A Autoridade de Jesus e o Sermão Dos “Ais”
Jesus e Os Doutores Da Lei
OS
FARISEUS E OS SADUCEUS PEDEM UM SINAL
“Os fariseus
e os saduceus vieram até ele e pediram-lhe, para pô-lo á prova que lhes
mostrasse um sinal vindo do céu. Mas Jesus lhes respondeu: ‘Ao entardecer
dizeis: Vai fazer bom tempo, porque o céu está avermelhado; e de manhã: Hoje
teremos tempestade, porque o céu está de um vermelho sombrio. O aspecto do céu
sabeis interpretar, mas os sinais dos tempos, não sois capazes! Geração má e
adúltera! Reclama um sinal e de sinal, não lhe será dado, senão o sinal de
Jonas'. E, deixando-os, foi-se embora.” (Mt 16:1-4).
Em seu
caminho, Jesus sempre se defrontava com os Doutores da Lei, que,
incessantemente, queriam pô-lo a prova, queriam fazê-lo cair em contradição,
ou, de alguma forma, constrangê-lo. Neste relato de Mateus, os fariseus e os
saduceus pedem um “sinal vindo do céu”.
Mas Jesus,
conhecendo a dureza de seus corações e a malicia de suas intenções,
ressalta-lhes a cegueira, alertando-os para o fato de que as coisas mais
simples, como os sinais meteorológicos, os indícios das condições atmosféricas,
ou seja, olhar para o céu e saber se vai chover ou fazer sol, isso eles podiam
ver, pois só depende da visão dos olhos materiais, não, porém, os “sinais dos
tempos”, pois isto depende da percepção do Espírito. Esta última, devemos ainda
lembrar, demanda humildade e boas intenções.
Duas
expressões são dignas de nota nesta abordagem.
A primeira é
a expressão “sinal do céu”, muito utilizada, na época, entre os hebreus. É que
toda a sua história é povoada de fatos ditos “miraculosos”, prodigiosos; as
narrativas do Antigo Testamento são recheadas de descrições de cenas
maravilhosas, extraordinárias, como todos os relatos admiráveis dos feitos de
Moisés. Ao tempo de Moisés, vale lembrar, o povo, incansavelmente, pedia
“sinais dos céus”.
A Segunda
expressão: “sinais dos tempos”, é um termo que, em sentido amplo, pode ser
aplicado em diversos contextos. Aqui, em sentido restrito, utiliza-se,
especialmente, para designar os sinais que poderiam ser percebidos quando da
“chegada do Messias”. Jesus, podemos lembrar, fez alusão a esses sinais quando
quis indicar sua condição messiânica, como podemos encontrar no Evangelho de
Mateus:
‘És tu
aquele que há de vir ou devemos esperar outro?’ Jesus respondeu-lhes: ‘Ide
contar a João o que ouvis e vedes: os cegos recuperam a vista, os coxos andam,
os leprosos são purificados e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e os
pobres são evangelizados’.” (Mt 11:3-5).
Essa mesma
narrativa, que também podemos encontrar em Lucas, cap. 7, versículo 22,
refere-se às predições do profeta Isaias, e eram, dessa forma, os sinais do
início da era messiânica.
Neste ponto,
podemos indagar: Ora, se os sinais indicados por Jesus eram tão evidentes, tão
notórios, tão claros, e correspondiam exatamente as profecias de Isaias, as
quais eram muito conhecidas, como, afinal, os Doutores da Lei não podiam
“ver”‘?
A resposta
deve ser categórica: é que todo Espírito só vê aquilo que quer ver! É que todas
as más paixões entorpecem a alma, tomando-a cega as maiores verdades.
Kardec, em
“O Livro dos Médiuns”, primeira parte, cap. III, faz uma interessante
classificação didática dos diversos momentos do Ser em seu trânsito entre o
ceticismo absoluto até a verdadeira crença. Vejamos o item 22: “Ao lado dos
materialistas, propriamente ditos, há uma terceira classe de incrédulos que,
embora espiritualistas, pelo menos em nome, não são menos refratários ao
Espiritismo: São os incrédulos de má vontade. Esses não querem crer porque isso
lhes perturbaria o gozo dos prazeres materiais. Temem encontrar a condenação de
sua ambição, do seu egoísmo e das vaidades humanas em que se deliciam. Fecham
os olhos para não ver e tapam os ouvidos para não ouvir.”
