HOMENAGEM A ADOLFO BEZERRA DE MENEZES
“UMA CARTA
DE BEZERRA DE MENEZES”
Quando
Adolfo Bezerra de Menezes declarou publicamente sua adesão ao Espiritismo, sua
família, que era tradicionalmente católica, reprovou sua atitude. Seu irmão
mais velho, Manoel Soares da Silva Bezerra, envia-lhe uma carta, lamentando seu
afastamento da educação religiosa que recebera. Em resposta, Bezerra também lhe
dirige uma carta, com mais de cem paginas, nas quais defende, com grande
sabedoria, os principais preceitos da Doutrina Espírita. Essa carta foi
transformada no livro que ora resumimos.
Entre outras
coisas, Bezerra explica que foge de discutir crenças religiosas, por estar
convencido de que a salvação não esta só na igreja, mas que muitos caminhos
levam a casa do Pai, não só aquele.
A salvação
pode ser alcançada não pela adoração a Deus neste ou naquele templo, desta ou
daquela forma, mas simplesmente, adorando-O em espírito e verdade, que significa
amá-Lo sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo.
Embora
respeite, acate e dê grande merecimento à missa como uma forma de prece erguida
pelos filhos ao Pai, prefere fazer o que Jesus recomendou: “Quando orardes,
retirai-vos ao vosso quarto, fechai a porta e rezai em segredo pois, a oração
em segredo isola mais facilmente a alma do mundo, que se concentra de modo a
quase poder conversar com Deus. Na igreja, ha muitas coisas que nos privam da
concentração. O essencial não é a forma, é o fundo; não é o meio, é o fim.
As
confissões também têm o seu valor. Porém, mais vale o esforço para renunciar ao
mal que se fez e propor-se a melhorar, do que dez mil confissões.
Bezerra
começa a fazer, então, uma minuciosa analise sobre a origem do Espiritismo,
esclarecendo, inicialmente que o Espiritismo estabelece, sim, a pluralidade das
existências, mas todas com o puro caráter humano. O Espírito é criado para a
perfeição, pelo saber e pela virtude, e segue progredindo, através dos séculos,
até chegar a um estado de pureza, que é o seu destino.
O
Espiritismo também não é filho do politeísmo. Ele reconhece o mesmo Deus dos
Cristãos, a quem é submisso e a quem invoca pelas preces, assim como reconhece
o Cristo, o qual toma por modelo em todo o seu ensino. O Espiritismo não
empresta a Deus as paixões humanas, como fazia o politeísmo, nem dá aos homens
os atributos divinos como fez a Igreja.
A mais
completa prova de que Jesus admitia as reencarnações pode ser constatada na
passagem em que Nicodemos pediu-Lhe explicações sobre a vida futura e Jesus lhe
respondeu que ninguém poderia ver o reino do céu se não nascer de novo. E,
como, Nicodemos lhe perguntasse como um velho poderia voltar ao seio materno, Ele
respondeu que aquele que não renascesse da água e do Espírito Santo não poderia
entrar no reino do céu.
Jesus não
deu maiores explicações, certamente porque essa era uma daquelas verdades que
Ele disse não poder ensinar ainda, por não ser oportuno.
Apos citar
vários pensadores e suas ideias sobre as vidas sucessivas, Bezerra concluiu: “Eis,
para não continuar com citações, a origem do Espiritismo, ou da ideia em que
ele assenta. Uma ideia que vem do princípio do mundo, que encarna em todo
movimento civilizador dos povos, que prossegue através dos séculos sem se
perder; uma ideia que passa de geração a geração, de povo a povo, de raça a
raça e, nestes tempos de luz, acende o facho das maiores inteligências do
mundo; uma ideia que apresenta esses atestados não pode ser repelida, sem
estudo, sem exame, sem repetidas experiências, senão pelos fanáticos ou pelos possessos”.
O autor
passa, em seguida, a analisar a razão de ser do Espiritismo.
