A Evolução Da Religiosidade Através Dos
Tempos
O
Início
Quando
observamos nosso mundo, ficamos admirados com toda a diversidade cultural e
religiosa que encontramos. Há uma multiplicidade de manifestações que estampam
uma infinidade de tons e matizes, e ressaltam a beleza do processo de evolução
da religiosidade humana.
Sinos ainda
podem ser ouvidos em Jerusalém, essa grande cidade que abrigou e ainda abriga
diversas religiões.
No extremo
oriente, as vozes dos antigos sábios da China, da Índia, do Tibet ainda ecoam
por aquelas nações. As mensagens indeléveis do Buda, de Krishna, de Lao Tse, de
Confúcio, compõem um verdadeiro acervo de religiosidade e sabedoria.
As mensagens
redentoras do Cristo dividiram a História, transformaram o mundo e originaram a
maior religião de nosso planeta. Compuseram, no entanto, por ora, não uma plena
unidade, mas, diante da capacidade humana de diversificar, de interpretar segundo
seu grau de entendimento, deram origem a um sem número de seitas, correntes,
escolas, etc.
Naturalmente,
tudo isso faz parte da evolução do Ser. Mas como tudo isso começou? Como e por
que se formaram as primeiras religiões? Que impulso é esse que faz com que
todos os povos, todos os homens busquem esse algo além de suas vidas materiais?
Façamos uma
viagem no tempo e regressemos em momento anterior aos grandes profetas,
anterior a todos os sábios da antiguidade, anterior a todos os sinos e
trombetas, anterior a todas as seitas, escolas, sistemas, anterior a todas as
civilizações que conhecemos.
Essa
conquista - eis que o sentimento de religiosidade é uma aquisição do Espírito -
iniciou-se nos primórdios da evolução. Foi um longo trabalho no tempo para o
despertar da consciência espiritual.
Somos o
resultado do acumulo de experiências! Cada ser vive, vê o mundo e suas facetas
de modo diverso, segundo seu grau de evolução.
A
diversidade das religiões obedece ao fato de que na evolução, cada um de nos
desenvolveu sua espiritualidade, também de modo diverso. Cada qual busca em si
forças para viver, saúde, proteção; enfim, busca a felicidade.
Na
antiguidade mais remota, para os hominídeos, o céu era um ponto de
interrogação, um mistério total. A princípio o termo DEUS não significava o
“Senhor da Natureza“, mas todo ser existente fora das condições de humanidade.
Desprovido
da capacidade de abstração, ou seja, de pensar sobre a vida teoricamente,
conceitualmente, simples e ignorante das leis que regiam o mundo, observa os
fenômenos naturais com admiração, perplexidade e certa idolatria.
O que
representava para ele a ação furiosa de um vulcão em erupção, o ataque feroz de
um animal selvagem?
Que força e
poder detinha um raio, um trovão? Quais os mistérios encontrados nos rios e
mares, de onde tirava os meios de sobrevivência?
Estas e
muitas outras questões instigavam este Ser, estimulando-o a observação dos
motivos e meios pelos quais estes fenômenos aconteciam. Adorou desde o
principio, tudo o que transcendia e mostrava força e poder.
Na sua
trajetória evolutiva, desenvolveu primeiro a sensibilidade e a imaginação,
depois a razão. Buscando o significado essencial de adoração, podemos
remeter-nos a questão 649 de “O Livro dos Espíritos”:
P. Em que
consiste a adoração?
R. É a
elevação do pensamento a Deus. Pela adoração o homem aproxima d'Ele a sua alma.
E a seguir,
na questão 650:
P. A
adoração é o resultado de um sentimento inato ou produto de um ensinamento?
R.
Sentimento inato, como o da Divindade. A consciência de sua fraqueza leva o
homem a se curvar diante daquele que o pode proteger.
Desse
capitulo de “O Livro dos Espíritos“ - Lei de Adoração - podemos sintetizar que:
- A adoração
e a elevação do pensamento a Deus; é um sentimento inato, uma Lei Natural;
- Essa
veneração leva o Homem a curvar-se diante d’Aquele que o pode proteger;
- O Homem
primitivo venerava e idolatrava as forças da natureza, vistas como
sobrenaturais e, portanto, Divinas;
- Projetava
no ser divinizado sua imagem e semelhança, dando-lhe atributos humanos;
- Em sua
concepção primária, e por medo e imaginação, busca agradar a Divindade, para
submetê-la aos seus interesses, ofertando lhe tudo o que concebe ser bom. É a
barganha com o Divino. Nesse universo, surgem os primeiros rudimentos do
antropomorfismo. Antro: homem + morfhe: forma de = forma de homem.
Imaginemos
os homens pré-históricos, imaginemos a sua admiração e tentativa de compreender
as forças manifestas de um vulcão em erupção. Pensaria, talvez: “O Divino se
movimenta... demonstra força e poderes, sobrenaturais e implacáveis...”
O medo o
leva a esconder-se. De longe observava e talvez pensasse: “Como acalmar esta
fúria? Como fazê-la minha aliada? Como aliciá-la a meu favor?”
Observando e
analisando, deve ter concluído no simplismo de sua interpretação: “A força
manifesta-se através de sons, cores, cheiros característicos, tem movimentos,
ora calmos, ora rudes, demonstrando vontade e outros atributos que denotam personalidade
e individualização.”
Tudo muito
semelhante ao que ele sabe de si mesmo. Como atrair essa força a favor dele
mesmo? Deve ter pensado: “Talvez se agradá-la, repetindo o modo como se
manifesta, pintando-se com as cores que a caracteriza; tudo em busca da
intimidade e da amizade das forças destruidoras.”
