CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO ESPÍRITA: PACIÊNCIA, INDULGENCIA, FÉ, HUMILDADE, DIGNIDADE E CARIDADE.

terça-feira, 17 de março de 2015

1ª Aula Parte A – CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 2º ANO - FEESP

MOMENTO CULTURAL NA EUROPA À ÉPOCA DA CODIFICAÇÃO

Para melhor compreender as raízes da História do Espiritismo, seu desenvolvimento e sua importância no tempo e no espaço, necessitamos verificar o momento sócio-político-econômico, sob a ótica da França do século XIX e sua herança racionalista, amplamente conhecida nas diferentes áreas do conhecimento (filosofia, arte, ciências naturais, sociais, tecnologias etc.), bem como, nos vários domínios da ação social (ética, política, econômica, revolucionaria, histórica, etc.).

Deste legado destaca-se a influência do iluminismo. O “estado nação”, a “imprensa”, o “mercado”, a “ciência moderna”, a “democracia representativa”, a “Cultura secular”, o “expansionismo econômico”, a “indústria”, o “equilíbrio dos três poderes”, o “declínio da religião”, a “razão histórica”, o “progresso”, o “contrato social”, a “superação do pensamento tradicional”, são algumas das invenções culturais do iluminismo.

O século XIX foi caracterizado por grandes transformações e inúmeras conquistas científicas.

A Europa mergulhou em lutas renovadoras no âmbito social e político, notadamente a França, o desejo de liberdade impulsionou as conquistas sociais:

Social: tutela dos princípios democráticos pregados pelos pensadores do século;

Político: sob os efeitos da Revolução Francesa e da Era Napoleônica.

Napoleão I Bonaparte, imperador dos franceses, foi destinado a uma grande tarefa na organização social do século XIX, contudo, não soube compreender as finalidades da sua grandiosa missão. Bastaram-lhe algumas vitórias para que a vaidade e a ambição lhe escurecessem o pensamento.

As ideias liberais, resquício desta revolução, foram assimiladas, tais como: igualdade de todos perante a lei e a liberdade de pensamento e de cultos. O momento político e cultural da Europa propiciou as grandes invenções e descobertas científicas que agitaram todos os ramos do conhecimento.

Ampère, André Marie (1775-1836), cientista francês que estabeleceu a primeira teoria do eletromagnetismo, o estudo dos fenômenos relacionados à eletricidade e ao magnetismo.

Lavoisier, Antoine Laurent de (1743-1794), químico francês, considerado o fundador da química moderna.

Demonstrou que, apesar da mudança de estado da matéria durante uma reação química, a quantidade de matéria permanece constante do começo ao fim do processo. Seus experimentos resultaram em evidências em favor das leis de conservação.

Pasteur, Louis (1822-1895), químico e biólogo francês que fundou a ciência da microbiologia, demonstrou a teoria dos germes como causadores de doenças (agentes patogênicos), inventou o processo que leva seu nome e desenvolveu vacinas contra varias patologias, especialmente conhecido por suas investigações sobre a prevenção da raiva.

Mesmer, Franz Anton (1734- 1815), médico austríaco famoso por afirmar que existia um poder, semelhante ao magnetismo, que exercia extraordinária influência sobre o corpo humano. Hoje se identifica este estado de transe como hipnose.

Realizou pesquisas sobre as propriedades dos imãs, dos fluidos e do magnetismo animal. Segundo a teoria de Mesmer (magnetismo), todo ser vivo possui um fluido magnético que estabelece influências recíprocas entre os indivíduos.

Pestalozzi, Johann Heinrich (1746-1827), reformador da educação, de nacionalidade suíça. Suas teorias criaram os fundamentos do moderno ensino primário. Em 1799 inaugurou uma escola para crianças, na qual pôs em prática seus métodos durante vinte anos.

Neste centro, a criança aprendia por meio da prática e da observação, bem como da utilização natural dos sentidos. Defendia a individualidade da criança e seu desenvolvimento integral.

