Desobsessões Realizadas por Jesus
Obsessão na Visão Espírita
Para compreendermos os processos da desobsessão, antes de mais nada, é necessário entendermos o que Kardec considera como sendo um dos piores flagelos da Humanidade: a obsessão. Precisamos considerar também que o objetivo desse estudo sumário, mais profundamente analisado no Curso de Educação Mediúnica, faz-se importante nesse momento para que possamos compreender a ação de Jesus junto aos obsedados apresentados nos Evangelhos.
Em “O Livro dos Médiuns”, segunda parte, cap. XXIII, define-se obsessão como sendo o “domínio que alguns Espíritos podem adquirir sobre certas pessoas. São sempre os Espíritos inferiores que procuram dominam, pois os bons não exercem nenhum constrangimento.” Não somente os médiuns são sujeitos a ela, mas todo aquele que imprudentemente se deixa influenciar por sentimentos, emoções, paixões, pensamentos e atitudes negativas ou inferiores.
No mesmo capitulo, no item 245, encontramos que: “Os motivos da obsessão variam segundo o caráter do Espírito. Às vezes, é a prática de uma vingança contra a pessoa que o magoou na sua vida ou numa existência anterior. Frequentemente é apenas o desejo de fazer o mal, pois como sofre, deseja fazer os outros sofrerem, sentindo uma espécie de prazer em atormentá-los e humilhá-los (...) agem, às vezes, pelo ódio que lhes desperta a inveja do bem...”.
“Há Espíritos obsessores sem maldade, que são até mesmo bons, mas dominados pelo orgulho do falso saber...”.
Prosseguindo no cap. XXIII, encontramos que a palavra obsessão é um termo genérico pelo qual se designa o conjunto desses fenômenos cujas modalidades são classificadas por Kardec em:
- Obsessão simples
- Fascinação
- Subjugação
- Possessão
Obsessão simples
A obsessão simples verifica-se quando um Espírito inferior em moral “se impõe a um médium, intromete-se contra a sua vontade nas comunicações que ele recebe, o impede de se comunicar com outros Espíritos e substitui os que são evocados”.(cap. XXIII, item 238).
Fascinação
No caso da fascinação, as consequências são mais graves. Caracteriza-se como uma ilusão projetada diretamente no psiquismo do médium, paralisando sua capacidade de discernimento, pois “o médium fascinado não se considera enganado”. O Espírito obsessor atua de forma sutil, inspirando confiança e agindo sobre o obsedado hipnoticamente, condicionando-o a aceitar teorias e posturas de forma irrefletida e cega.
Mesmo os homens mais instruídos não escapam a este tipo de influência, levando-os a considerar as mais absurdas das afirmações como verídicas. (cap. XXIII, item 239).
Subjugação
A terceira variedade, a subjugação, é caracterizada por Kardec como o envolvimento psíquico que traz como consequência a total paralisação da vontade da vitima fazendo-a agir malgrado seu livre-arbítrio. Ele aponta-nos ainda que a subjugação pode ser moral ou corpórea. “No primeiro caso, o subjugado é levado a tomar decisões frequentemente absurdas e comprometedoras que, por uma espécie de ilusão, considera sensatas: é uma espécie de fascinação. No segundo caso, o Espírito age sobre os órgãos materiais, provocando movimentos involuntários.” (cap. XXIII, item 240).
Possessão
Por uma questão de nomenclatura, melhor explicada em “O Livro dos Médiuns”, item 241, Kardec prefere inicialmente não utilizar o termo possessão. Na questão 474 de “O Livro dos Espíritos” esclarece que “A palavra possessão, na sua acepção vulgar supõe a existência de demônios, ou seja, de uma categoria de seres de natureza má, e a coabitação de um desses seres com a alma, no corpo de um individuo. Mas, como não há demônios nesse sentido, e como dois Espíritos não podem habitar simultaneamente o mesmo corpo, também não há possessos, Segundo as ideias ligadas a essa palavra. Pela expressão possessão não se deve entender senão a dependência absoluta da alma em relação a Espíritos imperfeitos que a subjuguem”.
