O Espiritismo
Do
Cristianismo Ao Espiritismo
Os primeiros
séculos do Cristianismo, como vimos anteriormente, foram assinalados pelos mais
notáveis testemunhos de fé, pois eram incontáveis as perseguições.
Os primeiros
cristãos, renovados pela palavra amorosa do Cristo, buscando seguir seus
ensinamentos, exercitando a fraternidade legitima, deixaram-nos exemplos
admiráveis de resignação, renúncia e coragem.
A expansão
inicial do Cristianismo - fato digno de recordar - foi marcada pela perseguição
implacável, especialmente, pelos próprios judeus oposicionistas, muito mais do
que pelos conquistadores romanos.
Com efeito,
embora Jesus tenha vindo dar cumprimento a Lei e aos profetas, encontrara, no
Judaísmo, uma religião institucionalizada, dogmática, prescrevendo rituais
exteriores como prática devocional, em detrimento da prática do Bem.
A manifestação
da adoração a Deus constituía-se de oferendas, sacrifícios e do cumprimento
rigoroso dos rituais exteriores. Deus era concebido a imagem e a semelhança do
Homem, ou seja, portador de predicados humanos, que antes deveria ser temido ao
invés de amado.
Jesus chega,
então, na qualidade de embaixador celestial, apresentando Deus como Pai de
todos os Homens, cujo Infinito Amor, Bondade e Misericórdia derramam-se sobre
todas as criaturas, conclamando o Homem à edificação do Reino de Deus em seu
próprio coração.
Na
demonstração viva da vontade Divina, ama e serve indistintamente. O Mestre
proclama no “amar a Deus sobre todas as coisas” e no “amar ao próximo como a si
mesmo”, o caminho que conduz a Deus.
No tocante
às práticas exteriores, convida os Homens, através de parábolas, sermões,
questionamentos e, sobretudo pela sua exemplificação, a refletirem sobre a
ineficácia desses ritualismos, se não são capazes de torná-los melhores.
Por essa
postura, Jesus foi visto como um inimigo das tradições, como um herético, por
não dar importância aos preceitos exteriores, e considerado um blasfemo, por se
dizer Filho de Deus.
A despeito
de toda perseguição desencadeada contra Jesus, que culminou com o martírio na
cruz, a palavra dele triunfou, seus exemplos fecundaram o solo da terra, como
sementes de luz, destinadas a germinação incessante nos caminhos humanos. Sob a
forca poderosa do Amor, o Evangelho expandiu-se.
Os primeiros
cristãos eram a terra fértil simbolizada na Parábola do Semeador, produzindo
frutos de fraternidade, amor, fé e esperança. Perseguidos primeiramente pelos
judeus e depois pelos romanos vivenciavam os mais aflitivos tormentos, de forma
serena, pois a imortalidade da alma e o amor a Deus era o fundamento da fé que
abraçavam. Durante quase três séculos, foram inumeráveis os mártires que,
profundamente inspirados pelas sublimes palavras do Mestre, deram a própria
vida a serviço do Cristo.
Nesse
panorama, um ponto importante que podemos destacar foi, no tocante aos
ensinamentos de Jesus, e ao esforço para manter sua integridade, as lutas
imensas no combate às influências de muitos convertidos -judeus ou gentios -
que não obstante terem aderido ao Evangelho, buscavam incorporar suas práticas
e crenças milenares ao Cristianismo.
As lutas
foram intensas e incessantes pela preservação da pureza do Evangelho. No
entanto, gradativamente, a partir do século IV o Cristianismo, desfigurado
pelos seus próprios adeptos, foi afastando-se cada vez mais do pensamento do
Mestre.
Aconteceu,
então, a construção da mistificação de Jesus e a institucionalização do
Cristianismo.
A
mistificação, ou seja, a criação de um mito, pois, esquecendo as próprias
palavras do Mestre, que sempre afirmou sua condição humana, ainda assim, muitos
o elevaram a condição de Divindade e, dessa forma, Jesus seria a própria
encarnação de Deus na Terra. Tal interpretação, no entanto, é claramente
rejeitada pelas próprias palavras de Jesus que sempre afirmou, expressamente,
que fora enviado pelo Pai.
