CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO ESPÍRITA: PACIÊNCIA, INDULGENCIA, FÉ, HUMILDADE, DIGNIDADE E CARIDADE.

terça-feira, 29 de agosto de 2023

17ª Aula Parte A – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO – FEESP

PENAS E GOZOS FUTUROS II

PENAS TEMPORAIS - EXPIAÇÃO E ARREPENDIMENTO - DURAÇÃO DAS PENAS FUTURAS - PARAÍSO, INFERNO, PURGATÓRIO, PARAÍSO PERDIDO

PENAS TEMPORAIS - LE 983-989

“O Espírito que expia as suas culpas numa nova existência passa apenas por sofrimentos materiais. Assim, não será exato dizer que após a morte a alma só tem sofrimentos morais?”

R) “É bem verdade que, reencarnada, a alma encontra nas tribulações da vida o seu sofrimento; mas apenas o corpo sofre materialmente. Dizeis em geral que o morto já não sofre mais, mas isso nem sempre é verdade. Como Espírito, não sofre mais dores físicas, mas segundo as faltas que tenha cometido pode ter dores morais mais cruciantes, e numa nova existência pode ser mais infeliz.... Todas as penas e tribulações da vida são expiações de faltas de outra existência, quando não se trata de consequências das faltas da existência atual” (LE 983)

Ainda podemos complementar com o Evangelho Segundo o Espiritismo, no Capitulo V itens de 4 a 5, Causas Atuais das Aflições e itens 6 a 10, Causas Anteriores das Aflições.

Os sofrimentos pelos quais passamos nem sempre são consequências de erros cometidos nesta existência, mas sim, provas impostas por Deus, ou quando temos condições de escolhê-las, na vida espiritual, para que possamos expiar faltas cometidas em vida material anterior. Segundo a lei de justiça, nada fica sem punição, se não for na existência atual, obrigatoriamente será numa próxima.

Todos os sofrimentos pelos quais estamos passando, com certeza são necessários para uma felicidade futura.

Kardec, ao comentar a questão 985 de O Livro dos Espíritos, sobre a reencarnação em mundos menos grosseiros, diz que: “Nos mundos em que a existência é menos material do que neste, as necessidades são menos grosseiras e todos os sofrimentos físicos são menos vivos. Os homens não mais conhecem as más paixões que, nos mundos inferiores, os fazem inimigos uns dos outros. Não tendo nenhum motivo de ódio ou de ciúme, vivem em paz porque praticam a lei de justiça, amor e caridade. Não conhecem os aborrecimentos e os cuidados que nascem da inveja, do orgulho e do egoísmo e que constituem o tormento de nossa existência terrena”.

Após a evolução no nosso planeta, o Espírito pode voltar a reencarnar aqui a pedido, para completar uma missão que, por motivos vários, não foi possível completá-la. Nesse caso, como já tinha condições de escolha, essa volta não é mais uma expiação.

Mesmo a Terra sendo um mundo de provas e expiações, está nela Espíritos de uma evolução superior para ajudar com seu nobre trabalho na mudança para um mundo de regeneração. Nesse caso também, não significam que estão passando por provas e expiações. O Espírito encarnado que nada fez de mal, mas também nada fez para se libertar dos apegos as coisas materiais, ou seja, não “andou” nenhum metro na direção da perfeição, deve recomeçar uma nova vida na matéria, semelhante aquela, tendo assim, que prolongar os sofrimentos de sua expiação.

A esse homem falta o despertar do coração, porque todo aquele que conhece o amor, conhece a Jesus e compreende a necessidade de cumprir as leis de Deus.

Pelo termo “estacionário” constante da resposta dos Espíritos na questão 987, não devemos entender no sentido comum, pois nada fica parado, na inércia; tudo está em movimento. Como o Espírito não regride, ou seja, nunca volta pior em uma reencarnação, seja neste planeta ou em outro, sempre retoma um pouco melhor, porque passa por varias experiências e essas lhe trazem novos aprendizados, seja no campo intelectual ou (e) moral.

Deus não desampara nenhuma de suas criaturas.

Na questão 988 quando foi perguntado aos Espíritos sobre aquelas pessoas que nada fazem por si mesmo, mas que vivem felizes, se nada tem a sofrer pelas consequências da existência anterior. Eles perguntaram a Kardec se ele conhecia muitas pessoas assim, pois a suposta felicidade nada mais é que aparente. Eles podem ter escolhido este tipo de vida, mas quando retornam ao plano espiritual descobrem o tempo que perderam. Só podemos nos elevar através das atividades necessárias e que teremos que responder pelo o nosso não fazer nada.

A soma da felicidade futura esta na razão da soma do bem que tivermos feito.

Existem pessoas que sem serem necessariamente más, por suas atitudes prejudicam outras, fazendo-as infelizes, portando, não são criaturas quem tem o amor no coração, e deverão em nova existência responderem proporcionalmente, pelo que fizeram outras sofrerem. 

Toda ação gera uma reação compatível, por isso diz o Evangelho que cada centavo deve ser pago.

EXPIAÇÃO E ARREPENDIMENTO

Segundo as questões 990 a 1002 de O Livro dos Espíritos, o nosso arrependimento pelo que fizemos de errado, tanto pode ser como encarnado quando, pelo nosso aprendizado já conseguimos distinguir o que é o bem e o que é o mal, ou como desencarnado.

Quando o nosso arrependimento se dá na nossa estada no plano espiritual, a consequência é o desejo de uma nova oportunidade no plano físico para novos aprendizados morais para que sejamos um pouco mais felizes e para isso devemos expiar as faltas cometidas.

O arrependimento como encarnado tem como resultado a melhora na mesma existência, se houver tempo para a reparação dos erros cometidos.

Nenhuma criatura humana é voltada exclusivamente para o mal, pois o mal não existe, ele é simplesmente a ausência do bem.

Se alguém nos perguntar quem são nossos inimigos, devemos responder que são aqueles a qual ainda não descobriram que nos amam, pois aquelas pessoas que nesta vida só tem a maldade no coração, em outra terão o bem já criado raízes e em outras totalmente plantadas como uma árvore frondosa e resistente, pois é necessário que todos, um dia, atinjam a perfeição relativa, uns mais rápidos e outros lentos, de acordo a evolução individual.

Todo aquele que é mau e não reconhece seus erros na vida corporal, com certeza os reconhecera na vida espiritual e por isso sofrerá muito quando reconhecer todo mal que praticou. Logicamente esse arrependimento não é de imediato; uns mesmo sofrendo permanecem alheios a necessidade do arrependimento, mas como a todos Deus dá oportunidades iguais, esses também um dia o arrependimento baterá à porta do coração.