Foi discípulo de Jean Jacques Rousseau; fundou a escola-lar para crianças em várias cidades da Suíça, entre estas Yverdon, onde Allan Kardec estudou e lecionou pedagogia.

A diferença entre Pestalozzi e Rousseau que indica a superioridade de consciência moral e religiosa em seu sentido mais elevado, é que Rousseau não foi capaz de traduzi-la em atos e Pestalozzi projetou suas ideias em ação de amor e socorreu crianças órfãs, educou pobres e ricos, ajudou a erguer um novo conceito de educação, teorizando e praticando uma pedagogia do amor. Ele precedeu o espiritismo não apenas em ideias, mas foi um fiel representante da máxima “Fora da Caridade não há salvação”.

Os cientistas sustentavam que sua função não era acreditar e sim, investigar; por esta razão, a Ciência estava continuamente em constante progresso, deixando de lado as velhas teorias incapazes de explicar os fatos.

Em função desta postura, todos os campos do saber humano registraram descobertas, invenções e sistemas, estabelecendo ideias fundamentais, acumulando conhecimentos em todas as áreas.

A Filosofia também se rendeu a essa onda renovadora.

Representantes:

Descartes, René (1596-1650), filósofo francês, cientista e matemático. E também muito conhecido pelo nome em latim, Renatus Cartesius. Pode ser considerado o fundador da filosofia moderna por ter rompido com a predominância da escolástica e fundado seu próprio sistema de pensamento. A frase Cogito, ergo sum (Penso, logo existo) é a base de sua filosofia.

O método da dúvida cartesiana apoia-se em quatro princípios: 1) não aceitar como verdade nada que não seja claro e distinto; 2) decompor os problemas em suas partes mínimas; 3) deixar o pensamento ir do simples ao complexo; 4) revisar o processo para ter certeza de que não ocorreu nenhum erro. Com estas premissas, Descartes criou a ciência empírica e influenciou todas as áreas do conhecimento humano. A possibilidade do conhecimento humano é uma prova da existência de Deus, considerado como uma ideia inata.

Afirma assim que pensamento é algo mais certo que a matéria corporal, e descobre a realidade inegável do Espírito. Pode-se dizer que a chamada revolução cartesiana foi precursora da revolução espírita.

Kant, Immanuel (1724-1804), filósofo alemão. É considerado por muitos o pensador mais influente da Idade Moderna. A pedra angular de sua filosofia esta colocada na obra Crítica da razão pura (1781), em que examinou as bases do conhecimento humano e criou uma epistemologia (teoria de conhecimento) individual.

Seu sistema ético, baseado na liberdade fundamental do indivíduo e na ideia de que a razão é a autoridade ultima da moral: “Age de forma que a máxima de tua conduta possa ser sempre um princípio de Lei natural e universal.”

Hegel, Georg Wilhelm Friedrich (1770-1831), filósofo alemão. Suas primeiras reflexões referem-se ao espírito do Judaísmo e do Cristianismo, e testemunham preocupações religiosas e históricas; o que lhe interessava era descobrir o espírito de uma religião ou de um povo em seu contexto histórico.

É o representante máximo do idealismo e seu trabalho revela a influência do pensamento grego e de autores como Baruch Spinoza, Jean-Jacques Rousseau, Immanuel Kant, Johann Gottlieb Fichte e Schelling.

Seu pensamento exerceu grande influência em autores como Ludwig Feuerbach, Brimo Bauer, Friedrich Engels e Karl Marx. Entre suas obras mais importantes estão: A fenomenologia do espírito (1807), A ciência da lógica (1812, 1813, 1816) e Lições de História da filosofia.

Assim surgiu o Iluminismo, pois suas concepções filosóficas baseadas no uso e exaltação da razão encontravam respaldo nos pensadores da época.

