CARACTERÍSTICAS BÁSICAS DO ESPÍRITA: PACIÊNCIA, INDULGENCIA, FÉ, HUMILDADE, DIGNIDADE E CARIDADE.

quinta-feira, 20 de junho de 2024

14ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

Casamento, Família e Divórcio

Casamento e Família

A família é uma instituição de origem divina. Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritismo, no capitulo XXII, item 3, esclarece: “...Deus quis que as seres se unissem, não somente pelos laços carnais, mas também pelos da alma, a fim de que a mutua afeição dos esposos se estenda aos filhos, e para que sejam dois, em vez de um, a amá-los, tratá-los e fazê-los progredir...”

Nesta bela descrição do casamento, vemos como é grande a sua abrangência, pois implica no desenvolvimento da capacidade de amar, implica na expansão da afeição que existe entre os cônjuges para que este sentimento de afeto e ternura também alcance os filhos e estes possam progredir.

Emmanuel, na obra “Vida e Sexo”, traz o seguinte conceito de casamento: “O casamento ou a união permanente de dois seres, como é óbvio, implica o regime de vivência pelo qual duas criaturas se confiam uma a outra, no campo da assistência mútua. Essa união reflete as Leis Divinas que permitem seja dado um esposo para uma esposa, um companheiro para uma companheira, um coração para outro coração ou vice-versa, na criação e desenvolvimento de valores para a vida”.

Em “O Livro dos Espíritos”, na questão nº 695, encontramos: P. “O casamento, ou seja, a união permanente de dois seres é contrária à Lei da Natureza?” R. “É um progresso na marcha da Humanidade”.

Refletindo sobre as causas desse progresso, podemos constatar que quanto mais regressarmos na história, mais encontraremos, nos estados primitivos, as uniões livres que, nas palavras de Kardec em comentário a questão nº 696, pertence ao estado de natureza, e, ainda, a abolição do casamento representaria o retomo a infância da Humanidade.

O matrimônio na Terra pode ser um meio de fortalecer laços de pura afinidade espiritual, ou, em outros casos, pode ser o reencontro para o necessário reajuste.

Desse modo, por vezes, o lar é um templo para se vivenciar o amor sublimado, onde reina a compreensão, a união; outras vezes os lares são cadinhos de purificação, pelos quais por meio de provações e sofrimentos, Espíritos caminham em direção à evolução.

Há, pois, uma diversidade de situações que podem ser consideradas como determinantes das uniões conjugais. Em nosso planeta, que é um mundo de expiação e prova, podemos concluir que a grande parte das uniões matrimoniais decorre de compromissos diante da Lei de Causa e Efeito.

Nesse sentido, Emmanuel, na mesma obra acima citada, afirma: “Acontece, no entanto, que milhões de almas, detidas na evolução primária, jazem no Planeta, arraigadas a débitos escabrosos perante a lei de causa e efeito e, inclinadas que ainda são ao desequilíbrio e ao abuso...”

Mas, podemos questionar: todos os casamentos e nascimentos são programados no plano espiritual? Isto é, ninguém se casa com a pessoa errada ou tem mais ou menos filhos do que foi programado? A Doutrina Espírita ensina-nos que muitos dos nossos compromissos são definidos no plano espiritual, porém, devemos lembrar que o Espírito tem o livre arbítrio, e a partir de suas escolhas pode avançar mais rápido, ou, às vezes, desistir de alguma provação e ficar estacionado por tempo indeterminado.

Reencarnação

Sobre o casamento ha uma passagem no Evangelho de Marcos, no capitulo 12, versículos 18 a 27, em que os Saduceus, interrogam Jesus:

“Mestre, Moises deixou-nos escrito: Se alguém tiver irmão que morra deixando mulher sem filhos, tomará ele a viúva e suscitará descendência para seu irmão. Havia sete irmãos. O primeiro tomou mulher e morreu sem deixar descendência. E o mesmo sucedeu ao terceiro. E os sete não deixaram descendência. Depois de todos também a mulher morreu. Na ressurreição, quando ressuscitarem, de qual deles será a mulher? Pois que os sete a tiveram por mulher Jesus disse-lhes: ‘Não estais errados, desconhecendo tanto as Escrituras como o poder de Deus? Pois quando ressuscitarem dos mortos, nem eles se casam, nem elas se dão em casamento, mas serão como anjos nos céus. Quanto aos mortos que há de ressurgir não lestes no livro de Moisés, no trecho sobre a sarça, como Deus lhe disse: Eu sou o Deus de Abraão, o Deus de Isaac e o Deus de Jacó? Ora, ele não é Deus dos mortos, mas sim de vivos. Estais muito errados!”.

