CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO ESPÍRITA: PACIÊNCIA, INDULGENCIA, FÉ, HUMILDADE, DIGNIDADE E CARIDADE.

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

24ª AULA PARTE B - CURSO BÁSICO DE ESPIRITISMO 1º ANO - FEESP

BIOGRAFIA DE ALLAN KARDEC

1 - BIOGRAFIA RESUMIDA: HIPPOLYTE LÉON DENIZARD RIVAIL - O EDUCADOR:

Hippolyte Léon Denizard Rivail nasceu na cidade de Lyon, França, no dia 3 de outubro de 1804, filho de uma tradicional família lionesa, reconhecida pelas suas virtudes, na qual vários de seus membros haviam se destacado na advocacia e na magistratura. Era de se esperar, portanto que, entre tantos familiares advogados e juízes, também se dedicasse a esta área.

Mas, outra era a missão para a qual estava predestinado, pois, desde pequeno, o jovem Denizard sentiu-se atraído para as ciências aplicadas e para a filosofia.

Realizou seus primeiros estudos em sua cidade natal e aos 10 anos foi matriculado no Instituto Yverdon, na Suíça, o célebre Instituto de Educação de Jean Heinrich Pestalozzi, considerado a escola modelo da Europa, que exerceu grande influência na reforma do ensino naquela época, principalmente na Alemanha e na França.

Dotado de grande inteligência e atraído para o ensino por vocação e aptidões excepcionais, tornou-se um dos mais destacados alunos de Pestalozzi, a tal ponto que passou a ser um de seus colaboradores mais eficientes, substituindo-o, com apenas 14 anos, sempre que se fazia necessário. Foi nesses exercícios que se lhe desenvolveram as ideias que mais tarde deveria elevá-lo à classe dos grandes educadores europeus.

Conhecendo bastante o Catolicismo e o Protestantismo, preocupou-se por uma reforma religiosa que não impusesse barreiras à lógica e à observação, tal preocupação acompanhou-o durante muitos anos, revelando-se nos seus trabalhos em diferentes áreas, no decurso dos quais procurava alcançar um meio de unificar as crenças, mas não conseguia descobrir o elemento indispensável para a solução desse grande problema. Somente mais tarde, ao abraçar a grandiosa missão que lhe fora confiada quando ainda na Espiritualidade, é que pode finalmente canalizar seus trabalhos para uma direção toda especial.

Concluídos seus estudos, voltou para a França e, possuindo agora conhecimento da língua alemã, traduziu para esse idioma diferentes obras de educação e de moral; funda um instituto de Educação (Instituto Rivail), à Rua de Sévres, 35, nos moldes do já extinto Instituto de Iverdon. Em 6 de fevereiro de 1832, casou-se com Amélie Gabriel Boudet, que seria sua companheira por 37 anos.

Foi membro de muitas sociedades sábias, entre outras, da Academia Real de Arras que, em seu concurso de 1831, lhe outorgou o prêmio por sua notável Memória (dá-se o nome de Memória a uma dissertação acerca de assunto científico, literário ou artístico, para ser apresentado ao Governo, a uma corporação, a uma academia, etc.. ou para ser publicada) sobre os métodos educacionais daquela época. De 1835 a 1840, instalou em sua casa situada á Rua de Sévres, cursos de física, química, anatomia comparada, astronomia, etc., totalmente gratuitas para aqueles que não tinham condições de pagar tais estudos.

2 - VIAGEM ESPÍRITA EM 1862:

Em agosto de 1860, após uma troca de correspondência com o Sr. Guillaume, espírita residente em Lyon, Allan Kardec é recebido cordialmente nesta cidade no Centro Espírita de Broteaux, o único ali existente, ocorrendo nesta ocasião o primeiro encontro de dirigentes espíritas na história do Espiritismo.

Em setembro de 1861, Allan Kardec retorna à sua cidade natal, quanto teve a oportunidade de verificar a multiplicação dos grupos espíritas em relação à sua visita anterior. A partir dessa constatação, sentiu a necessidade de empreender uma série de viagens com o objetivo não apenas de observar a aplicação da Doutrina Espírita, mas principalmente de oferecer a orientação necessária sobre a organização dos diversos Centros Espíritas que estavam florescendo.

Assim, em outono de 1862, através da chuva, do frio e da neve, Allan Kardec iniciou seu propósito, percorrendo grande parte da França num verdadeiro roteiro missionário, ocasião em que pode observar atentamente a situação da Doutrina Espírita, sua propagação e aplicação nos diversos Centros Espíritas, bem como a postura adequada dos seus dirigentes.

