Os Sermões do Novo Testamento
Sermões
do Monte, Profético, do Cenáculo, dos Oito “Ais”
A palavra
SERMÃO significa discurso religioso, doutrinário ou moral; pode ter também o
sentido de uma repreensão, uma admoestação ou crítica com a intenção de
moralizar, corrigir um comportamento ou situação.
No Novo
Testamento, estão relatados quatro sermões proferidos por Jesus em sua vida
pública, em seus contatos e diálogos com as pessoas, cada um deles com
destinação e objetivos definidos:
1) Sermão do Monte ou da Montanha ou das
Bem-Aventuranças (Mt 5:1-12; Lc 6:20-23):
Bem-aventurados
os pobres no espírito, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados
os mansos porque herdarão a terra.
Bem-aventurados
os aflitos, porque serão consolados.
Bem-aventurados
os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Bem-aventurados
os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Bem-aventurados
os puros de coração, porque verão a Deus.
Bem-aventurados
os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Bem-aventurados
os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino dos Céus.
Bem-aventurados
sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra
vos por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa
recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes
de vos.
Iniciando
sua vida publica, Jesus foi morar em Cafarnaum, começando então a pregar, e
logo as multidões o seguiam.
O Sermão da
Montanha foi uma das primeiras mensagens coletivas de Jesus ao povo judeu e a
Humanidade.
Podemos
imaginá-lo falando com imensa doçura à multidão que o escutava, os olhos cheios
de luz e amor, as palavras consolando e curando as almas doloridas.
Este é o
mais profundo, expressivo e também o mais conhecido dos Sermões de Jesus e foi
pronunciado aos pés de um monte próximo ao Mar da Galiléia (Lago de Genesaré).
Nele, Jesus
se mostra em toda a sua plenitude espiritual e convida a Humanidade a uma
reflexão interior, mostrando a bondade, a justiça e o acolhimento de Deus a
todos os seus filhos, sem exceção. O Mestre não condena a Lei existente, mas
traz uma nova interpretação da moral bíblica, conduzindo as pessoas a uma interiorização
e aprofundamento dos seus ensinamentos e ao desejo de se transformar
intimamente.
Jesus
explica a todos como devem viver para chegar a perfeição espiritual e apresenta
um Deus de Amor e Paz, que jamais deixa de ouvir nenhum de seus filhos. As
pessoas ficavam surpresas e encantadas ao ouvirem uma interpretação das
Escrituras tão diferente da ensinada pelos sacerdotes e fariseus, uma Lei dura,
cheia de rituais e imposta pelo medo.
No Sermão da
Montanha, Jesus convida o Homem a abandonar o “homem velho”, sua inferioridade
espiritual, suas antigas crenças, vícios e hábitos e a deixar surgir em si
mesmo o “homem novo”, edificado em novos e verdadeiros Valores morais.
2) Sermão Profético (Mt 24:1-51 e
25:1-30; Lc 21:5-7; Mc 13:1-4):
Este Sermão,
também chamado de Discurso Escatológico (previsões sobre a consumação do tempo
e da história), foi pronunciado no Horto das Oliveiras e revela uma serie de
profecias (predições ou previsões do futuro), as mais importantes do Novo
Testamento: descreve acontecimentos que ocorreriam nos anos ou séculos
seguintes, por causa da dureza dos corações humanos, que resistiam e resistem,
ainda hoje, em acolher e viver a mensagem de amor trazida pelo Mestre.
Pelas
palavras que Jesus usou nesse Sermão, pode-se perceber nele uma certa tristeza,
pela incompreensão dos homens diante de seus ensinamentos, cujo objetivo básico
é a transformação moral da Humanidade.
Entre outras
profecias, Jesus descreve a destruição do Templo de Jerusalém, que se cumpriu
no ano 69 d.C., quando o exército romano de Tito invadiu Jerusalém.