Nesta passagem vemos que os Saduceus, maliciosamente – eis que não acreditavam em ressurreição - queriam enredar Jesus com alguma palavra.

O Mestre então responde, de forma alegórica, figurada, que os mortos, quando “ressuscitarem”, serão como os “anjos nos céus”.

Jesus, como bem sabemos, numa época em que ainda não era chegada a hora, falava de forma simbólica, pois todo grande conhecimento, toda grande verdade depende de bases solidas, depende de um alicerce, de uma pedra fundamental. Esse conhecimento então, de forma clara, aberta, publica, caberia a Doutrina Espírita.

O Espiritismo então, em seu tempo, revelou-nos, a propósito, que:

- Os Espíritos não têm sexo da forma que entendemos, porque sexo depende da constituição orgânica. (LE q. 200).

- São os mesmos Espíritos que ora animam um corpo de homem, ora animam um corpo de mulher. (LE q. 201).

- Há duas espécies de família: as famílias por laços espirituais e as famílias por laços corporais. Estas; as de laços corporais, são frágeis como a própria matéria, extinguem-se com o tempo. Por outro lado, as famílias por laços espirituais são duradouras e se perpetuam no mundo dos Espíritos. (ESE, XlV item 8).

Vemos, pois, que o estudo do Espiritismo conduz-nos a observações e reflexões que nos impelem ao aprimoramento dos laços familiares, impelem-nos a tolerância, ao entendimento, a compreensão, que se obtém da vida o que se lhe da, colhe-se o material do plantio.

A consciência da realidade de nossas vidas passadas impulsiona-nos a renovação. Sendo assim, a Doutrina Espírita exerce influência salutar na vida, no destino, e na felicidade do ser humano.

E por meio da reencarnação que amigos se aproximam no mesmo lar, e também no mesmo ambiente, adversários se encontram para definitiva extinção de ódios cuja origem se encontra em alguma preexistência.

Sem a reencarnação não teríamos a oportunidade de reconciliação com aqueles a quem ofendemos ou ferimos, ou que nos ofenderam ou feriram.

Diz Emmanuel na mesma obra “Vida e Sexo”: “Os débitos contraídos por legiões de companheiros da Humanidade, portadores de entendimento verde para os temas do amor; determinam a existência de milhões de uniões supostamente infelizes, nas quais a reparação de faltas passadas confere a numerosos ajustes sexuais, sejam eles ou não acobertados pelo beneplácito das leis humanas, o aspecto de ligações francamente expiatórias, com base no sofrimento purificador. De qualquer modo, é forçoso reconhecer que não existem no mundo conjugações afetivas, sejam elas quais forem, sem raízes nos princípios cármicos, nos quais as nossas responsabilidades são esposadas em comum”.

Sem a reencarnação, como poderíamos buscar a reconciliação com almas que semearam espinhos em nosso caminho e com almas que tiveram em seu caminho pedras colocadas por nós?

Sem a reencarnação não teríamos a oportunidade de retomarmos na condição de filhos, esposos, esposas, parentes e amigos que tiveram suas vidas e seus destinos complicados pela nossa ignorância aos preceitos do evangelho. O divino Mestre disse: “Ninguém verá o reino de Deus se não nascer de novo”.

Há, assim, que haver esforço para aprimorarmos nossos relacionamentos. Na obra “Sinai Verde”, André Luiz deixa-nos diversas recomendações para a vida conjugal. Vejamos algumas:

- Não deprecie os ideais e preocupações do outro;

- Antes de observar os possíveis erros ou defeitos do outro, vale mais procurar-lhe as qualidades e dotes superiores para estimulá-los ao desenvolvimento justo;

- Não sacrifique a paz do lar com discussões e conflitos, a pretexto de honorificar essa ou aquela causa da Humanidade, porque a dignidade de qualquer causa da Humanidade começa no reduto doméstico.

