O Apocalipse À Luz Da Doutrina Espírita
O
“Apocalipse” (Revelação), como já dissemos, tem as mais diversificadas
interpretações.
Para os
adeptos do Espiritismo, no entanto, apesar de toda riqueza encontrada no
“Apocalipse”: os símbolos, as imagens, os fatos extraordinários, a dimensão... Tudo
tem um valor relativo, e não há nada de sobrenatural ou fantástico.
Este é um
ponto capital, que precisamos deixar em relevo.
Diferentemente
de muitas outras doutrinas e correntes de pensamento, a Doutrina Espírita é
essencialmente analítica e racional. É, pois, livre de espírito de sistema e de
toda ordem de fanatismos.
Para cada
uma das grandes obras literárias humanas, dos grandes livros “revelados” ou,
por muitos, chamados de “sagrados”, o Espiritismo dá-lhe o valor que lhe cabe.
Muitos
desses livros, assim como os Evangelhos, são muitas vezes, motivo de infinitas
controvérsias, motivo de intermináveis debates, e, em certos casos, motivo de
cisão. Quantos não foram os grupos religiosos que se dividiram apenas por causa
de palavras mal compreendidas e interpretações divergentes?
Aos
espíritas, um dos principais lemas é: “Espíritas, amai-vos e instrui-vos”.
Portanto,
imbuídos deste ideal, poderemos ter em mãos qualquer livro, qualquer obra,
qualquer trabalho humano ou “revelado” pelos Espíritos Superiores, e nossa
atenção primeira será, principalmente, o conteúdo moral.
Kardec, a
propósito, na introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, explica, por
exemplo, em relação aos Evangelhos, que muitos se apegaram a parte mística,
esquecendo-se da parte moral (onde encontrariam a própria condenação), eis que
a parte moral exige a reforma de cada um. O ensino moral ali contido, no
entanto, é inquestionável e nunca foi objeto de discussão.
Portanto,
quando nós, Espíritas, estudamos livros como o “Apocalipse”, mantemo-nos de
coração Sereno, sem nos apegarmos as imagens e simbolismos extraordinários,
pois lhes damos o valor apropriado.
Com esse
propósito, prossigamos.
O médium João
Em “A Hora
do Apocalipse”, Edgard Armond comenta que o apóstolo João encontrava-se em
estado de desdobramento ou êxtase, onde viu, nos Planos Espirituais, quadros e
projeções etéreas.
Emmanuel,
comentando o Apocalipse em “A Caminho da Luz”, diz que:
“O Divino
Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos
liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do
invisível. Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta
como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra...”
“... fui
movido pelo Espírito” (Ap 1:10).
É como o
apóstolo descreve o método pelo qual lhe foi revelado a mensagem apocalíptica.
Através do fenômeno de emancipação da alma, ele foi levado a regiões do espaço,
e após receber a mensagem, ele a relata através dos símbolos e imagens que eram
comuns ao seu povo.
Neste ponto,
temos que nos remeter a “O Livro dos Espíritos”, item 455, em que Kardec
discorre sobre os fenômenos da emancipação da alma. Especialmente sobre o
êxtase, afirma:
“O êxtase é
o estado pelo qual a independência entre a alma e o corpo se manifesta da
maneira mais sensível, e se torna, de certa forma, palpável.”
E ainda: “No
estado de êxtase o aniquilamento do corpo é quase completo; ele só conserva,
por assim dizer a vida orgânica. Sente que a alma não se liga a ele mais que
por um fio...”
E em “O
Livro dos Médiuns”, no quadro sinótico dos médiuns, constante da Segunda parte,
cap. XVI, encontramos: “Médiuns extáticos - Os que, em estado de êxtase, recebem
revelações dos Espíritos”.
João, no
entanto, embora fosse grande médium, ressalva Edgard Armond que:
“Não sabendo
transmitir o que viu em perfeita realidade, descreveu como pode, comparando com
o que conhecia.”