Século das Luzes ou Iluminismo, termos usados para descrever as tendências do pensamento e da literatura na Europa e em toda a América durante o século XVIII, antecedendo a Revolução Francesa. Foram empregados pelos próprios escritores do período, convencidos de que emergiam de séculos de obscurantismo e ignorância para uma nova era, iluminada pela razão, a ciência e o respeito à humanidade.

As novas descobertas da ciência, a teoria da gravitação universal de Isaac Newton e o espírito de relativismo cultural fomentado pela exploração do mundo ainda não conhecido foram também importantes para a eclosão do Iluminismo.

Entre os precursores do século XVII, destacam-se os grandes racionalistas, como René Descartes e Baruch Spinoza, e os filósofos políticos Thomas Hobbes e John Locke.

A Franca teve destacado desenvolvimento sob o reinado de Luis XV (1715-1774). Desenvolvem-se as ideias do iluminismo através de Voltaire (1694-1778), Diderot (1713-1784) e Rousseau (1712-1778), que combatem a intolerância religiosa e o absolutismo.

Outros expoentes do movimento foram Kant, na Alemanha, David Hume, na Escócia, Cesare Beccaria, na Itália, Benjamin Franklin e Thomas Jefferson, nas colônias britânicas.

O Século das Luzes, ou Iluminismo, terminou com a Revolução Francesa de 1789, que incorporou inúmeras ideias iluministas em suas fases mais violentas, desacreditando-as aos olhos da maioria dos europeus contemporâneos. O Iluminismo marcou um momento decisivo para o declínio da Igreja e o crescimento do secularismo (deixar de pertencer à vida religiosa) atual, assim como serviu de modelo para o liberalismo político e econômico e para a reforma humanista do mundo ocidental no século XIX.

Devido às contribuições valiosas a História da humanidade, o filósofo René Descartes e o cientista Isaac Newton são considerados como os precursores do iluminismo. Para o iluminismo, Deus esta na Natureza e no homem, que pode descobri-lo através da razão, dispensando a função da Igreja.

Os ideais iluministas estão presentes no mundo contemporâneo, sob variadas formas, tais como: democracia, fraternidade, liberdade, igualdade e principalmente nas leis que regulam os direitos e deveres do cidadão em relação ao Estado.

No Espiritismo e no Iluminismo, Deus esta na Natureza e no homem. Para descobri-lo temos a razão para nos guiar de forma segura (Vide pergunta n° 4, LE - Kardec).

Por volta de 1848, toda a Europa é agitada pela Revolução Liberal e Democrática, desencadeando uma serie de tumultos populares, os valores éticos tradicionais perderam a sustentação; não houve novos valores morais que pudessem substituir o vazio que se instalara entre os homens.

O progresso moral da humanidade, estagnado, distanciou-se cada vez mais do progresso cientifico, sendo que a comunidade europeia desiludiu-se ante as grandes conquistas alcançadas no campo da Ciência, que não satisfaziam seus anseios espirituais.

Em meio a esse contexto, exatamente em Paris, em 18 de abril de 1857, Allan Kardec, o Codificador, publica o Livro dos Espíritos, que iria preencher o vazio existencial da Humanidade.

Muito embora toda a Europa já estivesse familiarizada com os fenômenos espíritas, principalmente através do fenômeno das mesas girantes, tais fatos não passavam de meros divertimentos nos salões sociais. A Doutrina vinha, para reabilitar, de acordo com as orientações trazidas pelos Espíritos, o papel do homem frente ao seu destino imortal.

Seus valores, centrados no Evangelho do Cristo, mostravam a humanidade o caminho do progresso espiritual, ao mesmo tempo em que trazia o consolo e a esperança que os homens tanto almejavam.

Allan Kardec deveria organizar o edifício desmoronado da crença, reconduzindo a civilização as suas profundas bases religiosas.

Por isso, o Espiritismo, enquanto Consolador Prometido por Jesus, só pode ser revelado aos homens no contexto científico do séc. XIX, em meio a matemáticos, astrônomos, botânicos, filósofos e físicos que fizeram a Ciência de seu tempo.

