Epístolas Paulinas
1ª
Epístola Aos Coríntios
A IGREJA DE CORINTO
Notícias da
Espiritualidade
De acordo
com a narrativa de Emmanuel, em “Paulo e Estevão”, cap. VII, 2ª parte, Paulo
encontrava-se em Atenas, profundamente abatido em função da aridez intelectual
que encontrara nos atenienses ante a exposição do Evangelho. Timóteo foi ao seu
encontro, carregado de boas notícias, e lhe falou sobre o desenvolvimento da
Doutrina Crista em Corinto, bem como da presença de Áquila e Prisca.
Paulo,
então, partiu com Timóteo, imediatamente, não só porque Corinto falava-lhe ao
coração pelas recordações de Jeziel e Abigail, como porque queria abraçar o
casal de amigos, que lhe eram tão queridos.
Paulo
permaneceu por quase dois anos em Corinto e fundou a sua amada igreja, com o
auxilio de muitos cristãos. A comunidade floresceu, produzindo os mais belos
frutos de espiritualidade.
Informações
sobre a epístola
A relação de
Paulo com esta igreja era a de um pai para com seus filhos. Este amor e
dedicação a sua igreja ficaram refletidas em cada exortação, em cada linha de
suas epístolas.
Esta
primeira epístola foi escrita em Éfeso, no período de 54 a 57 d.C., dirigida a
judeus, gregos, escravos e homens livres.
Paulo recebe
um grupo vindo de Corinto, entre os quais estavam os familiares de Cloé, e de
Apolo, que lhe trazem informações sobre a igreja além de solicitações de
esclarecimentos e orientações as várias questões.
O contexto
cultural em Corinto ajuda-nos a entender o teor da carta. Corinto era um centro
abastado de comércio e viagens marítimas. Tomou-se a 3ª cidade do Império,
depois de Roma e Alexandria. Era um lugar de mistura pluralista de culturas,
filosofias, estilos de vida e religiões.
Nesta carta,
é interessante observar; Paulo faz alusão a uma carta anterior a esta (1 Cor
5:9) de data incerta. Esta carta, contudo, perdeu-se.
Objetivos
da 1ª Carta aos Coríntios
Em geral, os
estudiosos dividem a Carta em três partes:
- 1ª parte
fala das divisões e dos escândalos;
- 2ª parte
aborda soluções para problemas diversos;
- 3ª parte
aborda o tema da ressurreição dos mortos.
A carta foi
escrita em função dos seguintes objetivos:
- Advertir a
comunidade sobre condutas e conflitos;
- Esclarecer
pontos da Carta anterior;
- Responder
questões a cerca de: casamento, celibato, consumo de alimentos sacrificados aos
ídolos, comportamento nas reuniões evangélicas;
- Abordar
alguns temas fundamentais do Cristianismo: a “ressurreição” e o modo da
“ressurreição”, a comunicação com os Espíritos e o amor como o Divino
Mandamento.
CONTEUDO
1ª
parte - Paulo os exorta a reflexão e à mudança de atitude
“Eu vos
exorto, irmãos, em nome de nosso Senhor Jesus Cristo: guardai a concórdia uns
com os outros, de sorte que não haja divisões entre vós; sede estreitamente
unidos no mesmo espírito e no mesmo modo de pensar.” (1 Cor 1:10).
Paulo aborda
a questão da existência de conflitos na igreja, que se encontrava dividida em
partidos que se diziam aliados a Apolo, a Pedro, a ele ou ao Cristo. Cada um
pretendia ser superior aos demais.
Paulo
destaca que isto era fruto de um orgulho e de uma vaidade Injustificáveis, pois
ele, Apolo e Pedro eram todos apenas servos de Jesus, assim como todos os
membros da comunidade deveriam ser considerados.
Paulo opõe a
sabedoria do mundo à sabedoria de Deus. Ao criarem divisões na comunidade, eles
estavam agindo consoante os valores do mundo. Ele, Apolo e Pedro eram
servidores, cada qual agindo conforme suas potencialidades: um planta, o outro
rega, mas é “Deus quem faz crescer”.
A obra de
cada um revelara de fato quem é de Deus: “Por conseguinte, ninguém procure nos
homens motivo de orgulho...” (1 Cor 3:21).