Anos mais tarde, Kardec se aprofunda no tema e faz uma distinção, conforme citado no livro “A Gênese”, capitulo XIV item 47, que:
“Na obsessão, o Espírito age exteriormente com a ajuda de seu perispírito, que ele identifica com o do encarnado; este último se encontra então enlaçado como numa teia e constrangido a agir contra sua vontade”.
Na possessão, em vez de agir exteriormente, o Espírito livre toma o lugar por assim dizer do Espírito encarnado.
Ele faz domicilio em seu corpo, sem que, todavia, este o deixe definitivamente, o que pode ocorrer apenas na morte. “A possessão é, portanto, sempre temporária...”.
Vai nesse mesmo sentido ao comentar em “A Obsessão - Origens, Sintomas e Curas” - capitulo “Um caso de possessão, Senhorita Julie” - que pode haver a possessão, isto é, substituição de um Espírito errante a um encarnado, porém, de forma parcial. Não significa que ele passou a aceitar, integralmente, esse termo. A possessão da forma que é considerada por várias religiões, onde o corpo seria “possuído pelo demônio”, seres de natureza perversa e eternamente voltados ao mal, de fato não existe. O Espírito sempre permanecerá ligado ao seu corpo mesmo nas mais acirradas investidas. São casos de subjugação em seu mais alto grau. As diversas citações nos Evangelhos sobre possessão devem ser compreendidas a luz dessa explicação.
Expulsão de demônios, existe?
Uma outra questão importante a ser esclarecida refere-se à expulsão de demônios citada nos Evangelhos.
Vemos na questão 480 do Livro dos Espíritos que “Isso depende da interpretação. Se chamais demônio a um mau Espírito que subjuga um indivíduo, quando a sua influência for destruída ele será verdadeiramente expulso. Se atribuis uma doença ao demônio, quando a tiverdes curado direis também que expulsastes o demônio. Uma coisa pode ser verdadeira ou falsa, Segundo o sentido que se der as palavras. As maiores verdades podem parecer absurdas, quando não se olha sendo para a forma e quando se toma a alegoria pela realidade. Compreendei bem isto e procurai retê-lo, que é de aplicação geral”.
Complementando a explicação, em “obras P6stumas”, Kardec defende que “O exorcismo consiste em cerimônias e fórmulas de que zombam os maus Espíritos que, entretanto, cedem à autoridade moral que se lhes impõe. Eles veem que os querem dominar por meios impotentes, que pensam intimidá-los por um vão aparato e, então, se empenham em mostrarem-se mais fortes e para isso redobram de esforços. São quais cavalos espantadiços que dão em terra com o cavaleiro inábil e que obedecem quando topam com um que os governa. Ora, aqui, quem realmente manda é o homem de coração mais puro, porque é a ele que os bons Espíritos de preferência atendem”.
O Remédio ou meios de combatê-la
Vemos assim que em qualquer caso de obsessão o remédio não reside em fórmulas milagrosas. Como estamos falando de um problema de mente a mente, a obsessão é uma questão de atitudes mutuamente assumidas, tanto do obsessor como do obsedado. Dai o imperativo de grande vigilância para que a nossa consciência não se contamine pelo mal e acabemos por abrir as portas a essa terrível doença moral tão presente na Humanidade.
Assim, cabe a cada um procurar substituir os vícios por virtudes num programa intenso e constante de reforma interior. Práticas como o Evangelho no Lar, preces ao deitar e ao acordar, procurar manter-se sempre ligado com o Alto e encarando a todos como irmãos queridos, são pequenos exemplos que nos mantém sintonizados com as esferas superiores e longe do assédio de obsessores.
O Possesso de Cafarnaum
Na Judéia, o numero de obsedados era muito grande e Jesus teve oportunidade de curar a muitos. Há vários casos relatados nos Evangelhos. Não se tratavam de milagres, mas sim do resultado da grande ascendência moral que Ele tinha sobre qualquer criatura. Vemos isto exemplificado na passagem de Lucas 4:31-37 – O possesso de Cafarnaum, transcrita abaixo.