Allan Kardec, Espírito missionário encarregado de ser o portador desta nova Revelação, fora preparado para ser o elemento unificador do pensamento deste século, pois unia seu rigoroso método científico ao submeter os fenômenos espíritas a luz da razão, a integridade e pureza do seu coração.

No contexto do século das luzes, na Franca, onde o Iluminismo assumiu sua feição intelectual mais vigorosa, o Espiritismo é elaborado pelo iluminista-romântico Allan Kardec. No “Caráter da Revelação Espírita”, verdadeiro tratado de epistemologia (teoria do conhecimento, teoria da ciência) do Espiritismo, Kardec define a natureza deste último:

“É, pois, rigorosamente exato dizer-se que o Espiritismo é uma ciência de observação e não produto da imaginação”. “As ciências só fizeram progressos importantes depois que seus estudos se basearam sobre o método experimental; até então, acreditou-se que esse método também só era aplicável à matéria, ao passo que o é também as coisas metafísicas”. (Kardec).

Observando o aspecto metodológico do trabalho investigativo de Allan Kardec é possível constatar a significativa influência das principais vertentes do pensamento Iluminista (Racionalismo, Experimentalismo, Evolucionismo) sobre o Espiritismo.

Todavia, não apenas no método de elaboração o Espiritismo é herdeiro do Pensamento Iluminista, mas também em toda a Teoria Espírita. No “Livro dos Espíritos”, obra que contém a formulação da Codificação Kardeciana resumida em capítulos, encontramos a sua parte terceira dedicada exclusivamente as “Leis morais”, todas elas concebidas, estudadas, utilizadas e defendidas pelo Iluminismo.

Ao contrário disso, o Espiritismo assume uma feição naturalista, isto é, concebe a evolução da vida e da humanidade por meio de Leis naturais, entre elas a Reencarnação e a Influência recíproca dos diferentes planos da vida. Enquanto o modelo da ciência positiva instaurou o império da “razão objetiva”, passando a considerar todo o conhecimento religioso um fóssil do passado, Allan Kardec no intercâmbio com os “mortos” descobrira formas de vida e matéria em outras frequências e planos.

Dessa forma, Allan Kardec com sua infidelidade ao paradigma cientificista da sua época, soube constituir uma nova ciência, uma nova linguagem, que em muito superou os condicionamentos da ciência de Newton - cartesiana.

Afinal, descrever formas de matéria cujo grau de eterização rompia com a física corpuscular de Newton, em pleno século XIX, significou avançar na direção de uma Concepção Quântica do Universo.

Sendo assim, o Espiritismo é por um lado Iluminista em seu conhecimento racional das leis que regem a evolução bio-psico-sócio-espiritual do gênero humano e por outro é herdeiro da tradição filosófica do Romantismo, reencantando o mundo com os seus valores, com o Amor e Fraternidade, elos profundos de cada nível evolutivo, em cada reencarnação, em cada ser, em toda individualidade, em diferentes esferas e manifestações da vida, na grande teia do universo que não é outra coisa senão o pensamento de Deus.

BIBLIOGRAFIA:
KARDEC, Allan - O Que é Espiritismo - cap. II, questões 161 e 162;
KARDEC, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - cap. XV, itens 3 a 13; cap. XXVIII, itens 1 a 8;
KARDEC, Allan - O Livro dos Espíritos - Introdução - O Problema Religioso; Livro 2°, questão 537;
KARDEC, Allan - Obras Póstumas – 2ª Parte - Cap. “Minha Primeira Iniciação no Espiritismo”.
XAVIER, Francisco Cândido - A Caminho da Luz - Emmanuel - Cap. XXII e XXIII.
WANTUIL, Zéus e Francisco Thiesen - Allan Kardec - vol. III.
SOUZA, Denizará - (Revista Heresis) - Espiritismo e Iluminismo.

KARDEC, Allan - A Gênese, cap. I, cap.II, e, 22, cap. XII, cap. XIII; cap. XVII;

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