CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO ESPÍRITA: PACIÊNCIA, INDULGENCIA, FÉ, HUMILDADE, DIGNIDADE E CARIDADE.

quinta-feira, 30 de outubro de 2025

22ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

O Apocalipse À Luz Da Doutrina Espírita

O “Apocalipse” (Revelação), como já dissemos, tem as mais diversificadas interpretações.

Para os adeptos do Espiritismo, no entanto, apesar de toda riqueza encontrada no “Apocalipse”: os símbolos, as imagens, os fatos extraordinários, a dimensão... Tudo tem um valor relativo, e não há nada de sobrenatural ou fantástico.

Este é um ponto capital, que precisamos deixar em relevo.

Diferentemente de muitas outras doutrinas e correntes de pensamento, a Doutrina Espírita é essencialmente analítica e racional. É, pois, livre de espírito de sistema e de toda ordem de fanatismos.

Para cada uma das grandes obras literárias humanas, dos grandes livros “revelados” ou, por muitos, chamados de “sagrados”, o Espiritismo dá-lhe o valor que lhe cabe.

Muitos desses livros, assim como os Evangelhos, são muitas vezes, motivo de infinitas controvérsias, motivo de intermináveis debates, e, em certos casos, motivo de cisão. Quantos não foram os grupos religiosos que se dividiram apenas por causa de palavras mal compreendidas e interpretações divergentes?

Aos espíritas, um dos principais lemas é: “Espíritas, amai-vos e instrui-vos”.

Portanto, imbuídos deste ideal, poderemos ter em mãos qualquer livro, qualquer obra, qualquer trabalho humano ou “revelado” pelos Espíritos Superiores, e nossa atenção primeira será, principalmente, o conteúdo moral.

Kardec, a propósito, na introdução de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, explica, por exemplo, em relação aos Evangelhos, que muitos se apegaram a parte mística, esquecendo-se da parte moral (onde encontrariam a própria condenação), eis que a parte moral exige a reforma de cada um. O ensino moral ali contido, no entanto, é inquestionável e nunca foi objeto de discussão.

Portanto, quando nós, Espíritas, estudamos livros como o “Apocalipse”, mantemo-nos de coração Sereno, sem nos apegarmos as imagens e simbolismos extraordinários, pois lhes damos o valor apropriado.

Com esse propósito, prossigamos.

O médium João

Em “A Hora do Apocalipse”, Edgard Armond comenta que o apóstolo João encontrava-se em estado de desdobramento ou êxtase, onde viu, nos Planos Espirituais, quadros e projeções etéreas.

Emmanuel, comentando o Apocalipse em “A Caminho da Luz”, diz que:

“O Divino Mestre chama aos Espaços o Espírito João, que ainda se encontrava preso nos liames da Terra, e o Apóstolo, atônito e aflito, lê a linguagem simbólica do invisível. Recomenda-lhe o Senhor que entregue os seus conhecimentos ao planeta como advertência a todas as nações e a todos os povos da Terra...”

“... fui movido pelo Espírito” (Ap 1:10).

É como o apóstolo descreve o método pelo qual lhe foi revelado a mensagem apocalíptica. Através do fenômeno de emancipação da alma, ele foi levado a regiões do espaço, e após receber a mensagem, ele a relata através dos símbolos e imagens que eram comuns ao seu povo.

Neste ponto, temos que nos remeter a “O Livro dos Espíritos”, item 455, em que Kardec discorre sobre os fenômenos da emancipação da alma. Especialmente sobre o êxtase, afirma:

“O êxtase é o estado pelo qual a independência entre a alma e o corpo se manifesta da maneira mais sensível, e se torna, de certa forma, palpável.”

E ainda: “No estado de êxtase o aniquilamento do corpo é quase completo; ele só conserva, por assim dizer a vida orgânica. Sente que a alma não se liga a ele mais que por um fio...”

E em “O Livro dos Médiuns”, no quadro sinótico dos médiuns, constante da Segunda parte, cap. XVI, encontramos: “Médiuns extáticos - Os que, em estado de êxtase, recebem revelações dos Espíritos”.

João, no entanto, embora fosse grande médium, ressalva Edgard Armond que:

“Não sabendo transmitir o que viu em perfeita realidade, descreveu como pode, comparando com o que conhecia.”

Provavelmente, visualizou situações até mesmo de nossos dias, impossíveis de serem compreendidas naquela época. Sobre esse ponto, extraímos o seguinte trecho da resposta à questão 443 de “O Livro dos Espíritos”, que trata sobre a visão do extático (aquele que vê em estado de êxtase):

“O que ele vê é real para ele; mas, como seu Espírito está sempre sob a influência das ideias terrenas, ele pode ver à sua maneira, ou, melhor dito, exprimir-se numa linguagem de acordo com os seus preconceitos e com as ideias em que foi criado, afim de melhor se fazer compreender...”

O CONTEÚDO NA VISÃO ESPÍRITA

Erroneamente, o Apocalipse vem sendo tratado, por muitos, como sinônimo de “final dos tempos”.

Há simbolismos, por exemplo, que levaram a crença de que os cataclismos citados nas profecias são os grandes terremotos ocorridos, outros os ligam às guerras.

Foi por isso que já se previu, inúmeras vezes, e até mesmo nos dias de hoje, que as profecias contidas no Apocalipse concretizar-se-iam e tudo estaria acabado.

A simples menção da palavra já remete a pensamentos catastróficos. Sobre esse aspecto, Camille Flamarion, na obra “O Fim do Mundo” comenta que:

“A tradição Cristã? em acreditar que o fim estava próximo perpetuava-se de ano em ano, de século a século, apesar dos desmentidos da Natureza. Qualquer catástrofe,  tremor de terra, epidemia, fome, inundação; qualquer fenômeno: eclipse, cometa, furacão, tempestade, eram encarados como sinais precursores do cataclismo final. Os cristãos tremiam quais folhas levadas pelo vento, na expectativa constante do julgamento decisivo, e os pregadores alimentavam esse místico temor das almas tímidas”.

O Espiritismo, em absoluto, não compartilha dessas infundadas previsões. Considera que a mensagem principal do livro é que após tremendas dificuldades por que se passa, no inexorável caminho do progresso, no final haverá a vitória dos “justos”.

Não devemos, então, buscar no Apocalipse um significado único. Os acontecimentos ali descritos podem ser encontrados em várias ocasiões da História da Humanidade, quando os Homens vivenciam circunstâncias que se assemelham aos fatos narrados.

Independentemente do significado exato, podem representar aflições pelas quais poderá passar a Humanidade, decorrentes de seu livre arbítrio.

O “Apocalipse”, através da revelação feita por Jesus, complementa sua majestosa e sublime ação, desvela sua vontade, seus planos para a Humanidade e nos desperta para que estejamos alinhados a seus ensinamentos para que possamos habitar a morada feliz que se tornará a Terra quando a população vivenciar seu Evangelho.

De acordo com Edgard Armond, no preâmbulo de sua obra “A Hora do Apocalipse”, o livro da Revelação apresenta acontecimentos que interessam a Humanidade; é um complemento aos ensinamentos de Jesus, quando o Divino Mestre, no Sermão do Cenáculo, refere-se a acontecimentos finais deste atual ciclo evolutivo.

De acordo com Emmanuel em “A Caminho da Luz” as guerras, as nações futuras, os tormentos porvindouros, o comercialismo, as lutas ideológicas da civilização ocidental, estão ali pormenorizadamente entrevistos.

Seu conteúdo mostra o que ocorre em todos os tempos: as religiões perdem-se nos caminhos do ritualismo, do mercantilismo, do fanatismo que alimenta os orgulhosos, materializando o sentido espiritual, desvirtuando sua essência.

Vemos que o Apocalipse foi escrito de forma que pudesse atravessar todos esses séculos até os nossos dias, a fim de servir de mensagem a Humanidade atual e não somente ao povo daquela época, circunscrito às sete igrejas citadas.

NÃO HAVERÁ FIM DO MUNDO

Pode-se compreender, então, que não haverá um “Fim do Mundo”, como muitos sempre pregaram ao longo do tempo. Tudo se dará sem saltos.

Conforme vemos no item 2, cap. XVIII de “A Gênese”: “Tudo é harmonia na Criação; tudo revela uma previdência que não se desmente nem nas menores coisas nem nas maiores...” Certo é que muitos fatos apresentados no “Apocalipse” já se passaram e muitos ainda estão por vir. Porém, não da forma catastrófica que muitos têm interpretado.

Por certo, também, o Homem sofrerá as consequências de suas paixões inferiores, porém, não da forma destruidora que muitos interpretam sobre o final dos tempos.

Sim, o Livro da vida, contido nas mãos de um “Anjo Poderoso”, tem o sabor (entendimento) doce e amargo (Ap. 10:9-10). Doce, porque anuncia o triunfo do Cristo no plano da evolução planetária; amargo, porque esta evolução é feita através de tribulações calcadas nas deficiências morais individuais e coletivas dos Homens.