Como o progresso é uma lei Divina, todos aqueles que necessariamente não são maus, mas não se preocupam com a própria vida e muito menos se ocupa de coisas uteis, terão de sofrer por aquilo de bom que deixaram de fazer. Mas eles também tem o desejo de amenizar seus sofrimentos; ainda não o fazem porque a vontade verdadeira ainda esta longe de ser conseguida. Citamos como exemplo uma pessoa que prefere morar sob um viaduto, ponte, marquise, pedindo esmolas do que trabalhar para sair da situação em que se encontra.

Há Espíritos desencarnados que têm consciência que são maus e agravam sua situação prolongando seu estado de inferioridade desviando os homens que seguem um bom caminho. Esses são aqueles de arrependimento tardio. Não podemos esquecer que nem todo arrependimento vem do âmago de alma, portanto, alguns podem se deixar levar para o caminho do mal pelas influências de Espíritos mais atrasados.

Existem Espíritos bastante inferiores que aceitam e acolhem as preces que são feitas em seus benefícios e há outros mais esclarecidos que são dotados de um endurecimento e de um cinismo enorme. Os Espíritos, na questão 997 do LE, nos esclarecem que “a prece só tem efeito em favor do Espírito que se arrepende”. Aquele que permanece no orgulho, com o coração revoltado contra Deus e persistindo nos seus erros, com certeza não recebem as benesses da prece, até o dia de seu arrependimento sincero.

“A expiação se cumpre na existência corpórea, através das provas a que o Espírito é submetido, e na vida espiritual pelos sofrimentos morais decorrentes do seu estado de inferioridade” (Questão 998)

Não basta o Espírito se arrepender sinceramente do mal praticado, se esse arrependimento não estiver acompanhado de boas obras. Todo, ato mal deve ser reparado.

Podemos a partir desta vida resgatar nossas faltas, mas não podemos esquecer que “o mal não é reparado senão pelo bem, e a reparação não tem mérito algum se não atingir o homem no seu orgulho ou nos interesses materiais” (questão 1000)

Segundo Martins Peralva no livro “O Pensamento de Emmanuel”, Cap. 37, “em sã consciência, nenhum espírita esclarecido julgar-se-á isento de experiências reabilitadoras sob alegação, doutrinariamente inconsistente, de que “se arrependeu do mal praticado” e, por tal motivo, justificado está perante as leis divinas".

Completando esse capítulo, ele nos diz que devemos levar em conta quatro pontos essenciais, a saber:

a) Reconhecer com humildade, o erro cometido.

b) Não reproduzi-lo ou, pelo menos, tudo fazer no sentido de evitar sua repetição.

c) Ajudar aqueles a quem ferimos.

d) Sustentar-nos na fé e no trabalho, a fim de que a reabilitação se dê gloriosa e sublime, uma vez que, indubitavelmente, o trabalho e a fé são avanços de sustentação das almas enfraquecidas.

DURAÇÃO DAS PENAS FUTURAS

Lembremos a questão 1003: “A duração dos sofrimentos do culpado na vida futura é arbitrária ou subordinada a alguma lei?”

R) “Deus nunca age de maneira caprichosa e tudo no Universo é regido por leis que revelam a sua sabedoria e a sua bondade.”

Quanto às questões 1003 a 1010, podemos resumi-las assim: A duração dos nossos sofrimentos é o tempo necessário para que possamos nos melhorar, porque o estado de sofrimento e de felicidade está diretamente ligado ao grau de nossa evolução. À medida que nos depuramos, nossos sofrimentos se modificam.

Para o Espírito que se encontra no plano espiritual, e ainda sofre, o tempo parece muito mais longo, porque o descanso não existe para ele, mas, para aqueles que já estão num patamar de evolução melhor, o tempo é totalmente diferente.

Os sofrimentos só seriam eternos se a maldade fosse eterna, como Deus não criou ninguém voltado eternamente para o mal, todos devem progredir, cada um levando o tempo necessário, de acordo com a própria vontade.

Todos nós, encarnados ou desencarnado, um dia nos arrependeremos, pois estamos sujeitos à Lei do Progresso.

São Luiz na questão 1008 nos diz: A duração das penas podem ser impostas por determinado tempo, mas Deus, que não desejava senão o bem de suas criaturas, aceita sempre o arrependimento, e o desejo de se melhorar nunca é estéril.

PARAÍSO, INFERNO, PURGATÓRIO. PARAÍSO PERDIDO

Sobre as questões 1011 a 1015:

Não há um lugar determinado no Universo onde os Espíritos possam gozar das benesses e muito menos outro onde purguem seus erros, pois estão em toda parte. Os Espíritos perfeitos podem se reunir em qualquer parte da imensidão cósmica e outros por simpatia. O sofrimento e a felicidade é inerente ao grau de evolução de cada um.

Os encarnados são mais ou menos felizes ou infelizes, de acordo o nível de evolução do orbe que habitam. O Paraíso e o Inferno nada mais são que figuras que foram incutidas durante muitos séculos pela Igreja.

“O Céu começará sempre em nós mesmos e o Inferno tem o tamanho da rebeldia de cada um “Disse-nos o Cristo: O Reino de Deus está dentro de vós, ao que de acordo com ele mesmo, ousamos acrescentar: e o inferno também”. (Peralva, Martins, “Pensamento de Emmanuel, Cap. 38)

Podemos entender por Purgatório, como um tempo de expiação pelas nossas faltas; é a própria Terra, o lugar necessário para que isso ocorra.

Quando os Espíritos que já mostram certa elevação trazem mensagem falando sobre Paraíso, Inferno e Purgatório é porque tem que se adequar ao entendimento daqueles que os interrogam, e preferem não ferir convicções dos que ainda creditam nessas imagens.

Alguns Espíritos interrogados dizem que se encontram sofrendo no inferno ou no purgatório, isso devido a sua inferioridade e ainda estão ligados a matéria, conservando parte de suas ideias de quando encarnado, usando impressões que ainda lhe são familiares.

Deve-se entender por alma penada, aquele Espírito que se encontra no Estado errante e sofre, pois está incerto do seu futuro. Essa entidade espiritual quando vem se comunicar conosco, os encarnados, sente um certo alívio.

Podemos entender o Céu como o espaço universal compreendendo os planetas, as estrelas e todos os mundos superiores onde habitam Espíritos dotados de todas as suas faculdades, sem angústias que são inerentes à inferioridade e sem as atribulações da vida material.

