Entre os
extraordinários ensinamentos do Divino Mestre Jesus, delineados no Sublime
Sermão do Monte, cap. 7 do Evangelho Segundo Mateus, vers. 13-14, encontramos a
passagem das Duas Portas, em que o Cristo nos aponta o melhor caminho a seguir,
nas sendas da evolução do Espírito.
A ideia das portas,
porém, já era encontrada nas antigas tradições religiosas, como locais de passagem
entre dois estados, entre dois mundos distintos um do outro (entre o conhecido
e o desconhecido, entre a luz e as trevas), e levando a resultados inteiramente
diversos. O iniciado era preparado, através de duras provas, para a travessia,
cabendo-lhe, todavia escolher a forma como realizá-las.
Tratava-se dos rituais
de passagem, em que a travessia era uma viagem rumo a uma situação diversa
daquela em que o candidato vivera até aquele momento. Nas tradições judaicas e cristãs,
essa passagem transformou-se num acesso à Revelação.
Ainda hoje essa tradição
é mantida e pode ser sentida em diversos rituais modernos, como, por exemplo,
nos “trotes” universitários, em que os calouros são submetidos, frequentemente,
a humilhações e violências extremas.
No Evangelho Segundo o
Espiritismo, encontramos a lição da porta assim colocada por Allan Kardec: “A
porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas e o caminho do mal
é o mais frequentado”.
A da salvação é
estreita, porque o homem que deseja transpô-la deve fazer grandes esforços para
vencer as suas más tendências, e poucos se resignam a isso. Completa-se a
máxima: São muitos os chamados e poucos os escolhidos.
“Esse é o estado atual
da Humanidade terrena, porque sendo a Terra um mundo de expiações, nela
predomina o mal.” Quando estiver transformada; o caminho do bem será o mais frequentado.
Devemos entender estas
palavras, portanto, em sentido relativo e não absoluto.
“Se esse tivesse de
ser o estado normal da Humanidade, Deus teria voluntariamente condenado à
perdição a imensa maioria das crianças, suposição inadmissível, desde que se reconheça
que Deus é todo justiça e todo bondade”. (Cap. XVIII, item 5).
Ao analisar a questão
posta por Jesus, Emmanuel situa as portas na “muralha do tempo”, delimitando as
dimensões passado e presente, aquém e futuro, além da muralha, para mostrar-nos
que podemos permanecer na comodidade dos desacertos do mundo ou optarmos pela
renovação dos nossos valores.
De fato, a porta larga
(a da perdição), aponta para as ilusões do mundo: as más paixões, os vícios, os
maus hábitos, as frustrações, os desequilíbrios, as más tendências, as
concepções errôneas. É o caminho mais trilhado, visto que a Humanidade ainda
não se deu conta da importância da vida futura, preferindo permanecer nas
cogitações do imediatismo e das sensações, degradando-se nos atrativos que essa
porta oferece.
Entorpecido pelas
vivências exteriores e periféricas, o Espírito mergulha cada vez mais nas diversões
materialistas, acreditando que tem em mãos as rédeas do destino e que poderá a qualquer
momento, num “passe de mágica”, alterar os resultados das suas ações.
Equivocado, ignora os meandros da Lei de Causa e Efeito, que mais cedo ou mais
tarde o chamará a complexos reajustes.
O que elegeu a porta
estreita, ao contrário, é um Espírito amadurecido e consciente, enxergando com
os olhos da alma, que alça voos mais seguros e reais. Já compreendeu que o caminho
apertado exige conhecimento, critério, vigilância, prudência, humildade e
renúncia, para nele permanecer. É o caminho da vida da felicidade, da luz.
O indivíduo desperto
não se forra a esforços; cuida primeiramente do seu campo mental, educa os seus
pensamentos, policia as suas palavras, fala menos e ouve mais; procura viver em
sintonia com o Alto através da prece sincera, simples, constante; não mede
forças para auxiliar o seu próximo, vivenciando a lei de solidariedade na sua
verdadeira expressão; procura compreender e perdoar aqueles que lhe estão à
volta, principalmente no ninho doméstico.
Enfim, sabe que a
confiança em Deus, acima de tudo é a forma mais sublime de manutenção das
forças anímicas para a travessia escolhida. Assim é que renuncia às facilidades
do mundo, à opinião dos homens, para sentir a presença de Deus, no recôndito de
sua alma, imunizando-se, assim, contra os acidentes de percurso (pois os
obstáculos se apresentam mais palpáveis nesse caminho). Sobretudo, está
consciente de que a vitória ao final da jornada será conquistada por seus
méritos e com inenarrável alegria íntima.
Não podemos nos
esquecer das lições imorredouras do nosso Mestre Jesus, que dizia: “Eu sou a
porta; se alguém entrar por mim, salvar-se-á...” (Jô, 10:9), mostrando assim a importância
de vivermos dentro dos padrões evangélicos, qualquer que seja a dimensão em que
estamos situados. É necessário adquirir esse bom hábito!
No estágio atual da
Humanidade terrena, predomina o mal, em diversos aspectos: o orgulho, o egoísmo,
o materialismo, a sensualidade, a agressividade, a ambição desmedida, a
mentira, a maldade. Porém, não estamos obrigados a aderir a esse estado de
coisas: devemos orar permanentemente, para não cairmos em tentação,
reformulando nossas concepções errôneas; e valorizar cada oportunidade de
renovação, vendo no Cristo “o Caminho, a Verdade e a Vida”.
BIBLIOGRAFIA:
Kardec, Allan - O
Evangelho Segundo o Espiritismo
QUESTIONÁRIO:
1 - Como Kardec
caracteriza as duas portas?
2 - Qual é, para o
Espírito, a porta larga?
3 - É fácil passar
pela porta estreita? Como fazer?
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