A nossa frente, temos a presença do Mestre, que jamais nos desamparará frente às vicissitudes do caminho: é o nosso refugio, a nossa força, a nossa sustentação, de onde emana a nossa coragem para continuarmos rumo à paz e ao equilíbrio almejados.

A RESPONSABILIDADE DO ESPÍRITA

O espírita tem um papel preponderante nesse momento de transição. Com a devida preparação através da reforma interior, o espírita tem sua vida transformada, e pode influenciar a todos que o cercam, principalmente pelo exemplo, a se reformularem seguindo as normas de conduta sugeridas no Evangelho do Cristo.

Dai a grande responsabilidade de cada um, pois “ao que muito foi dado, muito será pedido”. Neste sentido, temos o Espiritismo como recurso primordial de esclarecimento e encaminhamento dos Homens.

Cabe aqui mais uma vez a recomendação do Mestre: “Orai e vigiai”. Principalmente, por tudo aquilo que a Doutrina Espírita prega, com base nos ensinamentos de Jesus, é nosso dever estarmos preparados e ao mesmo tempo atuarmos como verdadeiros servidores, auxiliando a todos que pudermos alcançar, para que “nenhuma ovelha se perca”.

São palavras do Mestre: “Vinde a mim benditos de meu Pai; tomai posse do reino que está preparado para vós desde a criação do mundo”.

Conforme cita José de Souza e Almeida, no final de sua obra “O Apocalipse”, o livro da Revelação é a certeza de que se realizará a bem-aventurança: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a Terra” (Mt 5:5).

Encontramos no Espiritismo todo o alicerce para a necessária reformulação e transformação íntima.

Para Cairbar Schutel, o “cântico novo”, citado no capitulo XIV, refere-se justamente à Doutrina Espírita, pois é a única que prega o Evangelho em Espírito e verdade.

Aqueles que só têm ouvidos para as vozes sedutoras do mundo material, não estão dispostos a vivenciar o Evangelho e libertar-se, passando a viver o “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

À medida que nos reformamos interiormente, nossos olhos vão se voltando para os verdadeiros valores, bem como, para as oportunidades que a todos os momentos chegam-nos, possibilitando valorizar a bendita reencarnação que nos foi concedida, e a trilhar o Caminho que permite entrar pela porta estreita das regiões angelicais.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Como nós espíritas podemos auxiliar o planeta nesse momento de transição?

Bibliografia:

- Bíblia de Jerusalém.
- Kardec, Allan - A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Xavier, Francisco C./Emmanuel - A Caminho da Luz
- Flamarion, Camille - O Fim do Mundo.
- Almeida, José de Sousa e - O Apocalipse - Ed. FEESP.
- Schutel, Caibar - Interpretação Sintética do Apocalipse.
- Armond, Edgar - A Hora do Apocalipse.
- Atlas Bíblico Interdisciplinar - Escritura, História, Geografia, Arqueologia, Teologia - Ed. Paulus.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 23 de outubro de 2025

22ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

O Apocalipse De João

O Apocalipse

O Apocalipse é o título do último livro que compõe o Novo Testamento. De natureza profética além de um conteúdo vasto e abrangente possui uma grande riqueza de simbolismos. Desta forma, teremos por objetivo uma visão geral analisando-o, ao final, sob a ótica do Espiritismo.

O termo apocalipse é originário da palavra grega APOKÁLIPSIS que significa “Revelação”. Por este motivo é denominado de “O Livro das Revelações”. Foi escrito em grego.

Porque o idioma grego?

A língua grega, podemos lembrar, foi o idioma predominante na elaboração dos livros que compõem o Novo Testamento. Era a língua culta da época.

O domínio da Grécia sobre a Palestina, que havia se iniciado com a conquista de Alexandre Magno em 332 a.C., perdurou até o ano de 63 a.C., quando se iniciou o Império Romano. No entanto, a influência cultural grega permaneceu sobre todo o período do comando romano.

Essa forte influência cultural é denominada de Helenismo, que é, pois, o conjunto dos costumes, tradições e ideias da Grécia antiga que se expandiu por grande parte do Oriente. Engloba, dessa forma, o saber em geral, desde a retórica (a arte do discurso) até as artes plásticas (pintura, arquitetura, escultura, etc.). Um romano culto deveria saber o grego. Esse idioma torna-se, dessa forma, a língua predominante do Cristianismo primitivo.

Quem foi o autor do livro “Apocalipse”?

A autoria dos livros bíblicos é; como já expusemos em aulas anteriores, motivo de infinitas controvérsias.

Na “Bíblia de Jerusalém”, na introdução ao livro “Apocalipse”, encontramos a seguinte observação:

“... se o Apocalipse de João apresenta parentesco inegável com os outros escritos joaninos, também se distingue claramente deles por sua linguagem, seu estilo e por certos pontos de vista teológicos a tal ponto que se torna difícil afirmar que procede imediatamente do mesmo autor. Não obstante tudo isso, sua inspiração é joanina, e foi escrito por alguém do círculo dos discípulos imediatos do apóstolo e está impregnado de seu ensinamento.”

Esta é; bem podemos ver, uma questão em que muitos teólogos debater-se-ão, talvez, por muito tempo.

É que o conhecimento humano não é estanque. Ao contrário, cada nova descoberta, cada nova revelação vai “construindo o edifício do conhecimento humano”. Eis um processo inspirador e formidável: pelo esforço dos Homens em buscar o aprendizado, e com auxílio dos Espíritos Superiores, trazendo-nos novas revelações, cada vez mais as grandes questões vão sendo esclarecidas.

Portanto, não havendo, por ora, elementos definitivos de convicção para, com certeza, assegurarmos a real autoria do livro “Apocalipse”, podemos repousarmo-nos na Tradição.

Tradicionalmente, a autoria do livro “Apocalipse” é atribuída a João, o Evangelista, filho de Zebedeu, irmão de Tiago “Maior”, também apóstolo de Jesus.

João, Segundo também a Tradição, foi o único dos apóstolos diretos de Jesus que alcançou idade avançada e morreu de morte natural, em Éfeso. Assim, testemunhou a destruição de Jerusalém e a ruína do seu majestoso Templo.

Depois do martírio e morte de Tiago, João teria se dirigido a Éfeso, onde dirigiu a importante e influente comunidade cristã fundada por Paulo.

João esteve varias vezes na prisão, foi torturado e exilado para a Ilha de Patmos (Ap 1:9), “por causa da Palavra de Deus e do Testemunho de Jesus”. Ali, permaneceu por cerca de três a quatro anos, onde teria escrito o “Apocalipse”, por volta do ano de 95 d.C.

CONTEXTO HISTÓRICO

Quando revemos a História do Cristianismo nascente, no primeiro século, recordamos que o Império Romano, não obstante o peso de seu jugo; concedia relativa liberdade aos povos dominados para que cultuassem suas religiões. Isso permitiu que a mensagem do Cristo se espalhasse pela vasta região que se encontrava sob domínio imperial.

No entanto, houve momentos em que os cristãos sofreram fortes perseguições.

As perseguições aos cristãos:

Procurando encontrar uma data marcante que tenha assinalado o inicio das fortes perseguições aos adeptos do Cristianismo, podemos nos remeter ao período do Imperador Nero (54 a 68 d.C.) que, com “mãos de ferro” e crueldade indescritível, foi severo carrasco e deu inicio a uma época de terror. O episódio mais conhecido, absolutamente hediondo e vil, foi o incêndio que provocara em Roma em 64 d.C., que devastou a cidade. Nero, após acusar os cristãos pelo atentado, e insuflar o ódio nos romanos, condena numerosos cristãos a suplícios horrendos: eles eram lançados as feras, crucificados, queimados...

Os cristãos eram responsabilizados por todos os infortúnios que ocorriam, e eram sumariamente condenados e supliciados.

Outro período especialmente obscuro surgiu com o Imperador Domiciano (81 a 96 d.C.), que almejava impor um culto a sua própria pessoa como “divinizada”. Por isso sofreu forte rejeição dos adeptos do Cristianismo, contra os quais, então, iniciou uma perseguição implacável.

Refletindo sobre esses momentos de inigualáveis tribulações e atos de inenarráveis crueldades, reconhecemos, sem titubear, o valor daqueles valorosos cristãos que, pela fé fervorosa e pela resignação à Lei de Deus, deixaram-nos os mais inspiradores exemplos.

A CRONOLOGIA DO LIVRO “APOCALIPSE”

Edgard Armond, em “A Hora do Apocalipse”, comenta que as vidências de João ocorreram durante dias e semanas sucessivas. Dessa forma, as visões foram sendo registradas na ordem em que eram percebidas por João, e não na ordem cronológica dos acontecimentos, ou seja, o presente, o passado e o futuro são apresentados alternadamente.