Começa
explicando que a Sinagoga não aceitou o Cristo, porque Ele atacou muitas das
supostas verdades nas quais o sacerdócio hebreu acreditava. Bezerra afirma que,
se tivessem estudado melhor a lei da revelação divina, teriam compreendido o
“Filho Dileto do Altíssimo”.
Essa lei foi
revelada ao homem, progressivamente, conforme a marcha da humanidade.
Quase vinte
séculos depois de Moises, Jesus veio a Terra para ampliar os ensinamentos dados
até então. Sua revelação é mais ampla, porque se destina a todos os povos da
Terra, não somente a uma família, como a de Abraão, e a um povo, como o de
Moisés. Ela regula todos os sentimentos humanos em relação a Deus e em relação
ao próximo e elimina o que havia de falso ou de humano na religião ate então.
Se a
perfectibilidade do homem tem se desenvolvido lenta e progressivamente, diz
Bezerra, é intuitiva no caráter humano, a sua natural explicação; a razão de
sua periodicidade e de sua progressividade.
A revelação
divina não se completou com a do Cristo, porque o mundo ainda não estava em
condições de receber, compreender e cultivar todas as verdades. Assim Jesus
prometeu que mais tarde elas nos seriam ensinadas.
Bezerra
analisa que o mundo tinha caminhado cerca de dois mil anos após a primeira
revelação, quando Deus revelou a Moisés. Outros tantos séculos depois de Moises
se passaram e cumprindo uma programação divina chega a Terra Jesus, com seu
legado de amor e perdão.
Jesus em sua
infinita sabedoria sabia que nem todas as verdades poderiam ser reveladas,
sendo que seriam trazidas mais tarde, pelo Consolador Prometido.
E o
Espiritismo tem como razão de ser:
1° - a eterna
lei das revelações divinas, que corresponde ao desenvolvimento humano,
incontestável nos dezenove séculos decorridos e,
2° - as
palavras de Jesus prometendo futuro ensino.
A Igreja
alega contra o Espiritismo, que, para revelar as novas verdades, o Redentor fez
baixar à Terra o Divino Espírito Santo, que a assiste. Alega ainda que não
compôs um só livro sagrado, porque não é inspirada, mas, sim, interpreta todos
os livros sagrados, porque é assistida por ele. Portanto, ela própria declara
que a assistência que recebe é para que ela interprete o que já está revelado
em todos os livros sagrados. E, apesar do grande progresso feito pela
humanidade, ela não teve de Jesus qualquer revelação de novas verdades.
A Igreja
classifica o Espiritismo como obra de Satanás. Por outro lado, que provas ela
tem de que a vida única e o inferno são verdades eternas?
Embora a
doutrina de Jesus ainda não esteja totalmente pura, pois ainda não encerra
todas as verdades eternas, por não terem recebido ainda o Máximo de luz, como
disse o próprio Jesus, sua parte humana ainda se manterá até que a parte divina
seja completada.
O critério
para se saber se os princípios de uma religião são verdadeiros ou não, são as
perfeições infinitas do Criador. Tudo o que as exaltar e pura verdade. Tudo o
que as rebaixar e mentira. E os princípios da vida única e das penas eternas as
rebaixam.
No
desabrochar da vida, os homens apresentam disposições para o bem ou para o mal.
Se Deus nos criasse no momento em que devemos entrar na vida, as disposições
para o bem ou para o mal seriam dadas por Ele. Se assim fosse, Ele não seria
justo, porque, criando almas com disposições opostas, como poderia, no fim da
vida, tomar-lhes contas iguais, dizendo que tiveram igual liberdade?
O
Espiritismo explica que é pelas vidas sucessivas que o Espírito se depura. O
Espírito adiantado, quando reencarna, apresenta inclinação para o bem a que já
está afeiçoado, e essa inclinação é conquista sua e não obra do Criador. Por outro
lado, o Espírito atrasado apresentará reencarnado inclinação para o mal a que
ainda é afeiçoado e essa inclinação é consequência de suas obras e não de seu
criador.