Diante da
soberba de parte dos coríntios, Paulo, esclarece quão diferente é a realidade
vivida pelo servo de Cristo, contrapondo a sorte dele, na qualidade de
apóstolo, a situação dos coríntios: “Julgo que Deus nos expôs, a nós,
apóstolos, em último lugar; como condenados à morte: fomos dados em espetáculo
ao mundo, aos anjos e aos homens. Somos loucos por causa de Cristo, vós, porém
sois prudentes em Cristo; somos fracos, vós, porém, sois fortes; vós sois bem
considerados, nós, porém, somos desprezados. Até o momento presente ainda
sofremos fome, sede e nudez; somos maltratados, não temos morada certa e
fatigamo-nos trabalhando com nossas mãos. Somos amaldiçoados e bendizemos;
somos perseguidos, e suportamos; somos caluniados, e consolamos. Até o presente
somos considerados como o lixo do mundo, a escória do universo. (1 Cor 4:9-13).
O apóstolo,
na condição de educador de almas, torna-se um exemplo de abnegação para
refletir em si mesmo a grandeza das Leis de Deus, num mundo onde a imperfeição
moral o expõe a tantos sofrimentos.
Os capítulos
5 e 6 contém advertências e censuras a alguns membros da igreja, sobre certas
atitudes como o litígio entre irmãos e a promiscuidade.
Sobre o
litígio, Paulo indaga: “Por que não vos deixais antes, defraudar? Entretanto,
ao contrário, sois vós que cometeis injustiça e defraudais - e isto contra
vossos irmãos!” (1 Cor 6:7-8).
No tocante a
prostituição, interroga: “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo do Espírito
Santo, que está em vós e que recebestes de Deus?’(1 Cor 6;19).
Como templo
do Espírito, o corpo possibilita ao Ser atuar no mundo. Entretanto, o corpo,
como instrumento, é governado pelo Espírito.
Logo, todas
as paixões, os excessos, os vícios, os desejos procedem do Espírito, revelando
a predominância da matéria sobre ele.
Lucidamente,
Paulo afirma: “Tudo me é permitido, mas nem tudo convém. Tudo me é permitido,
mas não me deixarei escravizar por coisa alguma.” (1 Cor 6:12).
É necessário
adquirirmos discernimento para realizarmos as nossas escolhas, de forma a nos
propiciar maior equilíbrio e paz. Se nos deixamos envolver pelas sugestões de
ordem inferior, se não opomos resistência aos desejos de ordem material,
tomamo-nos escravos do mal, ou seja, ficamos compromissados com as
consequências de nossas escolhas.
Somos livres
na semeadura, mas a colheita é obrigatória. Toda ação gera consequências
equivalentes. Assim, quando sugestões inferiores alcançam-nos, vale à pena, em
favor de nós mesmos, perguntar: Isto me convém?
2ª
Parte - Orientações e respostas as questões levantadas pelos coríntios
Do 7°
capitulo ao 11°, Paulo responde as perguntas da comunidade, que versam sobre:
• Casamento
- deve ser pautado pelo respeito mútuo;
• Celibato -
é uma condição que permite ao cristão dedicar-se com mais amplitude as tarefas
na Seara de Jesus, mas Paulo recomenda, fortemente, que aquele que sente anseio
da comunhão afetiva, que se case;
• Separação
- recomenda a reconciliação. Caso a reconciliação não seja possível, que não
tomem a se casar. Esta orientação, observemos, está de acordo com o que Jesus
disse acerca do divórcio. (Mt 19:1-9).
•
Alimentação - é permitido alimentar-se das carnes que foram sacrificadas aos
ídolos? Paulo afirma: “Não é um alimento que nos fará comparecer para
julgamento diante de Deus: se deixamos de carne; nada perdemos; e, se comemos,
nada lucramos.” (1 Cor 8:8). No entanto, adverte que nem todos são
esclarecidos. Perante os frágeis, não capazes ainda de compreender o acima
exposto, há que lhes respeitar a fragilidade, abstendo-se de fazer algo que
possa induzi-los a vacilar na fé.
• A conduta
nas reuniões evangélicas - os primeiros cristãos realizavam, após o estudo do
Evangelho, uma ceia em comum, em memória de Jesus. Paulo repreende-os pela
forma como eles estavam comportando-se na “Ceia do Senhor”, pois cada um se
apressava a comer a própria ceia. Como a igreja era composta de pessoas simples
e de pessoas mais abastadas, havia quem ficasse embriagado e havia quem
passasse fome.
O que
significava realizar a ceia em nome do Senhor? Honrar lhe os ensinamentos. No
caso, comer o pão e beber o vinho, em nome de Jesus, era uma conclamação a
compartilhar, a não fazer distinção entre os pobres e os ricos.
3ª
Parte - Os temas fundamentais do Cristianismo
Do 12°
capitulo ao 15°, Paulo aborda alguns dos temas fundamentais do Cristianismo,
quais sejam: a imortalidade da alma, o corpo da ressurreição (o corpo
espiritual), a comunicação com os Espíritos, o amor e a caridade.