A LINGUAGEM UTILIZADA

Neste livro, o autor faz uso de alegorias, imagens, símbolos, figuras e números. Por isso, José de Sousa e Almeida, em “O Apocalipse”, recomenda cautela ao se tentar atribuir a cada pormenor uma correspondência com a realidade.

Acerca de todo o simbolismo utilizado, alguns autores apontam que a razão deve-se a circunstância acima exposta, qual seja: os cristãos estavam sendo oprimidos, duramente perseguidos e vigiados pelas autoridades que estavam no poder.

Outro ponto digno de nota que nos cabe aqui esclarecer é que João baseou-se, largamente, no Antigo Testamento, principalmente nas palavras e símbolos dos seguintes livros: Êxodo, Juízes, Ezequiel, Daniel, Zacarias, Isaias, Jeremias e Joel. Muitos destes livros também são considerados apocalípticos.

Utilizou-se, ainda, do Novo Testamento, apresentando simbologias como a do “Banquete Nupcial” e a do “Cordeiro”, de alguns sermões de Jesus, referentes ao fim dos tempos, e também de citações das cartas de Paulo aos Tessalonicenses e aos Coríntios.

Os Simbolismos:

Aqueles que se dedicam ao estudo histórico e teológico do livro “Apocalipse” precisam, para decifrá-lo, conhecer os diversos símbolos ali presentes.

Esses símbolos, consoante classificação que encontramos na obra “Atlas Bíblico Interdisciplinar - Escritura - Historia - Geografia - Arqueologia - Teologia”; podem ser resumidos em:

• Simbolismo cósmico: o sol, a lua, as estrelas que mudam de natureza, a terra que treme - são eventos extraordinários e fantásticos para indicar a presença particular de Deus e Sua Superioridade;

• Simbolismo teriomorfo: cordeiro, leão, águia, cavalos, gafanhotos, que são ora usados no sentido comum, ora como representação de um conjunto de forcas positivas e negativas que fogem ao pleno controle humano;

• Simbolismo antropológico: o homem, a mulher, o amor, o casamento, o cuidado no vestir, o semblante, a mão, os pés, os cabelos, a voz, a alegria, a exultação, o canto, o choro... devendo tudo ser decifrado em sentido mais profundo;

• Simbolismo cromático: a indicação de cores para representar, por exemplo, a decrepitude, a crueldade, o negativo, etc.;

• Simbolismo aritmético: a atribuição aos números de um valor não numérico em si, mas qualitativo, onde, por exemplo, encontramos o numero sete como símbolo de plenitude e totalidade.

Em relação a todos esses símbolos, temos sempre que lembrar que seus significados devem ser restringidos ao contexto regional da época, eis que ha outras culturas, outras escolas de pensamento que atribuem significados diferentes aos mesmos símbolos que estão presentes no “Apocalipse”.

AS INTERPRETAÇÕES

O processo de interpretação de símbolos, aos estudiosos, exige uma visão apropriada, acurada, cautelosa e serena.

No entanto, é interessante observar que cada instituição interpreta as situações de acordo com suas crenças.

Embora existam interpretações tão divergentes, isso não tira a beleza e a profundidade encontrada nos temas tratados. É preciso considerar a essência da mensagem da qual o apóstolo foi o intermediário.

A finalidade do Apocalipse é, principalmente, confortar os fiéis; eles não estão isentos do sofrimento, mas “como serão marcados pelo sinal de Deus, estarão sob a proteção divina”.

A MENSAGEM CENTRAL

Diante da situação aflitiva dos cristãos, como descrevemos ao início, João escreveu as comunidades tão cruelmente perseguidas e, ao mesmo tempo, já entrevendo as gerações futuras, deixando uma mensagem de incentivo a persistência e esperança por dias melhores.

Com base no que lhe foi revelado, João dispôs os assuntos da seguinte forma:

- Endereçamento as sete Igrejas;

- Narração da visão do trono da majestade divina;

- Exposição das provações que a Humanidade passara;

- Anúncio da queda da “Babilônia”, das lamentações sobre a terra, da alegria e triunfo nos céus e das vitorias de Cristo sobre os falsos profetas;

- Prenúncio do “juízo final”, enaltecendo o novo céu, a nova terra e a nova Jerusalém;

- Por fim, admoestações e conclusão com as promessas finais.

Em síntese, o livro convida a resistir diante das tribulações, a combater o mal e a persistir na construção do Bem. Apesar de estar escrito em forma de uma carta dirigida as sete Igrejas da Ásia Menor, é uma mensagem universal. João procura desvelar os acontecimentos, anunciando que após muitas lutas e graves acontecimentos, surgirá, sim, um novo céu e uma nova Terra.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Qual o ensinamento que você achou mais importante?

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 16 de outubro de 2025

21ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

Epístola De Tiago

INTRODUÇÃO

A Epístola de Tiago é uma das que mais geram debates, entre os estudiosos, para definição de seu autor.

Conforme consta da Bíblia de Jerusalém, na introdução as Epístolas, o autor não se apresenta como sendo Tiago, filho de Zebedeu, apóstolo de Jesus, que Herodes mandou matar no ano 44, nem como o outro apóstolo do mesmo nome, Tiago, filho de Alfeu. Quando as igrejas aceitaram a canonicidade desta epístola, identificaram seu autor como Tiago, irmão de Jesus, que foi martirizado, por mão dos judeus, por volta do ano 62. Muito ainda se discute, especialmente por ter sido escrita diretamente em grego, com elegância e riqueza de vocabulário, diferentemente do que se esperaria de um galileu da época.

Abandonando essas polêmicas e fixando-nos no texto da Epístola, encontramos um conteúdo riquíssimo, um tanto diferente das demais epístolas, por se assemelhar aos escritos sapienciais, ou seja, de sabedoria, que são como que coletâneas de provérbios e exortações morais. Sua essência é um convite à verdadeira devoção a Deus, que é através das obras.

EPÍSTOLA DE TIAGO

Tiago inicia apresentando-se como “servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo” e se dirige às “Doze Tribos da Dispersão”, referindo-se aos cristãos de origem judaica e dispersos pelo mundo. Analisemos, então, alguns dos ensinamentos e exortações trazidas por Tiago:

• A paciência diante das provações.

“Bem-aventurado o homem que suporta com paciência a Provação! Porque, uma vez provado, receberá a coroa da vida, que o Senhor prometeu aos que o amam.” (Tg 1:12).

Em nosso mundo, as aflições são comuns a todos: ricos e pobres, senhores ou empregados, jovens ou idosos. Vivemos num mundo de provas e expiações. Ninguém pode escapar a essa circunstância.

A época em que foi escrita esta epístola de Tiago é marcada como uma das mais violentas para os cristãos. As perseguições eram intermináveis, eles estavam acuados, em várias partes do império, seus encontros tinham que ser escondidos. Em Roma, eles se reuniam nas catacumbas, para fugir das autoridades. Muitos foram capturados, torturados e martirizados. Grande era o momento de provação.

Nesse cenário, muitos foram os que suportaram resignadamente cada provação. E eram felizes por ter a oportunidade de testemunharem sua fé. Esses primeiros cristãos deixaram-nos os mais belos exemplos de renúncia e abnegação.

Por isso, Tiago conclama todos a também suportarem seus fardos até o final. Lembremos que o Pai nunca coloca um fardo maior do que o filho pode suportar.

A nós espíritas, há quem muito mais foi explicado, fica o apelo de procedermos da mesma forma. Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, no Cap. V, item 18, temos:

“Bem-aventurados os que têm a oportunidade de provar a sua fé, a sua firmeza, a sua perseverança e a sua submissão a vontade de Deus, porque eles terão centuplicadas as alegrias que lhes faltam na Terra, e após o trabalho vira o repouso.”

• A afabilidade.

“Isto podeis saber com certeza, meus amados irmãos. Que cada um esteja pronto para ouvir, mas lento para falar e lento para encolerizar-se; pois a cólera do homem não é capaz de cumprir a justiça de Deus”. (Tg 1:19-20).

Os seres humanos, em geral, tendem a valorizar mais a própria opinião do que a dos outros. Isso faz com que muitos ensinamentos sejam ignorados, pois o desejo maior é de falar, em vez de ouvir. Mas, ressaltemos, para se aprender é preciso saber ouvir.

A sociedade judaica, por exemplo, aquela época, apresentava-se fragmentada por vários grupos, cada um querendo ser dono da verdade. Além das fronteiras de Israel, também havia diversas cisões entre os povos.

Por isso, nesta Carta, Tiago exorta ao cultivo do respeito, do entendimento, da afabilidade. Preceitos estes indissociáveis da Doutrina Cristã.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. IX, item 6, encontramos esta síntese:

“A benevolência para com os semelhantes, fruto do amor ao próximo, produz a afabilidade e a doçura, que são a sua manifestação.”

• A religiosidade.

“Com efeito, a religião pura e sem mácula diante de Deus, nosso Pai, consiste nisto: visitar os órfãos e as viúvas em suas tribulações e guardar-se livre da corrupção do mundo.” (Tg 1:27).