Se uma parte
da erupção, como uma rocha incandescente, ficava próxima de sua moradia,
passava a divinizá-la como parte do Deus maior ou filho deste. Tratava-o com
mimo e proteção, porque fazia o mesmo com os seus, projetava, enfim, sua
personalidade e valores emocionais para a divindade e assim acreditava que com
ela estabelecia uma intimidade e parceria na vida.
Na busca de
uma forma metódica de vislumbrar, de ver e abordar toda essa realidade acima
exposta, podemos encontrar vários sistemas.
Um deles é o
“método cultural“ dos antropólogos ingleses. Este método, a propósito, foi
abordado por Herculano Pires em sua obra “O Espírito e o Tempo“. Lá, cita o
autor:
“Para maior
clareza do nosso estudo, servimo-nos do esquema que nos fornece o chamado método
cultural dos antropólogos ingleses, aplicados por John Murphy, com pleno êxito,
em seus estudos sobre as origens e a história das religiões”.
A
antropologia, como sabemos, é a ciência que analisa física e culturalmente o
Homem em seu avanço através dos tempos. E um estudo que assinala as variações,
evoluções e o encadeamento entre cada uma das etapas que se sucedem umas as
outras. Aqui, por ora, importa-nos apenas o panorama do avanço espiritual do
Ser.
O esquema
apresentado por Herculano Pires na obra a pouco referida, segue a seguinte sequência:
- Horizonte
Tribal;
- Horizonte
Agrícola;
- Horizonte
Civilizado;
- Horizonte
Profético, e
- Horizonte
Espiritual (este último exigido agora pelo Espiritismo).
Vejamos,
então, em rápida síntese, esses horizontes culturais:
1ª FASE: HORIZONTE TRIBAL
Esta fase
caracteriza-se pelo mediunismo primitivo.
MEDIUNISMO - Palavra criada por EMMANUEL
para designar a mediunidade natural. Engloba as práticas mágicas ou religiosas
baseadas nas manifestações dos Espíritos. São práticas empíricas da
mediunidade. Possui as seguintes fases sucessivas: primitivo, oracular e
bíblico. Com o Espiritismo, transcende-se, e alcança-se a fase positiva da
mediunidade.
Interpretavam-se,
então, pela limitação intelectual, todas as coisas em termos exclusivamente
humanos. Ao exterior eram aplicadas as noções básicas que se possuía da
natureza humana, dando esta forma aos elementos naturais (Antropomorfismo).
Na questão
668 de “O Livros dos Espíritos” temos:
P. Os
fenômenos espíritas, sendo produzidos desde todos os tempos e conhecidos desde
as primeiras eras do mundo, não podem ter contribuído para a crença na
pluralidade dos deuses?
R. Sem
dúvida, porque os homens que chamavam Deus a tudo que era sobre-humano, os
Espíritos pareciam deuses.
Assim o
Politeísmo se desenvolve em diferentes graus; simultâneos, mas não
necessariamente sucessivos.
Vejamos
algumas modalidades:
- Litolatria - adoração de pedras, mares,
rios, montanhas e relevos;
- Fitolatria - adoração de plantas,
árvore, flores e bosques;
- Zoolatria - adoração de animais;
- Mitologia - adoração de seres como
características humanas mescladas com animais...
Deste modo,
do mineral ao humano, os elementos de adoração se misturam.
2ª FASE: HORIZONTE AGRÍCOLA
Vislumbrando
o horizonte agrícola, ou seja, o mundo das primeiras formas sedentárias de vida
social – diz Herculano Pires - vemos o animismo tribal desenvolver-se no plano
da racionalização.
Outras
características são: a domesticação de animais, a invenção e empregos de
instrumentos, o aumento demográfico. Nesta fase, funde-se a imaginação com a
experiência, dando origem a Mitologia popular, impregnada de magia. É o inicio
das primeiras grandes civilizações.
3ª FASE: HORIZONTE CIVILIZADO
Nesta fase
ocorre a formação dos estados Teológicos e do Mediunismo Oracular. Há o
surgimento das classes sacerdotais. E o período do “Homem-Divino“, do
“Monarca-Deus“. Surgem também as primeiras filosofias secretas. Na índia: a
Vedanta, na Judéia: a Cabala, etc. Em muitos lugares, Religião e Estado apoiam-se
na manipulação do poder.
4ª FASE: HORIZONTE PROFÉTICO
É
caracterizada pelo Mediunismo Bíblico dos Profetas (especialmente entre o povo
hebreu). Surge nesta época o que se denomina de “espírito civilizado“,
caracterizado por três novas funções mentais:
a) a
capacidade de formular conceitos abstratos;
b) a
capacidade de formular juízos éticos, jurídicos e religiosos;
c) o poder
de racionalização.
A
individualização da ideia de Deus decorre da individualização humana.
5ª FASE: HORIZONTE ESPIRITUAL
Implantado
por Jesus, é caracterizado pela mediunidade positiva. Aqui, ha a prevalência do
mundo espiritual sobre o mundo físico, pela comunicação dos Espíritos com os
homens, pelas muitas moradas, pela pluralidade das existências, pela Lei de
Amor como a Lei Divina por excelência. Com Jesus, temos a libertação do dogmatismo!
QUESTÃO
REFLEXIVA:
Comente
sobre os primeiros passos do ser humano em sua busca por Deus.
Fonte da imagem: Internet Google.
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