BIBLIOGRAFIA:

KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, Livro 4°, cap. II, questões 983 a 1018;
KARDEC, Allan - O Céu e o Inferno, 1ª Parte, cap. III; cap. IV, nº 13; cap. V, nº 8; caps. VII e VIII; 2ª Parte, cap. V; cap. VI, nº 19;
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. IV itens 4 a 17; cap. XXVII, item 21;
Revista Espírita, de outubro de 1858; Revista Espírita, de dezembro de 1863; Revista Espírita, de julho e outubro de 1864; Revista Espírita, de maio de 1866;

Bibliografia Complementar:

O Espírito da Verdade - Diversos Espíritos - itens 61, 68 e 98;
PERALVA, Martins - O Pensamento de Emmanuel- n° 37 a 40;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Estude e viva – nº 11;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Religião dos Espíritos, cap. 71 a 251;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Justiça Divina;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Roteiro - n° 6

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 22 de agosto de 2023

16ª Aula Parte B – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO – FEESP

PARÁBOLA DO CREDOR INCOMPASSIVO

“Então Pedro, aproximando-se de Jesus lhe perguntou: - Senhor, quantas vezes pecará meu irmão contra mim, que lhe hei de perdoar? - Será até sete vezes? Respondeu-lhe Jesus: - Não te digo que até sete vezes, mas até setenta vezes sete vezes.”

“Por isso o Reino dos Céus é semelhante a um rei, que resolveu ajustar contas com os seus servos. E tendo começado a ajustá-las, trouxeram um que lhe devia dez mil talentos. Não tendo, porém, o servo com que pagar, ordenou o seu senhor que fossem vendidos - ele, sua mulher, seus filhos e tudo quanto possuía, e que se pagasse a dívida”.

“O servo, pois, prostrando-se, o reverenciava dizendo: - Tem paciência comigo, que te pagarei tudo”! E o senhor teve compaixão daquele servo, deixou-o ir e perdoou-lhe a dívida. Tendo saído, porém, aquele servo, encontrou um de seus companheiros, que lhe devia cem denários; e, segurando-o, o sufocava, dizendo-lhe: - Paga o que me deves! E este, caindo-lhes aos pés, implorava: - Tem paciência comigo, que te pagarei! Ele, porém, não o atendeu; mas foi-se embora e mandou conservá-lo preso, ate que pagasse a dívida.

“Vendo, pois, os seus companheiros o que se tinha passado, ficaram muitíssimo tristes, e foram contar ao senhor tudo o que havia acontecido. Então, o senhor chamando-o, disse-lhe: - Servo malvado, eu te perdoei toda aquela dívida, porque me pediste; não devia também ter compaixão do teu companheiro, como eu tive de ti?”

E irou-se o seu senhor e o entregou aos verdugos, até que pagasse tudo o que lhe devia. “Assim também meu Pai celestial vos fará, se cada um de vos do intimo do coração não perdoar a seu irmão”. (Mateus, XVIII, 21-35)

Nesta parábola, mais uma vez, o Mestre Jesus vem nos ensinar as regras do “Reino do Céu”, ou seja, da vida futura, que é a consequência da nossa vida terrena.

Nela vemos que justiça de Deus segue o seu curso além da vida nesse planeta, no qual seremos medidos da forma que medimos. Daí a necessidade de fazermos ao nosso próximo aquilo que desejamos que nos seja feito.

Se necessitamos de perdão, perdoemos sempre, como o Mestre ensinou a Pedro. E esse perdão não é o perdão da boca apenas, ou aquele que exige a mudança do comportamento alheio.

Não! O verdadeiro perdão é aquele que vem do coração, que não guarda magoa, rancor, não requer pedidos de desculpas. E aquele que, confiante na justiça e misericórdia do Pai, sabe ser indulgente para com o seu próximo.

São essas atitudes que irão nos facultar adentrar na vida futura melhores do que quando aqui chegamos.

BIBLIOGRAFIA
O Evangelho Segundo O Espiritismo -Allan Kardec, Capítulo XI, item 3
Parábolas e Ensinos de Jesus - Cairbar Schutel - Primeira Parte;
Parábolas de José de Almeida

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 15 de agosto de 2023

16ª Aula Parte A – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO – FEESP

PENAS E GOZOS FUTUROS – I

O NADA - A VIDA FUTURA

A Doutrina Espírita nos ensina que o materialismo “é uma chaga da sociedade” (LE 799), por abolir a esperança e apresentar que o destino de todo ser humano é o aniquilamento.

Não há ideia mais desesperadora do que o da própria destruição e/ou daqueles que amamos. Põem-se em cheque tudo aquilo que o ser humano construiu dentro de si mesmo durante sua existência, todas as suas transformações, os sacrifícios, suas afeições, suas conquistas.

Diante desse fim, ou seja, o “Nada”, Allan Kardec pergunta: “Por que o homem repele instintivamente o nada? Porque o nada não existe” (LE 958) Por ser o futuro uma incógnita para o Homem, no Livro O Céu e o Inferno, Cap. 1, item 1, ele retoma o assunto: “Que necessidade teríamos de esforçar-nos para ser melhores, de nos constrangermos na repressão das paixões, de nos fatigarmos no aprimoramento do Espírito, se de tudo isso não iremos colher nenhum fruto?”

O codificador vai além, expressando que a “ideia do Nada tem alguma coisa que repugna à razão”. Ela vai de encontro às aspirações humanas de justiça e de felicidade.

Além do mais, o Espírito ao reencarnar por diversas vezes, dentro de sua marcha do progresso, traz em si uma vaga lembrança que se transforma num pressentimento, mais ou menos forte, dependendo do estado evolutivo do Espírito, da vida espiritual.

E esse pressentimento geralmente se manifesta quando da aproximação da morte, onde a criatura, por mais reticente que seja diante da expectativa do futuro, “pergunta a si mesmo o que Vai ser dele e, sem o querer, espera”.

A Vida Futura implica a conservação da nossa individualidade da nossa morte.

A Vida Futura, que é a Vida Espiritual “é, com efeito, a verdadeira vida, é a vida normal do Espírito, sendo-lhe transitória e passageira a existência terrestre, espécie de morte, se comparada ao esplendor e a atividade da outra...”.

O Mestre Jesus enaltece a importância da Vida Futura ao dizer a Pilatos: “Meu reino não é deste mundo” (Jo 18:33, 36 e 37).

Como cada ensinamento Vem a seu tempo e assim como Moisés não podia revelar as coisas espirituais a um povo pastoril, arraigado as coisas materiais, Jesus só pode conformar o “seu ensinamento ao estado dos homens da sua época”, a fim de não lhes ofuscar a compreensão.

Coube ao Espiritismo a tarefa de completar os ensinamentos do Cristo. Surgido numa época em que a razão despertava na humanidade, pode demonstrar que “a Vida futura não é mais um simples artigo de fé, uma hipótese”. Através das manifestações dos Espíritos comparava-se a realidade da Vida espiritual por aqueles que aqui estiveram e lá estão. Trazendo descrições particularizadas dos seus estados, sejam eles felizes ou infelizes, nos proporcionando relacionar os atos praticados e suas consequências.

“A ideia clara e precisa que se faz da vida futura da uma fé inabalável no futuro, e essa fé tem consequências imensas sobre a moralização dos homens, quando muda completamente o ponto de vista sob o qual eles examinam a vida terrestre”.