Nesta assertiva de Tiago, encontramos uma das mais belas sínteses do que significa religiosidade.

Especialmente aquela época, devemos lembrar, nas religiões em geral predominava o culto exterior. Por ser mais fácil que a renovação interior, as multidões procuravam louvar a Deus apenas através dos rituais, dos sacrifícios, e acreditavam assim ter “cumprido seu dever” diante de Deus.

O esforço em abolir essas crenças deveria ser muito grande. Jesus, a propósito, empenhou-se em demonstrar que o verdadeiro culto a Deus é através dos sentimentos do coração. Por isso, o Mestre, especialmente, acolhia os excluídos, os abandonados, os desvalidos...

Tiago, dessa forma, recorda esse ensinamento de Jesus, para que as pessoas exercessem a verdadeira religiosidade.

• A fé sem obras é morta.

“Meus irmãos, se alguém disser que tem fé, mas não tem obras, que lhe aproveitará isso? Acaso a fé poderá salvá-lo? Se um irmão ou uma irmã não tiverem o que vestir e lhes faltar o necessário para a subsistência de cada dia, e alguém dentre vós lhe disser: ‘Ide em paz, aquecei-vos e saciai-vos ’, e não lhes der o necessário para a sua manutenção, que proveito haverá nisso? Assim também a fé, se não tiver obras, está completamente morta.” (Tg 2:14-17).

A grande maioria dos Homens tende ao ceticismo. As mais sublimes verdades são, diversas vezes, desprezadas por falta de fé. Muitos querem um sinal.

Tantos outros acreditam nas verdades eternas, acreditam nas palavras de Jesus, mas isso é tudo. Acreditam que seja verdadeira, mas não se movem para transformá-la em realização. É que não possuem a verdadeira fé.

Que proveito pode haver? - indaga Tiago.

Nenhum - podemos dizer - pois é uma fé morta!

Tiago, em sua epístola, conclama a todos a cultivarem a fé viva.

Essa fé manifesta-se através das obras.

A verdadeira fé é o combustível que alimenta o Espírito e o torna capaz de grandes realizações. O cristão, quando é movido por essa chama, sairá de si mesmo e sentirá a dor do outro como se fosse sua própria dor; cada necessitado que encontrar pelo caminho, ele reconhecerá como um irmão, auxiliando, amparando, fornecendo abrigo, alimento e consolo.

O convite está feito: fortaleçamos nossa fé!

• A prudência com a palavra.

“Notai que também os navios, por maiores que sejam, e impelidos por ventos impetuosos, são, entretanto, conduzidos por um pequeno leme para onde quer que a vontade do timoneiro os dirija. Assim também a língua, embora seja pequeno membro do corpo, se jacta de grandes feitos! Notai como pequeno fogo incendeia floresta imensa. Ora, também a língua é fogo.” (Tg 3:4-6).

Um dos vícios humanos mais reprováveis é a maledicência, eis que desencadeia uma infinidade de intrigas, desavenças, desacertos e cisões.

Esse é um dos males que, aparentemente, pouco mudou desde o tempo em que foi redigida esta epístola. Naquele período, os grupos criticavam-se violentamente, trocavam severas acusações pessoalmente, outras vezes, ocultamente, diziam inúmeras maledicências; ainda hoje vemos que persiste, em nossa sociedade, esse hábito pernicioso.

A análise desta carta leva-nos a ponderação:

Quantos males poderiam ser evitados se fossemos prudentes com as palavras? Quantas famílias não foram destruídas por palavras maldosas? Quantas amizades não foram desfeitas por línguas ferinas?

Concluímos, dessa forma, que a prudência com a palavra é um dever de todo cristão, eis que sempre buscará a conciliação, a união, a fraternidade. O cristão acrescente-se, fará aos outros aquilo que quer para si.

• Não julgar.

“Não faleis mal uns dos outros, irmãos. Aquele que fala mal de um irmão ou julga seu irmão, fala mal da Lei e julga a Lei. Ora, se julgas a Lei, já não praticas a Lei, mas te fazes juiz da Lei.” (Tg 4:11).

A “Lei” a que se refere Tiago é a Lei Divina. Não praticar a “Lei” é, portanto, não observar a Lei do Amor.

Este é um ponto capital, e Tiago, especialmente aquela época, em que os judeus acusavam-se constantemente, define-o, de forma grave, pois o ato de julgar já havia sido definido por Jesus como um ato contrário a Lei Divina.

Um cristão que, porventura cometesse o ato de julgar o seu próximo, seja por um mau exemplo da doutrina que abraçou, seria, pois, como se estivesse “falando mal da Lei”.

O Espiritismo aclara ainda mais este ponto, pois reaviva o sentimento de indulgência, ou seja, de tolerância, de compreensão, de compaixão, em uma palavra: o perdão.

• A oração.

“Sofre alguém dentre vós um contratempo? Recorra à oração.” (Tg 5:13).

“A oração fervorosa do justo tem grande poder.” (Tg 5:16).

Uma circunstância muito comum aos Homens, em todos os tempos, é a fragilidade da fé. Mesmo aqueles que possuem uma religião, e que oram regularmente, quando são atingidos pela tribulação, esquecem-se do poderoso recurso da oração.

Jesus, em todos os momentos, e principalmente naqueles mais difíceis, ligou-se ao Pai e orou fervorosamente.

A oração quando é sentida, e quando aquele que ora é movido pelos melhores sentimentos, tem um infinito poder, por isso disse Tiago: “A oração fervorosa do justo tem grande poder”.

E qual de nós que não têm “contratempos” como indagou Tiago? Todas as agruras da vida, todos os espinhos do caminho, são reais, e estão presentes na existência de todos nós. No entanto, nós podemos ficar abatidos, fragilizados, desesperados...,  ou, se tivermos fé, e recorrermos a oração nos instantes mais difíceis, veremos esses momentos serem suavizados, pois seremos fortalecidos, seremos encorajados. Como Um Orvalho Divino, seremos banhados pelo bálsamo que alivia nossas dores.

Em “O Livro dos Espíritos”, na resposta à questão 660, encontramos:

“... aquele que faz preces com fervor e confiança se torna mais forte contra as tentações do mal, e Deus lhe envia bons Espíritos para o assistir.”

Busquemos a prece em todos os nossos dias!

QUESTÃO REFLEXIVA:

Comente “A fé sem obras é morta”.

Bibliografia

- A Bíblia de Jerusalém
- Kardec, Allan – O Livro dos Espíritos - Ed FEESP.
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed FEESP.
- Corbin, Alain (Organizador -Autores Diversos) - História do Cristianismo.
- Carrez M./Dornier P./Dumais M./ Trimaille M. - As Cartas de Paulo, Tiago Pedro e Judas.
- Atlas Bíblico Interdisciplinar - Escritura - História - Geografia - Arqueologia - Teologia - Ed. Paulus.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 9 de outubro de 2025

21ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

Epístolas Universais

Epístolas De João

Dentre as sete Epístolas Universais, três são atribuídas ao apóstolo João, que além do quarto Evangelho também seria autor do livro do Apocalipse.

Sobre a autoria dos livros do Novo Testamento, como expusemos em aula anterior, lembramos que muitos sãos os debates dos estudiosos para chegar a uma definição.

Em relação às Epístolas de João, é consenso que, de maneira geral, as três cartas são semelhantes, eis que possuem a mesma linguagem; logo, seriam do mesmo autor.

Outro ponto interessante é que a ordem de surgimento das cartas de João talvez seja inversa à ordenação apresentada. Observação esta que, a propósito, consta das anotações do quadro cronológico da Bíblia de Jerusalém.

Outra característica marcante destas epístolas é a reafirmação da natureza carnal do corpo do Cristo. Isto se justifica porque, desde o primeiro século houve movimentos que negavam a real encarnação de Jesus.

Afirmavam que o corpo do Cristo seria uma mera aparência com que o “Filho do Homem” apresentava-se na Terra. Essa Corrente de pensamento que se infiltrou dentro das comunidades, foi denominada Docetismo. Por isso encontramos as fortes exortações como: “... todo espírito que confessa que Jesus Cristo veio na carne é de Deus; e todo espírito que não confessa Jesus não é de Deus”.

Passemos as epístolas:

1ª EPÍSTOLA DE JOÃO

Esta primeira carta é marcada pelas exortações, especialmente para a atenção e o cuidado com as diversas infiltrações que podiam minar o edifício do Cristianismo, especialmente aquelas que negavam a humanidade de Jesus.

Por isso, logo ao início, João se apresenta como o apóstolo e testemunha viva do Jesus histórico, ao dizer: “... o que ouvimos; o que vimos com nossos olhos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam...” (Jo 1:1).

E prossegue conclamando ao caminho de retidão, a comunhão com Deus, ao fortalecimento da fé e do amor. É relevante notar o carinho com que se dirigia às comunidades: “Amados” ou “Meus filhinhos”.