- E a Doutrina Espírita diz: “Nascer, crescer; morrer, renascer ainda, progredir continuamente, tal é a lei”.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Reflita e comente: O casamento pode ser um caminho de reajuste, perante as nossas faltas em vidas anteriores.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 18 de junho de 2024

13ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

Não Vim Destruir a Lei

“Não penseis que vim revogar a Lei e os Profetas. Não revogá-los, mas dar-lhes pleno cumprimento, porque em verdade vos digo que, até que passem o céu e a terra, não será omitido nem um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado. Aquele, portanto, que violar um só desses menores mandamentos e ensinar os homens a fazerem o mesmo, será chamado o menor no Reino dos Céus. Aquele, porém, que os praticar e os ensinar esse será chamado grande no Reino dos Céus.”

“Com efeito, eu vos asseguro que se a vossa justiça não exceder a dos escribas e dos fariseus, não entrareis no Reino dos Céus.” (Mt 5;17-20).

Nesta passagem, Jesus afirma que não veio para alterar a Lei. A que lei o Mestre refere-se?

Como vimos anteriormente, na história do povo hebreu sempre houve diversos homens que tinham por missão revelar a Lei Divina. Esses homens chamados profetas, estiveram presentes em todos os tempos da saga daquele povo.

A palavra profeta, conforme definição de Kardec em “O Evangelho Segundo Espiritismo” era atribuída àqueles que eram capazes de fazer previsões. No entanto, na acepção evangélica, profeta é todo aquele que veio para transmitir as grandes verdades ao povo.

Mesmo, antes de Moisés, podemos lembrar que Abraão, o primeiro grande patriarca hebreu, nesse sentido, pode ser considerado um profeta.

Moisés, um dos mais importantes vultos do povo judaico, teve dupla atuação: não só era um grande profeta, mas também um grande legislador.

Esse é um aspecto importante que temos a destacar. Há, assim, duas partes distintas na Lei Mosaica: a Lei Divina (o decálogo) e a Lei Civil ou Disciplinar. Essa segunda parte, a Lei Civil, ha que se ressalvar, era apropriada aquela época, hoje, porém, vemos que seus dispositivos são muito rígidos e destinavam, assim, ao povo rebelde daquele momento histórico.

Após Moisés, muitos outros profetas surgiram até a chegada do Mestre. Podemos aqui, por exemplo, lembrar de alguns desses profetas, e notar que em suas pregações também orientavam espiritualmente o povo.

Vejamos:

“Purifica teu coração da maldade, Jerusalém, para que seja salva. Até quando abrigarás em teu seio os teus pensamentos culpáveis.” (Jeremias 4:14)

“Procurai Iahweh enquanto ele se deixa encontrar; invocai-o enquanto está perto. Abandone o ímpio o seu caminho, e o homem mau seus pensamentos, e volte a Iahweh, pois terá compaixão dele, ao nosso Deus, porque é rico em perdão.” (Isaias 55:6-7).

Notamos bem, nestas passagens, como suas exortações convocavam as pessoas a seguir um caminho de religiosidade e da prática das virtudes.

E por que Jesus disse que não veio para revogar a Lei? Porque o Mestre, em todos os seus ensinamentos, não veio para instituir, como Moisés, a legislação civil, esta que é transitória, isto é, modifica-se com o tempo, mas, para anunciar a Boa Nova que se referia a Lei Divina que é imutável, eterna.

Nesse sentido, todos os ensinamentos que foram anteriormente trazidos pelos antigos profetas, e que representavam a Lei Divina, não necessitavam ser alterados. Eis o motivo por que Jesus, em muitas passagens, pergunta aos fariseus, escribas ou outros que o interpelavam:

“O que está escrito na Lei?”.

Em relação ao Decálogo, por exemplo, Jesus não o revogou, mas o sintetizou em: “Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a si mesmo”.

No entanto, embora o Mestre não tenha vindo para modificar a Lei e os Profetas, ele veio sim para ampliar, para dar-lhes o verdadeiro sentido, de acordo com o adiantamento dos homens. Ainda na mesma passagem bíblica citada no inicio, Jesus afirmou: ”... até que passem o céu e a terra, não será omitido um só i, uma só vírgula da Lei, sem que tudo seja realizado".

Paulo Godoy, na obra “Crônicas Evangélicas”, ensina-nos que: “... poderemos dilatar a duração de nosso processo evolutivo, malbaratar as dádivas generosas das reencarnações sob o mesmo Céu e a mesma Terra, mas enquanto não tivermos praticado tudo aquilo que está contido nas leis morais e eternas, jamais seremos promovidos a estágios mais elevados na Espiritualidade, nas muitas moradas que existem na Casa do Pai.”

