Sermão Dos “Ais” (Mt 23:13-39)
O Sermão dos
“Ais” foi proferido em um momento em que Jesus, uma vez mais, alertava o povo e
seus discípulos sobre a conduta dos escribas e fariseus que tinham um discurso,
dirigido ao povo, que exaltava a observância da Lei e os Profetas, mas que eles
próprios não praticavam.
Inicialmente,
relembremos a descrição de Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, em
sua introdução, sobre essas duas classes:
Fariseus
- “Os Fariseus desempenhavam papel ativo nas controvérsias religiosas.
Observadores servis das práticas exteriores do culto e das cerimônias, tomados
de ardoroso proselitismo, inimigos das inovações, afetavam grande severidade de
princípios. Mas, sob as aparências de uma devoção meticulosa, escondiam
costumes dissolutos, muito orgulho, e, sobretudo excessivo desejo de dominação.
A religião, para eles, era mais um meio de subir do que objeto de uma fé
sincera”.
Escribas
- “Nome dado, a princípio, aqueles que tinham o encargo de escrever a lei e
explicá-la, e a certos intendentes dos exércitos judeus. Mais tarde, essa
designação foi aplicada especialmente aos doutores que ensinavam a lei de
Moisés e a interpretavam para o povo. Faziam causa comum com os Fariseus,
participando dos seus princípios e de sua aversão aos inovadores. Por isso,
Jesus os envolve na mesma reprovação”.
Neste
sermão, Jesus apresenta, de forma enérgica, uma série de condutas dos escribas
e fariseus que mereciam forte reprovação moral, como segue:
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, porque bloqueais o Reino dos Céus diante dos
homens! Pois vós mesmos não entrais, nem deixais entrar os que o querem!”
Nesta
primeira exortação, Jesus faz referência ao “Reino dos Céus”.
Pelo estudo
da Doutrina Espírita, sabemos que esse termo, constantemente empregado por
Jesus, não designa um local geográfico, um lugar estático nas alturas,
destinado aos “eleitos”; mas, na verdade, trata-se de um estado de consciência
de harmonia e plenitude. Para atingir esse estado é necessária a prática
constante dos preceitos contidos na Lei Divina.
No entanto,
os escribas e fariseus não a observavam. Logo, como eram responsáveis por
ministrar o conhecimento da Lei ao povo, constituído, em sua maioria, por
pessoas ignorantes, acabavam, pelos maus exemplos, a induzir os homens ao erro.
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, que percorreis o mar e a terra para fazer um
prosélito, mas, quando conseguis conquistá-lo, vos o tornais duas vezes mais
digno da geena do que vós!”
Ressalta-se,
neste ponto, o empenho que os fariseus e os escribas tinham em fazer
prosélitos, ou seja, fazer novos adeptos de sua religião.
Entretanto,
quando conseguiam converter alguém, em vez de direcioná-lo a prática da religião,
em sua essência, ao contrário, incentivavam as práticas exteriores, afastando
os homens de sua renovação interior. Tão grave era este desvio, que o Mestre
dizia que o novo convertido acabava por se tomar digno da “geena”.
Este termo
“geena”, cabe anotar, tinha o significado de “inferno”. Era utilizado pelo
Mestre, pois fazia parte da crença dos judeus. Salientamos, porém, que,
conforme elucida a Doutrina Espírita, tal lugar, de condenação ao “fogo
eterno”, não existe.
“Ai de vós,
condutores cegos, que dizeis: ‘Se alguém jurar pelo santuário, seu juramento
não o obriga, mas se jurar pelo ouro do santuário, seu juramento o obriga’.
Insensatos e cegos Que é maior, o ouro ou Santuário; que santifica o ouro?
Dizeis mais: ‘Se alguém jurar pelo altar; não é nada, mas se jurar pela oferta
que esta sobre o altar; fica obrigado’. Cegos! Que é maior a oferta ou o altar
que santifica a oferta? Pois aquele que jura pelo altar; jura por ele e por
tudo que nele esta. E aquele que jura pelo santuário, jura por ele e por aquele
que nele habita. E, por fim, aquele que jura pelo céu, jura pelo trono de Deus
e por aquele que nele está sentado.”
Esta
exortação chama a nossa atenção para aquilo que é mais importante. No ato
devocional do fiel, quando apresentava suas oferendas ao Templo, estava ele
exercitando um ritual de acordo com os costumes religiosos da época. Essa
prática deveria representar a exteriorização do sentimento íntimo de devoção a
Deus. Esse, portanto, era o verdadeiro objetivo da prática devocional externa.
Mas, muitos
a faziam de forma maquinal, vazia, sem sentimentos de adoração a Deus. Essa
superficialidade terminava apenas em obrigações para manter as aparências.
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, que pagais o dízimo da hortelã, do endro e do
cominho, mas omitis as coisas mais importantes da lei: a justiça, a
misericórdia e a fidelidade. Importava praticar estas coisas, mas sem omitir
aquelas. Condutores cegos, que coais o mosquito e engolis o camelo!”