Busquemos alguns trechos de sua primeira carta:

• Caminhar na Luz

“... Deus é Luz e nele não há treva alguma. Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade.” (I Jo 1:5-6).

Nesta afirmação de João: “Deus é Luz” temos o emprego simbólico da palavra luz. O significado figurado da palavra luz é de iluminação da consciência, de sabedoria, de verdade, de vida...

Quanto à definição exata dos atributos de Deus é algo que está além de nossa capacidade de compreensão, conforme resposta dos Espíritos Superiores a questão 13 de “O Livro dos Espíritos”, quando Kardec enumerou todos os atributos de Deus que nós somos capazes de conceber, como: Eterno, Infinito, Imutável, Imaterial, Único, Todo-Poderoso, Soberanamente Justo e Bom, obteve a seguinte resposta:

“... mas ficais sabendo que há coisas acima da inteligência do homem mais inteligente, e para as quais a vossa linguagem, limitada as vossas ideias e as vossas sensações, não dispõe de expressões...”

Exatamente por isso, quando nos expressamos sobre os atributos de Deus, usamos figuras. João, neste trecho, chamou-O de Luz, justamente querendo dizer a Luz que brilha por todo o Universo, o Criador da vida e Regente Soberano.

Por outro lado, as Trevas também têm seu valor figurado, e significa ignorância, iniquidade, o egoísmo, o orgulho, e todas as demais más paixões humanas.

Então afirma João que: “Se dissermos que estamos em comunhão com ele e andamos nas trevas, mentimos...” (Jo 1:6).

Sim. Para alcançarmos a luz do conhecimento, da sabedoria, do amor, que combate toda obscuridade, temos que vivenciar os ensinos de Jesus, que também disse:

“Eu sou a Luz do Mundo. Quem me segue não andará nas trevas, mas terá a luz da vida".

• Observar os Mandamentos, especialmente o da caridade.

“Porque esta é a mensagem que ouvistes desde o início que nos amemos uns aos outros...” (I Jo 3:11).

“Filhinhos, não amemos com palavras nem com a língua, mas com ações e em verdade. Nisto saberemos que somos da verdade.” (I Jo 3:18-19).

Dentre os ensinamentos de Jesus, ressalta-se o amor ao próximo, eis que o maior mandamento é: “Amar a Deus sobre todas as coisas, e ao próximo como a si mesmo”.

João lembra aqui o principal ensinamento do Mestre, pois todas as grandes virtudes decorrem da caridade. O convite é premente, pois fácil é conhecer a Boa Nova e reconhecer seu valor inestimável, mas, poucos são os que a põe em prática. Essa é uma verdade que se aplica em todos os tempos. Na expansão do Cristianismo, grande foi o esforço dos apóstolos, por carta ou pessoalmente, para infundir o sentimento verdadeiro que resulta em caridade real.

• Os falsos profetas da erraticidade

“Amados, não acrediteis em qualquer espírito, mas examinai os espíritos para ver se são de Deus, pois falsos profetas vieram ao mundo.” (I Jo 4:1).

Os Espíritos manifestaram-se em todas as épocas da Humanidade. Analisando a Bíblia, encontraremos, tanto no velho como no Novo Testamento, as mais diversas manifestações entre os dois Planos.

Nesse intercambio, encontramos, então, relatos bíblicos que descrevem os Espíritos enviados por Deus para auxiliarem os Homens, mas, também, encontramos várias passagens em que são narrados graves processos obsessivos que oprimiam a muitos.

Jesus, durante a sua missão, expulsou muitos Espíritos inferiores, e, principalmente, convocou seus discípulos a fazerem o mesmo: “Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificar os leprosos, expulsai os demônios...”.

Vemos, pois, que os discípulos tinham pleno conhecimento da natureza diversa dos Espíritos.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XXI, item 10, encontramos:

“Os falsos profetas não existem apenas entre os encarnados, mas também, e muito mais numerosos, entre os Espíritos orgulhosos que, fingindo amor e caridade, semeiam a desunião e retardam o trabalho de emancipação da Humanidade, impingindo-lhe os seus sistemas absurdos, através dos médiuns que os servem.”

Os Espíritos mistificadores, que tinham o objetivo de enganar e confundir, pululavam em abundancia a época de Jesus. Eram incontáveis os números dos obsidiados, e os Espíritos que, inutilmente, tentaram impedir o avanço do Cristianismo, pois todos eles fugiam espavoridos diante da presença insuperável de Jesus.

Essa presença dos maus Espíritos é uma circunstância constante de nossa vida. Segundo nossas ações, e pela lei de afinidade podemos atrair os bons ou maus Espíritos.

A mensagem de João, em sua epístola, é bastante atual. Precisamos estar vigilantes!

• A fonte da caridade

“Não há temor no amor: ao contrário: o perfeito amor lança fora o temor porque o temor implica castigo, e o que teme não chegou à perfeição do amor." (I Jo 4:18).

Em princípio, praticamente todos nós temos algum temor, algum medo. Em nossa sociedade, são muitas as situações que podem, por ventura, gerar alguma apreensão.

É um impulso natural, um instinto, a auto conservação. No entanto, quanto mais evoluímos mais vamos nos tornando capazes de superar os temores, e sendo capazes de fazer pequenos sacrifícios pelo próximo. Este é, a propósito, um dos mais belos convites de Jesus, quando estava ensinando aos discípulos e diz que “não veio para ser servido, mas para servir”, propondo que eles fizessem o mesmo.

Os discípulos aprenderam a lição e se tornaram, por sua vez, grandes servidores. Arriscaram a própria vida, sujeitaram-se a muitos perigos e suportaram todas as agressões, com coragem! Esses atos aproximam-se do perfeito amor!

Quando o desejo de crescer é verdadeiro, quando há sinceridade nas ações, quando nos comprometemos com os princípios cristãos, desenvolvemos uma fé que nos fortalece, que nos dá uma coragem que nem imaginávamos, que nos deixa com o coração intrépido para fazer o Bem. Nesse momento, o amor venceu o medo.

2ª EPÍSTOLA DE JOÃO

Esta carta, assim como a terceira, é pequena. João se autodenomina “O Ancião”, e convida à vigilância e cuidado com os adversários da Doutrina Crista. Vejamos:

• Vigilância.

“Acautelai-vos, para não perderdes o fruto de nossos trabalhos, mas, ao contrário, receber plena recompensa.” (II Jo 8).

A mensagem de Jesus emociona a muitos. Suas palavras de consolo, de esperança, demonstrando as recompensas futuras que cabe aqueles que seguirem seus ensinamentos, despertam o ânimo dos Homens.

No entanto, esse entusiasmo inicial, muitas vezes, esfria. É que para verdadeiramente seguir o Evangelho há que existir esforço e renúncia. Quantos são os que estão dispostos a isso?

Dentre aqueles que tinham iniciado o trabalho, aquelas tarefas dignificantes em favor do semelhante, dentre esses, muitos desistem no meio do caminho por invigilância, e se deixam levar pela vaidade, pelo auto fascínio, pelo desejo de recompensas rápidas... Esses acabam perdendo o fruto do trabalho: a alegria de servir, a recompensa segundo suas obras!

Sejamos vigilantes e perseveremos até o fim.

• Fidelidade.

“Todo o que avança e não permanece na doutrina de Cristo não possui a Deus.” (II Jo 9).

Neste ponto João conclama a fidelidade. Lembremos que, especialmente naquela época, muitos eram os cultos e as religiões que se espalhavam pelo Império Romano, e que cultuavam as facilidades da vida, a idolatria, etc...

As Comunidades Cristãs sofriam muitas investidas desses outros grupos. Muitos se infiltravam no movimento cristão para, propositadamente, corrompê-lo.

Era necessário, então, que se mantivessem alertas. Era preciso permanecer na doutrina do Cristo; lutar pela sua integridade, da forma que Jesus a havia deixado.

A mesma atenção cabe-nos plenamente ainda hoje. Quantos não são os que ainda tentam corromper os ensinamentos do Cristo? Quantos não tentam distorcer os ensinamentos da Doutrina Espírita?

Precisamos buscar essa fidelidade a Jesus, para que permaneçamos com Deus.

3ª EPÍSTOLA DE JOÃO

E, por fim, nesta última carta de João, vemos que “O Ancião” possui autoridade moral para se pronunciar sobre a atitude de indivíduos da comunidade, reprovando ou elogiando. Faz também um chamamento à união e a fraternidade.

• União da Comunidade.

“Não há alegria maior para mim do que saber que meus filhos vivem na verdade.” (III Jo 4)

As Comunidades Cristãs, pelo trabalho valoroso dos apóstolos e outros seguidores fiéis do Cristo, cada vez mais se fortaleciam. Era o resultado de muita dedicação, de muito esforço, de muito empenho que, então, mostrava seus frutos.

