“Tendes ouvido o que
foi dito: amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, vos digo:
amai vossos inimigos, fazei bem aos que vos perseguem e caluniam, para serdes
filhos de vosso Pai que está nos céus; que faz nascer o sol sobre os bons e
maus, e vir chuva sobre os justos e os injustos. Porque se só amardes aos que
vos amam, que recompensa tereis? Não fazem o mesmo os publicanos? Se somente saudardes
os vossos irmãos, que é o que com isto fazeis mais do que os outros? Não fazem
o mesmo os gentios? Sede, pois, perfeitos, como é perfeito vosso Pai
Celestial”. (Mateus, 5:43-48).
Passagem semelhante é
narrada pelo evangelista Lucas (6:27-28 e 32-36), aparecendo o último versículo
assim: “Sede, pois, misericordiosos como também vosso Pai é misericordioso”.
Jesus disse: “Não vim
destruir a lei, mas sim cumpri-la” (Mateus, 5:17).
Como já vimos anteriormente,
o Mestre referia-se à lei divina e não à lei humana, que mandava amar ao próximo
e odiar aos inimigos. Entretanto, não nos
enganemos com o sentido que devemos dar às palavras de Jesus, quando nos manda
amar nossos inimigos, pois com isso não quis, por certo, dizer que devemos amar
o inimigo com o enternecimento e carinho, a ternura e confiança que dedicamos a
um irmão ou a um amigo. Não poderemos ter para com quem nos persegue as mesmas
expansões de amizade ou arroubos de simpatia, que manifestamos por aqueles com
os quais estamos em comunhão de pensamento e em sintonia.
Amar os inimigos,
então, é não lhes ter ódio, nem rancor, nem desejo de vingança; é perdoar-lhe o
mal que nos fazem, sem obstar à reconciliação; é desejar-lhes o bem e não o mal;
alegrarmo-nos com a sua felicidade, estendendo-lhes a mão caridosa em caso de necessidade,
abstendo-nos, por palavras e atos, de tudo quanto possa prejudicá-los; é,
enfim, pagar sempre o mal com o bem, sem ideia de humilhá-los, e quem isso
fizer, estará, sem dúvida, amando aos seus inimigos.
Deus é a perfeição
infinita em todas as coisas e daí não devemos tomar ao pé da letra a máxima:
“Sede perfeitos”, pois isso suporia a possibilidade de alcançarmos a perfeição absoluta,
tornando a criatura igual ao Criador, o que é inadmissível.
Assim, Jesus apresentava
aos homens um modelo, o mais perfeito, para que se esforçassem por imitá-lo, a
fim de alcançarem a perfeição relativa de que são capazes. O grau de perfeição
que podemos atingir está na razão da extensão do amor ao próximo, que podemos
realizar, dilatando até o amor aos inimigos.
Moisés teve de ensinar
a seus tutelados a amarem pelo menos de sua grei ou família. Jesus, porém,
dilata o ensinamento, fazendo-nos compreender que todos os homens são irmãos, filhos
de um único Pai, seja qual for a raça a que pertençam, até mesmo o nosso
próprio inimigo.
Desde que começamos a
esclarecer as nossas mentes e vamos libertando nossas consciências dos
preconceitos e cristalizações, procurando lutar, para vencermos as nossas inferioridades,
compreendemos a dificuldade imensa que encontramos, para atravessarmos a muralha
de nossas imperfeições e escalarmos a montanha de nossos vícios e defeitos.
A grande esperança e
nosso maior estímulo residem, então, na lei da reencarnação, que nos concede
sempre renovadas oportunidades para alcançarmos, pela evolução, a perfeição relativa
que nos compete. É pela reencarnação que os Espíritos que se odeiam têm oportunidade
de se reconciliar, através dos laços consanguíneos, lutando e sofrendo juntos para
se entenderem, vencerem a aversões recíprocas e, finalmente, se amarem!
Em Lucas, 6:40: “O
discípulo não está acima do seu mestre; mas todo o discípulo será perfeito, se
for como seu mestre”. Palavras de estímulo estas, pronunciadas por Jesus,
modelo de perfeição, que nos diz poderem os discípulos igualar-se ao Mestre.
Nossa compreensão nos diz, porém, que, somente percorrendo toda a estrada que
nos foi aberta pelo modelo e guia, poderemos realizar esse magnífico objetivo
e, isso, através das existências sucessivas na carne, dada a nossa ainda
endividada posição atual.
Poderemos acelerar a
nossa marcha e ganhar terreno no extenso caminho a percorrer, em busca de nosso
aperfeiçoamento, se desde já nos compenetrarmos do nosso papel e da necessidade
urgente de vivê-lo intensamente, buscando fazê-lo através de nosso sentimento de
caridade e do amor ao próximo, fazendo o bem pelo bem, sem esperar recompensa, pagando
o mal com o bem, defendendo o fraco contra o forte e sacrificando sempre nossos
interesses em face da justiça; sendo indulgentes para com as fraquezas alheias
e severos para com as próprias, não nos comprazendo em evidenciar os defeitos
dos outros, mas estudando nossas próprias imperfeições e trabalhando,
incansavelmente, para as combater e vencer.
O Espiritismo bem
compreendido, mas, sobretudo, bem sentido e vivido, acelera a evolução e conduz,
inevitavelmente, o seu adepto à perfeição, porquanto o progresso moral e
espiritual é a característica do verdadeiro espírita, ou verdadeiro cristão.
O verdadeiro e sincero
espírita tem o coração enternecido e a fé a toda prova, podendo ser reconhecido
por sua transformação moral e pelo esforço que faz para dominar as más
inclinações.
BIBLIOGRAFIA:
Kardec, Allan - O
Evangelho Segundo o Espiritismo
QUESTIONÁRIO:
1 - O que significa
para o Espírito "ser perfeito"?
2 - O que significa
"amar os inimigos"?
3 - Na sua opinião,
como devemos proceder para que sejamos cada vez melhores, rumando à perfeição?
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