A Sinceridade do Jejum
O
Jejum
A SINCERIDADE DO JEJUM
“Quando
jejuardes, não tomeis um ar sombrio como fazem os hipócritas, pois eles
desfiguram seu rosto para que seu jejum seja percebido pelos homens. Em verdade
vos digo: já receberam sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, unge tua
cabeça e lava teu rosto, para que os homens não percebam que estas jejuando,
mas apenas teu Pai, que esta lá no segredo; e teu Pai, que vê no segredo, te
recompensará.” (Mt 6: 16 a 18).
Ao
consultarmos um dicionário veremos que o termo jejum significa abstinência ou
redução de alimentos em certos dias por penitência ou por preceito referente a
alguma igreja ou seita; abstenção, privação.
Esta prática
é comum em diversas religiões. Porém, será tal ato aprazível a Deus? O fato de
Jesus comentar na passagem do Evangelho não significa que ele recomendava tal
prática. Entretanto, como era costume na época, Jesus aproveita o ensejo para
orientar qual é a maneira correta respeitando o momento cultural do povo. Vemos
o tema melhor esclarecido nas passagens a seguir.
Há algum
mérito em jejuar?
As questões
referentes ao jejum nos remetem a outra. Desde que Jesus disse:
“Bem-aventurados os aflitos”, ha mérito em procurar as aflições, agravando as
provas por meio de sofrimentos voluntários? A questão 721 de “O Livro dos
Espíritos” esclarece-nos que a vida de mortificações dos devotos e dos
místicos, praticada desde a antiguidade e entre diferentes povos, é meritória
somente no sentido de renegar-se a si mesmo e trabalhar para os outros,
conforme a caridade Cristã.
Na questão
723, acrescenta que “A lei de conservação impõe ao homem o dever de conservar
as suas energias e a sua saúde, para poder cumprir a lei do trabalho. Ele deve
alimentar-se, portanto, segundo o exige a sua organização”.
Neste mesmo
capitulo, na questão 726, os Benfeitores Espirituais explicam que “Os únicos
sofrimentos que elevam são os naturais, porque vêm de Deus. Os sofrimentos
voluntários não servem para nada, quando nada valem para o bem dos outros”.
Analisando a
questão por outra vertente, vemos que Paulo de Godoy (“Os quatro Sermões de
Jesus”, cap. “O Jejum”) lembra a parábola do Fariseu e o Publicano onde vemos o
orgulhoso fariseu firmar de forma solene: “Jejuo duas vezes por semana, e dou o
dízimo de tudo quanto possuo”. É o próprio Mestre que dá a sentença na parábola:
“Eu vos digo que este último desceu para casa justificado (O Publicano), o
outro não (o Fariseu). Pois todo que se exalta será humilhado, e quem se
humilha será exaltado” (Lc 18:14). Assim, vemos que tudo depende da intenção e
de nada adianta as mortificações frente a uma vida de arrogância e de egoísmo.
Qual é o
sacrifício mais valido?
Tendo como
referência Isaias (58:6), Paulo de Godoy esclarece que o verdadeiro jejum
consiste em “soltar as ligaduras da impiedade, desfazer as ataduras do jugo,
libertar os quebrantados, despedaçar todo o jugo, repartir o pão com o faminto,
acolher os pobres desabrigados, cobrir o nu”. O autor comenta ainda que o jejum
“é algo mais do que deixar de ingerir determinados alimentos, em certos dias ou
hora. O verdadeiro jejum consiste em procurar ser bom, abster-se da prática da
imoralidade, despedaçar o jugo da vaidade, do ódio, do egoísmo e de muitos
outros vícios que degradam o homem” (“Os quatro Sermões de Jesus”).
A observação
do autor concorda com a recomendação das questões 726 e 727 de “O Livro dos
Espíritos”: “Que visitem o indigente, consolem o que chora, trabalhem pelo que
esta enfermo, sofram privações para o alivio dos infelizes e então sua vida
será útil e agradável a Deus. Quando, nos sofrimentos voluntários a que se sujeita,
o homem não tem em vista senão a si mesmo, trata-se do egoísmo; quando alguém
sofre pelos outros, pratica a caridade: são estes os preceitos do Cristo.