João, contemplando esse crescimento, declara-se feliz por ver a chama de fraternidade reinante entre “seus filhos”, ou seja, todos aqueles que abraçaram a causa cristã e a ela se devotaram, vivenciando a Lei do Amor.

Nós, quando vemos hoje como o Cristianismo expandiu-se pelo mundo, também não ficamos felizes? Podemos, pois, compreender as emoções vividas pelo grande apóstolo. Ficamos ainda exultantes em ver o Espiritismo resgatar a essência do Cristianismo como o Mestre deixou-nos.

• Amor aos estrangeiros.

“Caríssimo, procedes fielmente agindo assim com teus irmãos, ainda que estrangeiros. Devemos, pois, acolher esses homens, para que sejamos cooperadores da verdade.” (Jo 3:5 e 8).

Na época que por ora analisamos, os conflitos entre povos e culturas diversas eram muito intensos. Existia, em muitos casos, verdadeira aversão a estrangeiros. O povo judeu, lembremos, era um exemplo de um grupo relativamente fechado e que, muitas vezes, valorizava apenas seus próprios costumes.

Inúmeros foram os judeus convertidos ao Cristianismo, mas, em muitos deles, persistia certa repulsa por outros grupos. Tal conduta era, absolutamente, oposta aos preceitos cristãos.

Por isso, nesta epístola, João convoca a todos os integrantes dos núcleos cristãos a exercerem o Amor maior, sem restrições; convocava-os a aceitar todos os estrangeiros até mesmo para que isso servisse de testemunho da mensagem do Cristo.

Os tempos mudaram, mas, ainda hoje, existe muita aversão entre grupos de culturas, religiões, ou países diferentes.

A Humanidade precisa avançar e superar essas rejeições resultantes do desamor. Sejamos nós os primeiros a exemplificar essa lição.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Comente o ensinamento de João que mais lhe chamou a atenção.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 2 de outubro de 2025

20ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

Epístolas Universais

Epístolas De Pedro

Dentre as Epístolas Universais, duas são atribuídas a Pedro. Conforme consta da Bíblia de Jerusalém, na introdução a essas epístolas, a primeira carta foi aceita sem contestação, desde os primórdios da igreja, a segunda, só receberia aceitação a partir do século III. Sobre a questão da autoria das cartas, e especialmente em relação à segunda, extraímos este trecho:

“... Mas se um discípulo posterior se valeu da autoridade de Pedro, pode ser que tivesse algum direito de o fazer, talvez porque pertencesse aos círculos que dependiam do apóstolo, ou então porque utilizasse escrito proveniente dele e o adaptasse e completasse. Isso não equivale necessariamente a cometer falsificação, pois os antigos tinham ideias diferentes das nossas sobre a propriedade literária e a ilegitimidade da pseudônima.”

Este extrato reafirma o que já havíamos exposto anteriormente sobre esse ponto. Sigamos para as cartas.

1ª EPÍSTOLA DE PEDRO

O autor desta primeira epístola afirma escrever da “Babilônia”, no entanto - dizem os estudiosos - provavelmente referindo-se a Roma; talvez por analogia a semelhante decadência moral da capital do império.

É dirigida, nominalmente, aos “estrangeiros da Dispersão”, indicando os nomes de cinco províncias. Esses “estrangeiros dispersos” são compostos pelos judeus que aceitaram o Cristianismo, e se espalharam por vários polos do mundo romano, formando inúmeras comunidades cristãs; mas, também, compostos por todos aqueles convertidos do paganismo ao Cristianismo.

Aqueles que viviam em “terras estrangeiras”, muitas vezes, eram vítimas de preconceitos e perseguições. Isso se aplica ainda muito mais aos cristãos que, convictos da mensagem sublime de Jesus, rejeitavam todos os costumes pagãos, seus deuses, seus ídolos, seus cultos politeístas...

O objetivo principal desta primeira epístola é fortalecer a fé daqueles cristãos que passavam por inúmeras tribulações, que eram injuriados, que eram excluídos e viviam a margem da sociedade em que se encontravam.

É um apelo à resignação, a aceitação das aflições do mundo. É uma conclamação a vida fraternal entre a comunidade, a suportar as hostilidades através da união entre os cristãos. Tem por isso, uma tonalidade de ânimo, de alegria, de esperança.

Lancemos nossa visão sobre alguns dos tópicos essenciais:

•Amor e fidelidade para com o Cristo

“Nisso deveis alegrar-vos, ainda que agora, por algum tempo, sejais contristados por diversas provações, a fim de que a autenticidade comprovada da vossa fé, mais preciosa do que o outro que perece cuja genuinidade é provada pelo fogo, alcance louvor, glória, e honra por ocasião da Revelação de Jesus Cristo”. (I Pd 1:6-7).

A mensagem do Cristo é única, incomparável.

Enquanto muitas outras correntes doutrinárias pregam a satisfação pessoal, Jesus ensinou-nos a renunciar; enquanto muitas outras filosofias, escolas de pensamento, seitas pregam o benefício particular, a glória do mundo, Jesus ensinou-nos a suportar, pacificamente, as aflições do mundo para, assim, alcançarmos o “Reino de Deus”.

Muitos, por isso, não conseguem compreender essa especial felicidade de passar por “provações”.

Temos, neste trecho, um canto de louvor ao Cristianismo. “Bem-aventurados os aflitos ” - disse o Mestre.

• A regeneração pela palavra

“Pela obediência à verdade purificastes as vossas almas para praticardes um amor fraternal sem hipocrisia. Amai-vos uns aos outros ardorosamente e com coração puro. Fostes regenerados, não de uma semente corruptível, mas incorruptível, mediante a Palavra viva de Deus, a qual permanece para sempre. Com efeito, toda a carne é como a erva e toda a sua glória como a flor da erva. Secou a erva e sua flor caiu; mas a Palavra do Senhor permanece para sempre. Ora, é esta a Palavra cuja Boa Nova vos foi levada”. (I Pd 1:22-25).

As palavras de Jesus, que representam a Lei Divina, permanecerão para sempre.

Cidade, povos, culturas passarão, mas as palavras de infinita sabedoria do Cristo são indeléveis, ecoarão pela eternidade. Felizes os que a ouvem e se regeneram.

• Deveres dos cristãos entre os gentios

“Amados, exorto-vos, como a estrangeiros e viajantes neste mundo, a que vos abstenhais dos desejos carnais que promovem guerra contra a alma. Seja bom o vosso comportamento entre os gentios, para que, mesmo que falem mal de vós, como se fosseis malfeitores, vendo as vossas boas obras glorifiquem a Deus, no dia de sua visita”. (I Pd 2:11-12).

A principal marca de Jesus é a sua exemplificação.

É muito fácil, a todos nós, falar. É muito fácil cantar hinos e louvores a Deus. É muito fácil ler as Escrituras e enunciar incontáveis adjetivos a sua harmonia Providencial.

Mas, todos esses atos quase não valerão se não forem sinceros.

O convite de Pedro as comunidades era para demonstrarem, aos gentios, o amor cristão. Esse convite é plenamente atual também a todos nós: amar mais!

• Para com as autoridades

“Sujeitai-vos a toda instituição humana por causa do Senhor; seja ao rei, como soberano, seja aos governadores, como enviados seus para a punição dos malfeitores e para o louvor dos que fazem o bem, pois esta é a vontade de Deus...” (I Pd 2:13-15).

Toda violência, toda reivindicação agressiva não pode partir de um cristão, eis que são contrárias aos ensinamentos de Jesus. O Mestre, a propósito, ensinou-nos a “dar a César o que é de César”. A época da redação desta epístola, o Império Romano seguia oprimindo os mais fracos. Por isso, para as comunidades cristãs, para conter qualquer manifestação de violência ou desobediência a Lei, Pedro fazia um convite a paz.

Opressores e leis que continuam sendo mudadas existiram em todos os tempos. Lembremo-nos, no entanto, que todas as renovações deverão ser conquistadas não pela imposição, mas pelo ensinamento paciente e fraterno.

• Para com os senhores exigentes

"Vós, criados, sujeitai-vos, com todo o respeito, aos vossos senhores, não só aos bons e razoáveis, mas também aos perversos. É louvável que alguém suporte aflições, sofrendo injustamente por amor de Deus." (I Pd 2:18-19).

Se a obediência e resignação é um lema para viver nas grandes coletividades, também o é para os pequenos grupos, para os pequenos relacionamentos.

Aos que se fizerem pequeninos, e suportarem resignadamente suas provações, Jesus reconhecera como verdadeiros discípulos.

• Entre irmãos

“Finalmente, sede todos unânimes, compassivos, cheios de Amor fraterno, misericordiosos e humildes de espírito. Não pagueis mal por mal, nem injúria por injúria; ao contrário, bendizei, porque para isto fostes chamados. Afaste-se do mal e pratique o bem, busque a paz, e siga-a...” (I Pd 3:8-9 e 11).

Não temos aqui o lema de todo cristão?