Os ensinamentos de Jesus, repetimos, representam a mais pura moral. A Doutrina dos Espíritos, assim, vem restabelecer a verdade, reviver esses preceitos na sua forma mais cristalina, que aproxima os homens e promove a prática da fraternidade.

RECONCILIAÇÃO PERANTE A LEI DIVINA

“Portanto, se estiveres para trazer a tua oferta ao altar e ali te lembrares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; e depois virás apresentar a tua oferta. Assume logo uma atitude conciliadora com teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao oficial de justiça e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o ultimo centavo.” (Mt 5:23-26)

Nesta passagem, Jesus indica qual é a oferta mais agradável a Deus: é a reconciliação com o próximo.

De acordo com as tradições e costumes religiosos dos judeus da época, era um dever religioso fazer oferendas que consistiam em sacrifícios de animais como cordeiros, pombos, ou ainda de produtos da terra. Estas práticas externas, muitas vezes desprovidas de sentimento religioso verdadeiro, foram combatidas veementemente por Jesus. Assim, temos neste ensinamento a orientação da verdadeira espiritualização, que consiste na busca da renovação interior, a qual enseja o convívio fraterno.

Podemos compreender facilmente o valor deste ensinamento. Com efeito, temos que admitir que sem o sacrifício do amor próprio, do orgulho, da magoa, do ressentimento, não pode haver verdadeira conciliação com nosso semelhante, pois, então, estaremos com o coração fechado, com a mente em desarmonia.

Para que tenhamos sentimentos mais nobres, e estejamos com os pensamentos e emoções equilibradas, precisamos esforçar-nos; e assim agindo rompemos as amarras, estabelecendo a nossa ligação com Deus. Em síntese, podemos concluir que a verdadeira ligação com Deus baseia-se em uma ligação amorosa e uma convivência fraterna com o nosso semelhante.

“Assume logo uma atitude conciliadora com o teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para não acontecer que o adversário te entregue ao juiz e o juiz ao guarda e, assim, sejas lançado na prisão. Em verdade te digo dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”. (Mt 5:25 e 26).

Neste outro trecho, além da exortação à conciliação, encontramos as consequências de uma atitude de animosidade, de má vontade para restabelecer um relacionamento que sofreu uma ruptura, uma cisão.

Esta lição é bastante oportuna, pois qual de nós já não teve momentos difíceis em algum relacionamento familiar ou de amizade?

As pessoas são; bem sabemos; diferentes uma das outras. Para que um relacionamento perdure precisamos ter tolerância com as diferenças e aceitar as pessoas como elas são. Temos que nos livrar de qualquer atitude caprichosa, ou de qualquer imposição de preferências. Há que existir respeito mútuo.

Quando ocorrem as desavenças, precisamos de um esforço ainda maior para nos superarmos e ter uma atitude verdadeiramente Cristã, condizente com os ensinamentos de Jesus.

A Doutrina Espírita ensina-nos que estamos aqui na Terra para nos aprimorarmos. Portanto, devemos aproveitar as oportunidades para aprendermos, crescermos e nos tomarmos pessoas melhores.

Esse crescimento a que estamos destinados pode ser alcançado pelo esforço pessoal em aprender, pelo esforço em deixar as más paixões e cultivar as virtudes.

Quando, porém, pelo nosso livre arbítrio, pelas nossas escolhas, desperdiçamos as oportunidades de crescimento e seguimos um caminho que seja diferente dos ensinamentos evangélicos, estaremos gerando, segundo a lei de causa e efeito, situações aflitivas para o futuro, inclusive para as próximas existências.

É que, como ensinou o Mestre, da mesma forma que tratamos o nosso semelhante, seremos tratados. Como, pois, poderíamos querer ser perdoados se não estendermos esse benefício ao nosso irmão?

A capacidade de perdoar é uma das mais belas virtudes que podemos cultivar. O perdão é libertador, pois permite que nos desvencilhemos da situação dolorosa que tenhamos vivenciado, e evita o comprometimento negativo de nossa sintonia vibratória.

Ser entregue ao juiz representa, então, sofrer os efeitos de nossas ações negativas, quando esquecemos os ensinamentos evangélicos e a Lei nos obriga a uma reparação.

Sobre o perdão, podemos trazer este trecho do “Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. X, item 15: “Perdoar aos inimigos é pedir perdão para vós mesmos; perdoar aos amigos é dar prova de amizade; perdoar as ofensas é mostrar que se melhora. Perdoai, pois, meus amigos, para que Deus vos perdoe”.

