O Sermão Do Cenáculo e o Consolador
Prometido
O Sermão do Cenáculo
Quando sua
hora já estava se aproximando, Jesus, antes da festa da Páscoa judaica (quando
se comemorava a libertação do dos hebreus do cativeiro no Egito), reuniu-se com
seus discípulos para a realização da ceia que ficaria eternizada como “A Última
Ceia”.
Naquela
ocasião, Jesus pronunciou seu último sermão aos discípulos: O Sermão do
Cenáculo, eis que se denominava cenáculo a sala em que se comia a ceia ou o
jantar.
O Mestre,
nesse inesquecível episódio, anunciou aos discípulos a sua partida, pois a Lei
das Escrituras tinha que ser cumprida. Falou-lhes, então, sobre a traição de
Judas e sobre o caminho de martírio que deveria percorrer.
Mas,
especialmente, notando o temor de seus discípulos, convocou-os a ter fé, a
perseverar; falou-lhes sobre a missão que lhes cabia, sobre a vinda do
Consolador...
Um dos
momentos mais significativos da Última Ceia, não há dúvida, foi o lava-pés.
Vejamos a narração contida no Evangelho de João:
O LAVA-PÉS
“Antes da
festa da Páscoa, sabendo Jesus que chegara a sua hora de passar deste mundo
para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”
(...)
"Chega, então, a Simão Pedro, que lhe diz.' ‘Senhor tu, lavar-me os pés?!
’ Respondeu-lhe Jesus: ‘O que faço, não compreendes agora, mas o compreenderás
mais tarde’. Disse-lhe Pedro: ‘Jamais me lavarás os pés’! Jesus respondeu-lhe:
‘Se eu não te lavar não terás parte comigo. Simão Pedro lhe disse: ‘Senhor não
apenas meus pés, mas também as mãos e a cabeça.’ Jesus lhe disse: ‘Quem se
banhou não tem necessidade de se lavar; porque está inteiramente puro. Vós
também estais puro, mas não todos. ’Ele sabia, com efeito, quem o entregaria;
por isso, disse: ‘Nem todos estais puros.'
Depois que
lhes lavou os pés, retomou o manto, voltou à mesa e lhes disse: ‘Compreendeis o
que vos fiz? Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem, pois eu o sou. Se,
portanto, eu, o Mestre e o Senhor; vos lavei os pés, também deveis lavar-vos os
pés uns aos outros. Dei-vos o exemplo para que, como eu vos fiz, também vós o
façais.
Em verdade,
em verdade, vos digo: ‘o servo não é maior do que o seu senhor nem o enviado
maior do que quem o enviou. Se compreenderdes isso e o praticardes, felizes
sereis.’." (Jo 13:1-17).
A
Humanidade, em geral, tem cena dificuldade para entender grandes verdades. É
que essas verdades são, por vezes, contrárias ao senso comum.
Se
considerarmos o conjunto dos valores do mundo, notaremos que há uma tendência
em atribuir demasiada importância, credibilidade, respeitabilidade àqueles que
figuram em destaque na sociedade frente aos valores mundanos; aqueles que
possuem títulos, que ocupam cargos, ou que possuem muitos bens materiais.
Essa
circunstância é exatamente o fator determinante de tal crença, ou seja, de que
os maiores seriam os melhores. Isto também era verdadeiro a época do Mestre.
No entanto,
os ensinamentos de Jesus vieram para inverter essa ordem, essa crença infundada.
Houve, na verdade, um empenho do Cristo em demonstrar o contrário pela
exposição da Boa Nova e, principalmente, por sua exemplificação.
Nesta
passagem, deixou-nos o Mestre a sublime demonstração de humildade, quando
protagonizou o episódio do lava-pés. Remontando àquela época, podemos citar que
o lava-pés era um costume habitual. Porém, cabia aos Servos lavar os pés de
seus senhores e não o inverso.
Esse
costume, como tantos outros, sempre privilegiam os senhores, aqueles que
exercem o poder transitório da Terra. É, pois, um hábito que exclui os mais
simples, pois estes, em geral, sempre serão aqueles que devem servir.`
Mas, como
disse o Mestre: “Pois o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para
servir e dar a sua vida em resgate por muitos.” (Mc 10:45).
A
exemplificação de Jesus, repetimos, neste episodio, é a mais pura consolidação
de seu ensino.
