A Verdadeira Riqueza
“Não
ajunteis para vós tesouros na terra, onde a traça e o caruncho os corroem e
onde os ladrões arrombam e roubam, mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde
nem a traça, nem o caruncho corroem e onde os ladrões não arrombam nem roubam;
pois onde está teu tesouro ai estará também teu coração”. (Mt 6:19-21).
“Ninguém
pode servir a dois senhores”. Com efeito, ou odiará um e amará o outro, ou se
apegara ao primeiro e desprezarás segundo.
Não podeis
servir a Deus e ao Dinheiro. Por isso vos digo: não vos preocupeis com a vossa
vida quanto ao que haveis de comer; nem com o vosso corpo quanto ao que haveis
de vestir. Não é a vida mais do que o alimento e o corpo mais do que a roupa?
Olhai as aves do céu: não semeiam, nem colhem, nem ajuntam em celeiros. E, no
entanto, vosso Pai celeste as alimenta. Ora, não valeis vós mais do que elas?
(...) “Observai
os lírios do Campo, como crescem, e não trabalham e nem fiam. E, no entanto, eu
vos asseguro que nem Salomão em toda a sua glória, se vestiu como um deles...”
(Mt 6:24-29).
Jesus
encoraja-nos a “buscar primeiro o Reino dos Céus”. Este convite consiste na
busca dos Valores espirituais que são eternos e alimentam nossa alma em
detrimento das preocupações materiais.
Estas
preocupações devem residir em segundo plano. Até mesmo porque não possuímos
como nosso senão aquilo que podemos levar deste mundo. O Espírito Pascal ESE,
cap. XVI- “A verdadeira propriedade” cita que aquilo que o Homem encontra ao
chegar e deixa ao partir, goza durante a sua permanência na Terra, mas, desde
que é forçado a deixá-los, é claro que só tem o usufruto, e não a posse real.
Donde se conclui que o Homem possui “... Nada do que se destina ao uso do corpo,
e tudo o que se refere ao uso da alma: a inteligência, os conhecimentos, as qualidades
morais...”.
Neste mesmo
capitulo, Pascal ilustra comentando que “...Quando um homem parte para um país
longínquo, arruma a sua bagagem com objetos de uso nesse pais, e não se carrega
de coisas que lhe seriam inúteis. Fazei, pois, o mesmo, em relação a vida
futura, aprovisionando-vos de tudo o que nela vos poderá servir”. Quando se chega
ao mundo dos Espíritos, a “posição a ser ocupada” dependerá das posses em
termos de virtudes conquistadas e moral alcançada, nunca a conquista se dará em
função de tesouros materiais. Não será computado o valor dos bens, mas sim, a
prática do bem.
Corroborando
com a ideia, o Espírito Lacordaire ESE, cap. XVI - “Desprendimento dos bens
terrenos” alerta-nos que nosso apego aos bens terrenos é um dos mais fortes
entraves ao adiantamento moral e espiritual.
Deixamos de
lado as coisas afetivas e voltamo-nos inteiramente para as coisas materiais.
Iludidos, acreditamos que alcançaremos a tão almejada felicidade e quando nos
damos conta, estamos cegos e escravizados por bens totalmente passageiros.
Alias, podemos constatar em inúmeras situações que o fato de estarmos com os cofres
cheios não faculta a felicidade.
Infelizmente,
empreendemos a maior parte do nosso tempo debruçado em questões materiais,
deixando para Segundo plano nossa atenção para as coisas espirituais. Será que
se soubéssemos que a morte inflexível estivesse a nos rodear para nos levar a
qualquer momento, teríamos tanto apego a bens tão passageiros? É o que ilustra
a parábola do rico avarento: “Insensato, nessa mesma noite ser-te-á reclamada à
alma. E as coisas que acumulaste, de quem serão? Assim acontece aquele que
ajunta tesouros para si mesmo, e não é rico para de Deus.” (Lc 12:20).
