Não
Se Pode Servir a Dois Senhores
MERCADORES DO TEMPLO
“E entrando
no Templo, começou a expulsar os vendedores, dizendo-lhes: ‘Está escrito: Minha
casa será uma casa de oração. Vós, porém, fizestes dela um covil de
ladrões!’." (Lc 19:45-46).
Os homens,
em todos os tempos, buscaram adorar a Deus de diferentes formas. Para isso,
pensaram ser necessário construir uma casa de oração onde pudessem reunir-se e
se aproximar mais da Divindade. O povo hebreu tinha no Templo de Jerusalém a
sua casa de adoração, e era da lei judaica a obrigatoriedade de comparecimento,
em determinadas ocasiões, onde eram celebradas datas importantes para os
hebreus, relacionadas à sua vida religiosa.
Na vida
religiosa dos judeus, destacavam-se rituais com sacrifícios de bois, cordeiros,
pombas, rolinhas, que eram obrigatórios de acordo com o acontecimento da vida
do indivíduo ou da festividade a ser comemorada. Por exemplo, na purificação da
mulher após o parto, na circuncisão, na festa da Páscoa.
Esses
sacrifícios eram intermediados pelos sacerdotes, que praticavam o holocausto do
animal, ou seja, a queima do animal sobre o altar, ofertando-a a Deus. Os
animais eram geralmente adquiridos dentro do próprio Templo, onde eram vendidos
por um preço estipulado pelos sacerdotes, podendo aumentar conforme a ocasião.
Jesus nasceu
no seio do povo hebreu e foi criado dentro das tradições judaicas; com certeza
conhecia e respeitava sobremaneira a religiosidade do povo e a sua maneira de
exteriorizá-la. Mais do que ninguém, sabia que tanto o indivíduo quanto a
coletividade expressam sua religiosidade de acordo com seu nível evolutivo.
Portanto, a
sua severa reprimenda, à condenação que nos chega através do relato evangélico,
relaciona-se ao abuso, ao excesso de mercantilismo, de comercialização que
existia no Templo, e que desviava do verdadeiro sentimento religioso.
A busca da
espiritualização, a necessidade da ligação do indivíduo a Deus estava sendo
ofuscada pela materialidade que regia as relações comerciais no Templo, e Jesus
chamou a atenção para o fato a fim de que isto não mais passasse despercebido,
nem naquele momento, nem em nenhum outro.
Jesus
demonstrava, assim, a necessidade de nos mantermos atentos com a
comercialização das coisas sagradas, pois a nossa relação com Deus deve ser uma
relação essencialmente espiritual, íntima, sem a necessidade de intermediários,
como nos ensina a Doutrina dos Espíritos.
Devemos
precaver-nos para não nos deixarmos contaminar por preceitos materiais, que
jamais serão capazes de substituir a veracidade e a beleza da nossa ligação com
Deus.
Conforme
ensinou Jesus à mulher samaritana: “Mas vem a hora - e é agora - em que as
verdadeiros adoradores adorando o Pai em espírito e verdade, pois tais são os
adoradores que o Pai procura.” (Jo 4:23), ou seja, o verdadeiro templo de
adoração ao Pai é no interior de cada um de nós.
O TRIBUTO A CESAR
“Então os
fariseus foram reunir-se para tramar como apanhá-lo por alguma palavra. E lhe
enviaram as seus discípulos, juntamente com os herodianos, para lhe dizerem:
‘Mestre, sabemos que és verdadeiro e que, de fato, ensinas o caminho de Deus.
Não dás preferência a ninguém, pois não consideras um homem pela aparência.
Dize-nos, pois, que te parece: é lícito pagar imposto a Cesar ou não? ’Jesus,
porém, percebendo a sua malicia, disse: ‘Hipócritas! Por que me pondes a prova?
Mostrai-me a moeda do imposto. ’Apresentaram-lhe um denário. Disse ele: ‘De
quem é esta imagem e a inscrição? ’Responderam.' ‘De César". Então lhes
disse: ‘Dai, pois, o que é de César a César; e o que é de Deus, a Deus’. Ao
ouvirem isso, ficaram surpresos e, deixando-o, foram-se embora”. (Mt 22:15-22).
Para que
possamos melhor compreender esta passagem evangélica, devemos lembrar-nos que a
Palestina, na época de Jesus, encontrava-se sob o domínio do Império Romano.
Devido a esse domínio, o povo judeu era obrigado a pagar uma serie de impostos
a Roma, o que desagradava profundamente a todo o povo.
A classe
sacerdotal judaica, uma vez mais, questionava Jesus de modo a colocá-lo em
posição difícil. Caso Jesus dissesse algo contra o pagamento do tributo, o
imposto a César, seria tachado de subversivo, de rebelde, e poderia ser
indiciado junto às autoridades romanas; caso dissesse algo a favor, estaria
afrontando a tradição judaica que repudiava o pagamento de impostos a povos
invasores.
