresentar tão súbita transformação.
Muitos
achavam que era loucura, que o sol do deserto tinha-lhe afetado o
discernimento.
E se não
estivesse louco - deviam pensar: Como poderia ter se tornado um seguidor do
“carpinteiro”?
Ninguém
compreendia. Os próprios apóstolos de Jesus ficaram surpresos com essa
transformação.
Foi Barnabé,
também um integrante da Casa do Caminho, que intercedeu por Saulo junto aos
demais apóstolos, e, então, movidos pelo amor cristão, os discípulos
aceitaram-no como um deles. Desse episódio, nasceria a fraterna amizade de
Saulo e Barnabé.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
“Será que
nós já encontramos o nosso ‘Caminho de Damasco’, a tal ponto de nos dispormos a
servir a Jesus”?
Fonte da
imagem: Internet Google.
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