O
intercâmbio mediúnico era amplamente vivenciado nas igrejas primitivas. Desde o
fenômeno ocorrido com os apóstolos, no Pentecostes, Jesus determinara que as
vozes do Alto fizessem-se ouvir mais amplamente na Terra, a fim de que a obra
de evangelização do mundo, a ser realizada pelos colaboradores encarnados,
recebesse a luz da inspiração, do esclarecimento, do consolo, das advertências
dos Mensageiros Espirituais.
O capitulo
12 inicia-se com uma advertência contra os falsos profetas da erraticidade,
destacando o imperativo do discernimento ante as manifestações dos Espíritos,
dizendo:
“Por isso,
eu vos declaro que ninguém, falando com o Espírito de Deus, diz: “Anátema seja
Jesus”, e ninguém pode dizer: “Jesus é o Senhor”, a não ser no Espírito Santo”.
(I Cor 12:3).
Após
enfatizar a necessidade de análise e discernimento do conteúdo das comunicações
dos Espíritos, Paulo passa a discorrer sobre as diferentes faculdades
mediúnicas. Há várias formas de expressar a manifestação dos Espíritos, mas
qual deve ser o objetivo das manifestações?
“Cada um
recebe o dom de manifestar o Espírito para a utilidade de todos. A um, o
Espírito dá a mensagem de sabedoria, a outro, a palavra de ciência segundo o
mesmo Espírito; a outro, o mesmo Espírito dá a fé, a outro ainda, o único e
mesmo Espírito concede o dom das curas; a outro, o poder de fazer milagres; a
outro, a profecia; a outro, o discernimento dos espíritos; a outro, o dom de
falar em línguas, a outro ainda, o dom de as interpretar.” (1 Cor 12:7-10).
Há
diversidade, porém, não existe nenhuma faculdade superior às outras. Esta
colocação de Paulo decorre do fato de haver na igreja de Corinto uma discussão
e uma certa inquietação, no sentido de saber qual era o dom mais importante.
Então, Paulo utiliza a imagem do corpo, como metáfora, para apoiar a sua
argumentação. O corpo é constituído de vários membros, que executam funções
diferentes, porém, estão todos interligados, formam um todo, em que um membro
não pode prescindir da colaboração dos outros:
“Se o corpo
fosse todo olho, onde estaria a audição? (...) Há, portanto, muitos membros,
mas um só corpo. não pode dizer o olho à mão: ‘Não preciso de ti’; nem tampouco
pode a cabeça dizer aos pés: ‘Não preciso de vós’.” (1 Cor 12:17 e 21).
Ademais,
Paulo assinala que todos são membros do corpo de Cristo, e, como tal, todos
devem procurar cooperar uns com os outros, em harmonia, segundo as orientações
do Mestre.
Cada um é
chamado a atuar na Seara do Senhor, segundo aquilo que pode produzir. Nem todos
têm as mesmas faculdades, nem todos são doutores. Mas, seja qual for o campo de
trabalho que compete ao servidor de Jesus, que o exerça com amor.
As
aspirações humanas no tocante a aquisição desta ou daquela faculdade são
legitimas, no entanto, todos devem aspirar acima de tudo o desenvolvimento da
potencialidade de amar e servir, sem o que qualquer faculdade de que a alma é
portadora, manifesta-se de forma imperfeita e incompleta.
No capitulo
13, Paulo exorta os cristãos a colocar como aspiração máxima, o desenvolvimento
do amor, que se expressa na caridade legitima, pois que o amor verdadeiro
conduz o Homem a compaixão, e a compaixão conduz ao desejo de aliviar,
socorrer, compreender, perdoar, servir, sem quaisquer interesses pessoais. O
amor eleva o Homem a Deus.
“Ainda que
eu falasse línguas, as dos homens e as dos anjos, se eu não tivesse a caridade,
seria como bronze que soa ou como um címbalo que tine;
Ainda que
tivesse o dom da profecia, o conhecimento de todos os mistérios e de toda a
ciência, ainda que tivesse a fé, a ponto de transportar montanhas, se não
tivesse a caridade, nada seria.
Ainda que
distribuísse todos os meus bens aos famintos, ainda que entregasse meu corpo às
chamas, se não tivesse a caridade isso nada me adiantaria;
A caridade é
paciente, a caridade é prestativa, não é invejosa, não se ostenta, não se incha
de orgulho. Nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não
se irrita, não guarda rancor não se alegra com a injustiça, mas se regozija com
a verdade. Tudo desculpa tudo crê, tudo espera, tudo suporta. A caridade jamais passará”. (1 Cor 13:1-8).
