Jesus, A Lei e os Profetas
Jesus
e a Tradição dos Antigos
OS SÃOS NÃO PRECISAM DE MÉDICO
“Aconteceu
que estando ele a mesa em casa, vieram muitos publicanos e pecadores e se
assentaram à mesa com Jesus e seus discípulos. Os fariseus, vendo isso,
perguntaram aos discípulos: ‘Por que come o vosso Mestre com os publicanos e os
pecadores?’ Ele, ao ouvir o que diziam, respondeu: ‘Não são os que tem saúde
que precisam de médico, e sim os doentes. Ide, pois, e aprendei o que
significa. Misericórdia quero, e não o sacrifício. Com efeito, eu não vim
chamar justos, mas pecadores’.” (Mt 9:10-13).
Os fariseus,
como sabemos, sempre buscavam encontrar um meio de acusar Jesus. Assim,
procuravam fazê-lo cair em alguma contradição em relação à Lei Mosaica.
Nesta
passagem vemos os fariseus questionarem aos discípulos por que Jesus comia com
os pecadores.
Mas quem
seriam estes supostos pecadores?
Inicialmente,
podemos lembrar que Moisés, que nos trouxe os Dez Mandamentos, inaugurando uma
nova era espiritual para a Humanidade, chamava de infiéis a todos aqueles que
não observavam as Leis de Deus.
Esse
conceito, porém, deturpou-se com o passar do tempo, e os Doutores da Lei, na
época de Jesus, negligenciaram as Leis Divinas e se apegando as regras
exteriores e aos ritualismos religiosos, acabaram por designar como pecadores
aqueles que não cumpriam essas regras e não praticavam esses rituais.
Em
consequência dessas convicções, ou seja, de considerar como pecado as violações
as regras exteriores, chamavam de pecadores a muitas pessoas, como os
publicanos, que eram os cobradores de impostos; os samaritanos, eis que tinham
regras próprias em relação a religião; e muitos outros que viviam a margem da
sociedade.
Devemos
esclarecer a esta altura que o termo “pecado” não é acolhido pela Doutrina dos
Espíritos, pois é um conceito das doutrinas dogmáticas, que pregam as penas
eternas.
O
Espiritismo, no entanto, vê cada uma das imperfeições humanas como decorrentes
da ignorância espiritual. Essas faltas, portanto, não resultam em condenação
eterna, pois a cada nova existência o Espírito vai se depurando e se
aperfeiçoando.
Ressalvamos
que o conceito de pecado trazido pelas doutrinas dogmáticas modernas é, em
certo aspecto, diferente das crenças dos judeus à época de Jesus, assim como
outros conceitos que eram um tanto obscuros, como a reencarnação então chamada
de ressurreição.
Retomando a
passagem que analisamos, que nos desperta reflexões sobre a verdadeira postura
fraterna, vemos que Jesus, ao contrário dos fariseus, dirigia seus ensinamentos
a todos, sem exceções. O Mestre aproveitava todas as oportunidades para ensinar
e vivenciar as suas lições, e assim convivia tanto com os Doutores da Lei, bem
como com aqueles que eram considerados pecadores, pois “os sãos não precisam de
médico”.
Nestas
palavras encontramos a essência do Cristianismo: consolar e auxiliar os mais
necessitados, os que se sentem deserdados, os ignorantes, e todos aqueles que
buscam o conhecimento, buscam um caminho de espiritualização, em uma palavra:
buscam a Luz.
Neste
simbolismo de médico e doente, podemos imaginar: o que seria se um médico, que
tem a função de atender os doentes do corpo, não atendesse aqueles que o
procurassem, ou ainda, se fizesse distinções entre um e outro doente,
rejeitando os mais enfermos?
Da mesma
forma, podemos perguntar: o que seria se um cristão, que optou por vivenciar as
lições de Jesus, não acolhesse os sofredores, não amparasse os necessitados,
não consolasse os aflitos e os que choram?
Esse
cristão, podemos afirmar, não teria compreendido os ensinamentos do Mestre.
Jesus
convida-nos, assim, a exercer a caridade verdadeira, sem qualquer
discriminação, e a todos acolher, em qualquer tempo e lugar.
JESUS É O SENHOR DO SÁBADO
“Por esse
tempo, Jesus passou, num sábado, pelas plantações. Os seus discípulos, que
estavam conforme, puseram-se a arrancar espigas e a comê-las. Os fariseus,
vendo isso disseram: ‘Olha só! Os teus discípulos a fazerem o que não é lícito
fazer num sábado!' Mas ele respondeu-lhes: ‘Não lestes o que fez Davi e seus
companheiros quando tiveram fome? Como entrou na Casa de Deus e como eles comeram
os pães da proposição, que não era lícito comer nem a ele, nem aos que estavam
com ele, mas exclusivamente aos sacerdotes? Ou não lestes na Lei que com seus
deveres sabáticos os sacerdotes no Templo violam o sábado e ficam sem culpa?
Digo-vos que aqui esta algo maior do que o Templo. Se soubésseis o que
significa: Misericórdia é que eu quero e não sacrifício, não condenaríeis os
que não têm culpa. Pois o Filho do Homem é senhor do sábado’.” (Mt 12:1-8).
A regra de
observação ao dia do sábado está contida nos Dez Mandamentos. Foi instituída
pela necessidade de se ter um dia para se dedicar ao culto religioso, e ainda
para o descanso dos servos, assim como dos animais que precisavam de um dia de
repouso.