“Desceu então a Cafarnaum, cidade da Galiléia, e ensinava-os aos sábados. Eles ficavam pasmados com seu ensinamento, porque falava com autoridade. Encontrava-se na sinagoga um homem possesso de um Espírito de demônio impuro, que se pôs a gritar fortemente: ‘Ah! Que queres de nós, Jesus Nazareno? Viestes para arruinar-nos? Sei quem tu és: o Santo de Deus.’ Mas Jesus o conjurou severamente: ‘Cala-te, e sai dele!’ E o demônio, lançando-o no meio de todos, saiu sem lhe fazer mal algum. O espanto apossou-se de todos, e falavam entre si: ‘Que significa isso? Ele dá ordens com autoridade e poder aos espíritos impuros, e eles saem!’ E sua fama se propagava por todo lugar da redondeza.”
Naquele tempo, os fariseus entendiam que os obsedados eram possuídos pelo demônio e como também não aceitavam o poder moral superior de Jesus, argumentavam que “É pelo príncipe dos demônios que ele expulsa os demônios” (Mt 9:34 e 12:24). Vemos ainda este mesmo raciocínio de muitos teólogos e religiosos de outras religiões contra a Doutrina Espírita. Em resposta àquele argumento, Jesus questionava: “Ora, se Satanás expulsa a Satanás, esta dividido contra si mesmo. Como, então, poderá subsistir seu reinado?"
Os Possessos Gadarenos
Outro exemplo é o famoso caso dos Possessos Gadarenos (refere-se à Gadara, uma das cidades da Decápole) também atiça a imaginação, e a falta de conhecimento categoriza nas galerias do “milagre”.
“Ao chegar ao outro lado, ao país dos gadarenos, vieram ao seu encontro dois endemoniados, saindo dos túmulos. Eram tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho. E eis que puseram-se a gritar: ‘Que queres de nos, Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes do tempo?’ Ora, a certa distância deles, havia uma manada de porcos que pastavam. Os demônios lhe imploram, dizendo: ‘Se nos expulsa, manda-nos para a manada de porcos’. Jesus lhes disse: Ide'. Eles, saindo, foram para os porcos e logo toda a manada se precipitou no mal; do alto de um precipício, e pereceu nas águas.”
Em “A Gênese”, capitulo XV, item 34, Kardec aponta que: “O fato de maus Espíritos enviados aos corpos de porcos é contrário a toda probabilidade.” Contesta inclusive a presença de um rebanho tão numeroso num país em que tinham horror a esse animal e não o utilizavam para alimentação. Kardec esclarece que um Espírito mal não deixa de ser um Espírito humano mesmo que continue a praticar o mal após a sua morte, mas é contra a lei da natureza que ele possa animar o corpo de um animal. “Portanto, é preciso ver nisso uma destas amplificações comuns aos tempos de ignorâncias e de superstições, ou talvez uma alegoria para caracterizar as inclinações imundas de certos Espíritos”.
Certamente sempre poderemos contar com a assistência espiritual. A intercessão do Plano Espiritual é sempre dada a todos que os chamarem ao auxilio com pureza de coração e fé verdadeira. No entanto, cabe a nos o principal papel. Quanto mais elevados moralmente estivermos, mais condições teremos de lidar com as adversidades que nos surgem no caminho. Não há Dúvidas que os processos obsessivos estão presentes ao nosso redor. Entretanto, conforme cita Kardec A Obsessão - Origem, Sintomas e Curas - capitulo V - “Os Estudos sobre os Possessos de Morzine”, “Os maus Espíritos só se dirigem a aqueles a quem sabem poder dominar e não a aqueles a quem a superioridade moral - não dizemos intelectual - encouraça contra os ataques.” Por tudo isso, Jesus propõe tão seriamente o “orai e vigiai” constantemente.
QUESTÃO REFLEXIVA:
Os Espíritos interferem no mundo corpóreo a todo momento. Já dizia Kardec que a obsessão é um dos piores flagelos da humanidade. Como combatê-la.
A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.