Provavelmente,
visualizou situações até mesmo de nossos dias, impossíveis de serem
compreendidas naquela época. Sobre esse ponto, extraímos o seguinte trecho da
resposta à questão 443 de “O Livro dos Espíritos”, que trata sobre a visão do
extático (aquele que vê em estado de êxtase):
“O que ele
vê é real para ele; mas, como seu Espírito está sempre sob a influência das ideias
terrenas, ele pode ver à sua maneira, ou, melhor dito, exprimir-se numa
linguagem de acordo com os seus preconceitos e com as ideias em que foi criado,
afim de melhor se fazer compreender...”
O CONTEÚDO NA VISÃO ESPÍRITA
Erroneamente,
o Apocalipse vem sendo tratado, por muitos, como sinônimo de “final dos
tempos”.
Há
simbolismos, por exemplo, que levaram a crença de que os cataclismos citados
nas profecias são os grandes terremotos ocorridos, outros os ligam às guerras.
Foi por isso
que já se previu, inúmeras vezes, e até mesmo nos dias de hoje, que as
profecias contidas no Apocalipse concretizar-se-iam e tudo estaria acabado.
A simples
menção da palavra já remete a pensamentos catastróficos. Sobre esse aspecto,
Camille Flamarion, na obra “O Fim do Mundo” comenta que:
“A tradição
Cristã? em acreditar que o fim estava próximo perpetuava-se de ano em ano, de
século a século, apesar dos desmentidos da Natureza. Qualquer catástrofe, tremor de terra, epidemia, fome, inundação;
qualquer fenômeno: eclipse, cometa, furacão, tempestade, eram encarados como
sinais precursores do cataclismo final. Os cristãos tremiam quais folhas
levadas pelo vento, na expectativa constante do julgamento decisivo, e os
pregadores alimentavam esse místico temor das almas tímidas”.
O
Espiritismo, em absoluto, não compartilha dessas infundadas previsões.
Considera que a mensagem principal do livro é que após tremendas dificuldades
por que se passa, no inexorável caminho do progresso, no final haverá a vitória
dos “justos”.
Não devemos,
então, buscar no Apocalipse um significado único. Os acontecimentos ali
descritos podem ser encontrados em várias ocasiões da História da Humanidade,
quando os Homens vivenciam circunstâncias que se assemelham aos fatos narrados.
Independentemente
do significado exato, podem representar aflições pelas quais poderá passar a
Humanidade, decorrentes de seu livre arbítrio.
O
“Apocalipse”, através da revelação feita por Jesus, complementa sua majestosa e
sublime ação, desvela sua vontade, seus planos para a Humanidade e nos desperta
para que estejamos alinhados a seus ensinamentos para que possamos habitar a
morada feliz que se tornará a Terra quando a população vivenciar seu Evangelho.
De acordo
com Edgard Armond, no preâmbulo de sua obra “A Hora do Apocalipse”, o livro da
Revelação apresenta acontecimentos que interessam a Humanidade; é um
complemento aos ensinamentos de Jesus, quando o Divino Mestre, no Sermão do
Cenáculo, refere-se a acontecimentos finais deste atual ciclo evolutivo.
De acordo
com Emmanuel em “A Caminho da Luz” as guerras, as nações futuras, os tormentos
porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental,
estão ali pormenorizadamente entrevistos.
Seu conteúdo
mostra o que ocorre em todos os tempos: as religiões perdem-se nos caminhos do
ritualismo, do mercantilismo, do fanatismo que alimenta os orgulhosos,
materializando o sentido espiritual, desvirtuando sua essência.
Vemos que o
Apocalipse foi escrito de forma que pudesse atravessar todos esses séculos até
os nossos dias, a fim de servir de mensagem a Humanidade atual e não somente ao
povo daquela época, circunscrito às sete igrejas citadas.
NÃO HAVERÁ FIM DO MUNDO
Pode-se
compreender, então, que não haverá um “Fim do Mundo”, como muitos sempre
pregaram ao longo do tempo. Tudo se dará sem saltos.