”Fustigai o
vosso Espírito e não vosso corpo, mortificai o vosso orgulho, sufocai o vosso
egoísmo, que se assemelha a uma serpente a vos devorar o coração, e fareis mais
pelo vosso adiantamento do que por meio de rigores que mão mais pertencem a
este século.”
Segue na
mesma linha o Espírito que se intitula “Um Anjo da Guarda”, no cap. V - “Bem
Aventurados os aflitos”, item 26, de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”,
recomendando que devemos nos contentar com as provas que Deus nos manda,
aceitando-as sem queixa e com fé. Acrescenta ainda que não devemos enfraquecer
o nosso corpo com privações inúteis e macerações sem propósito, porque “tendes
necessidade de todas as vossas forças, para cumprir a vossa missão de trabalho
na Terra”.
Vale lembrar
que tudo depende da intenção. Vemos ainda nesse capitulo que se o objetivo for
aliviar o próximo, como suportar o frio e a fome para agasalhar e alimentar
aquele que necessita, apesar do sofrimento causado ao nosso corpo, é um
sacrifício abençoado por Deus. Há sim um grande mérito, quando os sofrimentos e
as privações têm por fim o bem do próximo, porque se trata da real caridade.
Porém, quando eles só têm por fim o bem próprio, trata-se de egoísmo ou
fanatismo.
O jejum
apaga nossas faltas?
A prática do
jejum ou qualquer tipo de mortificação aplicada no corpo, de forma alguma apaga
as falhas cometidas. Estas somente poderão ser resgatadas em novas
oportunidades que o Pai Misericordioso nos concede. As qualidades morais e
espirituais somente são conquistadas no desenrolar das vidas múltiplas, em prolongado
processo de aprimoramento, tendo como destinação a eternidade.
Além de não
ser reconhecido pela Espiritualidade, muitos dos praticantes do jejum mostravam
seus rostos desfigurados, para que todos vissem que eram autênticos seguidores
das normas religiosas. “Já receberam sua recompensa” comenta o próprio Mestre.
O jejum como autopunição ou promocional, como no caso dos judeus que se vestiam
com panos grosseiros e atiravam cinzas as cabeças apenas chamam a atenção, mas nada
acrescenta. Mesmo o jejum alimentar, condicionado a limpeza orgânica, deve ser
discreto. Não há motivos para estar contristados como recomenda Jesus, e sim
para serenidade e confiança nos nossos momentos reflexivos.
Em Mateus
15:11, Jesus ensina-nos que: “Não é o que entra pela boca que torna o homem
impuro mas o que sai da boca, isto sim o torna impuro. Do coração procedem maus
desígnios, homicídios, adultérios, prostituição, furtos, falsos testemunhos,
blasfêmias...”.
E no
versículo 19: “Com efeito, é do coração que procedem más intenções,
assassínios, adultérios, prostituições, roubos, falsos testemunhos e
difamações...”
O principal
jejum para o cristão é o jejum do mal que praticamos.
Concluindo
este tema, no final do cap. V de “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, vemos uma
citação que agrega muito valor a aqueles que buscam no jejum e nos sacrifícios
uma forma de se elevarem: “Se quiserdes um cilício, aplicai-o a vossa alma e
razão ao vosso corpo; mortificai o vosso Espírito e não a vossa carne; fustigai
o vosso orgulho; recebei as humilhações sem vos queixardes; machucai o vosso
amor próprio; insensibilizai-vos para a dor da injuria e da calúnia, mais pungente
que a dor física. Eis ai o verdadeiro cilício, cujas feridas vos serão
contadas, porque atestarão a vossa coragem e a vossa submissão a vontade de
Deus”.
A PORTA ESTREITA
“Tudo
aquilo, portanto, que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles, pois
esta é a Lei e os Profetas. Entrai pela porta estreita, porque largo e espaçoso
é o caminho que conduz à perdição. E muitos são os que entram por ele.
Estreita, porém, é a porta e apertado o caminho que conduz a vida. E poucos são
os que o encontram.” (Mt 7: 12-14).