Os relatos dessas viagens ocorridas em 1862, os discursos proferidos, as orientações dadas aos organizadores dos grupos espíritas são aspectos que compõem a presente obra, objeto deste estudo, sob o título "Viagem Espírita em 1862"; trata-se de um livro que complementa a Codificação Espírita, na medida em que se torna um auxiliar indispensável aos grupos espíritas, em relação não apenas aos aspectos doutrinários, mas principalmente quanto à organização e administração adequadas aos princípios espíritas.

A - A OBRA: Em 1862, Allan Kardec deixou Paris para aquela que seria sua mais importante viagem de estudos, observações e orientações doutrinárias; nessa ocasião percorreu mais de vinte cidades da província francesa durante seis semanas, presidindo a cerca de cinquenta reuniões com vários dirigentes dos mais diversos grupos espíritas. No decorrer de seu longo trajeto, pode ver pessoalmente o estado real da Doutrina Espírita, cujas observações, discursos e fatos interessantes foram mais tarde publicados na Revista Espírita; mas, um outro objetivo, não menos importante, imprimia a essas viagens um cunho fraterno: Allan Kardec desejava, com suas visitas, expressar sua gratidão, seu reconhecimento e simpatia por todos aqueles irmãos, pioneiros do Espiritismo que, enfrentando os mais duros obstáculos, não se intimidavam em vir a público, expressar sua fé nas verdades inquestionáveis reveladas pelos Espíritos.

B - IMPRESSÕES GERAIS SOBRE A VIAGEM:

1 - Aumento da Crença Espírita: Quando de sua primeira viagem a Lyon em 1860, Kardec constatou que havia em sua cidade natal apenas algumas centenas de adeptos; em 1861, já somavam cinco ou seis mil; em 1862, os seguidores da Doutrina Espírita chegavam a vinte e cinco ou trinta mil, o fato de que a Doutrina da qual fora o portador, trazia em sua essência o consolo, a esperança e a certeza de um futuro pelo qual todos ansiavam.

2 - PROPAGAÇÃO DA DOUTRINA ESPÍRITA ATRAVÉS DE SEUS CONTRADITORES:

Tal observação surgiu em decorrência de que, em muitas localidades francesas onde o Espiritismo era totalmente desconhecido, houve sua propagação e consequente aceitação, graças aos próprios ataques dos seus adversários. Allan Kardec cita como exemplo uma pequena província, Indre-er-Loire, cujos habitantes jamais ouviram falar do Espiritismo; mas, em razão de várias acusações do pároco local, colocando a Doutrina Espírita como sendo uma religião a serviço de forças ocultas, os moradores, movidos pela simples curiosidade, interessaram-se sobremaneira pelo assunto, passando a investigar a origem dos fatos; e como não poderia deixar de ser, predominou entre eles a lógica e o bom senso, e pouco tempo depois já havia naquele local um grupo de estudiosos interessados em aprofundar seus conhecimentos doutrinários. Sobre tais fatos, Kardec concluiu que realmente os Espíritos tinham razão: os adversários do Espiritismo serviriam à causa da propagação espírita.

3 - SERIEDADE DA PRÁTICA ESPÍRITA:

Em todas as cidades visitadas Kardec observou que o Espiritismo é encarado com seriedade e respeito; os dirigentes dos Centros, seus adeptos e simpatizantes buscam o lado filosófico, moral e instrutivo. Em nenhum lugar constatou a prática espírita como mera distração ou divertimento fútil, a exemplo do fenômeno das mesas girantes que tanto empolgaram a sociedade da época.

4 - ACEITAÇÃO MORAL DA DOUTRINA:

Kardec fez várias anotações sobre o aumento daqueles que aceitaram os princípios doutrinários do Espiritismo, sem serem atraídos pelas manifestações espirituais; houve um número incalculável e em constante crescimento daqueles que apenas leram e compreenderam o alcance de uma doutrina, que trazia à luz tudo aquilo que Jesus não pode dizer claramente em seu Evangelho. Eram todos aqueles que viam através dos olhos da alma e para eles, portanto, manifestações dos Espíritos eram apenas acessórios.