Bezerra
encerra sua analise sobre a razão de ser do Espiritismo, dizendo que: “O
Espiritismo, pois, firmado na lei da progressividade da revelação e na promessa
do divino Jesus, de que mandaria mais tarde revelar as verdades que não era
oportuno ensinar; apresenta-se como seu enviado, ensinando uma Teogonia baseada
na pluralidade da existência, que justifica ser uma daquelas verdades, pelo confronto
com o infalível critério de toda a verdade. Eis a sua razão de ser".
Em seguida,
passa a relatar o Modo de Ensino do Espiritismo.
Entre vários
pontos que analisa, diz que o Espiritismo confirma tudo o que foi ensinado por
Jesus, sem alterar seus fundamentos com as novas ideias que apresenta; irrompeu
de todos os pontos do Planeta e não de um único lugar; trazido por vários
mensageiros invisíveis e não por um único mensageiro, etc.
Não há uma
família que não tenha tido provas de comunicação dos mortos com os vivos. Seja
para pedirem alguma coisa, seja para se despedirem ou para darem noticia, seja
para falarem sobre males que afetam o organismo, seja para indicarem meios
curativos, etc. Bezerra cita vários casos que chegaram ao seu conhecimento,
como também que aconteceram com ele próprio e com sua família.
Com o
aparecimento do Espiritismo, também se multiplicaram os médiuns, que recebem
comunicações de todos os gêneros. E que são chegados os tempos de o mundo
receber mais amplo conhecimento dos mistérios humanos, que Deus vai aclarando à
medida que o mundo vai podendo compreender. Porém, temos que ter o maior
cuidado ao receber as comunicações dos desencarnados, assim como tomamos
cuidado com o aconselhamento dos encarnados, porque nem todos são ligados ao
bem.
Em resposta
a afirmativa do irmão de que o Espiritismo era obra de Satanás, Bezerra afirma
que sempre houve um único Deus, sendo o mal pura criação humana. Portanto,
Satanás não existe. Também com base no ensinamento de Jesus de que pelo fruto
se conhece a árvore, os frutos do Espiritismo só podem ser bons, porque não
alteram a moral de Jesus, além de ser também baseado na revelação abraâmica e
na revelação mosaica. O Espiritismo não faz alteração alguma nos Evangelhos, só
modificando as questões da vida única e das penas eternas.
Na conclusão
da carta, Bezerra afirma crer em Deus, em Jesus e em algumas outras crenças da
Igreja. Ao relatar no que não crê e por quais motivos, ele praticamente faz um
resumo dos principais pontos de sua carta. Vale à pena ressaltar:
“Não creio
na lenda dos anjos decaídos, porque crer nisso valeria por negar a onipotência
e a onisciência do Senhor”.
“Não creio
que o mal possa triunfar do bem, eternizando-se, como este, no reino de Satanás”.
“Não creio que
um Espírito criado pelo Senhor possa fazer-lhe frente, resistir-lhe e destruir
lhe os planos e nem que o Senhor permita isso, servindo-se do rebelde para
castigar o rebelde, porque, neste caso, Deus não criou o homem para o bem, para
a felicidade”.
“Não creio
na vida única, porque o homem é perfectível”.
“Não creio
nas penas eternas, porque Deus é Pai”.
“Não creio
na infalibilidade do Papa, porque assim teríamos um Deus no Céu e outro na
Terra”.
E a comunhão
dos santos significa, para mim, a comunhão dos Espíritos. E a ressurreição da
carne significa a reencarnação dos Espíritos. “Eis o meu credo e digo-lhe que
tenho fé viva e esperança firme de subir com ele à sociedade de Deus na
eternidade”.
A carta é
datada de 31 de maio de 1886.
BIBLIOGRAFIA:
A. Menezes,
Bezerra de - Uma carta de Bezerra de Menezes
Fonte da imagem: Internet Google.
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