A busca incansável do Bem implica na constante auto renovação, auto avaliação, implica em fazer o bem sempre, mesmo, e especialmente, após cada injúria, cada maldizer.

Eis a essência da mensagem do Mestre!

• A supremacia do amor

“Acima de tudo, cultivai, com todo ardor o amor mútuo, porque o amor cobre uma multidão de pecados.” (I Pd 4:8).

Qual aquele que nunca magoou alguém? Quem é que está totalmente isento de ações que, de alguma forma, feriram o sentimento de alguém? Quantas não são as ações que trazem malefício ao próximo?

No entanto, seja qual a ação que tenhamos feito, se formos capazes de ser humildes e reconhecer nosso erro, e se nos esforçarmos para corrigi-lo, então, teremos agido como cristãos.

Temos, pois, que trabalhar para tirar da “terra” toda “semente” ruim que tenhamos lançado. E se agirmos virtuosamente, sendo fraternos e compassivos em todos os momentos, então, teremos aprendido pelo amor. Quantas não serão as aflições futuras que evitaremos?

2ª EPÍSTOLA DE PEDRO

Nesta Segunda Carta, conforme introdução da Bíblia de Jerusalém, o autor tem dois objetivos principais: alertar sobre os falsos doutores e responder sobre a inquietação gerada pela demora da Parusia (a aguardada volta do Cristo).

A linguagem apresenta diferenças tão significativas em relação à primeira carta que esta, a segunda, tornou-se um dos escritos bíblicos que mais encontrou dificuldade para ser aceito, pela igreja, na relação dos livros ditos “inspirados”.

Como já exposto, esta Carta, em seu conteúdo, assemelha-se a Epístola de Judas. Por isso, muitos estudiosos afirmam que a segunda Epístola de Pedro trata-se de uma versão revista e ampliada da Epístola de Judas.

Alguns especialistas datam-na como redigida no ano 66 da nova era. Se for o caso, seria o último escrito do Novo Testamento. Não há, por ora, como sabermos com certeza.

Abstraindo-nos a essas deduções de ordem histórico-teológicas, observamos que se destacam, nesta segunda Carta de Pedro, a vocação Cristã, a certeza da Parusia vindoura, e o anúncio de um mundo novo em que a justiça prevalecera.

Selecionemos alguns trechos:

• A busca do aprimoramento espiritual

“... aplicai toda a diligência em juntar a vossa fé a virtude, a virtude ao conhecimento, o conhecimento ao autodomínio, o autodomínio à perseverança, a perseverança à piedade, a piedade ao amor fraterno e o amor fraterno à caridade.” (II Pd 1:5-7).

Encontramos neste trecho um verdadeiro incentivo ao aprimoramento do Ser. A busca constante da virtude, da superação pelo esforço e pelo devotamento, a ação continua no Bem, e o empenho em praticar a caridade representam os valores do verdadeiro cristão.

Temos, assim, Uma verdadeira síntese da caminhada daquele que abraçou o Cristianismo e, segundo os ensinamentos do Mestre, torna-se apto a participar do “banquete espiritual”.

• A palavra profética

“Temos, também, por mais firme a palavra dos profetas, a qual fazeis bem em recorrer como a uma luz que brilha em lugar escuro, até que raie o dia e surja a estrela d’alva em nossos corações.” (II Pd 1:19).

A ação profética é não há dúvida, marcante entre o povo judeu. Muitos foram os grandes profetas que despontaram entre eles. Homens valorosos, que pregavam a virtude. Por isso, Jesus dizia que não havia vindo para contradizê-los. No entanto, quantos foram os que deram ouvidos a eles? Pedro aqui convoca a comunidade a recorrer à luz. Daqueles ensinamentos.

• Os falsos doutores

“Houve, contudo também falsos profetas no seio do povo como haverá entre vós falsos mestres, os quais trarão heresias perniciosas, negando o Senhor que os resgatou e trazendo sobre si mesmos repentina perdição.” (II Pd 2:1)

Os falsos doutores existiram em todos os tempos. Como uma erva daninha são capazes de perverter qualquer ensinamento. No Cristianismo nascente eram muitos aqueles que se infiltravam, arrogando-se sabedoria e autoridade, com o objetivo de fazer desmoronar o edifício cristão. Era necessário estar vigilante.

Ainda hoje esses falsos doutores tentam corromper as mais belas verdades. Precisamos estar atentos!

•Novo apelo

“O que nós esperamos, conforme sua promessa é novos céus e nova terra, onde habitará a justiça. Assim, vista que tendes esta esperança, esforçai-vos ardorosamente para que ele vos encontre em paz, vivendo vida sem mácula e irrepreensível." (Pd 3:13-14).

O ser humano tem, em sua consciência, a eterna aspiração a um Mundo diferente, onde impere a Justiça e o Amor, onde o mais forte não oprima o mais fraco, onde haja verdadeira união e fraternidade. Assim como os primeiros cristãos, todos nós sonhamos com esse Mundo!

Esse dia chegara, com certeza. Mas depende de nós, de nosso trabalho, de nosso esforço, de nossa dedicação e compromisso com Bem para implantar na Terra o Evangelho do Mestre Jesus.

Façamos a nossa parte!

QUESTÃO REFLEXIVA:

O que podemos fazer para despertar nas pessoas o desejo de construir um mundo melhor?

Bibliografia

- A Bíblia de Jerusalém
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Corbin, Alain - (Organizador Autores Diversos) – História do Cristianismo.
- Carrez M./Dornier P./Dumais M. / Trimaille M. - As Cartas de Paulo, Tiago Pedro e Judas.
- Atlas Bíblico Interdisciplinar - Escritura - História - Geografia - Arqueologia - Teologia - Ed. Paulus.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 25 de setembro de 2025

20ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 2º ANO – FEESP

Epístolas Universais

Introdução

As epístolas do Novo Testamento, como já exposto anteriormente, são cartas dirigidas aos cristãos ou aqueles que estavam receptivos a mensagem do Cristo.

Se nas Epístolas de Paulo havia, em principio, um destino mais determinado, ou seja, eram dirigidas a pessoas, grupos ou comunidades específicas, nas chamadas Epístolas Universais não há em regra essa intenção.

Com efeito, as Epístolas Universais visavam todos os cristãos, visavam alcançar todos aqueles que estavam convertendo-se a Doutrina de Jesus.

No Novo Testamento, além das Epístolas Paulinas, encontramos sete outras que formam o conjunto das Epístolas Universais, quais sejam:

- 1 de Judas;

- 02 de Pedro;

- 03 de João, e

- 01 de Tiago.

Antes, porém, de as analisarmos, precisamos fazer algumas considerações.

Muitos estudiosos da Bíblia e, especialmente, do Novo Testamento, perdem-se, às vezes, em discussões intermináveis, acerca da veracidade de um ou outro fato relatado. Outras vezes, a contenda prende-se em decidir, de forma categórica, a exata autoria de um texto. Discussões essas, muitas vezes, estéreis, pois pelo rigor literário, por uma suposta exatidão de interpretação, acabam por se afastar do “espírito” da Boa Nova.

Não se trata esta consideração - ressalte-se com vigor - de um desmerecimento do estudo acurado e meticuloso de todos os grandes homens que, com afinco, dedicam-se, escrupulosamente, ao estudo da História e, especialmente, das Escrituras.

Mas, precisamos estar atentos para não darmos mais importância aos fatos históricos ou teológicos, do que a essência do Evangelho; atento para não atribuirmos excessivo valor a inteligência e, em decorrência, assistirmos ao esfriamento do sentimento de compaixão e fraternidade, esfriamento do desejo de implantar o ensinamento de Jesus na Terra para alcançar a renovação de toda a Humanidade.

É importante ressaltar esse ponto, pois, entre os estudiosos, vamos repetir, há muitos debates extenuantes para definir se os nomes atribuídos as Epístolas são, de fato, daqueles que a redigiram.

Nessa acurada análise, esses estudiosos examinam diversos indícios que evidenciariam uma autoria diferente do nome indicado. Dentre esses indícios, podemos citar: o estilo literário, a maior ou menor erudição, os fatos relacionados que seriam de época diversa da que viveu o autor indicado, ou, ainda, o endereçamento a certas coletividades que se formariam em momento, da mesma forma, diverso...

No entanto, é preciso assinalar que na Antiguidade era muito comum, em diversos povos, utilizar o nome de alguém importante, alguém conhecido, para revestir de credibilidade algum escrito, eis que o nome famoso conferia autoridade e, por isso, tomava o texto mais aceito.

Nesse sentido, podemos, por analogia, recordar que Kardec, por diversas vezes, discorrendo sobre a identidade dos Espíritos Superiores, afirma, de forma categórica, que eles não se prendem a questões menores de personalidade ou individualidade: o que é relevante é o conteúdo, a mensagem que se quer passar, a elevação do ensinamento que se quer transmitir.

Em resumo, o conjunto de todos os livros do Novo Testamento compõe um acervo de onde podemos extrair todo o néctar do conhecimento das grandes verdades, extrair a mais pura mensagem deixada pelo Cristo.