A
institucionalização, ou seja, a transformação em uma instituição humana, pois
se tornou uma organização estruturada por forte hierarquização de seus membros,
regida por austero regimento interno, e com grande poder e hegemonia
exclusivista, influindo, até mesmo, na esfera administrativa, governamental e
jurídica da sociedade. Tal condição faz-nos refletir:
Quanta
diferença da “Casa do Caminho” onde a preocupação principal era o atendimento
aos aflitos! Quanta diferença de tudo que foi ensinado pelo “Rabi da Galiléia”
que sempre se esforçou em demonstrar que a grande ação era a renovação
interior, e a grande tarefa era a divulgação do “Reino de Deus”, exemplificando
a simplicidade, a humildade, a pureza de intenções... não poderia, assim, haver
imposições, haver disputa de poder com as Instituições do mundo..., por isso
Jesus havia afirmado: “Meu Reino não é deste mundo.”
Em todo esse
processo que citamos, não poderíamos jamais esquecer do livre arbítrio dos
Homens.
Certo é que,
em todos esses séculos, imensurável foi a ajuda da Espiritualidade Superior
para inspirar os Homens ao caminho do Bem..., mas, como citamos, em regra, o
livre arbítrio é inviolável. Cabe, pois, a cada Ser, a cada grupo, a cada
sociedade buscar a implantação do Evangelho da forma que Jesus ensinou.
Nosso avanço
é sempre contínuo, construído a partir do ensino que podemos tirar das gerações
anteriores. Caso contrário, estaríamos sempre a recomeçar.
Revendo a
História, portanto, podemos aprender com aqueles que nos antecederam e, em
decorrência, esforçarmos para não cometer os mesmos enganos.
Vejamos,
então, de forma sucinta, alguns fatos marcantes que determinaram essa
mistificação do Cristo e a institucionalização do Cristianismo.
A INSTITUCIONALIZAÇÃO D0 CRISTIANISMO
Em 312,
Constantino, imperador de Roma, converte-se ao Cristianismo. Publica, então, o
Édito de Milão, dando liberdade de culto aos cristãos.
A Igreja, a
partir dai, começa a sofrer muitas mudanças, pois o Estado que até então
confiscava bens dos cristãos, passa a doá-los à Igreja, enriquecendo-a de bens
materiais.
Foi assim
que, em 325, Constantino solicitou as autoridades da Igreja, a convocação de um
concílio para se decidir se Jesus era Deus ou se Jesus era filho de Deus,
conforme apregoava Ário, sacerdote de Alexandria.
Os Concílios
Os concílios
eram reuniões de autoridades religiosas, onde se debatiam todos os problemas
que interessavam ao movimento cristão. Dessas reuniões decorreram as inovações
desfiguradoras da beleza simples do Evangelho.
Ocorreu,
então, em 325, o 1° Concilio de Nicéia, onde se reafirmou que Jesus é Deus.
Em 381, no
1° Concilio de Constantinopla, reafirmou-se que o Espírito Santo é Deus e os
que afirmavam o contrário foram considerados hereges.
Em 391, o
imperador Teodósio proibiu o culto pagão e elevou o Cristianismo a condição de
religião oficial do Império. O Cristianismo foi institucionalizado: nascia a
Igreja Católica Apostólica Romana.
No entanto,
conforme assinala Emmanuel em “A Caminho da Luz”:
“O
Cristianismo, porém, já não aparecia mais com aquela humildade de outros
tempos. Suas cruzes e cálices deixavam entrever a cooperação do ouro e das
pedrarias, mal lembrando a madeira tosca da época gloriosa das virtudes
apostólicas... A união com o Estado era motivo para grandes espetáculos de
riqueza e vaidade orgulhosa... Herdando os costumes romanos e suas disposições
multisseculares, procurou um acordo com as doutrinas consideradas pagãs, pela
posteridade, modificando as tradições puramente cristãs, adaptando textos,
improvisando novidades injustificáveis... É assim que aparecem novos dogmas,
novas modalidades doutrinárias, o culto dos ídolos...”
Em 607, o
imperador Focas, nomeia Bonifácio III como bispo universal, criando a
instituição do papado.
