Atividade Missionária De Pedro – 1ª Parte
A
CASA DO CAMINHO
Era um
casarão de grandes proporções e paupérrimo em sua feição exterior. A construção
não obedecia a qualquer planificação anterior. Velhas tamareiras circundavam a
Casa.
Conforme
narram os Espíritos Emmanuel e Amélia Rodrigues, situava-se a margem da estrada
entre Jerusalém e Jope. Fora erguida pelas mãos amorosas de Simão Pedro,
ajudado por alguns companheiros afeiçoados a Mensagem ainda viva em suas mentes
e seus corações.
Nascida para
socorrer aqueles que não tinham onde repousar as fadigas nem os desgastes
orgânicos, era um reduto de amor evocando a presença do Mestre inolvidável.
Lentamente,
foram surgindo os moribundos que não tinham para onde seguir: crianças
abandonadas e velhinhos desvalidos, perturbados da mente e obsessos que ali
eram deixados com indiferença. Chamando a si os aflitos e os enfermos, a Casa
do Caminho inaugurou no mundo a fórmula da verdadeira benemerência social.
As primeiras
organizações de assistência ergueram-se com o esforço dos apóstolos, ao influxo
amoroso das lições do Mestre. Recolhendo-se ali com a família, Pedro era
auxiliado particularmente por Tiago, filho de Alfeu, e por João; mas, Filipe e
suas filhas também se instalaram em Jerusalém, vindo a cooperar no grande
esforço fraternal. Ali, as mãos espalmadas da caridade sustentavam a fé, a fim
de que nunca se apagasse a luz da esperança.
O pescador
de Cafarnaum era a figura central da atividade socorrista, em volta de quem
circulavam os problemas e afazeres complexos.
Simão Pedro
permanecia, não raro, até avançadas horas no atendimento aos combalidos, aos
atormentados e desfalecentes. Somente quando a noite cintilante de estrelas
anunciava a sua plenitude, é que ele, já bem cansado, buscava o colchão
grosseiro para o repouso de poucas horas.
O verbo nos
seus lábios, vertido do coração sensível, adquiria tons de beleza, autenticada
pelo magnetismo da sua vivência.
Em meio aos
casos mais dolorosos, Pedro, ouvindo as conversas dos alienados nos
compartimentos próximos, latido dos cães esfomeados em derredor e a musica
mágica da natureza, percebia, não raro, o vulto alvo e luminoso do Mestre,
sereno, como na ocasião em que caminhou sobre as ondas do mar na direção do
barco a lhe dizer:
“- Simão, a
chama que coze o pão atrai a mariposa que, descuidada, nela se consome...” “O discípulo do meu Evangelho é um ponto vivo
de referência onde se encontre, atraindo as atenções e sendo vitima das circunstancias,
em constante perigo, nunca, porém, em abandono, esquecido do meu amor”.
“Não te
martirizes, nem temas. A água refrescante e cristalina que mata a sede é também
usada para diluir venenos terríveis de ação rápida”.
“Cada alma
vê, no próximo, aquilo que tem no seu ínterim; e cada coração recebe a Mensagem
de acordo com a própria necessidade”.
“Permanece
fiel e não desfaleças em ocasião alguma...” (“Pelos Caminhos de Jesus”, lição
2, Amélia Rodrigues).
Nesse
cenário, Simão amou a todos com muita intensidade, jamais se omitiu ou temeu,
até o momento do martírio na cruz, de cabeça para baixo, em Roma, vários anos
mais tarde...
CURA DE UM COXO (At 3:1-10)
O Homem
generoso, distribuindo daquilo que tem, fixa em si mesmo a luz e a alegria que
nascem dessas dádivas, somente quando as realiza com o sentimento de amor, que,
no fundo, é a sua riqueza imperecível e legitima.
“Pedro e
João estavam subindo ao Templo para a oração da hora nona. Trouxeram então, um
homem que era aleijado de nascença, e que todos os dias era deixado a porta do
Templo chamada Formosa, para pedir esmolas aos que entravam. Vindo Pedro e
João, que iam entrar no Templo, implorou que lhe dessem uma esmola. Pedro,
porém, fitando nele os olhos, junto com João, disse-Lhe: ‘Olha para nós! ’Ele
os olhava atentamente, esperando receber deles alguma coisa. Mas Pedro lhe
disse: ‘Nem ouro nem prata possuo. O que tenho, porém, isto te dou: em nome de
Jesus Cristo, o Nazareu, anda!’ E, tomando-o pela mão direita, ergueu-o. No
mesmo instante seus pés e calcanhares se firmaram; de um salto pôs-se em pé e
começou a andar. E entrou com eles no Templo, andando, saltando e louvando a
Deus. Todo o povo viu-o andar e louvar a Deus; reconheciam-no, pois era ele
quem esmolava, assentado junto a Porta Formosa do Templo. E ficaram cheios de
admiração e de assombro pelo que lhe sucedera.” (At. 3: 1-10).
