PENAS E GOZOS FUTUROS – I
O
NADA - A VIDA FUTURA
A Doutrina
Espírita nos ensina que o materialismo “é uma chaga da sociedade” (LE 799), por
abolir a esperança e apresentar que o destino de todo ser humano é o
aniquilamento.
Não há ideia
mais desesperadora do que o da própria destruição e/ou daqueles que amamos.
Põem-se em cheque tudo aquilo que o ser humano construiu dentro de si mesmo
durante sua existência, todas as suas transformações, os sacrifícios, suas
afeições, suas conquistas.
Diante desse
fim, ou seja, o “Nada”, Allan Kardec pergunta: “Por que o homem repele
instintivamente o nada? Porque o nada não existe” (LE 958) Por ser o futuro uma
incógnita para o Homem, no Livro O Céu e o Inferno, Cap. 1, item 1, ele retoma
o assunto: “Que necessidade teríamos de esforçar-nos para ser melhores, de nos constrangermos
na repressão das paixões, de nos fatigarmos no aprimoramento do Espírito, se de
tudo isso não iremos colher nenhum fruto?”
O codificador
vai além, expressando que a “ideia do Nada tem alguma coisa que repugna à
razão”. Ela vai de encontro às aspirações humanas de justiça e de felicidade.
Além do
mais, o Espírito ao reencarnar por diversas vezes, dentro de sua marcha do
progresso, traz em si uma vaga lembrança que se transforma num pressentimento,
mais ou menos forte, dependendo do estado evolutivo do Espírito, da vida
espiritual.
E esse
pressentimento geralmente se manifesta quando da aproximação da morte, onde a
criatura, por mais reticente que seja diante da expectativa do futuro,
“pergunta a si mesmo o que Vai ser dele e, sem o querer, espera”.
A Vida
Futura implica a conservação da nossa individualidade da nossa morte.
A Vida
Futura, que é a Vida Espiritual “é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida
normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre,
espécie de morte, se comparada ao esplendor e a atividade da outra...”.
O Mestre
Jesus enaltece a importância da Vida Futura ao dizer a Pilatos: “Meu reino não
é deste mundo” (Jo 18:33, 36 e 37).
Como cada
ensinamento Vem a seu tempo e assim como Moisés não podia revelar as coisas
espirituais a um povo pastoril, arraigado as coisas materiais, Jesus só pode
conformar o “seu ensinamento ao estado dos homens da sua época”, a fim de não
lhes ofuscar a compreensão.
Coube ao
Espiritismo a tarefa de completar os ensinamentos do Cristo. Surgido numa época
em que a razão despertava na humanidade, pode demonstrar que “a Vida futura não
é mais um simples artigo de fé, uma hipótese”. Através das manifestações dos
Espíritos comparava-se a realidade da Vida espiritual por aqueles que aqui
estiveram e lá estão. Trazendo descrições particularizadas dos seus estados,
sejam eles felizes ou infelizes, nos proporcionando relacionar os atos
praticados e suas consequências.
“A ideia
clara e precisa que se faz da vida futura da uma fé inabalável no futuro, e
essa fé tem consequências imensas sobre a moralização dos homens, quando muda
completamente o ponto de vista sob o qual eles examinam a vida terrestre”.
Dessa forma
a vida do encarnado, no seu lado material, deixa de ser o objetivo maior da
existência. A dedicação de todo tempo na aquisição dos bens materiais e ao bem
estar somente, perde o sentido. Surge a necessidade e a importância dos bens
espirituais, da busca pelas virtudes, da mudança de hábitos, da eliminação de
vícios e defeitos. As relações humanas tomam-se valorizadas.
E nessa
mudança de ponto de vista por parte da humanidade, que é o somatório do
trabalho de cada um, que faremos com que este planeta tome-se, também, o Reino
de Jesus.
INTUIÇÃO
DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS
Assim como a
justiça é um sentimento inato ao ser humano, o pressentimento de haver penas e
recompensas futuras esta presente em todos os povos e em todos os tempos.
A ideia de
um Criador justo e bom, como bem nos ensinou o Mestre Jesus, nos faz vislumbrar
a necessidade de reparação por parte daqueles que ainda praticam o mal e dos
gozos aos que estão no caminho do bem: “Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque serão saciados”.
Nada mais
lógico e justo de ser o Espírito a própria causa de seus sofrimentos ou de sua
felicidade.
Deus nos da
o direito do usufruto do livre-arbítrio e o dever de sermos responsáveis pelos
nossos atos.
“O homem
suporta sempre a consequência das suas faltas; não há uma só infração a Lei de
Deus que não tenha punição.”
Mas é
imperioso lembrar que o Pai é sempre misericordioso e as penas, pelas faltas
cometidas, sempre são temporárias e subordinadas ao arrependimento e a
reparação do mal praticado.
Assim sendo,
a intuição dos sofrimentos e dos gozos futuros se origina das próprias
experiências vivenciadas pelo Espírito, de encarnação em encarnação.