Os séculos
transcorriam e a Igreja solidificava-se como Instituição religiosa hegemônica e
pretensa detentora da “verdade”.
Aqueles que,
então, não aceitavam a “verdade” propagada pela Igreja eram considerados
hereges. Nesse embate, alguns chefes da Igreja consideraram a oportunidade da
fundação de um tribunal de penitência.
Em 1231, o
tribunal da Inquisição é consolidado pelo papa Gregório IX, engendrando um
capítulo de perseguições acerbas aos chamados heréticos.
Antecipando
essa era sombria, muitos missionários do Cristo reencarnam em tarefa
evangelizadora, empenhando-se na restauração do Cristianismo em sua essência.
Um dos
maiores missionários desse período foi Francisco de Assis, que reencarnou em
1182. Francisco de Assis exercitava o amor, a caridade, a fé e a humildade.
Seus exemplos de total compreensão do Evangelho eram um sopro de revelação
divina, ministrando lições preciosas a Igreja acomodada à opulência e a
exterioridade.
Francisco
deu a sua colaboração à reforma espiritual de que a Igreja tanto necessitava.
No entanto, o seu exemplo não foi compreendido.
Mas, o olhar
misericordioso de Jesus prosseguia velando..., e o movimento de renascimento
cultural propiciaria também um movimento de renovação religiosa. Inúmeros
cooperadores de Jesus reencarnaram: Lutero, Erasmo, Melanchthon, John Huss e
outros.
Lutero
encabeçou o movimento de protesto contra a Igreja, originando o Protestantismo,
quando, em 1520, ele rompeu com a Igreja. O seu esforço coroou-se de notável
importância para os caminhos do porvir.
Em 1870, o
Concilio vaticano I decretou o dogma da infalibilidade papal, instituindo que o
papa, quando se manifesta, oficialmente, em matéria de fé e moral, não pode
errar, pois é assistido pelo Espírito Santo.
Esses são;
como ressalvamos, apenas alguns dos fatos que marcaram a história da
Cristandade.
Ao fazermos
esta ligeira incursão, jamais podemos deixar também de ressalvar que nossa
postura perante as religiões deve ser de respeito, e, assim, não tivemos
quaisquer intenções de lançar críticas as Instituições, a quem muito devemos,
pois temos plena consciência de que esta História foi construída por muitos de
nos, Espíritos imortais que somos.
Quando a
analisamos em seu conjunto, surpreendemo-nos com a riqueza de tantas
manifestações humanas: quanto trabalho, quanto esforço, quantas lágrimas...
O estudo dos
livros da Bíblia, o estudo da História dos grandes patriarcas tem-nos sido uma
jornada reveladora.
Quantos
exemplos de fidelidade à palavra divina, quantos exemplos inesquecíveis de fé,
de esperança... Não obstante todos os atos humanos de desvio do “Caminho”,
pelas paisagens memoráveis da Palestina, nos campos e nas montanhas, entre as
oliveiras, nos caminhos inolvidáveis da Galiléia, ressoara sempre a mensagem do
Mestre, convidando os Homens ao exercício da verdadeira religiosidade.
Como
assinala Emmanuel no livro intitulado “Emmanuel”:
“O que se
faz preciso, em vossa época, é estabelecer a diferença entre religião e
religiões. A religião é o sentimento divino que prende o homem ao Criador. As
religiões são organizações dos homens, falíveis e imperfeitas como eles
próprios; dignas de todo o acatamento pelo sopro de inspiração superior que as
faz surgir; são como gotas de orvalho Celeste, misturadas com os elementos da
terra em que caíram. Muitas delas, porém, estão desviadas do bom caminho pelo
interesse criminoso e pela ambição lamentável de seus expositores; mas a
verdade um dia brilhará para todos, sem necessitar da cooperação de nenhum
homem”.
A Mensagem
de Jesus é um canto de amor, de fraternidade, de luz, de libertação que nos
conduz a tantas inspirações. Que ela possa despertar-nos para a verdadeira
religiosidade!
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Por que os
homens, por vezes, mesmo professando uma religião que prega o Amor, podem se
desviar do caminho do Bem?
Fonte da
imagem: Internet Google.
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