A parábola é
uma síntese do trágico fim de todos aqueles que não veem a felicidade senão no
dinheiro e se constituem em seus escravos incondicionais. “O que valem riquezas
efêmeras, sombras de felicidade que se esvaem, fumo de grandezas que desaparecem
à primeira visita de uma enfermidade mortal?”, é o que comenta Cairbar Schutel
Parábolas e Ensinos de Jesus, cap. “Parábola do Avarento”.
A
riqueza material
Não se trata
de uma critica à riqueza, pois sabemos que esta é necessária. A riqueza tem sua
utilidade como recurso para execuções de trabalhos com vistas ao progresso
individual e coletivo, bem como prova e testemunho da reforma interior, num
programa de altruísmo. É para ser usada como instrumento de progresso.
A fortuna
que o Homem conquista de forma honrada é muito justa.
Vemos no
capitulo V (Lei da Conservação) e capitulo VIII (Lei do Progresso) da terceira
parte de “O Livro dos Espíritos” que não há condenação à riqueza, mas sim a seu
uso indevido. Kardec comenta na questão 714a que: “O homem que procura, nos
excessos de toda espécie, um refinamento dos gozos, coloca-se abaixo dos
animais, porque estes sabem limitar-se à satisfação de suas necessidades...”.
O que é
condenado é o apego que absorve os demais sentimentos e paralisa os impulsos do
coração, tomando o Homem escravo dos bens supérfluos. É Lacordaire que nos
alerta, em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XVI, item 14: “... tudo
promana de Deu, tudo retorna a Deus”.
Nada vos
pertence na Terra, nem sequer o vosso pobre corpo... Sois depositários e não
proprietários...”.
No livro “Os
quatro Sermões de Jesus” Cap. “Servir a dois senhores”, Paulo Godoy lembra que
há muitos homens que tem conseguido servir a Deus com suas riquezas, pois tem
feito com que elas sejam aplicadas no amparo aos menos favorecidos.
Infelizmente, para a maioria, a posse de bens materiais representa enorme entrave
para a libertação espiritual. Os seres humanos ao encarnarem que escolhem a
posse de riquezas muito dificilmente conseguem fazer delas um instrumento para
sua redenção espiritual. Por isso Jesus ensinava sobre a dificuldade de se
“servir a dois senhores”. Se a pobreza é prova de resignação e paciência, a
riqueza requer testemunhos de caridade e altruísmo.
E neste
mesmo sentido que Caibar Schutel em Parábolas e Ensinos de Jesus, cap. “A Prova
da Riqueza” comenta que o homem rico tem mais dificuldades a vencer que o
pobre. Apesar de Deus não condenar a riqueza e ninguém ser condenado por isso,
na luta do homem rico há temperos diferentes, pois “além de tratar de si e dos
seus, além de procurar manter as exigências sociais, além de estudar e estudar
muito porque dispõe de mais tempo que o pobre, ainda lhe cabe o dever restrito
de exercer a caridade”.
A Avareza
A avareza,
esta sim é preciso tirá-la fora de nossas vidas. A avareza não se refere a
apenas ao dinheiro. A importância exagerada que damos aos nossos pertences, a
ponto de nos desequilibrarmos na ansiedade, a mania de guardar indeterminadamente,
mesmo sem usar, certas roupas ou pertences pessoais, sem justificativa para não
doá-los, já caracteriza os primeiros degraus do avaro, podendo tomar-se uma
verdadeira doença obsessiva, resultado do egoísmo e da ambição.
Uma vez
identificada em nosso interior, deve-se partir para um verdadeiro processo de
reforma, procurando de forma sensata e generosa exercitar o desapego,
aprendendo a contentar-se com menos, considerando os bens que possuímos como
empréstimos que nos foram constituídos para que pudéssemos nos aprimorar. Um bom
exemplo a seguir temos na história de Jó (Livro de Jó, Antigo Testamento),
considerada uma das mais belas histórias de prova e fé. De muito próspero que
era, chegou a perder tudo, inclusive a família, e mesmo na mais profunda
miséria, confirmava seu testemunho de fé: “Senhor vos me destes, vos me
tirastes; que a Vossa vontade seja feita”. Eis o verdadeiro desprendimento. É
necessário que sejamos submissos tendo fé naquele que, assim como nos deu, pode
tirar-nos e também devolver-nos.