O Mestre
descreve também o sofrimento que estava por vir pela ação dos falsos profetas,
aqueles que, embora conhecedores das verdades espirituais deturpam e manipulam
os ensinamentos evangélicos para seu beneficio próprio, submetendo os
desavisados ao seu poder de dominação e sedução, a fé cega, ao fanatismo, ao
ritualismo, a discórdia e a superstição.
Jesus fala
da perseguição e morte dos seus discípulos, os daquela época e os que o
seguissem no futuro, pagando com a própria vida a defesa dos princípios
ensinados por ele; alerta sobre guerras, fome e outras tragédias que atingiriam
a Humanidade pela persistência do Homem no orgulho e no egoísmo, pelo seu apego
as instituições, dogmas e as ideias moralmente distorcidas.
Em “A
Gênese”, Cap. XVIII, it. 9, Kardec escreve: *...] a Humanidade se transforma
como já se transformou noutras épocas, e cada transformação é marcada por uma
crise que é, para o gênero humano, o que são as crises de crescimento para os
indivíduos; crises, muitas vezes penosas, dolorosas, que arrastam consigo as
gerações e as instituições, mas, sempre seguidas de uma fase de progresso
material e moral”.
O retorno de
Jesus, também citado por ele, não afirma um retorno físico, mas a vitória de
seus ensinamentos, a compreensão e a vivência da Lei do Amor pelos homens,
instalando no planeta um mundo novo de paz e progresso, quando eles aprenderem
não apenas a ler, mas, sobretudo a viver os Evangelhos.
No Sermão Profético,
Jesus nos legou ainda algumas analogias e três parábolas que resumem todo o ensinamento
e as advertências do Mestre para que possamos superar as tribulações e os
sofrimentos causados pela nossa pouca evolução espiritual do “Mordomo ou dos
Dois Servos” (Mt 24:45-51), das “Dez Virgens” (Mt 25:1-13) e dos “Talentos” (Mt
25:14-30).
Nesse Sermão
são descritas grandes dificuldades, mas é preciso enxergar através e além da
dor, a mensagem de esperança e de certeza num futuro muito melhor, construído
pela transformação moral dos seres humanos. Para construir, muitas vezes é
necessário destruir. (LE. – Lei de destruição).
3) Sermão do Cenáculo (Mc 14:1-31; Mt
26:1-35; Lc 22:1-38; Jo 13:1-38; 14:1-31;15:1-27; 16:1-33; 17:1-26):
Esse Sermão
é conhecido como “Sermão do Cenáculo”, por ter acontecido num recinto fechado,
uma sala para refeições, um lugar onde Jesus se reuniu com os doze discípulos
para a ceia da Páscoa Judaica, a última que faria na vida terrena junto a
aqueles a quem tanto amava. E ali ele preveniu e preparou os discípulos para os
acontecimentos que iriam ocorrer nos próximos dias.
Para os
judeus, a Páscoa (Pesach = passagem) é a data em que comemoram sua saída do
Egito, o fim de uma longa e sofrida escravidão.
Para os
cristãos, a Páscoa relembra a ressurreição de Jesus e tem um sentido simbólico
de libertação, pois demonstra, sem duvida, a imortalidade da alma, que não fica
presa a vida física nem se anula com a morte, mas representa, sobretudo, a
renovação do Espírito, o fim da escravidão da ignorância espiritual.
Nessa ceia,
Jesus partilhou com os discípulos o pão e o vinho, simbolizando a sua entrega
total de amor pela Humanidade. Foi também nessa ocasião que ele nos deixou uma
profunda lição de humildade, ao lavar os pés dos discípulos e mostrar que a
autoridade só pode ser entendida como função de servir aos outros. O amor conduz
ao sentimento fraterno e exclui qualquer tipo de superioridade entre as
pessoas.