O tema é
tratado no cap. XVIII “Muitos os chamados e poucos os escolhidos” de “O
Evangelho Segundo o Espiritismo” e refere-se justamente à luta entre as
facilidades que o mundo das ilusões nos proporciona e as dificuldades que
encontramos no caminho da reforma interior. “A (porta) da salvação é estreita,
porque o homem que deseja transpô-la deve fazer grandes esforços para vencer as
suas más tendências e poucos se resignam a isto.” Dai a tão conhecida frase
proferida por Jesus: “São muitos os chamados e poucos os escolhidos”.
Porta
estreita é sinônimo de caminho da responsabilidade, do trabalho, do esforço
interior, da maternidade, da paternidade, dos encargos. Ele é espinhoso,
pedregoso, estreito e não oferece quase nenhum atrativo. Por isso são poucos os
que o procuram (Paulo Godoy, “Os quatro sermões de Jesus”, cap. “A porta
estreita”).
Acabam por
preferir o caminho mais fácil ligado às comodidades e ilusões que a vida
proporciona.
Sendo a
Terra um mundo de expiações e provas, é de se compreender que a Humanidade se
direcione mais à porta larga, influenciados pelas facilidades que a falta de
compromisso com o bem comum acarreta. À medida que o planeta se elevar para um
mundo de regeneração, 0 caminho do bem será o mais frequentado. Cairbar Schutel
em Parábolas e Ensinos de Jesus, cap. “A vida na Terra e a vida eterna” comenta
que o objetivo da vida na Terra é o aperfeiçoamento do Espírito: “Aquele que
assim compreende eleva- se, dignifica-se, e livre dos entraves materiais, sobe
as alturas inacessíveis ao sofrimento, alcançando a felicidade eterna.”
Livrar-se desses entraves é justamente seguir pela porta de maior dificuldade.
Para Paulo
Godoy “Quando Jesus teria sido maior”, cap. “Reforma intima, já!” devido a
esses entraves “muitas pessoas demoram no caminho da vida sem cuidar do seu
aprimoramento“. Por diversas razões afundam-se nas aberrações dos vícios e nos
desvarios dos crimes e mesmo em face aos diversos bons exemplos, preferem continuar
caminhando pela porta larga. Com isto, “levam para o túmulo toda uma gama de
contravenções à lei de Deus e isso, obviamente, demandará uma série prolongada
de dolorosos reajustes nos planos espirituais e nas vidas futuras”.
O Homem
sensato procura sempre saber que caminho percorre, como conhecê-lo e vencer
seus obstáculos. O sentido filosófico desse ensino é a continua luta entre o
Bem e o Mal, na qual o Homem, incansavelmente, vai edificando o seu Espírito.
Maria
Madalena é um bom exemplo da porta estreita. Rica, sem dificuldades, depois de
conhecer o Mestre, deixou tudo para trás e optou pela porta estreita. Dedicou
sua vida aos pobres, dedicou-se a cuidar de leprosos, vindo a morrer dessa
mesma doença. Perdeu sua vida terrena, mas a ganhou em Espírito.
Jesus
mostra-nos o caminho. A frase “Tudo o que quereis que os homens vos façam,
fazei-o a vós a eles." É semelhante ao ensinamento “Amarás ao teu próximo
como a ti mesmo”. Colocando em prática tão simples, mas ao mesmo tempo tão
profunda regra, certamente estaremos decidindo pelo caminho do sacrifício abraçando
a causa do aperfeiçoamento espiritual, perseverando na observância dos
ensinamentos evangélicos, trilhando o caminho estreito, abrindo o coração para
que se aninhem nele os sentimentos do bem, permitindo que receba “pequenina
semente que ali desabrochar e produzir coisas maravilhosas, ao ponto de
sentirmos em íntimo contato com os Benfeitores Espirituais” Paulo Godoy, “O
Evangelho pede licença”, cap. “O Reino dos Céus”, proporcionando assim a grande
oportunidade de ver brotar o Reino dos Céus dentro de nós.
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Reflita e
comente sobre o “sacrifício mais agradável a Deus”.
Fonte da imagem: Internet Google.
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