Dessa forma a vida do encarnado, no seu lado material, deixa de ser o objetivo maior da existência. A dedicação de todo tempo na aquisição dos bens materiais e ao bem estar somente, perde o sentido. Surge a necessidade e a importância dos bens espirituais, da busca pelas virtudes, da mudança de hábitos, da eliminação de vícios e defeitos. As relações humanas tomam-se valorizadas.

E nessa mudança de ponto de vista por parte da humanidade, que é o somatório do trabalho de cada um, que faremos com que este planeta tome-se, também, o Reino de Jesus.

INTUIÇÃO DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS

Assim como a justiça é um sentimento inato ao ser humano, o pressentimento de haver penas e recompensas futuras esta presente em todos os povos e em todos os tempos.

A ideia de um Criador justo e bom, como bem nos ensinou o Mestre Jesus, nos faz vislumbrar a necessidade de reparação por parte daqueles que ainda praticam o mal e dos gozos aos que estão no caminho do bem: “Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.

Nada mais lógico e justo de ser o Espírito a própria causa de seus sofrimentos ou de sua felicidade.

Deus nos da o direito do usufruto do livre-arbítrio e o dever de sermos responsáveis pelos nossos atos.

“O homem suporta sempre a consequência das suas faltas; não há uma só infração a Lei de Deus que não tenha punição.”

Mas é imperioso lembrar que o Pai é sempre misericordioso e as penas, pelas faltas cometidas, sempre são temporárias e subordinadas ao arrependimento e a reparação do mal praticado.

Assim sendo, a intuição dos sofrimentos e dos gozos futuros se origina das próprias experiências vivenciadas pelo Espírito, de encarnação em encarnação.

Aqueles que buscam ofuscar tais sentimentos inatos, se mostrando céticos endurecidos, demonstram que o orgulho ainda lhes domina, ao ponto de impedir a manifestação da voz da consciência, que é a bússola que nos direciona a Lei Divina.

INTERVENCAO DE DEUS NAS PENAS E RECOMPENSAS

Deus, criador de tudo e de todos, instituiu Suas leis que são eternas e imutáveis.

Essas leis chamadas de Lei Divina ou Natural regem todo o Universo.

E seguindo a Lei Divina que o Espírito se aproxima de seu objetivo que é a perfeição relativa, pois é o caminho de sua felicidade, lhe indicando o que deve e o que não deve fazer.

A Lei Divina esta escrita na nossa Consciência, e quanto menos a ouvimos mais nos afastamos dela, e consequentemente nos tomarmos mais infelizes.

Não há folha alguma que caia de uma árvore que não seja do conhecimento do Pai. Sendo assim, “quando um homem comete um excesso, Deus não pronuncia um julgamento contra ele para lhe dizer, por exemplo: tu fostes guloso e eu vou te punir. Mas ele traçou limites; as doenças e, frequentemente, a morte, são a consequência dos excessos: eis a punição. Ela resulta da infração à lei. Assim se passa com tudo.” (LE 964)

NATUREZA DAS PENAS E DOS GOZOS FUTUROS - LE 965-982

Sendo o Espírito um ser não material, as penas e os gozos futuros, ou seja, as consequências na vida espiritual dos atos praticados por esse Espírito enquanto esteve encarnado não são materiais, o que não quer dizer que tais consequências sejam menos sensíveis do que se estivesse na matéria. Muito pelo contrário, tais sensações são muito mais impressionáveis no plano espiritual.

Todas as imagens fantasiosas do céu e do inferno que encontram-se nas culturas são apenas fruto do estado de imperfeição da humanidade, que não teve ainda a capacidade de interpretação dos acontecimentos que se dão na vida espiritual, tendo utilizado imagens, figuras e linguagens, muitas vezes distorcidas, para tal compreensão.

Com o advento da Doutrina Espírita, com sua filosofia espiritualista esclarecedora, inclusive proporcionando a analise criteriosa das manifestações mediúnicas, temos condições de reformarmos as rebuscadas ideias passadas.

O Espiritismo nos ensina o verdadeiro “céu” que é o estado de felicidade dos Espíritos. Esse estado é proporcional a sua elevação e consiste em “conhecer todas as coisas, não ter ódio, nem ciúme, nem inveja, nem ambição, nem nenhuma das paixões que fazem a infelicidade dos homens. O amor que os une é para eles a fonte de uma suprema felicidade. Eles não experimentam nem as necessidades, nem os sofrimentos, nem as angustias da vida material. São felizes do bem que fazem”. A união dos Espíritos que se simpatizam no bem, que formam as famílias espirituais é uma fonte de felicidade.

Entre os Imperfeitos e os Perfeitos há uma infinidade de degraus.

Esses últimos, ou seja, os Espíritos Puros gozam da felicidade suprema e os demais encontram-se a caminho.

Com relação aos sofrimentos de além-túmulo, as tais penas, “são tão variáveis quanto às causas que os produziram, e proporcionais ao grau de inferioridade, como os gozos o são para os graus de superioridade”.

Estão relacionados à inveja, ao desgosto, ao ciúme, a raiva, ao desespero de não terem atingido a felicidade, de não terem consigo satisfazer os seus prazeres. Ao remorso, que provoca uma indefinível ansiedade moral.

Tais torturas morais são mil vezes mais vivas do que aquelas suportadas na carne.

O estado de inferioridade do Espírito não lhe impede de divisar a felicidade do justo, e isso para ele também é um motivo de suplicio, mas também de estimulo para sair daquela situação e fazer por onde ser agraciado por essa felicidade.

Assim, como ha influências dos Espíritos aos encarnados, há também influências aos desencarnados, que podem ser boas ou ruins, dependendo do grau de evolução do Espírito.

Os maus tentam desviar os ainda vacilantes do caminho do bem. Os bons procuram fortalecer, incentivar, sanear as más tendências, seja inspirando ao arrependimento, a busca de uma nova encarnação que lhes proporcione reparações e desenvolvimentos, etc.

Para nos preservarmos dos acontecimentos futuros é importante ter em mente que o “Espírito sofre por todo o mal que faz, ou do qual foi à causa voluntaria, por todo bem que poderia fazer e que não fez, e por todo o mal que resulta do bem que ele não fez”. E que é o bem que assegura a felicidade futura, o que independe de crença e sim da prática, pois, “o bem é sempre o bem, qualquer que seja o caminho que a ele conduz”.

BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, questões 958 a 982; conclusão, item 5;
KARDEC, Allan - O Que é Espiritismo - cap. I; cap. II, nºs 100 e 103; cap. III, nº 145;
KARDEC, Allan A O Livro dos Médiuns - questão 290, item 16; n°2 e 292;
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. Il, itens 2, 3 e 5; cap. III, item 2; cap. V, itens 3, 12 e 17;
KARDEC, Allan - O Céu e O Inferno - cap. I, n° 14; 1ª Parte, cap. VII;
KARDEC, Allan -A Gênese f cap. I, nºs 25, 31, 37 e 62;
EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Justiça Divina, pág. 107 - Penas Depois da Morte;
PERALVA, Martins - O Pensamento de Emmanuel- n° 16 e 18;
EMMANUEL, O Espírito da Verdade - Diversos Espíritos, item 18;
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. II, itens 1 a 3 e 5 a 7;
PERALVA, Martins - O Pensamento de Emmanuel- n° 31;

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 8 de agosto de 2023

15ª Aula Parte B – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO – FEESP

BEM E MAL SOFRER

“Bem aventurados os que choram, porque serão consolados” (Mt 5:4)

DEFINIÇÕES

Bem – definição: “tudo que leva ao aperfeiçoamento espiritual do ser humano; aquilo cuja posse e fruição (física e espiritual) julga a coletividade ser conveniente à manutenção e/ou ao progresso do homem.

Mal – definição: contrariamente à virtude, à moral, ao dever; ao que preceitua a ética; o que prejudica o dever; o que concorre para o dano ou a ruína de alguém ou de algo; o que é nocivo, desastroso para a felicidade ou o bem-estar físico ou moral; infelicidade; (Dicionário Eletrônico Houaiss)

Podemos defini-los da seguinte maneira:

Bem:

- O bem se constitui na correta aplicação das Leis Divinas ou Naturais.

- Em nosso planeta é a aplicação da lei de amor ao próximo, decorrente do amor a Deus sobre todas as coisas.

- A sua existência é concreta, verdadeira, pois as leis de Deus conduzem a sua aplicação e a torna materializada no dia a dia das criaturas humanas.

Mal:

- É o “vazio”, o “buraco” causado no bem todas às vezes que não são cumpridas as “leis naturais”.

- O mal é toda ação onde o amor não esteja presente, ou seja, aparece em cada desrespeito que praticamos aos nossos semelhantes e à natureza.

- É uma ação destruidora, que incorrerá num sofrimento futuro.

ORIGEM DO BEM E DO MAL

1. – “Sendo Deus o princípio de todas as coisas e sendo todo sabedoria, todo bondade, todo justiça, tudo o que dele procede há de participar dos seus atributos, porquanto o que é infinitamente sábio, justo e bom nada pode produzir que seja ininteligente, mau e injusto. O mal que observamos não pode ter nele a sua origem” (A Gênese – Allan Kardec, Cap. III, item 1), portanto, é criação do homem.

2. – “Pode-se dizer-se que o mal é a ausência do bem, como o frio é a ausência do calor. Assim como o frio não é um fluido especial, também o mal não é atributo distinto; um é o negativo do outro. Onde não existe o bem, forçosamente existe o mal. Não praticar o mal, já é um princípio do bem. Deus somente quer o bem; só do homem procede o mal. Se na criação houvesse um ser preposto ao mal, ninguém o poderia evitar; mas tendo o homem a causa do mal em SI MESMO, tendo simultaneamente o livre-arbítrio e por guia as leis divinas, evitá-lo-á sempre que o queira”. (A Gênese, Allan Kardec, cap. III, item 8)

No Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. V, item 18. Bem e Mal Sofrer, os Espíritos nos lembram as palavras do Cristo: ”Bem aventurados os aflitos, que deles é o reino dos céus”. Diante disso, podemos tecer o seguinte comentário: Jesus Cristo não se referia apenas àqueles que sofrem em geral, pois as mais de seis bilhões e quinhentos milhões de pessoas que se encontram neste planeta e sofrem, independentemente de sua cor, posição, social, poder, religião; mas apenas aos que “sofrem bem”. O sofrimento, seja físico ou moral, gera reflexão e o que determina se bem sofremos é como reagimos.

Temos dificuldades em compreender os sublimes mecanismos reajustadores do sofrimento porque somos, por natureza, demasiadamente afeitos ao prazer e arredios à dor.

A dor que nos atinge, para que sejamos considerados bem aventurados, deve ser suportada com paciência, resignação, sem reclamações ou blasfêmias. Poucos compreendem que somente as provas bem suportadas podem conduzir ao reino de Deus. O desencorajamento é uma falta. Não podemos ser consolados porque nos falta coragem para enfrentar esses momentos, sejam eles longos ou breves. Na Lei de Deus nada está errado, Ele não coloca fardos pesados em ombros fracos; o fardo é sempre proporcional as forças.

Assim também a recompensa será proporcional como a enfrentamos. É preciso merecer essa recompensa; por isso, a vida está repleta de dores e aflições.

“... Cada um deve destruir em si toda a causa do mal, arrancar do coração todo sentimento impuro e toda tendência viciosa. Para o homem vale mais ter cortada uma das mãos, antes de servir essa mão de instrumento para uma ação má; ficar privado da vista, antes que lhe servirem os olhos para conceber maus pensamentos.” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. VIII item 17)

Existem pessoas que sentem o sofrimento de maneira mais intensa que as outras, porque lhes faltam paciência, resignação e fé, e principalmente por não terem conhecimento ou não aceitarem que somos imortais como Espíritos e que a passagem na Terra é apenas temporária.

Em nossa passagem, como Espíritos imortais, muitas vezes rápida pela escola da vida terrena, habitando em um novo corpo físico, devemos lutar com todas as nossas energias para vencer as nossas deficiências e atenuar o sofrimento decorrente do mau uso de nosso livre arbítrio: (cada um responde proporcionalmente pelos seus erros).

“Não te deixes vender pelo mal, mas vence o mal com o bem” (Paulo - Romanos, 12:21)

Ternos que ter a certeza de que todas as dores que nos atingem hoje, se não forem provas pedidas, são erros de um passado, mas que um dia cessarão, e de que o nosso futuro depende do que estamos plantando hoje. (O plantio é opcional, mas a colheita é obrigatória). Joana de Angelis, através de Divaldo nos fala que “devemos afastar a nuvem cinzenta do pessimismo e da queixa, enquanto a dor se demora conosco, concedendo ao sol da esperança a oportunidade de fulgir ante os nossos olhos acostumados as sombras das recriminações. Quando nos entregamos ao desânimo e o espalhamos, conspiramos contra a ordem natural, o equilíbrio e o progresso da vida. É pernicioso mal sofrer; malbaratando a oportunidade de aproveitar bem a lição do sofrimento”.

Nos fala ainda: Mas se tuas legitimas aflições forem muito grandes e esmagadoras, evoca Jesus, que quando na via dolorosa, esmagado sob a cruz e, no entanto aconselhando e advertindo as «mulheres piedosas de Jerusalém», ou cravejado, logo depois, no madeiro de infâmia, convocando dois estranhos e desafortunados salteadores, neles semeando as esperanças do Reino de Deus, instantes antes do «momento extremo», e refaze as tuas forças reconsidera a situação, recompõe os «joelhos desconjuntados» e avança, confiante, cantando a certeza de que, apôs a partida libertadora, uma madrugada sublime te alcançará, fazendo-te ditoso por fim, vitorioso com o bem”. (Lampadário Espírita, Joana de Angelis, pelo médium Divaldo Pereira Franco)

Só seremos plenamente felizes, alcançando assim o Reino de Deus, quando conseguimos eliminar dos nossos corações toda a maldade.