Abramos nossos olhos para que possamos realmente “ver”.

CONTEXTO HISTÓRICO

Importa-nos, ainda, relembrar o cenário histórico e social das primeiras comunidades cristãs.

O vasto Império Romano prosseguia soberano. Paulo, como já vimos anteriormente, com suas viagens missionárias, fizera com que a mensagem do Cristo ressoasse por muitos cantos do oriente e do ocidente.

Muitas comunidades cristãs haviam sido formadas. Os mais diversos povos haviam sido alcançados. Era uma infinidade de etnias, de culturas, de línguas, de costumes. Era, ainda, o período da chamada Pax Romana, época em que os povos dominados, pagando regularmente seus impostos, viviam com certa liberdade e uma paz relativa, condicionada.

Mas, diante de tanta diversidade, como manter íntegra a Mensagem de Jesus? Como, em meios impregnados pelo misticismo, pela magia, pelo paganismo, por uma série de crenças infundadas e superstições... Como manter a pureza da Boa Nova?

Como, também, impedir que aqueles que agiam de má-fé e, propositadamente, cobrissem de máculas a Doutrina Crista?

As distâncias eram enormes. Lembremos que a época o transporte era muito difícil, para chegar a algum destino era preciso fazer, às vezes, longas caminhadas, de dias e dias; outras, viajar sobre o lombo de animais; as travessias por mar também eram muito demoradas, eram usados pequenos barcos; os caminhos eram cheios de perigos...

O trabalho era monumental. As cartas eram, pois, um dos meios de reavivar a fé, de exortar a observância dos princípios evangélicos, de forma íntegra.

EPÍSTOLA DE JUDAS

Esta epístola, afirmam os estudiosos, deve ter sido escrita por volta do ano 80 d.C., e era dirigida aos “que foram chamados, amados por Deus Pai e guardados em Jesus Cristo.”

Conforme consta da Bíblia de Jerusalém, na introdução as epístolas, ela foi aceita desde o ano 200, pela maioria das igrejas, como Escritura canônica.

Este Judas não era o Judas Iscariotes, que cometeu suicídio. Também não era o Judas Tadeu, filho de certo Tiago. Este Judas apresenta-se como irmão de Tiago; talvez seja aquele que em Marcos 6:3 e em Mateus 13:55 é apontado como sendo irmão de Jesus.

Este ponto, como repetidamente frisamos acima, não demanda nossa atenção, pois, por ora, não há elementos para convicção definitiva. Fixemo-nos, pois, no aspecto principal: o seu conteúdo.

Em sua epístola que é relativamente pequena, Judas dirige a sua atenção aos “falsos doutores”, reprovando-os com vigor, e exorta os fiéis a conservarem a fé autêntica, e a convencerem os vacilantes.

Esta carta, como veremos adiante, em muito se assemelha a Segunda Carta de Pedro.

Assinalemos alguns pontos:

• Infiltração

“... De fato, infiltraram-se entre vós alguns homens já há muito marcados para esta sentença, uns ímpios, que convertem a graça do nosso Deus num pretexto para licenciosidade e negam Jesus Cristo, nosso único mestre e Senhor.” (Jd 4).

Toda nova doutrina, especialmente em seu período de propagação, sofre inúmeras investidas contra sua integridade. Muitos podem tentar rebatê-la, contrariá-la por completo, outros, no entanto, podem aceita-la parcialmente. Quando a aceitação é condicionada, incompleta, ou seja, apenas de algumas partes, ocorrem as deturpações doutrinárias.

Infiltração é, então, esse movimento sorrateiro, disfarçado, de ir entrando, de ir acomodando-se, de começar a fazer parte, mas, ressalte-se, sem aceitação total dos princípios doutrinários.

Por isso o alerta. A exortação é para que haja muita cautela, muito cuidado, muita atenção para não permitir que elementos contrários à essência do Cristianismo infiltrem-se e pervertam, em benefício próprio, a Doutrina Cristã. Ainda hoje não devemos ter esse cuidado, agora com a Doutrina Espírita?

• Os falsos doutores

“... Ora, estes agem do mesmo modo: na sua alucinação conspurcam a carne, desprezam a autoridade e injuriam as Glórias.

Ai deles, porque trilharam o caminho de Caim; seduzidos por um salário, entregaram-se aos desvarios... São nuvens sem água, levadas pelo vento, árvores que no fim do outono não dão fruto, duas vezes mortas, arrancadas pela raiz, ondas bravias do mar a espumarem a sua própria imprudência, astros errantes, aos quais está reservada a escuridão das trevas para a eternidade.” (Jd 8, 11-13).

Qual a época que não tem os falsos doutores? Que não há aqueles que usam sua inteligência para se beneficiarem materialmente dos mais simples?

Em geral, revestem-se de uma falsa moralidade, de um falso senso de dever, mas, na verdade, transbordam hipocrisia e mentira.

Suas palavras, no entanto, são, muitas vezes, doces, suaves, conclamando ao dever e a virtude; seus discursos são estruturados, eloquentes.

Eis o perigo! Em meio a suas falas, baseadas em muitas verdades, mesclam, misturam inverdades; com sofismas, ou seja, de forma enganosa, conduzem a conclusões falsas. Essas impregnações são, ressalte-se, como um câncer, pois, pouco a pouco, podem ser capazes de degenerar a mais pura das doutrinas.

Há que se estar vigilante contra os pretensos doutores de todos os tempos. A conclusão deste trecho citado relembra-nos o Mestre, quando afirma que toda árvore má, que não der bons frutos, será cortada e lançada ao fogo.

• O livro de Henoc

“A respeito deles profetizou Henoc, o sétimo dos patriarcas a contar de Adão, quando disse: Eis que o Senhor veio com as suas santas milícias exercer o julgamento sobre todos os homens e arguir todos os ímpios de todas as obras de impiedade que praticaram e de todas as palavras duras que proferiram contra eles os pecadores ímpios: são uns murmuradores, revoltados contra o destino, que procedem de acordo com suas concupiscências; sua boca profere palavras arrogantes, mas estão sempre prontos a bajular quanto o seu interesse está em jogo”. (Jd 14-16).

Prossegue a reprimenda aos falsos mestres.

Nesta parte há citação do texto do patriarca Henoc, que, posteriormente, seria considerado como um texto apócrifo.

O processo de aceitação, de canonização dos textos evangélicos foi lento, e atravessou os primeiros séculos. Essa decisão sobre a natureza de um escrito bíblico, ou seja, se ele era autêntico ou apócrifo, ficaria, então, para momento posterior aos primeiros passos do Cristianismo.

O livro de Henoc, é interessante citar, segundo os estudiosos, remonta ao ano 80 a.C.; e, juntamente com outros livros que no futuro seriam considerados apócrifos, eram aceitos pacificamente no primeiro século. Com efeito, eram populares e regularmente lidos nas reuniões judaicas.

Ao espírita, lembremos, todos os livros, todos os escritos, todos os textos produzidos pela Humanidade têm seu valor específico, cabendo a cada um, por esforço próprio, separar o joio do trigo. Seu objetivo deve ser o aprimoramento pelo estudo: “Espíritas, amai-vos e instruí-vos”.

• Exortação aos fiéis

“Vós, porém, amados, lembrai-vos das palavras de antemão preditas pelos apóstolos de nosso Senhor Jesus Cristo, pois vos diziam: No fim do tempo surgirão escarnecedores, que levarão vida de acordo com as próprias concupiscências ímpias.” (Jd 17-18).

Todos os movimentos contrários à propagação da Boa Nova foram previstas por Jesus. Neste ponto, recorde-se que o Mestre havia alertado sobre os ímpios que se levantariam contra o Evangelho.

Concupiscência é o forte desejo de obtenção de prazeres mundanos. “Concupiscências ímpias”, então, são quando esse desejo desenfreado apoia-se na crueldade, no egoísmo, na perversidade. Tudo pelo bem estar próprio, ainda que com prejuízo do próximo. Nada poderia ser mais contrário à mensagem do Cristo.

• Os deveres da caridade

“Mas vós, amados, edificando-vos a vós mesmos na vossa Santíssima fé e orando no Espírito Santo, guardai-vos no amor de Deus, pondo a vossa esperança na Misericórdia de nosso Senhor Jesus Cristo para vida eterna. Procurai convencer os hesitantes; a outros procurai salvar arrancando-os ao fogo; de outros ainda tende misericórdia...” (Jd 20 e 21).

Não temos aqui a síntese do dever cristão?

A mais pura mensagem do Cristo não é o convite à fé, a esperança, a misericórdia, a compaixão sem limites, não é, ainda o esforço na propagação do Evangelho “convencendo os hesitantes”, especialmente pelos exemplos?

Sejamos nós esses exemplos!

QUESTÃO REFLEXIVA:

Para nós espíritas, que lição podemos tirar da Epístola de Judas?

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.