Aproveitemos, pois, todas as oportunidades que o Pai nos oferece para nos reconciliarmos com os nossos irmãos.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Reflita e comente sobre a necessidade de nos reconciliarmos com os nossos semelhantes.

Bibliografia
- A Bíblia de Jerusalém.
- Kardec, Allan – A Gênese - Ed. FEESP.
- Kardec, Allan - O Livro dos Espíritos - Ed. FEESP.
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Xavier, Francisco C./Emmanuel – Vinha de Luz.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 13 de junho de 2024

13ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

A Missão Cristã no Mundo e a Perfeição da Lei

Vós Sois o Sal da terra e a Luz do Mundo

E terminando de enumerar as suas bem-aventuranças, Jesus dirige-se aos que as ouvem e lhes diz com ênfase:

“Vós sois o sal da terra. Ora, se o sal se torna insosso, com que o salgaremos? Para nada mais serve, senão para ser lançado fora e pisado pelos homens.” (Mt 5: 13).

Jesus, em sua arte de ensinar, sempre se utilizava de exemplos simples, mas que embasavam seu ensinamento. Mas por que o sal? O sal é um mineral encontrado em toda parte do globo, em todas suas regiões, tanto na terra quanto nos mares e oceanos.

É parte fundamental da constituição de nosso corpo físico, sendo também responsável pelo nosso equilibro orgânico. Mas, independentemente de onde o encontremos ele será sempre o mesmo, ou seja, inalterável.

Ele se mantém incorruptível, pois nada o altera, nem o deteriora, ou seja, ele não assimila impurezas.

Como fala Vinicius (Pedro de Camargo), na obra “Em Busca do Mestre”: “... o sal é o condimento por excelência, usado na arte culinária para temperar alimentos. Temperar é equilibrar é harmonizar os manjares com o paladar”.

Da mesma forma, nossa vida pode ser analisada neste contexto, ou seja, de estar ou não “temperada”, equilibrada.

Quando não esta “temperada” ela se toma tediosa, as coisas ficam obscuras, sem sentido; não encontramos felicidade nas coisas do cotidiano, como estar em família, entre amigos. Não encontramos paz, nem conosco, nem com o mundo.

Temos, portanto, dificuldades de alcançar nossos objetivos, principalmente os de crescimento espiritual.

E o que dá o “sal” a nossa vida? 

Numa só palavra, temos a resposta: o Evangelho. 

A vivência do Evangelho conduz-nos ao autoconhecimento e a percepção do mundo que nos rodeia e das necessidades do outro. Esse processo permite que saiamos de nós mesmos e percebamos que a nossa presença no mundo tem um significado maior. Esse significado diz respeito também as nossas responsabilidades como seguidores do Cristo.

Na mesma obra acima citada, Vinicius acrescenta: “Esse é o papel que compete aos discípulos do Mestre na sociedade: funcionar como elemento equilibrador temperando todos os excessos. Equilíbrio é harmonia, e harmonia é felicidade.”

Aos seus discípulos, Jesus sempre apresentou essa necessidade de ser como o sal, de ser invulnerável a corrupção do mundo, de manter a essência do Evangelho, de ser o diferencial, de ser aquele que traz algo mais.

Nós também que queremos seguir o Mestre, precisamos ser esse algo mais, e buscar a integridade e, por consequência, a honestidade em nossas ações. Assim como o sal manifesta sempre as suas propriedades, o discípulo do Mestre age sempre na causa do Bem.

Para sermos elementos harmonizadores, onde estivermos, é fundamental que passemos a vivenciar o Evangelho de Jesus. Esse deve ser o nosso roteiro para que possamos fazer-nos úteis e assim cumprirmos a nossa missão na terra.

VÓS SOIS A LUZ DO MUNDO

“Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade situada sobre um monte. Nem se acende uma lâmpada e se coloca debaixo do alqueire, mas do candelabro, e assim ela brilha para todos os que estão na casa. Brilhe do mesmo modo a vossa luz diante dos homens, para que, vendo as vossas boas obras, eles glorifiquem o vosso Pai que esta nos céus.” (Mt 5: 14-16).

A “luz” é uma palavra que tem forte simbolismo. Em seu significado literal ela significa à fonte de energia que leva claridade a escuridão. Em nosso mundo, quando o analisamos, podemos ver, em geral, todas as coisas sobre dois aspectos, ou seja, os extremos opostos de uma dada circunstância. Assim, a luz, em seu significado físico, tem como contraponto a obscuridade.