A busca da
espiritualização não deve violar, abruptamente, os costumes e as tradições
religiosas. Deve-se respeitar todos os preceitos referentes à verdadeira
adoração. Podemos lembrar que Jesus, a propósito, afirmou que não veio para
destruir a Lei nem os Profetas.
Esse
caminho, obviamente, conduz, em última instancia, ao conhecimento da Verdade e,
em se libertando da ignorância, a vivência plena das Leis Divinas.
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, que limpais o exterior do copo e do prato, mas
por dentro estais cheios de rapina e intemperança! Fariseu cego, limpa primeiro
o interior do copo e do prato, para que também o exterior fique limpo!.”
Que mais
importa ao Homem para sua transformação interior?
Bem sabemos
que é a reformulação de seus valores.
Impossível é
ao Homem obter a iluminação espiritual, caso sua atenção esteja voltada apenas
para o exterior.
Quando
procura seguir os Mandamentos que, em sua essência, demandam o comportamento
integro e o respeito aos semelhantes, e se empenha em purificar os pensamentos
e harmonizar as emoções, é porque realmente compreendeu o significado legítimo
da religião.
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas! Sóis semelhantes a sepulcros caiados, que por
fora parecem belos, mas por dentro estão cheios de ossos de mortos e de toda
podridão. Assim também vós: por fora pareceis justos aos homens, mas por dentro
estais cheios de hipocrisia e iniquidade.”
Jesus, neste
outro trecho, uma vez mais evidencia a necessidade de compreendermos que o que
importa não é a aparência de virtude, mas, sim, o ato de ser virtuoso.
A
reafirmação deste preceito decorre da natural tendência do homem em permanecer
na superficialidade das coisas, e, desse modo, de não buscar a essência da
religiosidade.
“Ai de vós,
escribas e fariseus, hipócritas, que edificais os túmulos dos profetas e
enfeitais os sepulcros dos justos e dizeis: ‘Se estivéssemos vivos nos dias dos
nossos pais, não teríamos sido cúmplices deles no derramar o sangue dos
profetas’. Com isso testificais, contra vós, que sois filhos daqueles que
mataram os profetas. Completai, pois, a medida dos vossos pais!”
Deus, por
Sua Misericórdia, sempre enviou, a todas as partes do mundo, missionários
encarregados de trazer os preceitos divinos. Os hebreus, desse modo, também
tiveram seus profetas.
Ocorre, no
entanto, que nem sempre eles foram ouvidos, e, várias vezes, foram rejeitados.
Os escribas e fariseus, como seus pais, do mesmo modo, veneravam,
exteriormente, seus profetas, mas, em verdade, não os respeitavam.
Além dos
sete “ais” que constam do Evangelho de Mateus, os quais transcrevemos acima,
temos que registrar que no Evangelho de Marcos 12:38-40, há outra exortação de
Jesus reprovando a conduta dos escribas, motivo pelo qual muitos autores fazem
alusão a oito “ais”.
Esta outra
advertência, acrescentamos, pode ser encontrada também no Evangelho de Lucas
20:46-47. Eis a passagem anotada em Marcos:
“...Guardai-vos
dos escribas que gostam de circular de toga, de ser saudados nas praças
públicas, e de ocupar os primeiros lugares nas sinagogas e os lugares de honra
nos banquetes; mas devoram as casas das viúvas e simulam fazer longas preces.
Esses receberão condenação mais severa.”
Como podemos
notar, a natureza da advertência é a mesma. Aqui, há ainda o agravante da
conduta oportunista em obter lucro com o sofrimento alheio.
O Sermão dos
“ais” é concluído por Jesus com a clássica passagem abaixo que traduz sua
imensa compaixão pela Humanidade: “Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas
e apedrejas os que te são enviados, quantas vezes que eu quis ajuntar as teus
filhos, como a galinha recolhe seus pintinhos debaixo das asas, e não o
quiseste!”
Este Sermão
de Jesus, que, de forma vigorosa, conclama ao despertamento, leva-nos a
reflexão sobre quais são as condutas que verdadeiramente representam o
sentimento de religiosidade.
Todas as más
condutas aqui indicadas levam-nos, ainda, a meditação sobre outros ensinamentos
de Jesus, onde sempre encontraremos o incentivo a virtude.
Especialmente
a nos espíritas, lembra-nos, também, este Sermão dos “ais” que as práticas
exteriores não são mais necessárias àqueles que interiorizaram o conhecimento
da Boa Nova e exercem a verdadeira adoração a Deus, que é a prática plena da
Lei de Amor e Caridade.
QUESTÃO
REFLEXIVA
Por que
muitos Homens ainda têm dificuldade de se libertar das práticas religiosas
exteriores?
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém.
- Kardec, Allan - A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo Ed. FEESP.
10ª Aula -
As Predições do Evangelho e o Sermão Profético 53
- Godoy,
Paulo A. - Os Quatro Sermões de Jesus - Ed. FEESP.
- Franco
Divaldo/Amélia Rodrigues - Até o Fim dos Tempos.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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