Conforme
vemos no item 2, cap. XVIII de “A Gênese”: “Tudo é harmonia na Criação; tudo
revela uma previdência que não se desmente nem nas menores coisas nem nas
maiores...” Certo é que muitos fatos apresentados no “Apocalipse” já se
passaram e muitos ainda estão por vir. Porém, não da forma catastrófica que
muitos têm interpretado.
Por certo,
também, o Homem sofrerá as consequências de suas paixões inferiores, porém, não
da forma destruidora que muitos interpretam sobre o final dos tempos.
Sim, o Livro
da vida, contido nas mãos de um “Anjo Poderoso”, tem o sabor (entendimento)
doce e amargo (Ap. 10:9-10). Doce, porque anuncia o triunfo do Cristo no plano
da evolução planetária; amargo, porque esta evolução é feita através de
tribulações calcadas nas deficiências morais individuais e coletivas dos
Homens.
A nossa
frente, temos a presença do Mestre, que jamais nos desamparará frente às
vicissitudes do caminho: é o nosso refugio, a nossa força, a nossa sustentação,
de onde emana a nossa coragem para continuarmos rumo à paz e ao equilíbrio
almejados.
A RESPONSABILIDADE DO ESPÍRITA
O espírita
tem um papel preponderante nesse momento de transição. Com a devida preparação
através da reforma interior, o espírita tem sua vida transformada, e pode
influenciar a todos que o cercam, principalmente pelo exemplo, a se
reformularem seguindo as normas de conduta sugeridas no Evangelho do Cristo.
Dai a grande
responsabilidade de cada um, pois “ao que muito foi dado, muito será pedido”.
Neste sentido, temos o Espiritismo como recurso primordial de esclarecimento e
encaminhamento dos Homens.
Cabe aqui
mais uma vez a recomendação do Mestre: “Orai e vigiai”. Principalmente, por
tudo aquilo que a Doutrina Espírita prega, com base nos ensinamentos de Jesus,
é nosso dever estarmos preparados e ao mesmo tempo atuarmos como verdadeiros
servidores, auxiliando a todos que pudermos alcançar, para que “nenhuma ovelha
se perca”.
São palavras
do Mestre: “Vinde a mim benditos de meu Pai; tomai posse do reino que está
preparado para vós desde a criação do mundo”.
Conforme
cita José de Souza e Almeida, no final de sua obra “O Apocalipse”, o livro da
Revelação é a certeza de que se realizará a bem-aventurança: “Bem-aventurados
os mansos, porque herdarão a Terra” (Mt 5:5).
Encontramos
no Espiritismo todo o alicerce para a necessária reformulação e transformação
íntima.
Para Cairbar
Schutel, o “cântico novo”, citado no capitulo XIV, refere-se justamente à
Doutrina Espírita, pois é a única que prega o Evangelho em Espírito e verdade.
Aqueles que
só têm ouvidos para as vozes sedutoras do mundo material, não estão dispostos a
vivenciar o Evangelho e libertar-se, passando a viver o “Amar a Deus sobre
todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.
À medida que
nos reformamos interiormente, nossos olhos vão se voltando para os verdadeiros
valores, bem como, para as oportunidades que a todos os momentos chegam-nos,
possibilitando valorizar a bendita reencarnação que nos foi concedida, e a
trilhar o Caminho que permite entrar pela porta estreita das regiões
angelicais.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Como nós
espíritas podemos auxiliar o planeta nesse momento de transição?
Bibliografia:
- Bíblia de
Jerusalém.
- Kardec,
Allan - A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Xavier,
Francisco C./Emmanuel - A Caminho da Luz
- Flamarion,
Camille - O Fim do Mundo.
- Almeida,
José de Sousa e - O Apocalipse - Ed. FEESP.
- Schutel,
Caibar - Interpretação Sintética do Apocalipse.
- Armond,
Edgar - A Hora do Apocalipse.
- Atlas
Bíblico Interdisciplinar - Escritura, História, Geografia, Arqueologia,
Teologia - Ed. Paulus.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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