Por outro lado, em seu simbolismo, ela tem uma riqueza de significados. Jesus, na passagem acima, refere-se à luz para conceituar a potencialidade do Espírito, que quando adquire o conhecimento e o coloca em prática, assemelha-se a uma “lâmpada sobre o candelabro”, ou seja, ilumina, esclarece e revela as verdades espirituais a aqueles que ainda se encontram nas sombras.

Esse, a propósito, é um processo natural: o do aprendizado constante. À medida que o ser avança em sua jornada evolutiva vai, naturalmente, buscando a luz do esclarecimento e da razão. Como diz Kardec em “O Evangelho Segundo o Espiritism0”, cap. XXIV item 4 “Acontece com os homens, em geral, o mesmo que com os indivíduos. As gerações passam também pela infância, pela juventude e pela madureza. Cada coisa deve vir a seu tempo, pois a sementeira lançada à terra, fora de tempo, não produz.”

Não obstante seja um processo natural, não podemos esquecer que o Espírito usa o seu livre arbítrio para fazer suas escolhas, podendo elas serem sábias e, então, conduzirem a bons resultados, ou, ao contrário, se for sem discernimento e sem uso do bom senso, levar ao sofrimento. Desta forma, sempre depende de nós a busca do conhecimento e a iniciativa de acelerar o nosso crescimento espiritual.

Nessa preciosa passagem do Evangelho que ora analisamos, o Mestre ensina que não devemos “colocar a lâmpada debaixo do alqueire”. É importante lembrar aqui que em várias outras traduções da Bíblia, a palavra utilizada para lâmpada é “candeia”. Qual o significado desse trecho?

Aqui a palavra “alqueire” não é a nossa unidade de medida de superfície agrária, mas, antiga vasilha de metal para medir produtos secos (trigo, arroz, etc.).

Assim temos, em outras palavras, que a lâmpada não foi feita para ser colocada embaixo de uma vasilha fechada, mas para ser colocada bem no alto, onde possa iluminar; Clarear, revelar o ambiente, para que todos possam vê-la.

O Evangelho é, pois, a Luz que ilumina o mundo!

Os ensinamentos de Jesus trazem a revelação das verdades espirituais, extinguindo as trevas decorrentes da ignorância e do egoísmo, e permite o avanço da humanidade.

Essa luz significa, ainda, a ação do ser que despertou para a verdade, e na sua vivência passa a brilhar, beneficiando a si e a seus semelhantes. Esse brilhar implica também em propagar a mensagem Cristã para toda a humanidade.

Jesus, com esse fim, convidou todos os seus discípulos a divulgarem a mensagem evangélica a todos os povos, para que levassem a luz, através do seu brilho próprio, de forma incondicional, a quem os escutasse.

Meditando sobre isso, notamos que em muitas épocas e ainda hoje, muitas vezes a luz foi ocultada. Como isso ocorre? Analisando a questão, podemos identificar várias situações que implicam em ocultar a luz; vejamos algumas:

- O egoísmo, que é a principal chaga da humanidade e conduz o Ser a ignorar seu semelhante;

- A dominação política, que leva um pequeno grupo a esconder conhecimento da maioria para poder subjugá-la;

- A imposição de crença religiosa que estabelece uma verdade como absoluta a todos os fiéis, que os impede de exercer a fé raciocinada;

- A ignorância, quando o Ser tem acesso a Verdade, mas por não ter maturidade, não compreende o seu real significado e alcance.

Emmanuel, na obra “Fonte Viva”, lição 81, ensina: “Atentemos para o símbolo da candeia. A claridade na lâmpada consome força ou combustível. Sem o sacrifício da energia ou do óleo não ha luz. Para nós, aqui, o material de manutenção é a possibilidade, o recurso, a vida. Nossa existência é a candeia viva. É um erro lamentável, despender nossas forças, sem proveito para ninguém, sob a medida de nosso egoísmo, de nossa vaidade ou de nossa limitação pessoal”.

Tem o mesmo significado a imagem da cidade situada sobre o monte que não pode ser escondida. Uma cidade, pela sua dimensão e pela movimentação, não pode, obviamente, permanecer oculta, pois é totalmente visível, especialmente por estar nas alturas de um monte.

