O início de uma
encarnação para o homem é sempre cercado de expectativas e dúvidas. É uma nova
experiência que se inicia e a ela o ser apresenta-se como um “livro em branco”,
em que deverá escrever a história de sua existência.
Espírito milenar,
tendo vivido muitas outras encarnações, o homem é uma obra em andamento, um
livro que já se encontra preenchido em boa parte de suas páginas. Por que não conseguimos
lê-lo? Porque faz parte do processo encarnatório o esquecimento do passado.
Em razão dele, somos
mais autênticos.
De fato, se hoje somos
imperfeitos, no passado o fomos ainda mais; se hoje cometemos tantos erros, se
ainda nos envolvemos com as ilusões do mundo, se revelamos constantemente
traços de animalidade (violência, ódio, indiferença), podemos imaginar como
teremos sido no passado mais distante.
Se ele estivesse vivo
em nossa consciência, tornar-se-ia, certamente, um empecilho para as novas
experiências. Se nos lembrássemos dos erros cometidos (ou daqueles que
cometeram contra nós), viveríamos torturados pela culpa, pelo remorso, pelo
desejo de vingança etc...
Se tivéssemos tido
existências venturosas e confortáveis, no poder, no luxo e na riqueza, o orgulho,
o egoísmo e a vaidade seriam um entrave para o nosso livre-arbítrio.
De qualquer forma, as
perturbações às nossas relações sociais seriam inevitáveis, visto nos lembrarmos
do que fizéramos ou sofrêramos de nosso próximo, mormente naquele que convive conosco.
Por este motivo, a misericórdia
divina concedeu-nos o que é necessário e suficiente para o sucesso da nova
existência a cumprir, isto é, a voz da consciência e as tendências instintivas,
que nos permitem identificar aquilo que precisamos fazer para nos corrigir e
progredir no presente, superando as montanhas dos nossos erros e imperfeições e
prosseguindo no processo evolutivo com maior liberdade e a certeza de que se
Deus lançou um véu sobre o nosso passado, isto ser-nos-á o mais adequado.
Em O Evangelho Segundo
o Espiritismo, Kardec assim interpretou o esquecimento do passado: “O Espírito
renasce frequentemente no mesmo meio em que viveu, e se encontra em relação com
as mesmas pessoas, a fim de reparar o mal que lhes tenha feito”.
Se nelas reconhecesse
as mesmas que havia odiado, talvez o ódio reaparecesse. De qualquer modo, ficaria
humilhado perante aquelas pessoas que tivesse ofendido.
“Deus nos deu, para nos
melhorarmos, justamente o que necessitamos e nos é suficiente: a voz da
consciência e as tendências instintivas; e nos tira o que poderia
prejudicar-nos”.
“O homem traz, ao
nascer, aquilo que adquiriu”. Ele nasce exatamente como se fez. Cada existência
é para ele um novo ponto de partida. Pouco lhe importa saber o que foi: se está
sendo punido, é porque fez o mal, e suas más tendências atuais indicam o que
lhe resta corrigir em si mesmo. É sobre isso que ele deve concentrar toda a sua
atenção, pois daquilo que foi completamente corrigido já não restam sinais. “As
boas resoluções que tomou são a voz da consciência, que o adverte do bem e do
mal e lhe dá a força de resistir às más tentações”. (Cap. V, item 11).
Ora, a lembrança do
passado jamais se perde. Muitas vezes, sinais do passado transparecem sutilmente
em nossos gestos, em nossos atos, em nossas palavras.
Em nossos relacionamentos,
as lembranças ficam apagadas, veladas; todavia, elas continuam vivas nos registros
profundos da consciência.
As questões que
ficaram em aberto, os problemas não resolvidos no passado, mantêm-se presentes
na consciência, embora latentes, aguardando novas resoluções. O que já foi
superado funde-se à personalidade, permitindo um caminhar mais liberto e
sereno.
O esquecimento do
passado jamais será um obstáculo à melhoria do Espírito; antes, é um benefício
inestimável concedido á criatura humana.
E, após a morte, o
Espírito recobra a lembrança do passado, para que possa tomar boas resoluções
em relação às suas próximas reencarnações.
BIBLIOGRAFIA:
Kardec, Allan - O
Evangelho Segundo o Espiritismo
Kardec, Allan - O
Livro dos Espíritos
QUESTIONÁRIO:
1 - O que é necessário
ao Espírito para iniciar uma nova existência, em relação às lembranças do
passado?
2 - O que o homem
traz, ao nascer, para a nova existência?
3 - As lembranças do
passado ficam perdidas para o homem? Como elas se manifestam?
Nenhum comentário:
Postar um comentário