5 - DIFUSÃO DA DOUTRINA A PARTIR DAS CLASSES MAIS ESCLARECIDAS:

Por toda parte Kardec teve a oportunidade de notar que a aceitação dos conceitos espíritas partiam, em primeiro lugar, das classes mais esclarecidas ou de cultura mediana, para então alcançar grande parte do povo. Em algumas cidades os grupos de estudos eram formados quase que exclusivamente por membros dos tribunais da magistratura e do funcionalismo.

6 - NÚMERO CRESCENTE DE MÉDIUNS:

Multiplica-se o número de médiuns, principalmente os médiuns moralistas, ou seja, de forte influência moral e manifestações inteligentes; consequentemente, os médiuns de efeitos físicos tendem a diminuir. A partir desses fatos, Allan Kardec reafirmou os ensinamentos do Espírito de Verdade sobre este item: a fase inicial da curiosidade teve a sua importância, mas já passou: "vivemos um segundo período, o da filosofia", diz Kardec. O terceiro período virá com a reforma moral da Humanidade, quando ela estará adentrando a era do Espírito.

7 - OBSESSÃO:

Um dos grandes problemas que embaraçam a Doutrina Espírita é a obsessão; somente os médiuns que fizeram um estudo sistemático do Livro dos Médiuns e vivenciam a moral evangélica, é que têm condições de estarem vigilantes, diz Kardec, ao observar que alguns grupos estavam sob influência negativa e nela se compraziam por força de uma confiança cega, e por certas predisposições de ordem moral; outros levavam a desconfiança ao excesso, preferindo rejeitar o duvidoso a correr o risco de aceitar uma inverdade.

8 - MARCHA PROGRESSIVA DOS ENSINAMENTOS ESPÍRITAS:

Allan Kardec constatou uma progressão dos ensinamentos espíritas através da natureza das comunicações obtidas nos diferentes grupos espíritas, onde a fé e a caridade são mais ativas e laboriosas, através do exercício da abnegação, da humildade, da ausência de orgulho e de pensamento personalista.

Em relação ao aspecto material da prática mediúnica, Kardec frisou que há uma repulsa instintiva contra qualquer ideia de ganho material nos trabalhos espirituais.

9 - SILÊNCIO DIANTE DOS ATAQUES PESSOAIS:

No decorrer da sua viagem, Allan Kardec recebeu uma unânime aprovação em relação ao seu silêncio frente aos ataques pessoais sofridos. Com relação às críticas contra os princípios doutrinários do Espiritismo, Kardec muitas vezes respondeu diretamente, sempre que elas traziam prejuízo moral para a Doutrina.

Contudo, as críticas destrutivas muitas vezes tornaram-se de grande valia, pois faziam a ideia combatida penetrar em círculos onde jamais teria penetrado através do elogio.

10 - PROFISSÃO DE FÉ:

Embora a aceitação da Doutrina dos Espíritos, na época, ainda seja difícil, existem pessoas, segundo Kardec, que emitem corajosamente sua opinião a favor, que confessam de público suas convicções, sem o constrangimento de se dizerem espíritas. Cabe ressaltar, afirma ainda, o devotamento e o sacrifício de todos aqueles que se colocam à frente das verdadeiras ideias cristãs, pondo em risco inclusive suas vidas, ao enfrentarem ameaças e perseguições.

C - ITENS DOS DISCURSOS PRONUNCIADOS POR ALLAN KARDEC NAS GRANDES

REUNIÕES DE LYON, BORDEAUX E OUTRAS CIDADES:

1 - EM RELAÇÃO AOS ESPÍRITAS EM GERAL: Allan Kardec proferiu verdadeiras aulas de Espiritismo em seus discursos, sintetizando com seu raciocínio lógico e brilhante as categorias de espíritas em que se enquadravam seus adeptos ou simpatizantes:

- Os que creem simplesmente nas manifestações, sem, contudo apreenderem as consequências morais que elas encerram;

- Os que percebem este alcance moral, mas, por conveniência ou mero comodismo, aplicam-no aos outros;

- E existem aqueles que praticam ou se esforçam por praticar a moral da Doutrina, que nada mais é do que a MORAL EVANGÉLICA; estes, diz Kardec, são os VERDADEIROS ESPÍRITAS, CRISTÃOS EM CRISTO, porque procuram viver a máxima - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO.

2 - EM RELAÇÃO AOS MÉDIUNS: Neste tópico, Kardec refere-se a um aspecto de suma importância, ou seja, o caráter moral do Espiritismo; desde que surgiram as primeiras manifestações dos Espíritos, muitas pessoas viram nesse fato um meio de especulação para tirar proveito material da boa fé e simplicidade dos incautos. Em decorrência, os médiuns provavelmente transformar-se-iam em meros ledores de sorte, imprimindo aos princípios espíritas a mesma conotação da cartomancia e da adivinhação.