Ele se
despede dos discípulos e reafirma sua ida para o Pai, com as palavras que
talvez sejam o seu mais belo pronunciamento, nos entregando o mandamento maior
da Lei e nos dando a diretriz que deve nortear o nosso comportamento como seres
humanos irmãos:
Em João
13:33-35: “Filhinhos, por pouco tempo ainda
estou convosco. Para onde vou vós não podeis ir. Dou-vos um mandamento novo: Que
vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Nisto reconhecerão todos que sois
meus discípulos se tiverdes amor uns aos outros”.
O Mestre
anunciou também a vinda do Paráclito (o Consolador, o Espírito de Verdade).
Esta predição é uma das mais importantes, do ponto de vista religioso, porque
em Suas palavras se percebe claramente que: Jesus não disse tudo o que tinha a
dizer, mas caberia a “outro Consolador” complementar e relembrar os seus ensinamentos;
quando se refere a “outro Consolador”, é obvio que Jesus não se reporta a si
mesmo; e quando diz que esse Consolador ficaria eternamente conosco, ele não
poderia ser uma pessoa, mas poderia ser uma doutrina consoladora inspirada pelo
Espírito de Verdade.
A Doutrina
Espírita tem as condições para ser o Consolador prometido por Jesus, pois não é
uma doutrina individual, nem de concepção humana, mas foi uma Doutrina trazida
por uma coletividade de Espíritos; não suprime nada do Evangelho, antes o
complementa e esclarece; com a ajuda das novas leis que revela, aliadas as leis
que a Ciência já descobriu e continua descobrindo, permite o entendimento do
que era até então incompreensível ou inadmissível para nós.
Em “O
Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. VI, “O Cristo Consolador”, it. 4, Kardec
escreve: “O Espiritismo vem, no tempo assinalado, cumprir a promessa do Cristo:
o Espírito de Verdade preside ao seu estabelecimento. [...] O Cristo disse:
“que ouçam os que têm ouvidos para ouvir”. O Espiritismo vem abrir os olhos e
os ouvidos, porque ele fala sem figuras e alegorias. Levanta o véu
propositadamente lançado sobre certos mistérios e vem, por fim, trazer uma
suprema consolação aos deserdados da Terra e a todos os que sofrem, ao dar uma
causa justa e um objetivo útil a todas as dores”.
Terminada a
ceia, Jesus orou serena e amorosamente por ele mesmo, pelos discípulos e por
todos os que viriam a ser seus seguidores em todas as épocas e foi com eles
para o Jardim de Getsêmani, onde deveria acontecer a prisão e o inicio de sua
paixão.
4) Sermão dos oito “Ais” (Mt 23:13-36):
Este Sermão
foi uma severa repreensão aos escribas (Doutores da Lei) e Saduceus, mas
principalmente aos fariseus, a mais influente seita entre os judeus. Eles
cerceavam a liberdade religiosa e moral do povo, devido ao poder e domínio que
detinham e a imposição de suas ideias cristalizadas e apego aos rituais.
É chamado
“Sermão dos Oito Ais”, porque a maioria das advertências do Mestre iniciavam-se
com as palavras: ‘Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas...”
Na Bíblia de
Jerusalém, em Mt 23:13-36, são consideradas sete advertências de Jesus aos
fariseus, mas levando-se em conta também o trecho encontrado em Mc 12:40 e Lc
20:47, elevam-se a oito as suas repreensões a eles, a quem se dirige
enfaticamente.
Jesus
adverte-os principalmente a respeito das falsas virtudes com que se
apresentavam publicamente, da corrupção e da desonestidade de seus propósitos
perante os menos favorecidos intelectual e socialmente, da injustiça que praticavam
de todas as maneiras. E os chama de serpentes e raça de víboras, alertando-os
sobre as consequências espirituais no futuro.
Por isso não
hesitaram em insuflar e manipular a multidão que dominavam com tanta
facilidade, para condenar Jesus à morte.
QUESTÃO
REFLEXIVA
No Sermão da
Montanha, Jesus ensinou-nos o caminho para a nossa transformação individual e
coletiva. Faça uma reflexão sobre esse ensinamento na sua vida diária.
Fonte da imagem: Internet Google.
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