Aos
discípulos, no entanto, ou Pedro, em especial, simboliza a Humanidade em sua
resistência a aceitação desse preceito, ou seja, que o maior é aquele que se
faz menor.
Na obra “Boa
Nova”, lição 25, Humberto de Campos, pela psicografia de Francisco C. Xavier,
narra a explicação do Mestre: “Vós me chamais Mestre e Senhor e dizeis bem,
porque eu o sou. Se eu, Senhor e Mestre, vos lavo os pés, deveis igualmente
lavar os pés uns dos outros no caminho da vida, porque no Reino do Bem e da
Verdade o maior será sempre aquele que se fez sinceramente o menor de todos.”
O ANÚNCIO DA TRAIÇÃO DE JUDAS E A DESPEDIDA
“Tendo dito
isso, Jesus perturbou-se em seu espírito e declarou: ‘Em verdade, em verdade, vos
digo: um de vos me entregará’. Os discípulos entreolhavam-se, sem saber de quem
falava. Estava à mesa, ao lado de Jesus, um de seus discípulos, aquele que
Jesus amava. Simão Pedro faz-lhe, então, sinal e diz-lhe: ‘Pergunta-lhe quem é
aquele de quem fala. ’Ele, então, reclinando-se sobre o peito de Jesus,
diz-lhe: ‘Quem é, Senhor? ’Responde Jesus: ‘É aquele a quem eu der o pão que
umedecerei no molho.’ Tendo umedecido o pão, ele o toma e dá a Judas, filho de
Simão Iscariotes. Depois do pão, entrou nele satanás. Jesus lhe diz: 'Faze
depressa o que estas fazendo. ’Nenhum dos que estavam a mesa compreendeu porque
lhe dissera isso. Como era Judas quem guardava a bolsa comum, alguns pensavam
que Jesus lhe dissera: ‘Compra o necessário para a festa ’, ou que desse algo
aos pobres. Tomando, então, o pedaço de pão, Judas saiu imediatamente. Era
noite.” (Jo 13:21-36).
Entre os
judeus, era dominante a crença de que o Messias que deveria vir seria um líder
guerreiro, um libertador político, enfim, alguém que usaria a força para por
fim a dominação romana e estabelecer a “glória” do povo de Israel.
Judas, da
mesma forma, mantinha essa esperança. Assim, podemos afirmar que ele não
compreendeu a verdadeira essência da missão de Jesus.
Ao agir como
agiu, teria, por isso, desejado a condenação de Jesus?
A esse
questionamento, encontramos a resposta na mesma obra acima citada, lição 24,
onde Humberto de Campos narra: “A madrugada o encontrou decidido na embriaguez
de seus sonhos ilusórios. Entregaria o Mestre aos homens do poder em troca de
sua nomeação oficial para dirigir a atividade dos companheiros. Teria
autoridade e privilégios políticos. Satisfaria as suas ambições, aparentemente
justas, com o fim de organizar a vitória Cristã no seio de seu povo. Depois de
atingir o alto cargo com que contava, libertaria Jesus e lhe dirigiria os dons
espirituais, de modo a utilizá-los para a conversão de seus amigos e protetores
prestigiosos”.
Como vemos
nessa narrativa, Judas, embora amasse Jesus, deixou-se levar pela cobiça e pelo
desejo de poder. Por invigilância, como consta do relato, deixou-se ainda ser
influenciado pela espiritualidade inferior.
É relevante
notar que Jesus, quando se dirigiu a Judas, estava ciente de suas intenções,
pois podia sondar-lhe a alma. Mas por que, então, não tentou impedi-lo?
Jesus, como
constantemente repetiu, tinha vindo para cumprir a Lei. Como haviam previsto os
antigos profetas, o Messias seria aquele que traria a mensagem redentora a
Humanidade; porém, pela incompreensão dos Homens, seria por eles sacrificado.
Assim, deixaria o exemplo indelével de renúncia e Amor incondicional por todos
nós.
Para nós,
desta narrativa, fica o ensinamento da necessidade de vigilância, em todos os
momentos, para que não nos deixemos levar pelas nossas limitações e pelas
influências negativas que nos cercam, mesmo quando nos propomos a trilhar o
caminho do Bem.
EU SOU O CAMINHO A VERDADE E A VIDA
“Tomé lhe
diz: ‘Senhor não sabemos aonde vais. Como podemos conhecer o caminho? ’ Diz-lhe
Jesus: ‘Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida. Ninguém vem ao Pai a não ser por
mim. Se me conheceis, também conhecereis meu Pai. Desde agora o conheceis e o
vistes.’.” (Jo 14:5-7).