Verificamos,
na passagem da cura acima transcrita, o quanto os apóstolos Pedro e João
estavam sintonizados com a Espiritualidade Superior.
Como nos
ensina a Doutrina Espírita, nos processos de cura tão formidáveis como este,
são necessárias diversas condições. Entre elas podemos destacar a fé daquele
que cura, assim como daquele que é curado, pois ao primeiro é necessária a
convicção e ao segundo a receptividade. E, especialmente, é indispensável a
pureza de intenções, e o desejo verdadeiro de auxiliar, pois, assim, é
estabelecida, em conjunto com os Benfeitores Espirituais, a Corrente magnética
curadora.
Quem espera
pelo ouro ou pela prata, a fim de contribuir nas boas obras, em verdade ainda
se encontra distante da possibilidade de ajudar a si próprio. Mas, lembrando a
confiança em Jesus, a coragem e as palavras amorosas de Pedro; que venhamos a
dar de nós mesmos, no esforço da própria iluminação.
DISCURSO DE PEDRO AO POVO NO TEMPLO (At
3:11-26)
“A vista
disso, Pedro dirigiu-se ao povo: ‘Homens de Israel, por que vos admirais assim?
Ou por que fixais os olhos em nós, como se por nosso próprio poder ou piedade
tivéssemos feito este homem andar? O Deus de Abraão, de Isaac, de Jacó, o Deus
de nossos pais glorificou seu servo Jesus, a quem vos entregastes e negastes
diante de Pilatos, quando este já estava decidido a soltá-lo”. (At 3:11-13).
Uma vez
curado, o ex-coxo não largou mais Pedro e João. E todo o povo, assombrado,
acorreu para junto deles, no chamado Pórtico de Salomão. Vendo isso, Pedro
dirigiu-se as pessoas e teve oportunidade de anunciar o Evangelho de Jesus.
A fé que vem
por meio de Jesus, essa sim houvera restituído a saúde e fortalecido o homem
que todos viam e reconheciam como o antigo coxo que pedia esmolas.
Enunciou,
então, a parte mais importante do ensinamento quando disse: “Arrependei-vos,
pois, e convertei-vos, a fim de que sejam apagados os vossos pecados, e deste
modo venham da face do Senhor os tempos do refrigério.” (At 3:19).
Os crentes
ainda distanciados do sentido do Evangelho de Jesus quase sempre imaginam que
se livrarão das dificuldades com as cerimônias exteriores; outros acreditam que
se identificarão com os céus tão somente pelo cantar de alguns hinos, enquanto
enorme percentagem de espíritas se crê na intimidade de supremas revelações,
apenas pelo fato de haver frequentado algumas sessões. Tudo isso constitui
preparação valiosa, mas não é tudo.
Há um
esforço iluminativo para o interior, sem o qual Homem algum penetrará no
santuário da Verdade Divina.
A palavra de
Pedro à massa popular contém a síntese do vasto programa de transformação
essencial, a que toda criatura submeter-se-á para a felicidade da união com o
Cristo. Uma vez que ninguém atinge, em um só passo, a eterna claridade, há
estações indispensáveis para essa realização.
Conforme nos
ensina a Doutrina Espírita, o autoconhecimento e a renovação interior são as
chaves para o sucesso espiritual de todos nos.
A PRISÃO DE PEDRO E DE JOÃO (At 4:1-22)
“Falavam
eles ao povo, quando sobrevieram os sacerdotes, o oficial do Templo e os
saduceus, contrariados por vê-los ensinar ao povo e anunciar, em Jesus, a
ressurreição dos mortos. Lançaram as mãos neles e os recolheram ao cárcere até
a manhã seguinte, pois já estava entardecendo. Entretanto, muitos dos que
tinham ouvido a Palavra abraçaram a fé. E seu número, contando-se apenas os
homens, chegou a cerca de Cinco mil.” (At 4:1-4).
Após o ato
de prisão acima narrado, os maiorais do judaísmo reuniram-se em Jerusalém no
dia seguinte, para deliberar a respeito da situação de Pedro e João, fazendo-os
comparecer diante deles para os interrogarem a respeito da cura do coxo.
Profundamente
inspirado, Pedro apresentou com lógica os seus argumentos, dizendo que eles
estavam sendo julgados por terem feito o bem e a caridade em nome e através de
Jesus Cristo, o Nazareno, que fora crucificado, mas ressurgira dos mortos.
“É ele a
pedra desprezada por vós, os construtores, mas que se tornou a pedra angular
Pois não há, debaixo do céu, outro nome dado aos homens pelo qual devamos ser
salvos.” (At 4: 11-12).
Os
interrogadores ficaram admirados ao verem a coragem com que Pedro e João
falavam, sendo pessoas simples e sem instrução. Verificaram que eles tinham
andado com Jesus, mas vendo, junto a eles, em pé, o homem que tinha sido
curado, nada podiam dizer em contrário. Então os mandaram sair do Sinédrio e
começaram a discutir entre si:
“Que faremos
com estes homens? Que por eles realizou-se um sinal notório é claramente
manifesto a todos os habitantes de Jerusalém, e não podemos negá-lo. Mas, para
que isto não se divulgue ainda mais entre povo, proibamo-los, com ameaças, de
tornarem a falar neste nome a quem quer que seja.” (At 4: 16-17).