Não
obstante, neste trecho, o codificador ter se referido à crença no Espiritismo,
o que nos interessa é o perfil assinalado. Essa descrição formulada por Kardec
pode, integralmente, ser aplicada aos Doutores da Lei a época de Jesus,
principalmente pelo fato de que eles temiam a condenação de suas ações
egoísticas e, dessa forma, “tapavam” os ouvidos.
Por não
estarem realmente dispostos a compreender, Jesus diz-lhes que nem um outro
sinal lhes será dado, a não ser o sinal de Jonas.
Esse “sinal
de Jonas”, Jesus a ele já havia se referido, conforme consta do cap. 12,
versículos 40-41, do Evangelho de Mateus: “Pois, como Jonas esteve no ventre do
monstro marinho três dias e três noites...”
No Antigo
Testamento, no próprio livro do profeta Jonas (século IV a.C.), encontramos a
narrativa da jornada no ventre do “grande peixe”, e de outros sinais que teriam
ocorrido em sua missão; descrições estas que contém os mesmos elementos
característicos do Antigo Testamento: os sinais prodigiosos do céu.
A todas as
pessoas de boa-fé, humildes e desejosas de compreender, podemos lembrar as
palavras de Jesus a Tomé: aquele que não acreditou porque não viu. “Jesus lhe
disse: ‘Porque viste, creste. Felizes os que não viram e creram!’.” (Jo 20:29).
O FERMENTO DOS FARISEUS E DOS SADUCEUS
“Ao passarem
para a outra margem do Lago os discípulos esqueceram-se de levar pães. Como
Jesus lhes dissesse: Cuidado acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos
saduceus! ’puseram-se a refletir entre si: ele disse isso porque não trouxemos pães
Jesus, percebendo, disse: Homens fracos na fé! Por que refletis entre vos por
não terdes pães? Ainda não entendeis, nem vos lembrais dos cinco pães para
cinco mil homens e de quantos cestos recolhestes? Nem dos sete pães para quatro
mil homens e de quantos cestos recolhestes? Como não entendeis que eu não
falava de pães quando vos disse: Acautelai-vos do fermento dos fariseus e dos
saduceus? Então compreenderam que não dissera: Acautelai-vos do fermento do
pão, mas sim do ensinamento dos fariseus e dos saduceus.” (Mt 16:5-12).
Neste
ensinamento de Jesus, os discípulos, inicialmente, não compreenderam seu
significado, e, por não terem levado pão para a jornada, acreditaram que o
Mestre estava referindo-se ao alimento material. Após novo esclarecimento,
entenderam o uso figurado do termo fermento.
A palavra
fermento pode então ser utilizada em dois sentidos: o literal ou o figurado.
Em sentido
literal, como bem sabemos, fermento é a substância que, adicionada a outros
ingredientes, desencadeia o processo químico denominado “fermentação”,
resultando na alteração da estrutura, volume, consistência de um ou mais
elementos. O fermento é a substância que faz, por exemplo, a massa de pão e a
massa de bolo crescer e se avolumar.
Em sentido
figurado, fermento seria toda ação ou postura capaz de desencadear um processo
de elaboração, crescimento, expansão e propagação de ideias, doutrinas ou
sistemas quaisquer. Logo, essa figura não tem em si mesma, um valor
predefinido, não contém um julgamento de mérito, ou seja, não indica se é algo
positivo ou negativo.
Por esse
motivo exposto, a palavra fermento, como podemos constatar em outros trechos do
Evangelho, é utilizada indicando um processo positivo, de crescimento e
propagação do Bem.
Nesta
passagem que ora analisamos, indica um processo negativo, de expansão do Mal.
Por isso, Jesus, no Evangelho de Lucas, cap. 12, versículo 1, diz,
expressamente: “... Acautelai-vos do fermento - isto é, da hipocrisia - dos
fariseus.”
Ressaltemos
este ponto: a cautela não é pelo fermento em si, mas pelo fermento dos
fariseus, que, reconhecidamente, agiam de má-fé e com propósitos obscuros.
