HOMENAGEM A DR. BEZERRA DE MENEZES
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BIOGRAFIA RESUMIDA: É muito importante conhecer a biografia de Bezerra de
Menezes, não só como justa homenagem ao patrono da Federação Espírita do Estado
de São Paulo, mas principalmente porque é parte integrante e importante da
História do Espiritismo no Brasil.
Foi um
grande missionário que não mediu esforços para unir os vários grupos espíritas
que viviam esparsos no século passado.
O HOMEM: Adolfo Bezerra de Menezes
nasceu na antiga Freguesia do Riacho do Sangue, hoje, Solonópole, no Estado do
Ceará, no dia 29 de agosto de 1831. Em 1838 entrou para a escola pública da
Vila do Frade, onde em dez meses apenas preparou-se suficientemente, até onde davam
os conhecimentos do professor que dirigia a primeira fase de sua educação.
Muito cedo revelou a sua capacidade intelectual, pois aos onze anos de idade
iniciava o curso de Humanidades, e aos treze anos conhecia tão bem o latim que
passou a ministrá-lo a seus companheiros, nos impedimentos do professor.
Seu
progenitor, o velho Antônio Bezerra de Menezes, era um homem relativamente
abastado, porém, por efeito de seu bom coração e o de sua esposa, Fabiana de
Jesus Maria Bezerra, comprometeu seus recursos ao atender amigos que o
procuravam e exploravam seus sentimentos. Ao perceber que seus débitos
igualavam-se aos seus haveres propôs entregar suas fazendas aos seus credores,
os quais não só recusaram como ainda, numa verdadeira homenagem ao caráter e à
condução irrepreensível do velho fazendeiro, assinaram um memorial onde
declaravam que os seus bens continuariam sempre seus e “... que gozasse deles
como e quando quisesse, que eles, credores, se sujeitariam aos prejuízos que
pudessem ter”.
O honrado
cidadão insistiu, mas não conseguindo demovê-los, decidiu tornar-se mero administrador
do que fora sua fortuna, retirando apenas o necessário para a manutenção da família,
que passou da abundância para as privações. Foi nessa fase que Adolfo Bezerra
de Menezes formulou os mais veementes votos de orientar-se pelo caráter íntegro
de seu pai, e com minguada quantia partiu para a Província do Rio de Janeiro, a
5 de fevereiro de 1851, a fim de abraçar sua vocação, a Medicina. Sendo um dos
estudantes mais pobres do seu tempo, viu-se na necessidade de lecionar desde o
2°. ano, a fim de manter-se na Faculdade.
Em certa
ocasião, as taxas na Faculdade estavam atrasadas e havia o risco de se perder o
ano; além disso, o senhorio ameaçava pô-lo na rua, subitamente batem-lhe à
porta: era um moço simpático e de atitudes polidas que vinha contratar aulas de
matemática. Bezerra recusou, confessando ser esta a matéria que ele mais
detestava. O visitante insistiu e diante de sua situação financeira, Bezerra de
Menezes resolveu aceitar. O moço inclusive efetuou o pagamento antecipadamente,
como não tivesse livro algum sobre o assunto, correu à Biblioteca Pública e
preparou a aula, esta, porém, não se realizou, pelo simples motivo de que o
discípulo não mais apareceu.
O MÉDICO: Em novembro de 1852 ingressou
como praticante interno no Hospital da Santa Casa de Misericórdia; doutorou-se
em 1856, pela Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro.
Em 1858,
concorreu a uma vaga de substituto da Seção de Cirurgia da Faculdade de Medicina,
nesse mesmo ano, o mestre Manuel Feliciano Pereira de Carvalho, então cirurgião
Mor do Exército, fê-lo seu assistente, com o posto de Cirurgião-Tenente.
Em parceria
com um colega, abre um consultório no Centro Comercial do Rio de Janeiro, mas que
apresenta pouco movimento, contudo, consultório particular que mantém em sua
modesta casa no bairro apresenta um intenso movimento, porque eram consultas
gratuitas, de clientes geralmente pobres que não podiam pagar seus serviços.
Graças a este seu envolvimento com a dor alheia passou a ser conhecido como o
"médico dos pobres".
Em novembro
de 1858 casa-se com Maria Cândida de Lacerda, que desencarnou no outono de
1863, após rápida e imprevisível enfermidade, deixando-lhe dois filhos.
Decorridos dois anos, casa-se com sua cunhada, Cândida Augusta de Lacerda
Machado. Bezerra de Menezes encarava a medicina como um verdadeiro sacerdócio,
chegando mesmo a dizer: "Um médico não tem o direito de terminar uma
refeição, nem de escolher hora, nem de perguntar se é longe ou perto, quando um
aflito qualquer lhe bate à porta".
O POLÍTICO: A população do bairro de
São Cristovão, onde ele residia e clinicava quis que ele a representasse na
Câmara Municipal, sendo então eleito vereador pelo Partido Liberal. No ano
seguinte teve sua eleição impugnada por Haddock Lobo, chefe do Partido
Conservador, contrário ao Partido Liberal sob a alegação de ser médico militar.
Para não prejudicar seus pares que dele necessitavam para ter a maioria na
Câmara, resolveu afastar-se do Exército. Foi reeleito vereador à Câmara
Municipal do Rio de Janeiro, e mais tarde Presidente da Câmara Municipal do Rio
de Janeiro, cargo que à época correspondia ao de Prefeito Municipal.
Quando
político, levantaram-se contra ele rudes campanhas de injúria, cobrindo o seu
nome de impropérios; entretanto, a prova da pureza de sua alma, deu-a, quando
deliberou abandonar a vida pública e dedicar-se aos pobres, repartindo com os
necessitados o pouco que possuía.