BIBLIOGRAFIA

KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. V itens 18 e 19

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 1 de agosto de 2023

15ª Aula Parte A – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO – FEESP

PENAS E GOZOS TERRENOS

FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS – DECEPÇÕES, INGRATIDÃO E QUEBRA DE AFEIÇÕES - UNIÕES ANTIPÁTICAS - PREOCUPAÇÃO COM A MORTE - DESGOSTO PELA VIDA E SUICÍDIO

1. FELICIDADE E INFELICIDADE RELATIVAS

“O homem pode gozar na Terra uma felicidade completa”? Não, pois a vida foi lhe dada como prova ou expiação, mas dele depende abrandar os seus males e ser tão feliz quanto pode ser na Terra” (LE. 920)

Na maioria das vezes o homem é o artífice da sua própria infelicidade. Se praticasse a lei de Deus, livrar-se-ia de muitos males e gozaria da felicidade tão grande quanto o comporta a sua existência num plano grosseiro.

O homem ciente do seu destino futuro vê, na existência corpórea, apenas uma rápida passagem; ele consola-se facilmente depois de alguns aborrecimentos passageiros.

Recebemos, nesta vida, os efeitos das infrações que cometemos às leis da existência corpórea, pelos próprios males decorrentes dessas inflações e pelos nossos próprios excessos. Se remontarmos, pouco a pouco, a origem do que chamamos infelicidade terrena, veremos esta como consequência de um primeiro desvio do caminho certo. Em virtude desse desvio inicial, entramos num mau caminho e, de consequência em consequência, caímos no infortúnio.

A felicidade terrena é relativa à posição de cada pessoa. Entretanto, podemos dizer que há uma medida comum de felicidade para todos os homens, expressa da seguinte forma: para a vida material, é a posse do necessário; para a Vida moral, a consciência pura e a fé no futuro.

Todavia, a medida do necessário e do supérfluo varia segundo as pessoas. Há algumas que têm muito e acham que não têm aquilo de que necessitam, enquanto outras se contentam com o pouco. “O homem criterioso, a fim de ser feliz, olha sempre para baixo e não para cima, a não ser para elevar sua alma ao infinito.”

Os males que dependem da maneira de agir, e que ferem o homem mais justo, devem ser encarados com resignação e sem queixas para se poder progredir. Este homem tira sempre uma consolação da sua própria consciência, que lhe da a esperança de um futuro melhor.

Aos olhos de quem apenas vê o presente, certas pessoas parecem favorecidas pela fortuna sem o merecer.

Porém, a fortuna é uma prova, geralmente mais perigosa do que a miséria.

De ordinário, os males da vida terrena estão relacionados diretamente com as necessidades artificiais que criamos. Aquele que soubesse restringir os seus desejos, e olhasse sem inveja os que estivessem acima dele, livrar-se-ia de muitos desenganos nesta vida. O mais rico seria o que menos necessidades tivesse.

Deus permite que o mau prospere algumas vezes, mas a sua felicidade não é de causar inveja porque a pagará com lagrimas amargas. “Quando um Justo é infeliz, isso representa uma prova que lhe será levada em conta, se a suportar com coragem.”

O homem só é verdadeiramente infeliz “quando sofre da falta do necessário à vida e à saúde do corpo. Todavia, pode acontecer que essa privação seja de sua culpa. Então, só tem que se queixar de si mesmo. Se for ocasionada por outrem, a responsabilidade recairá sobre aquele que lhe houver dado causa”.

Muitos dos males originam-se de não seguirmos a vocação que determina as nossas aptidões naturais. “Muitas vezes são os pais que, por orgulho ou avareza, desviam os seus filhos da senda que a natureza lhes traçou, comprometendo-lhes a felicidade. Por efeito desse desvio, responderão por eles.”

“Em afastarem-se os homens da sua esfera intelectual reside indubitavelmente uma das mais frequentes causas de decepção. A inaptidão para a carreira abraçada constitui fonte inesgotável de reveses. Depois, o amor-próprio, sobrevindo a tudo isso, impede que o que fracassou recorra a uma profissão mais humilde... Se uma educação moral o houvesse colocado acima dos tolos preconceitos do orgulho, jamais se teria deixado apanhar desprevenido.”

Há pessoas em cujo derredor reina a fartura e, apesar disso, encontram-se baldos de todos os recursos e tem diante de si apenas a perspectiva da morte. Todavia, ninguém deve reter a ideia de se deixar matar de fome.

Achariam “sempre meio de se alimentar, se o orgulho não se colocasse entre a necessidade e o trabalho. Não há ofício desprezível; o seu estado não é o que desonra o homem”.

“Com uma organização social criteriosa e previdente ao homem, só por culpa sua pode faltar o necessário”.

Porém, as suas próprias faltas são frequentemente resultado do meio em que se acha colocado. Quando praticar a lei de Deus, terá uma ordem social fundada na justiça e na solidariedade e ele próprio também será melhor.

Na sociedade, geralmente, as classes sofredoras são mais numerosas que as chamadas felizes. Mas, na verdade, nenhuma é perfeitamente feliz, pois, muitas vezes, há ocultas pungentes aflições. As classes a que chamamos “sofredoras são mais numerosas por ser a Terra lugar de expiação. Quando houver transformação em morada do bem e de espíritos bons, o homem deixara de ser infeliz ai e ela será para ele o paraíso terrestre”.

Diz-se que no mundo, muito amiúde, a influência dos maus sobrepõe-se à dos bons, por fraqueza destes. “Os maus são intrigantes e audaciosos, os bons são tímidos. Quando estes o quiserem, preponderarão.”

Algumas vezes os sofrimentos materiais independem da vontade do homem, que quase é o próprio causador deles. Porém, mais do que estes, os sofrimentos morais são gerados pelo orgulho ferido, pela ambição frustrada, pela ansiedade da avareza, pela inveja, pelo ciúme e todas as paixões que são torturas da alma.

“De ordinário, o homem só é infeliz pela importância que liga as coisas deste mundo... Se se colocar fora do círculo acanhado da vida material, se elevar os seus pensamentos para o infinito, que é seu destino, mesquinho e pueril lhe parecerão as vicissitudes da humanidade, como o são as tristezas da criança que se aflige pela perda de um brinquedo que resumia a sua felicidade suprema.”

“Como civilizado, o homem raciocina sobre a sua infelicidade e a analisa. Por isso é que esta o fere. Mas, também, é-lhe facultado raciocinar sobre os meios de obter consolação e de os analisar. Essa consolação, ele a encontra no sentimento cristão, que lhe dá a esperança de melhor futuro - o espiritismo dá-lhe a certeza desse futuro.”