Citemos um
trecho da obra “Até os Fins dos Tempos”, de Amélia Rodrigues, psicografada por
Divaldo Franco, que faz referência ao fermento dos fariseus no capítulo “O
Reino Transitório e o Permanente”. Diz a autora: “A hipocrisia é morbo da alma
que contamina e deixa sequelas devastadoras por onde passa, e se tornará
característica predominante no comportamento dos fariseus, que se perdiam em
discussões estéreis a proveito próprio, sem nenhuma consideração por quem quer
que seja.”
A
hipocrisia, a má-fé, o orgulho são chagas que podem, como o fermento, avolumar
e perverter muitas mentes. Precisamos estar atentos a esse “fermento dos
fariseus”, ainda presente em nossos dias. Mudam-se os nomes, mas a mentalidade
de muitos ainda pode ser comparada a dos fariseus da época de Jesus.
Assim,
prossegue a autora espiritual acima citada: “Por isso mesmo, a maledicência, a
calúnia, a informação malsã não têm lugar na convivência saudável, naquela que
é inspirada pelo Evangelho, porquanto tudo se torna conhecido e desvelado”.
PERGUNTAS SOBRE A AUTORIDADE DE JESUS
“Vindo ele
ao Templo, estava a ensinar quando os chefes dos sacerdotes e os anciãos do
povo se aproximaram e perguntaram-lhe: ‘Com que autoridade fazes essas coisas?
E quem te concedeu essa autoridade?' Jesus respondeu: ‘Também eu vos proporei
uma só questão: ‘Se me responderdes, também eu vos direi com que autoridade
faço estas coisas: O batismo de João, de onde era? Do Céu ou dos homens? ’Eles,
porém, arrazoavam entre si, dizendo: ‘Se respondermos ‘Do Céu', ele nos dirá:
‘Por que então não crestes nele? Se respondermos ‘Dos homens’, temos medo da
multidão, pois todos consideram João como profeta ’. Diante disso, responderam
a Jesus: ‘Não sabemos’. Ao que ele também respondeu ‘Nem eu vos digo com que
autoridade faço estas coisas'.” (Mt 21:23-27).
Neste
intrigante diálogo, podemos notar, em especial, a ausência de sinceridade
daqueles que, no caso, dirigiram-se a Jesus - os chefes dos sacerdotes e os
anciãos do povo. Há uma deliberada e visível intenção de confrontar,
constranger e denegrir.
Podemos
concluir que se trata de uma ação maquinada, ardilosa, astuciosa, eis que, como
se vê, a pergunta tem o tom de confronto, de afronta, de injúria.
Jesus,
então, não lhes passou nenhum ensinamento direto. O Mestre, lembremos, nunca
impôs o conhecimento. Ouviam-no aqueles que queriam.
Lembremos,
também, que dentre aqueles que o ouviam, haviam os que estava mais ou menos
preparados. Outros, no entanto, não desejavam ouvi-lo, mas apenas tentavam
tirar-lhe a autoridade.
Essa
autoridade não é, obviamente, aquela formal, concedida oficialmente pelo mundo,
mas é outro tipo de autoridade. E a autoridade que os hebreus atribuíam a
Moisés e aos demais profetas, ou seja, aquela que seria concedida diretamente
por Deus. Não reconhecendo Jesus como profeta ou como o Messias,
interpelaram-no para lhe perguntar, em outras palavras:
Quem lhe deu
essa autoridade?
Eles se
referiam a autoridade de falar nas sinagogas com conhecimento superior, falar
em nome de Deus, autoridade de expulsar os Espíritos maus, autoridade de curar
os doentes, etc.
Refletindo
sobre a autoridade de Jesus, fazemos, naturalmente, a associação com a sua
superioridade. Kardec, em “A Gênese”, cap. XV, item 2, diz sobre Jesus: “Como
homem, tinha a organização dos seres carnais; mas como Espírito puro, desligado
da matéria, deveria viver da vida espiritual mais do que da vida corporal,
cujas fraquezas Ele não possuía. A superioridade de Jesus sobre os homens não
se prendia as qualidades particulares de seu corpo, mas as de seu Espírito, que
dominava a matéria de maneira absoluta, e as de seu perispírito tirado da parte
mais quintessênciada dos fluidos terrestres.” (grifo nosso).
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Relembrado a
frase de Jesus: “Felizes os que não viram e creram”, reflitamos: Será que nós
sempre acreditamos sem ver, ou, às vezes, também desejamos “sinais”?
Fonte da
imagem: Internet Google.
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