Podemos
ressaltar que, especialmente em relação à dedicação ao culto religioso, esse
dia fazia-se necessário, pois os hebreus, quando deixaram o Egito, tinham
incorporado muitos dos costumes daquela terra e se mostravam muito apegados aos
valores materiais. Era preciso, então, estipular um dia para que, com a família
reunida, fosse realizado o culto a Deus.
Essa
convenção, de certa forma, foi mantida até nossos dias, pois é comum, em quase
todas as sociedades, destinar-se um dia para o descanso do trabalho, bem como,
em algumas religiões, estipular-se um dia especial para o culto religioso.
No entanto,
tal instituto - o sábado ou outro dia que se designar - não pode ser tomado em
absoluto, e ser obstáculo para o exercício da verdadeira religiosidade.
Eis, a
propósito, o motivo do ensinamento de Jesus em relação ao sábado.
Em “A
Gênese”, cap. XV, item 23, Kardec ressalta que: “Jesus parecia empenhar-se em
operar suas curas no dia do sábado, para ter ocasião de protestar contra o
rigorismo dos fariseus quanto a guardar o sábado de qualquer atividade. Queria
lhes mostrar que a verdadeira piedade não consiste na observância das práticas
exteriores e das coisas formais, mas está nos sentimentos do coração.
Justifica-se dizendo: ‘Meu Pai não cessa de agir até o presente, e atuo também
incessantemente’; isto é, ‘Deus não suspende de nenhum modo suas obras nem sua
ação sobre as coisas da Natureza, no dia de sábado; Ele continua ordenando
produzir o que é necessário a vossa alimentação e a vossa saúde, e sou o
exemplo d’Ele.'.”
Nesta
síntese do codificador, vemos que o apego a letra não representa o verdadeiro
cumprimento a Lei Divina, mas a verdadeira observância reside, como asseverou
Kardec, nos atos derivados dos sentimentos do coração, ou seja, a compaixão, a
piedade, a misericórdia.
Eis porque
Jesus disse: “Misericórdia é que eu quero e não sacrifício”.
Muitas
vezes, nós desperdiçamos grandes oportunidades de elevação espiritual por
estarmos muito apegados as convenções humanas. Nesse sentido, Emmanuel, na obra
“Pão Nosso”, lição no 30, instruí-nos: “As convenções definem, catalogam,
especificam e enumeram, mas não devem tiranizar a existência. Lembra-te de que
foram dispostas no caminho a fim de te servirem. Respeitas, na feição justa e
construtiva; contudo, não as convertas em cárcere.”
MÃOS LAVADAS OU TRADIÇÃO DOS ANTIGOS
“Nesse
tempo, chegaram-se a Jesus fariseus e escribas vindos de Jerusalém e disseram:
‘Por que os teus discípulos violam a tradição dos antigos? Pois que não lavam
as mãos quando comem’. Ele respondeu-lhes: ‘E vós, por que violais o mandamento
de Deus por causa da vossa tradição? Com efeito, Deus disse: Honra pai e mãe e
aquele que mal disser pai ou mãe certamente deve morrer. Vós, porém, dizeis:
Aquele que disser ao pai ou à mãe ‘Aquilo que de mim poderias receber foi
consagrado a Deus’, esse não está obrigado a honrar pai ou mãe. E assim
invalidastes a Palavra de Deus por causa da vossa tradição. Hipócritas! Bem
profetizou Isaias a vosso respeito, quando disse: Este povo me honra com os
lábios, mas o coração está longe de mim. Em vão me prestam culto, pois o que
ensinam são apenas mandamentos humanos’.” (Mt 15:1-9).
Nesta outra
passagem, uma vez mais, encontramos os fariseus questionando as posturas dos
discípulos de Jesus, alegando que eles estariam violando a tradição dos
antigos.
Jesus, que
conhecia suas intenções e seus atos, desmascarava-os, lembrando-os que eles
transgrediam os Mandamentos de acordo com as suas conveniências, como em
relação ao dever de honrar pai e mãe.
Conforme nos
ensina Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. VIII, item 10: “Como
era mais fácil observar a prática dos atos exteriores, do que reformar-se
moralmente, de lavar as mãos do que limpar o coração, os homens se iludiam a si
mesmos, acreditando-se quites com a justiça de Deus, porque se habituavam a
essas práticas e continuavam como eram, sem se modificarem, pois lhe ensinavam
que Deus não exigia nada mais”.
Aqui,
podemos recordar que, dentre as diversas normas e costumes instituídos entre o
povo hebreu, muitos eram motivados por necessidades reais de educação e
higiene. Dentre esta última, está a de lavar as mãos antes da alimentação.
Esta regra,
que nos parece óbvia, não era usual a época, como muitas outras necessárias a
higiene. Assim, pois, era preciso estabelecer regras obrigatórias até que o
habito se tomasse natural entre eles.
Com o passar
do tempo, essa regra de higiene tomou-se um ritual, ao qual se atribuía maior
importância do que o cumprimento dos Mandamentos, como vemos na exortação de
Jesus.
No entanto,
temos que considerar que, na verdade, as práticas exteriores não são mais
importantes que a adoração verdadeira, no interior do Ser, que implica em
buscar a prática das virtudes e da caridade, como vemos no mesmo item de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo” acima citado:
“A
finalidade da religião é conduzir o homem a Deus. Mas o homem não chega a Deus
enquanto não se fizer perfeito. Toda religião, portanto, que não melhorar o
homem, não atinge a sua finalidade.”
(...) “Não é
suficiente ter as aparências da pureza; é necessário antes de tudo ter a pureza
de coração.”
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente os
ensinamentos de Jesus: “Os sãos não precisam de médico”.
Fonte da
imagem: Internet Google.
Nenhum comentário:
Postar um comentário