2. DECEPÇÕES, INGRATIDÃO E QUEBRA DE AFEIÇÕES

“Para o homem de coração, as decepções oriundas da ingratidão e da fragilidade dos laços da amizade são também uma fonte de amargura.” Porém, devemos lastimar os ingratos e os infiéis; serão muito mais infelizes. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta topará com corações insensíveis, como o seu próprio o foi.

O bem deve ser praticado sem exigências; a ingratidão é uma prova à nossa perseverança no exercício do bem.

Os ingratos serão punidos na proporção exata do seu egoísmo. Por isso, o homem não deve endurecer o seu coração e tomar-se insensível ao topar com a ingratidão. Ao contrário, deve sentir-se feliz pelo bem que faz.

Às vezes, a ingratidão lhe fere o coração, porém, não deve preferir a felicidade do egoísta e tomar-se indiferente pela ingratidão que recebe: “saiba, pois, que os amigos ingratos não são dignos de sua amizade e que se enganou a respeito deles. Assim sendo, não há de que lamentar o tê-los perdido. Mais tarde achará outros que saberão compreendê-los melhor.” Os ingratos merecem ser lastimados, pois bem triste se lhes apresentara o reverso da medalha.

“A natureza deu ao homem a necessidade de amar e de ser amado. Um dos maiores gozos que lhe é concedido na Terra é o de encontrar corações que com o seu simpatizem. Dá-lhe ela, assim, as primícias da felicidade que o aguarda no mundo dos espíritos perfeitos, onde tudo é amor e benignidade. Desse gozo está excluído o egoísta.”

3. UNIÕES ANTIPÁTICAS

Como podemos observar acima, os espíritos simpáticos buscam-se reciprocamente e procuram unir-se. Todavia, é muito frequente que entre os encarnados na Terra, a afeição exista só de um lado e o mais sincero amor se veja colhido com indiferença e até com repulsão. E, além disso, encontramos situações em que a mais viva afeição de dois seres se transforma em antipatia e mesmo em ódio.

Estas ocorrências, sob o ponto de vista da lei moral, constituem uma punição passageira. Além disso, “quantos não são os que acreditam amar perdidamente porque apenas julgam pelas aparências, e que, obrigados a viver com a pessoa amada, não tardam a reconhecer que só experimentaram um encantamento material”.

“Não basta uma pessoa estar enamorada de outra que lhe agrada e em quem supõe belas qualidades. Vivendo realmente com ela é que poderá apreciá-la. Tanto assim que em muitas uniões que a princípio parecem destinadas a nunca ser simpáticas; acabam, os que as constituíram, depois de se haverem estudado bem e de bem se conhecerem, por votar-se, reciprocamente, duradouro e temo amor, porque assente na estima! Cumpre não esquecer de que é o espírito quem ama e não o corpo, de sorte que, dissipada a ilusão material, o espírito vê a realidade.”

Há duas espécies de afeição: a do corpo e a da alma, acontecendo, com frequência, tomar-se uma pela outra.

Quando pura e simpática, a afeição da alma é duradoura; efêmera a do corpo. Daí vem que muitas vezes os que julgavam amar-se com eterno amor passam a odiar-se, desde que a ilusão se desfaça.

A falta de simpatia entre seres destinados a viver juntos constitui igualmente fonte de amargos dissabores que envenenam toda a existência. Todavia, essa é uma das infelicidades de que os seres humanos, na maioria das vezes, são a causa principal. Primeiramente pelo erro das leis. Deus não constrange ninguém a permanecer junto dos que o desagradam. “Depois, nessas uniões, ordinariamente buscais a satisfação do orgulho e da ambição, mais do que a ventura de uma afeição mútua. Sofreis então as consequências dos vossos prejuízos.”

Nesse caso há quase sempre uma vítima inocente, o que lhe constitui uma dura expiação. “Mas, a responsabilidade da sua desgraça recairá sobre os que a tiverem causado. Se a luz da verdade já lhe houver penetrado a alma, em sua fé no futuro haurirá consolação. Todavia, a medida que os preconceitos se enfraquecerem, as causas dessas desgraças íntimas também desaparecerão.”

4. PREOCUPAÇÃO COM A MORTE

“Para muitas pessoas, o temor da morte é uma causa de perplexidade.” Porém, falta-lhes fundamento para semelhante temor. Isto provém da infância, quando procuram persuadi-lo “de que há inferno e um paraíso e que mais certo é irem para o inferno, visto que também lhes disseram que o que está na natureza constitui pecado mortal para a alma! Sucede então que, tornadas adultas, essas pessoas, se algum juízo tem, não podem admitir tal coisa e se fazem materialistas. São assim levadas a crer que, além da vida presente, nada mais há.”

Quem tem fé tem a certeza do futuro. Quem tem esperança conta com uma vida melhor. Quem tem caridade sabe que não tem de temer o mundo para onde vai.

“O homem carnal, mais preso a vida corpórea do que a vida espiritual tem na Terra, penas e gozos materiais. A sua alma, constantemente preocupada e angustiada pelas vicissitudes da vida, conserva-se numa ansiedade e uma tortura aparentemente perpétuas. A morte o assusta porque ele duvida do futuro e porque tem de deixar no mundo todas as suas afeições e esperanças.”

“O homem moral, que se colocou acima das necessidades fictícias criadas pelas paixões, já neste mundo experimenta gozos que o homem material desconhece. A moderação dos seus desejos dá-lhe ao espírito, calma e serenidade. Ditoso pelo bem que faz, não há para ele decepções e as contrariedades lhe deslizam por sobre a alma, sem nenhuma impressão dolorosa deixarem.”

5. DESGOSTO PELA VIDA, SUICÍDIO

O desgosto da vida que, sem motivos plausíveis, se apodera de certos indivíduos nasce da ociosidade, da falta de fé e, também, da saciedade.

“Para aquele que usa de suas faculdades, com fim útil e de acordo com as suas aptidões naturais, o trabalho nada tem de árido e a vida se escoa mais rapidamente. Ele lhe suporta as vicissitudes com tanta mais paciência e resignação, quanto obra com o fito da felicidade mais sólida e mais durável que o espera.”

O homem não tem o direito de dispor da sua vida; “só a Deus assiste esse direito. O suicídio voluntário é uma transgressão desta lei.”

Nem sempre o suicídio é voluntário. “O louco que se mata não sabe o que faz.”

O suicídio que decorre do desgosto da vida é uma insensatez. O trabalho torna a existência menos pesada.

Há os que se suicidam para fugirem as misérias e as decepções deste mundo. São “pobres espíritos que não tem a coragem de suportar as misérias da existência! Deus ajuda os que sofrem e não os que carecem de energia e coragem. As tribulações da vida são provas ou expiações. Felizes os que as suportam sem se queixar, porque serão recompensados! Ai, porém, daqueles que esperam a salvação do que, na sua impiedade, chamam acaso ou fortuna! O acaso ou a fortuna, para me servir da linguagem deles, podem, com efeito, favorecê-los por um momento, mas para lhes fazer sentir mais tarde cruelmente a vacuidade dessas palavras.”