Fiel à missão que recebera do Espírito de Verdade, Allan Kardec achou necessário impedir que a Terceira Revelação fosse assim desvirtuada, cortando o mal pela raiz. Foi o que procurei fazer, demonstrando desde o princípio, a face grave e sublime dessa nova ciência, fazendo-a sair do caminho puramente experimental, para fazê-la penetrar no da filosofia e da moral, revelando a profanação que seria explorar a alma dos mortos.

Onde quer que a Codificação penetre e serve de guia, o Espiritismo é visto sob seu verdadeiro aspecto, isto é, sob um caráter exclusivamente moral. Os verdadeiros médiuns, portanto, não fazem de seus dons mediúnicos degraus para se colocarem em evidência, nem procuram a satisfação do orgulho e da vaidade; trabalham sempre em favor do próximo, exercitando constantemente a modéstia, a simplicidade e o devotamento, sem deixar de lado o estudo sistemático da Codificação Espírita.

3 - EM RELAÇÃO À DOUTRINA:

I - PROPAGAÇÃO ESPÍRITA: Das observações e impressões colhidas em suas viagens, Allan Kardec constatou que o Espiritismo apresenta-se como um fenômeno na história da Filosofia, em virtude da rapidez com que seus princípios se propagam; paradoxalmente seus adversários e contraditores contribuíram sobremaneira para que ele se expandisse com tal rapidez; por outro lado, o homem já está mais amadurecido para receber a Terceira Revelação, pois seu teor evangélico é uma necessidade, na medida em que revela a existência de um Deus amoroso e complacente, explica a razão dos sofrimentos e fortalece a fé no futuro.

II- FÉ CEGA JÁ NÃO BASTA: O progresso científico tornou o homem positivo, diz Allan Kardec em seu discurso; a fé cega, embora tenha sido necessária num certo período da Humanidade, já não basta para fortalecer sua crença. Compreender para crer tornou-se assim uma necessidade; esta compreensão, sob a luz da razão e da lógica, levam à fé raciocinada, à certeza inquestionável das verdades eternas reveladas pelos benfeitores espirituais.

III - MATERIALISMO E ESPIRITISMO: O materialismo satisfaz àqueles que se comprazem na vida material, que fogem das consequências de seus atos, no intuito de subtrair-se às suas responsabilidades. Porém, vez por outra, a ideia do nada os assusta, recorrendo então ao Espiritismo, porque este vem provar, pela experiência, o intercâmbio entre o mundo espiritual e o mundo material; deste modo, ao explicar a pluralidade das existências, a Doutrina Espírita, sob o enfoque da razão e do bom senso, satisfaz plenamente à aspiração instintiva do homem, em relação ao seu futuro.

4 - FORA DA CARIDADE NÃO HÁ SALVAÇÃO: Sob esta máxima, a Doutrina Espírita pode transformar moralmente a Humanidade preparando-a para o advento da era do Espírito.

Porém, Allan Kardec faz uma observação oportuna, em relação ao significado da palavra caridade, normalmente concebida apenas enquanto ajuda material; do ponto de vista do Espiritismo, cujos preceitos têm origem exclusivamente no Evangelho de Jesus, o conceito de caridade é mais extenso e significativo: A CARIDADE, QUANDO ALICERÇADA NO AMOR AO PRÓXIMO, NA JUSTIÇA E NA BENEVOLÊNCIA, EXPRESSA-SE EM PENSAMENTOS, PALAVRAS E ATOS.

É esta extensão da palavra caridade que leva o homem a entender a magnitude da missão de Jesus na face da Terra: O AMOR A DEUS E AO PRÓXIMO. Por isto a salvação pela caridade, salvação esta entendida como evolução espiritual, reside nesta bandeira espírita. Desse modo, a Doutrina Espírita tendo como pedra angular a CARIDADE, não tem a intenção de derrubar cultos, nem estabelecer outro; seu objetivo, enquanto revelação de verdades eternas e imutáveis é destruir o orgulho, a vaidade e o fanatismo, propiciando uma reforma moral sob o ensinamento de Jesus: "Amai o vosso próximo como a vós mesmos".


De acordo com este mandamento, a Doutrina Espírita conduzirá a Humanidade para a conquista de um mundo melhor, um mundo de regeneração, de fé racional, e não cega.

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