Não se trata
de atirarmos fora o que possuímos, para nos tomarmos mendigos voluntários,
trazendo, inclusive, mais problemas para a sociedade. “É um egoísmo de outra
espécie, porque equivale a fugir da responsabilidade que a fortuna faz pesar
sobre aquele que a possui”. (Lacordaire, ESE, XVI, item 14). A recomendação
mais acertada consiste em administrá-la com sabedoria, sabendo passar sem ela
quando não a temos, sabendo como empregá-la utilmente quando a recebemos,
sabendo sacrificá-la quando necessário.
Esse
desapego não deve ser confundido com desprezo, mas sim consciência de sua
importância relativa. A aplicação da riqueza de forma justa constitui-se de um
grande auxilio para a evolução do planeta. Quando o publicano Zaqueu
prontificou-se a dar metade da sua fortuna para os pobres e a ressarcir quatro
vezes mais aqueles a quem havia espoliado, Jesus disse-lhe: “Hoje a salvação
entrou nesta casa...”.
Sem duvida a
riqueza pode ser muito bem aplicada em favor dos mais necessitados. A Condessa
Paula, desencarnada em 1851, é um grande exemplo que Kardec apresenta em “O Céu
e o Inferno” (Cap. “Espíritos Felizes”) que utilizou sua fortuna material para
conquistar a fortuna imperecível que os ladrões não roubam, as traças não roem
e a ferrugem não consome. Ela aconselha em sua comunicação: “E vós ricos,
tendes sempre em mente que a verdadeira fortuna, a fortuna imorredoura, não
existe na Terra; procurai antes saber o preço pelo qual podeis alcançar os
benefícios do Todo Poderoso”.
Os
ensinamentos de Jesus compõem um todo harmônico, que precisa sempre ser
analisado no conjunto, para que haja coerência e integridade.
Fazendo essa
analise, vemos que a lição: “olhai as aves do céu que não semeiam” e “olhai os
lírios do Campo que não trabalham”, com certeza não é um convite a não termos
cuidado, não termos cautela, não termos preocupação alguma com nossa vida, com
nosso sustento material, pois a Lei do Trabalho é também uma Lei de Deus, e o
ser humano recebeu a inteligência para, através do trabalho, buscar o seu
sustento.
Mas o
convite do Mestre é para que não nos preocupemos em demasia, e tenhamos fé na
Previdência, fé em Deus, fé em nos mesmos.
Contemplando
a natureza podemos constatar que ha uma harmonia reinante. O necessário basta,
não precisamos do supérfluo!
A
misericórdia do Pai concede-nos o tempo necessário para nosso aprimoramento. À
medida que evoluímos moralmente, vamos nos desligando dos bens materiais, dando
a eles o devido valor, estendendo os seus benefícios ao próximo.
“Apresentemos
nosso trabalho ao Senhor diariamente, e peçamos a Ele que destrua as
particularidades em desacordo com os seus propósitos soberanos e justos,
rogando-lhe visão e entendimento... No desdobramento desse serviço, porém,
jamais nos esqueçamos de que todos os patrimônios da vida pertencem a Deus”
(Vinha de Luz, 71).
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Como podemos
acumular “tesouros no Céu”?
Bibliografia
- A Bíblia
de Jerusalém.
- Kardec,
Allan - O Livro dos Espíritos - Ed. FEESP.
- Kardec,
Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Godoy,
Paulo Alves – Os Quatro Sermões de Jesus. São Paulo – Ed. FEESP
- Godoy,
Paulo Alves – Casos controvertidos do Evangelho.
- Rigonatti,
Eliseu – O Evangelho dos Humildes
- Schutel,
Cairbar - Parábolas e Ensinos de Jesus.
- Godoy,
Paulo Alves – Quando Jesus Teria Sido Maior.
Fonte da imagem: Internet Google.
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