Os que hajam conduzido o infeliz do desesperado até ao suicídio sofrerão as consequências de tal proceder. “Ai deles! Responderão por um assassínio.”

Pode ser considerado suicida aquele que, a braços com a maior penúria, se deixa morrer de fome. Mas, os que lhe foram causa ou que teriam podido impedi-lo, são mais culpados do que ele a quem a indulgencia espera.

Todavia, não penseis que seja isto em absoluto, se lhe faltaram à firmeza e perseverança e se não usou de toda a sua inteligência para sair do atoleiro. Ai dele, sobretudo se o seu desespero nasce do orgulho. Há pessoas que preferem morrer de fome a sacrificar o que clamam a sua posição social e se envergonhariam de dever a existência ao trabalho das suas mãos. “Haverá mil vezes mais grandeza e dignidade em lutar contra a adversidade, em afrontar a crítica de um mundo fútil e egoísta que só tem boa vontade para com aqueles a quem nada falta.”

“É tão reprovável como o que tem por causa o desespero o suicídio daquele que procura escapar a vergonha de uma ação má.” Isto porque o suicídio não apaga a falta. Ao contrário, em vez de uma, haverá duas. Quando se teve a coragem de praticar o mal, é preciso ter-se a de lhe sofrer as consequências. “Deus, que julga, pode conforme a causa, abrandar os rigores da sua justiça.”

Outra loucura é o caso daquele que se mata, na esperança de chegar mais depressa a uma vida melhor, pois, assim agindo, “retarda a sua entrada num mundo melhor e terá que pedir para voltar, para concluir a vida a que pôs termo sob o influxo de uma ideia falsa. Uma falta, seja qual for, jamais abre a alguém o santuário dos eleitos.”

O sacrifício da vida, quando aquele que o faz visa salvar a de outrem, ou ser útil aos seus semelhantes; constitui uma atitude sublime, “conforme a intenção, e, em tal caso, o sacrifício da vida não constitui suicídio. Mas Deus opõe-se a todo o sacrifício inútil e não o pode ver de bom grado se tem o orgulho a manchá-lo. Só o desinteresse torna meritório o sacrifício e, não raro, quem o faz guarda oculto um pensamento que lhe diminui o valor aos olhos de Deus.”

O homem que perece vitima de paixões que ele sabia lhe haviam de apressar o fim, porém a que já não podia resistir, por havê-las o hábito mudado em verdadeiras necessidades físicas, comete um suicídio moral. Nesse caso é duplamente culpado. Há nele falta de coragem e bestialidade, acrescidas do esquecimento de Deus.

“É sempre culpado aquele que não aguarda o termo que Deus lhe atribuiu a existência.” É erro, portanto, alguém que vê diante de si um fim inevitável e horrível, querer abreviar de alguns instantes os seus sofrimentos e apressar voluntariamente a sua morte. E quem poderá estar certo de que, mau grado as aparências, esse termo tenha chegado; de que um socorro inesperado não venha no ultimo momento?

Mesmo no caso em que a morte é inevitável e em que a vida só é encurtada alguns instantes, “é sempre uma falta de resignação e de submissão a vontade do criador.” A consequência de tal ato será “uma expiação proporcional, como sempre, a gravidade da falta, de acordo com as circunstancias.”

Aqueles que não podem conformar-se com a perda de pessoas que lhes eram caras e se matam na esperança de juntar-se a elas, muito diverso do que esperam é o resultado que colhem. “Em vez de se reunirem ao que era objeto da sua afeição, dele se afastam por longo tempo, pois não é possível que Deus recompense um ato de covardia e o insulto que lhe fazem com o duvidarem de sua previdência”.

Sofrerão, com isso, aflições maiores do que as que pensavam abreviar e não terão a satisfação que esperavam.

Com relação ao estado do espírito, as consequências do suicídio são muito diversas. “Não há penas determinadas e, em todos os casos, correspondem sempre às causas que o produziram. Há, porém, uma consequência a que o suicida não pode escapar: é o desapontamento. Mas a sorte não é a mesma para todos; depende das circunstâncias. Alguns expiam a falta imediatamente, outros em nova existência que será pior do que aquela cujo curso interromperam.”

“A observação, realmente, mostra que os efeitos do suicídio não são idênticos. Alguns há, porém, comuns a todos os casos de morte violenta e que são a consequência brusca da vida. Há primeiro, a persistência mais prolongada e tenaz do laço que une o espírito ao corpo, por estar quase sempre este laço na plenitude da sua forca no momento em que é partido, ao passo que, no caso de morte natural, ele se enfraquece gradualmente e muitas vezes se desfaz antes que a vida se haja extinguido completamente. As consequências deste estado de coisas são o prolongamento da perturbação espiritual, seguindo-se a ilusão em que, durante mais ou menos tempo, o espírito se conserva de que ainda pertence ao número dos vivos.”

“A afinidade que permanece entre o espírito e o corpo produz, nalguns suicidas, uma espécie de repercussão do estado do corpo no espírito, que, assim, a seu mau grado, sente os efeitos da decomposição, donde lhe resulta uma sensação cheia de angustias e de horror, estado esse que também pode durar pelo tempo que devia durar a vida que sofre interrupção. Não é geral esse efeito; mas, em caso algum, o suicida fica isento das consequências da sua falta de coragem e, cedo ou tarde, expia, de um modo ou de outro, a culpa em que incorreu.”

“A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio como contrário às leis da natureza. Ao espiritismo estava reservado demonstrar, pelos exemplos dos que sucumbiam, que o suicídio não e uma falta, somente por constituir infração a uma lei moral, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá.”

BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos, Livro 4°, cap. I, questões 920 a 957;
KARDEC, Allan - O Livro dos Médiuns - questão 289;
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. IV item 19, Cap. V, itens 4, 6, 21 g, 23; cap. VI, item 2; cap. XIII, item 19; cap. XIV, item 9, Introdução, item 4;
KARDEC, Allan - O Céu e o Inferno – 1ª Parte, cap. II, nº 1 a 10; Cap. III, nº 15, 2ª Parte, cap. V.
KARDEC, Allan - A Gênese - cap. I, nº 42;
KARDEC, Allan - Obras Póstumas;
KARDEC, Allan - O Que é Espiritismo - cap. I;
Revista Espírita, de novembro de 1858; de dezembro de 1858; de março de 1860; de dezembro de 1860; de fevereiro de 1861; de março de 1861 ; de fevereiro de 1865; de março de 1865;

Bibliografia Complementar:

EMMANUEL, Francisco Cândido Xavier - Pensamento e Vida - item 15;
O Espírito da Verdade - Diversos Espíritos - item 19;

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.