Entre os atributos de
Deus, encontra-se o de sua soberana justiça e bondade (qualidades indubitáveis
da divindade), em seu mais alto grau: “o infinito de uma qualidade exclui a possibilidade
da existência de uma qualidade contrária que a diminuísse ou anulasse”. (A Gênese,
Cap. II, item 14). Portanto, não se pode duvidar da justiça e da bondade
divinas, medida precisa da sabedoria providencial, que se revela tanto nas
menores quanto nas maiores coisas.
Mas, ainda vemos
muitas criaturas, cristalizadas nas ilusões do mundo, que, ao menor sopro das
adversidades, são capazes de questionar a justiça divina. Para estes, “Deus
castiga, Deus pune, Deus não é justo”. Em outros momentos, por uma alegria
fugaz, “Deus é maravilhoso, Deus é bom, Deus é justo”. Tal contradição
encontra-se na criatura e não no Criador.
“Deus não poderia ser
ao mesmo tempo bom e mau, pois então, não possuindo nenhuma de tais qualidades
no grau máximo, não seria Deus; todas as coisas seriam submetidas ao seu capricho,
e não haveria estabilidade para nada”. Ele não poderia ser senão infinitamente
bom, ou infinitamente mau; ora, como suas obras testemunham sua sabedoria, sua
bondade e sua solicitude, necessariamente se conclui que, não podendo ao mesmo
tempo ser bom e mau, sem cessar de ser Deus, deve ser infinitamente bom.
“A soberana bondade
implica na soberana justiça, pois se ele agisse injustamente ou com parcialidade
numa só circunstância, ou em relação a uma só de suas criaturas, não seria soberanamente
justo e, por consequência, não seria soberanamente bom”. (A Gênese, cap. II, ítem14).
A lição é muito
significativa. Não podemos continuar tendo uma ideia contraditória de Deus, porque
Ele “não se mistura à cadeia das suas criaturas”, como bem o definiu Léon
Denis. Não podemos pensar num Deus caprichoso, mudando de humor a cada
instante; devemos, antes, abandonar a ideia do Deus humanizado, descrito à
nossa imagem e semelhança, já que desconhecemos completamente sua natureza
íntima.
“O Pai a ninguém
julga, mas deu ao filho todo o poder de julgar” (Jô, 5:22), disse Jesus, com toda
a propriedade. O filho da frase não era, evidentemente, o próprio Cristo: “Vós
julgai segundo a carne, eu a ninguém julgo” (Jô, 8:15), como ele mesmo afirma e
confirma: “Se alguém ouvir as minhas palavras e não as guardar, eu não o julgo,
porque não vim para julgar o mundo, mas para salvar o mundo”. (Jô, 12:47). Esse
filho é cada um de nós, que tem o poder de julgar a si mesmo.
Na verdade, não se
trata de uma aberração da Providência Divina, mas de um processo natural.
Afinal, onde se encontra escrita a lei de Deus? “Na consciência” (L.E., 621), responderam
os Espíritos a Kardec. Isto significa que, ao chegar à Espiritualidade, finda a
romagem terrena, o Espírito não encontrará um Tribunal formado, Juízes togados
ou Promotores de Justiça prontos para sentencia-lo. Contudo, haverá um outro
julgamento, uma avaliação da existência ora terminada, naquilo que houve de
mais importante.
Esse julgamento se
dará no “Tribunal da Consciência”, onde cada um é seu próprio juiz e julgará de
acordo com a verdade, sem procurar atenuar suas falhas, mas sendo o mais justo quanto
possível. As leis imperantes nesse tribunal não são as humanas (falhas, lacunosas,
obscuras), mas as Leis Divinas (sábias, harmonizadoras, perfeitas).
A sentença é
equilibrada, isto é, abrange todo o campo das necessidades de aperfeiçoamento do
Espírito, mais voltada para o futuro até do que para o passado, traçando os
próximos passos do indivíduo no sentido de sua reformulação moral. Em posse
dela, o Espírito começa a preparar-se para o retorno à vida corporal, com novas
expectativas, ciente das probabilidades de reincidência no erro, motivo que o
leva a fazer um esforço maior para corrigir-se.
Em tudo e por tudo,
apresenta-se a Providência Divina, que “é a solicitude de Deus pelas suas criaturas”.
(A Gênese, cap. II, item 20). Os perigos a que estamos expostos não são mais do
que advertências para nos desviar do mal e nos tornar melhores a cada passo.
“Se examinarmos a causa e a natureza do perigo, veremos que, na maioria das
vezes, as consequências foram a punição de uma falta cometida ou de um dever
negligenciado. Deus vos adverte para refletirdes sobre vós mesmos e vos emendardes”.
(L.E. 855).
A necessidade de
reflexão é permanente para cada um de nós. É o melhor meio de nos melhorarmos
já nesta vida e resistirmos ao arrastamento do mal. Sócrates, imortalizando o “conhece-te
a ti mesmo”, enfatizou também que “a vida sem exame é indigna do homem”.
Santo Agostinho
reforçou esse pensamento: “o conhecimento de si mesmo é, portanto a chave do
melhoramento individual”. (L.E., 919a). Estejamos, pois, atentos a nós mesmos,
a todo momento, para que a Justiça Divina possa vir mais em abono das nossas
virtudes e menos em corrigenda de nossas imperfeições.
BIBLIOGRAFIA:
Kardec, Allan - A
Gênese.
Kardec, Allan - O
Livro dos Espíritos
QUESTIONÁRIO:
1 - Como podemos
conceituar Deus, em face de sua Justiça?
2 - Como somos
julgados, por nossos acertos e erros?
3 - O que devemos
fazer para nos melhorarmos?
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