Chamaram de
novo Pedro e João e lhes ordenaram que, de modo algum, falassem ou ensinassem
em nome de Jesus. Pedro e João responderam:
“Julgai se é
justo, aos olhos de Deus, obedecer mais a vós do que a Deus. Pois não podemos,
nós, deixar de falar das coisas que vimos e ouvimos.” (At 4: 19-20).
Insistindo
em suas ameaças, mas como não tinham meio de castigá-los, deixaram Pedro e João
em liberdade, por causa do povo, pois, todos glorificavam a Deus pelo que havia
acontecido. O homem beneficiado por este sinal da cura tinha mais de quarenta
anos.
Quanta
beleza encontramos nessa passagem de Atos dos Apóstolos! Quantos corações
conquistados por um ato simples de amor. Através dela, percebemos a conjugação
entre homens de valor e Espíritos na divulgação da mensagem de Jesus, naqueles
primeiros dias do Cristianismo.
Pedro não
temeu a morte. Ele recebeu a responsabilidade da divulgação da mensagem do Amor
e do Bem e a defendeu como quem reconhece não haver tarefa maior na Terra.
CURAS, PRISÕES E O PARECER DE GAMALIEL (At
5:1-42)
“Pelas mãos
dos apóstolos faziam-se numerosos sinais e prodígios no meio do povo a ponto de
levarem os doentes até para as ruas, colocando-os sobre leitos e em macas, para
que, ao passar Pedro, ao menos sua sombra cobrisse algum deles." (At 5:
12-15).
O sumo
sacerdote e seus seguidores encheram-se de cólera e mandaram prender os
apóstolos. Soltos com o auxilio da Espiritualidade, voltaram a pregar no Templo
(At 5:17-42). Sendo mais uma vez capturados e colocados diante do Sinédrio,
exaltaram o Messias na figura de Jesus.
Ao ouvirem
isso, os maiorais ficaram furiosos e queriam matá-los. Levantou-se, no
Sinédrio, um fariseu chamado Gamaliel, Doutor da Lei e Mestre de Saulo de Tarso
(At 22:13), estimado por todo povo. Ele mandou que os acusados saíssem por um
instante.
Conta-nos o
Espírito Emmanuel, por meio das mãos abençoadas de Chico Xavier, no livro
“Paulo e Estevão”, que, anteriormente, os discípulos do Mestre, cientes da
simpatia de Gamaliel pela causa, convidaram-no a visitar as instalações
humildes da “Casa do Caminho”.
Simão Pedro,
profundamente respeitoso, explicou-lhe as finalidades da instituição e,
carinhosamente, ofereceu-lhe uma cópia, em pergaminho, de todas as anotações de
Mateus sobre a personalidade do Cristo e seus gloriosos ensinamentos.
Gamaliel,
atencioso, agradeceu ao ex-pescador, tratando-o igualmente com deferência e
consideração. Chegados à longa enfermaria, em que se aglomeravam os mais
diversos doentes, o grande rabino de Jerusalém não pode ocultar a máxima
impressão, comovido até as lágrimas com o quadro que se lhe deparava aos olhos
espantados.
O grande
doutor compreendeu o êxito da nova doutrina. Aquele Jesus desconhecido,
ignorado da sociedade mais culta de Jerusalém, triunfava no coração dos infelizes,
pela contribuição de amor desinteressado que trouxera aos mais deserdados da
sorte.
Gamaliel
sabia que os galileus não seriam isentos de perseguição e emitiu alguns
conselhos, visando aparar os golpes da violência, que, cedo ou tarde, haveriam
de chegar.
Pedro, João
e Tiago agradeceram sensibilizados, a carinhosa admoestação, e o velho rabino
regressou ao lar, profundamente impressionado com as lições do dia.
Por ocasião
da prisão, diante do Sinédrio, levantando-se em defesa dos apóstolos, cuja obra
conhecera falou:
“Varões de
Israel, atentai bem no que fareis a estes homens. Agora, portanto, digo-vos,
deixai de ocupar-vos com esses homens. Soltai-os. Pois, se seu intento ou sua
obra provém dos homens, destruir-se-á por si mesma; se vem de Deus, porém, não
podereis destruí-los. Não aconteça que vos encontreis movendo guerra a Deus.
Concordaram, então, com ele” (At. 5:34-39).
Os membros
do conselho aceitaram o parecer de Gamaliel. Chamaram os apóstolos, mandaram
açoitá-los, proibiram que falassem no nome de Jesus e soltaram-nos. E eles
todos os dias, no Templo e pelas casas, não cessavam de ensinar e anunciar que
Jesus era o Cristo esperado.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente a
postura de Gamaliel frente aos apóstolos.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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