Aqueles que
buscam ofuscar tais sentimentos inatos, se mostrando céticos endurecidos,
demonstram que o orgulho ainda lhes domina, ao ponto de impedir a manifestação
da voz da consciência, que é a bússola que nos direciona a Lei Divina.
INTERVENCAO
DE DEUS NAS PENAS E RECOMPENSAS
Deus,
criador de tudo e de todos, instituiu Suas leis que são eternas e imutáveis.
Essas leis
chamadas de Lei Divina ou Natural regem todo o Universo.
E seguindo a
Lei Divina que o Espírito se aproxima de seu objetivo que é a perfeição
relativa, pois é o caminho de sua felicidade, lhe indicando o que deve e o que
não deve fazer.
A Lei Divina
esta escrita na nossa Consciência, e quanto menos a ouvimos mais nos afastamos
dela, e consequentemente nos tomarmos mais infelizes.
Não há folha
alguma que caia de uma árvore que não seja do conhecimento do Pai. Sendo assim,
“quando um homem comete um excesso, Deus não pronuncia um julgamento contra ele
para lhe dizer, por exemplo: tu fostes guloso e eu vou te punir. Mas ele traçou
limites; as doenças e, frequentemente, a morte, são a consequência dos excessos:
eis a punição. Ela resulta da infração à lei. Assim se passa com tudo.” (LE
964)
NATUREZA
DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS - LE 965-982
Sendo o
Espírito um ser não material, as penas e os gozos futuros, ou seja, as consequências
na vida espiritual dos atos praticados por esse Espírito enquanto esteve
encarnado não são materiais, o que não quer dizer que tais consequências sejam
menos sensíveis do que se estivesse na matéria. Muito pelo contrário, tais
sensações são muito mais impressionáveis no plano espiritual.
Todas as
imagens fantasiosas do céu e do inferno que encontram-se nas culturas são
apenas fruto do estado de imperfeição da humanidade, que não teve ainda a
capacidade de interpretação dos acontecimentos que se dão na vida espiritual,
tendo utilizado imagens, figuras e linguagens, muitas vezes distorcidas, para
tal compreensão.
Com o
advento da Doutrina Espírita, com sua filosofia espiritualista esclarecedora,
inclusive proporcionando a analise criteriosa das manifestações mediúnicas,
temos condições de reformarmos as rebuscadas ideias passadas.
O
Espiritismo nos ensina o verdadeiro “céu” que é o estado de felicidade dos
Espíritos. Esse estado é proporcional a sua elevação e consiste em “conhecer
todas as coisas, não ter ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem nenhuma
das paixões que fazem a infelicidade dos homens. O amor que os une é para eles
a fonte de uma suprema felicidade. Eles não experimentam nem as necessidades,
nem os sofrimentos, nem as angustias da vida material. São felizes do bem que
fazem”. A união dos Espíritos que se simpatizam no bem, que formam as famílias
espirituais é uma fonte de felicidade.
Entre os
Imperfeitos e os Perfeitos há uma infinidade de degraus.
Esses
últimos, ou seja, os Espíritos Puros gozam da felicidade suprema e os demais
encontram-se a caminho.
Com relação
aos sofrimentos de além-túmulo, as tais penas, “são tão variáveis quanto às
causas que os produziram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os
gozos o são para os graus de superioridade”.
Estão
relacionados à inveja, ao desgosto, ao ciúme, a raiva, ao desespero de não
terem atingido a felicidade, de não terem consigo satisfazer os seus prazeres.
Ao remorso, que provoca uma indefinível ansiedade moral.
Tais torturas
morais são mil vezes mais vivas do que aquelas suportadas na carne.
O estado de
inferioridade do Espírito não lhe impede de divisar a felicidade do justo, e
isso para ele também é um motivo de suplicio, mas também de estimulo para sair
daquela situação e fazer por onde ser agraciado por essa felicidade.
Assim, como
ha influências dos Espíritos aos encarnados, há também influências aos
desencarnados, que podem ser boas ou ruins, dependendo do grau de evolução do
Espírito.
Os maus
tentam desviar os ainda vacilantes do caminho do bem. Os bons procuram
fortalecer, incentivar, sanear as más tendências, seja inspirando ao
arrependimento, a busca de uma nova encarnação que lhes proporcione reparações
e desenvolvimentos, etc.
Para nos
preservarmos dos acontecimentos futuros é importante ter em mente que o
“Espírito sofre por todo o mal que faz, ou do qual foi à causa voluntaria, por
todo bem que poderia fazer e que não fez, e por todo o mal que resulta do bem
que ele não fez”. E que é o bem que assegura a felicidade futura, o que
independe de crença e sim da prática, pois, “o bem é sempre o bem, qualquer que
seja o caminho que a ele conduz”.
BIBLIOGRAFIA
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Martins - O Pensamento de Emmanuel- n° 31;
Fonte da imagem: Internet Google.
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