Jesus,
porém, conhecia bem o que ia nos corações daqueles que buscavam apanhá-lo nessa
cilada. Utilizando-se da sabedoria que lhe era peculiar, perguntou aos fariseus
de quem era a imagem e a inscrição na moeda. Aos responderem que era de César,
deram a Jesus a oportunidade de ensinar o respeito devido as Leis da sociedade
humana e as Leis de Deus, colocando as coisas em seu devido lugar.
Como nos
adverte Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XI, item 7: “Esta
máxima: ‘Dai a César o que é de César’ não deve ser entendida de maneira
restritiva e absoluta.” (...) “Condena todo prejuízo moral e material causado
aos outros, toda a violação dos seus interesses, e prescreve o respeito aos
direitos de cada um, como cada um deseja ver os seus respeitados. Estende-se ao
cumprimento dos deveres contraídos para com a família, a sociedade, a
autoridade, bem como para todos os indivíduos.”
Temos, como
cidadãos do mundo material, o compromisso de cumprirmos as nossas obrigações
perante as Leis que nos regem neste mundo, mesmo que as Leis ainda sejam
imperfeitas.
Como nos
ensina Emmanuel, em sua obra ‘Pão Nosso’, lição n° 102: “Se há erros nas leis,
lembremos a extensão de nossos débitos para com a Previdência Divina e
colaboremos com a governança humana, oferecendo-lhe o nosso concurso em
trabalho e boa-vontade, conscientes de que desatenção ou revolta não nos
resolvem os problemas”.
O respeito
às Leis Divinas inicia-se com o respeito que temos pelo nosso próximo. As
virtudes da obediência e da resignação são fundamentais para que possamos,
através do consentimento da razão e do coração, submetendo-nos a Vontade do Pai
Criador e buscarmos viver de acordo com os preceitos que regem todas as
criaturas e toda a Criação.
A regra
básica para que possamos nos relacionar uns com os outros, dentro dos
ensinamentos evangélicos, foi-nos dada pelo Mestre, quando nos orientou que
procurássemos fazer aos outros o que gostaríamos que nos fizessem. Dessa
maneira, colocando-nos no lugar do outro, vamos aprendendo a nos respeitar e a
nos amar, de acordo com o Maior Mandamento.
NÃO SE PODE SERVIR A DOIS SENHORES
“Ninguém
pode servir a dois senhores. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se
apegará ao primeiro e desprezará o segundo. Não podeis servir a Deus e ao
Dinheiro.” (Mt 6:24).
Quando
buscamos um novo rumo para nossa vida, sempre precisamos fazer muitas escolhas.
Quando, em especial, buscamos as lições de Jesus e procuramos segui-las, muitas
são as mudanças que devemos implementar.
Dessa forma,
quando desejamos buscar a transformação interior, precisamos abandonar muitos
hábitos antigos. Mais que isso, precisamos renunciar a determinadas coisas,
determinadas posições, que não nos são mais adequadas.
A
perseverança e a dedicação em se renovar, não obstante todo o esforço empreendido
conduz a satisfação daquele que pauta sua vida nos valores morais.
Nesta
passagem, Jesus adverte-nos sobre a importância de escolhermos a quem devotamos
a nossa fidelidade, a nossa prioridade enquanto seres imortais que caminham
rumo à perfeição relativa. Isso porque há uma impossibilidade em seguir
caminhos cujos objetivos são diversos.
Para servir
a Deus são necessárias as virtudes da abnegação, da humildade, da compaixão que
nos permitem sentir a dor de nosso semelhante e despertam a nossa vontade de
auxiliar, de aliviar, de consolar; por outro lado, quando se opta em servir
exclusivamente ao dinheiro, o indivíduo acaba por se tomar egoísta e
ganancioso, não se importando com seus semelhantes.
A riqueza
material, por si só, temos que frisar, não é obstáculo absoluto a salvação dos
que a possuem, eis que ela é um dos instrumentos de que se serve a Previdência
Divina para impulsionar o progresso humano. Contudo, o excesso de apego às
riquezas pode conduzir a avareza, a insensibilidade e ao orgulho.
O apóstolo
Paulo, em sua Primeira Carta a Timóteo, cap. 6, versículo 10, esclarece:
“Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro, por cujo desenfreado
desejo alguns se afastaram da fé, e a si mesmos se afligem com múltiplos
tormentos”.
A cobiça,
tal é sua reprovação perante as Leis de Deus, que sua prática já é condenada no
Decálogo: “Não cobiçarás...”.
Podemos
lembrar também que, dentre todos os ensinamentos dos antigos profetas hebreus,
a ganância sempre foi considerada reprovável diante de Deus.
Sendo assim,
compreendemos que para realmente servirmos a Deus temos que cultivar o desapego
e praticar a caridade desinteressada.
Especialmente
a nós, Aprendizes do Evangelho, cabe-nos a busca do aprimoramento para nos
tornarmos bons servidores.
“Servir é a
honra que nos compete.” - Emmanuel.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Como podemos
nos tornar melhores servidores da causa do Mestre?
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém.
- Kardec, Allan - A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Livro dos Espíritos - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Xavier,
Francisco C./Emmanuel - Pão Nosso.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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