O que conduz
o Homem a Deus? O que torna o Homem melhor? Não é a mediunidade, seja ela qual
for, não é o conhecimento da ciência, não é exclusivamente a fé. É o Amor que
direciona a ciência para o bem de todos, é o Amor que habilita o médium a ser
instrumento do Bem, é o Amor que alimenta a fé para que esta produza frutos, é
o Amor que conduz à abnegação, a compaixão que nutre a esperança ante o porvir.
Tudo passará, menos o Amor, que é Lei de Deus e o fundamento de nossa evolução
espiritual. Nosso conhecimento é limitado, nossas faculdades são incipientes,
nossas potencialidades são ainda esperança.
Após
reiterar seus esclarecimentos sobre a mediunidade, Paulo aborda a faculdade
mediúnica da xenoglossia, que é a faculdade que permite que o médium fale em
línguas estranhas a ele. Ela só é útil se puder ser traduzida por alguém, pois
a palavra deve falar a inteligência e ao coração, para edificar a todos.
Enfatiza a
importância do discernimento, da harmonia, da ordem, da disciplina nas
reuniões, atribuindo ao medianeiro a responsabilidade de governar a sua
faculdade mediúnica e impor controle e disciplina aos Espíritos comunicantes:
“Os espíritos dos profetas estão submissos aos profetas. Pois Deus não é um
Deus de desordem, mas de paz”. (1 Cor 14:32-33).
A
imortalidade da alma e o corpo da ressurreição
É no
capitulo 15, que Paulo declara, categoricamente, a realidade da “ressurreição”,
pois que havia entre eles quem apregoasse que não havia ressurreição dos
mortos. Explana aos coríntios sobre o “corpo da ressurreição”.
Aqui, convém
lembrar que como diz Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no capitulo
IV item 4, os judeus: “designavam pela palavra ressurreição o que o Espiritismo
chama, mais justamente, de reencarnação”.
Retomando a
análise deste capítulo da epístola, vemos que, primeiramente, Paulo concita os
irmãos a permanecerem firmes no Evangelho que ele havia anunciado.
Mas que
Evangelho? Em suas pregações, Paulo partia da proclamação da imortalidade da
alma, convicção que fora proporcionada pela experiência da estrada de Damasco,
onde ele viu o Cristo em seu corpo glorioso, o que lhe permitira aceitar a
veracidade dos testemunhos acerca das aparições de Jesus após a morte. E a
partir destas aparições, que ele relembra aos coríntios, que a imortalidade da
alma é o ponto central da fé e da pregação dos apóstolos.
Reafirma que
tanto quanto Jesus “ressuscitou”, todos “ressuscitaremos”. A alma é imortal.
Aconselha os coríntios a terem cautela com aqueles que utilizam o verbo para
semear falsos ensinamentos, pois o verbo é força que exerce influência sobre as
criaturas e o verbo desgovernado espalha destruição por onde se manifeste.
“Mas, dirá alguém, como ressuscitam os
mortos? Com que corpo voltam? (1 Cor 15:35).
“... semeado
corpo corruptível, o corpo ressuscita incorruptível; semeado desprezível,
ressuscita reluzente de glória; semeado na fraqueza, ressuscita cheio de força,
semeado corpo psíquico, ressuscita corpo espiritual.” (1 Cor 15:42-43).
Que
interessante metáfora esta em que Paulo refere-se ao corpo material; sujeito a
tantas vicissitudes e desgastes, como o corpo corruptível que, ao morrer, é
semeado na terra, propiciando a partida do Espírito que ressurge com seu corpo
espiritual.
Como pode a
matéria que está submetida a morte (corruptibilidade) adquirir a propriedade da
imortalidade (a incorruptibilidade) inerente ao Espírito? O Espírito é imortal.
Submetido a Lei da Evolução, haverá um dia em que o Espírito estará liberto da
Lei da reencarnação, porque terá adquirido a angelitude, para a qual Deus o
criou.
Epílogo
Paulo
orienta quanto à coleta realizada em favor da Casa do Caminho, fala de seus
planos de ir a Corinto e lá permanecer por um tempo, “se o Senhor o permitir”;
convida-os a vigiarem, a serem corajosos firmes na fé e caridosos; envia as
saudações de todos os que estavam com ele em Éfeso e se despede dizendo:
“Com todos
vós está o meu amor em Cristo Jesus”.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente:
“Tudo me é permitido, mas nem tudo convém.”
Fonte da
imagem: Internet Google.
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