Corria sempre
ao casebre do pobre, onde houvesse um mal a combater, levando ao aflito o conforto
de sua palavra de bondade, o recurso da sua profissão de médico e o auxílio da
sua bolsa minguada, porém generosa. Sobre a política, dizia o Dr. Bezerra de
Menezes: "Para nós, a política é a ciência de criar o bem de todos e nesse
princípio nos firmaremos".
O ESPÍRITA: Desde 1818, no Brasil,
começou-se falar de homeopatia e no Rio de Janeiro surgiu um grupo espírita, do
qual faziam parte alguns médiuns receitistas; ali, com grande interesse
espiritual estudavam-se os ensinamentos veiculados por Allan Kardec, sob o lema
"Fora da caridade não há salvação". Joaquim Travassos, membro
fundador desse grupo, tão logo viu publicada a tradução portuguesa de "O
Livro dos Espíritos", apressou-se em levar um exemplar ao seu conhecido, o
deputado Bezerra de Menezes.
Encontrou o
"médico dos pobres" em um fim de tarde, no momento em que se
encaminhava para tomar o bonde de volta ao lar, sem distração alguma que lhe
amenizasse a longa viagem, abriu casualmente o livro e pensou: "Ora, com
certeza não irei para o inferno só por ler isto".
Perplexo,
não encontrava nada que fosse novo para seu espírito, no entanto, tudo aquilo
era novo para ele. Achava que já houvera lido ou ouvido tudo o que se
encontrava no "O Livro dos Espíritos".
Preocupou-se
seriamente com isso e dizia: "Parece que era espírita inconscientemente,
ou como se diz vulgarmente, de nascença".
Em 1876
nasce a "Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo e Caridade",
primeira sociedade kardecista do Rio de Janeiro, com Bittencourt Sampaio à
frente como médium receitista. Aqueles que dirigiam os núcleos do Espiritismo
no Rio de Janeiro, sentiram a necessidade de uma união mais forte, mais
consolidada. Urgia um sistema de disciplina e de ordem que congregasse em torno
de um centro único, os elementos dispersos.
Assim, em 1883
surgiu a Federação Espírita Brasileira, dada a mentalidade e o prestígio de
Bezerra de Menezes, na época já cognominado "Kardec Brasileiro", foi
ele um dos primeiros convidados para dirigi-la.
Ele, porém,
julgando-se ainda insuficientemente preparado, não só rejeitou qualquer
proposta como também não consentiu que o seu nome sequer figurasse entre os
fundadores. À noite desse dia, dirigiu-se para o Centro "Grupo
Ismael", do qual era dirigente, comentando com os colegas o convite
recebido. Durante o desenrolar dos trabalhos recebe uma mensagem do Espírito
Agostinho, concitando-o a aceitar o cargo de direção da FEB, pois que os
Espíritos iriam ajudá-lo; mas Dr. Bezerra de Menezes retruca humildemente: “Ajudar
como”? Por acaso irei cobrar as receitas dos amigos espirituais? E o Espírito responde:
"Trazendo até você, quando precisar, mais alunos de matemática".
No dia 16 de
agosto de 1886, um auditório com cerca de duas mil pessoas da melhor sociedade,
que enchia o salão de honra da Guarda Velha, ouviu em silêncio, emocionado, atônito,
a palavra do eminente homem público, do eminente cidadão, do eminente católico
que tornava pública sua adesão ao Espiritismo. Nessa época, já existiam muitas
sociedades espíritas, porém as únicas que mantinham a hegemonia eram quatro:
"Acadêmica", a "Fraternidade", a "União Espírita do
Brasil" e a "Federação Espírita Brasileira". Entretanto, logo surgiram
entre elas rivalidades e discórdias, sob os auspícios de Bezerra de Menezes, e acatando
as importantes instruções dadas por Allan Kardec, através do médium Frederico Júnior,
foi fundado o famoso "Centro Espírita"; porém, nem por isso deixava
Bezerra de Menezes de dar a sua cooperação a todas as outras instituições.
O entusiasmo
dos espíritas logo se arrefeceu, e Bezerra de Menezes se viu desamparado pelos
seus companheiros, chegando a ser o único frequentador do Centro, a cisão era profunda
entre os espíritas que se dividiam em "místicos" e
"científicos". Em 1894, o ambiente demonstrou tendências de melhora e
o nome de Bezerra de Menezes foi lembrado como o único capaz de unificar a
família espírita. O infatigável batalhador, com 63 anos de idade, assumiu a
presidência da Federação Espírita Brasileira, cargo que ocupou até o dia 11 de abril
de 1900, quando desencarnou.
É assim que
Dr. Bezerra de Menezes legou-nos tão rica mensagem de amor, trabalho e desprendimento,
sendo para nós o exemplo da caridade personificada. Tão nobre Espírito missionário
continua ainda a atuar, liderando uma falange de Espíritos dedicados a minorar
a dor dos seus semelhantes, e em todos os Centros Espíritas, onde houver dois
ou mais trabalhadores reunidos em seu nome, onde houver um coração que soluça,
uma alma querida necessitada, a sua equipe se fará presente.
AS OBRAS: Dentre suas obras podemos
destacar: - Estudos Filosóficos - contendo a maioria dos seus artigos
publicados no jornal "O PAIZ", sob o pseudônimo de Max; - A Loucura
sob novo prisma - obra descritiva sobre o conceito espírita de obsessão; - Uma
carta de Bezerra de Menezes.
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