Esta
afirmação de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida.”, está entre aquelas
que se eternizaram através dos séculos, pois é uma síntese de sua doutrina, da
natureza divina de sua mensagem e do propósito final. Com efeito, cada uma das
palavras dessa afirmativa, contém todo um ensinamento. Vejamos:
O Caminho
O Espírito,
bem sabemos, nasce simples e ignorante. Em sua jornada evolutiva há um impulso
natural e constante ao aprendizado. Esse desejo de conhecer é, pois, o que
anima a incansável busca do Espírito de se melhorar, de se aprimorar, tomando-o
capaz de escolher a melhor trajetória para se evitar sofrimentos e aflições e
alcançar a felicidade.
Na História
da Humanidade, muitos foram os missionários enviados para nortear os Homens,
resgatando-os da ignorância, e conduzindo-os para um caminho de sabedoria. No
entanto, todos eles, em algum momento de suas missões, sentiram medo,
hesitação, e, por vezes, equivocaram-se.
Em Jesus,
encontramos o ápice desse ato de condução: condução amorosa, segura e exata
para seguirmos rumo à plenitude.
A Verdade
Em nosso
mundo temos um grandioso acervo, através de inúmeras obras, que nos trazem
arte, cultura, ciência, filosofia e religiosidade. Especialmente em relação à
religiosidade, são muitos os livros chamados sagrados.
Contudo,
como a Humanidade é um constante avançar, esse conhecimento vai sendo depurado,
aprimorado; vai se mantendo a essência divina e se extraindo as impropriedades,
os desvios acrescentados pela natureza humana.
O ensino
moral de Jesus, como afirma Kardec na Introdução de "O Evangelho Segundo o
Espiritismo”, permanece inatacável, e prossegue: “É o terreno em que todos os
cultos podem encontrar-se, a bandeira sob a qual todos podem abrigar-se, por
mais diferentes que sejam as suas crenças. Porque nunca foi objeto de disputas
religiosas, sempre e por toda parte provocadas pelos dogmas”.
A Vida
Aqui na
Terra, muito grande ainda é o apego às coisas materiais, as paixões humanas.
Essa condição, quando ao extremo, leva o Ser à “cegueira” para a verdadeira
vida.
Essa
circunstancia de “não ver”, de “não ouvir”, é, justamente, o que impede,
temporariamente, o Homem de perceber suas potencialidades e se libertar do
casulo da ignorância. Por isso, figuradamente falando, essa condição
assemelha-se a morte: morte espiritual.
Jesus é
Vida. Jesus é o Médico das Almas, eis que seus ensinamentos, seus exemplos, vêm
despertar-nos do entorpecimento, da inação, do comodismo, para a plenitude da
Vida.
SE ALGUEM ME AMA, GUARDARÁ MINHA PALAVRA
“Judas - não
Iscariotes - lhe diz: ‘Senhor por que te manifestarás a nós e não ao mundo?’
Respondeu-lhe
Jesus: ‘Se alguém me ama, guardará minha palavra e meu Pai o amará e a ele
viremos e nele estabeleceremos morada. Quem não me ama não guarda minhas
palavras; e minha palavra não é minha, mas do Pai que me enviou’.” (Jo
14:22-24).
Jesus,
reiteradamente, dizia: “os que tiverem ouvido de ouvir ouçam”.
Notamos que
Judas Tadeu, neste trecho, surpreende-se por Jesus fazer a eles revelações que
não faria ao povo em geral. Nem todos estão prontos para certos conhecimentos.
Lembremos a máxima: “Quando o discípulo está pronto, o Mestre aparece.” Os
discípulos estavam prontos para a missão que lhes competia.
No Sermão do
Cenáculo, Jesus fez muitas revelações que, repetimos, nem todos estavam
preparados para ouvir. Mas, ao mesmo tempo, trouxe lições sublimes de
perseverança, de fé, e, especialmente, do Amor incondicional.
O amor por
Jesus traduz-se pela nossa perseverança em seguir os seus ensinamentos, ou
seja, guardando a sua palavra, que representa a Lei Divina.
QUESTÃO
REFLEXIVA
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afirmação de Jesus: “Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”.
Fonte da
imagem: Internet Google.
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