Assim também podemos representar o Evangelho de Jesus que, pelos seus valores morais elevados, representa uma Luz grandiosa e resplandecente que dividiu a história e transformou a humanidade.

A revelação de Jesus, a sua mensagem de Amor, abriu caminhos para o advento da Doutrina Espírita – A Terceira Revelação – que nos traz esclarecimentos e o restabelecimento da Doutrina do Cristo.

Em síntese, encontramos no “Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. XXIV, item 7: “O Espiritismo vem atualmente lançar a sua luz sobre uma porção de pontos obscuros, mas não o faz, inconsideradamente.

Os Espíritos procedem, nas suas instruções, com admirável prudência. É sucessiva e gradualmente que eles têm abordado as diversas partes já conhecidas da Doutrina, e é assim que as demais partes serão reveladas no futuro, à medida que chegue o momento de fazê-las sair da obscuridade.”

QUESTÃO REFLEXIVA:

Como, em nosso dia-a-dia, podemos ser o “sal da terra” e a “luz do mundo”?

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 11 de junho de 2024

12ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

Quando Vos Insultarem

“Bem aventurados sois, quando vos injuriarem e vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal contra vós por causa de mim. Alegrai-vos e regozijai-vos, porque será grande a vossa recompensa nos céus, pois foi assim que perseguiram os profetas, que vieram antes de vós”. (Mt 5:11-12)

Há a Lei dos homens que julga, condena ou absolve, dentro dos padrões de moralidade e intelectualidade de cada época do desenvolvimento humano. Essa Lei é ainda imperfeita e por vezes, ao nos sentirmos injustiçados ou insultados, desanimamos e sofremos nos tornamos descrentes e frios perante a vida. Porém, essas situações têm sempre alguma coisa a nos ensinar, buscando nos tomar mais justos, a não humilhar ou injuriar alguém e a não julgar ninguém pelo comportamento inadequado ou constrangedor, pois não conhecemos as circunstancias; as motivações e as dores que movem as pessoas.

Em “O Livro dos Espíritos”, Q. 937, encontramos: “As decepções provocadas pela ingratidão e pela fragilidade dos laços da amizade não são, também, para o homem de coração, uma fonte de amarguras?”

R. “Sim; mas, já vos ensinamos a lastimar os ingratos e os amigos infiéis, que serão mais infelizes do que vós. A ingratidão é filha do egoísmo e o egoísta encontrara mais tarde corações insensíveis como ele próprio o foi. Pensai em todos os que fizeram maior bem do que vós, que valiam mais do que vós e no entanto foram pagos com a ingratidão. Pensai que o próprio Jesus, quando na Terra foi injuriado e desprezado, tratado de patife e impostor e não vos admireis de que o mesmo vos aconteça. Que o bem que fizestes seja a vossa recompensa neste mundo e não vos importeis com o que dizem os beneficiados”

E na Q. 938: ”As decepções causadas pela ingratidão não podem endurecer o coração e torná-lo insensível?”

R. “Seria um erro pensar assim, porque o homem de coração, como dizes, será sempre feliz pelo bem que praticar. Ele sabe que, se não o reconhecerem nesta vida, na outra o farão, e o ingrato sentirá então remorso e vergonha”.

Mesmo quando compreendemos que as decepções, insultos, injúrias, violências verbais, psicológicas e físicas fazem ainda parte da realidade do nosso planeta, é difícil não sofrer nessas situações, pois é inerente ao ser humano o desejo de amar e ser amado, acolhido e valorizado.

Não há pior escolha do que nos isolarmos em nosso sofrimento, nos tomarmos insensíveis, distantes ou amargos, pois a vida perde o sentido se não convivemos uns com os outros, trocando experiências, amor e dores também.

E nessa convivência por vezes tão dolorida que aprendemos a nos relacionar uns com os outros e a transformar sentimentos mesquinhos em amor, mas durante esse processo, muitas vezes esquecemos da brandura e da fraternidade, deixamos de nos respeitar mutuamente e criamos situações dentro e fora do nosso lar, que farão nos sentir injustiçados, insultados e perseguidos.

Jesus chamou a nossa atenção para isso, quando disse que percebemos com mais facilidade um pequeno cisco no olho do nosso irmão do que uma trave no nosso próprio olho, ou seja, que os nossos enganos são quase sempre maiores e mais graves do que os daqueles que condenamos.

Nossa memória é curta e esquecemos facilmente as ocasiões em que não controlamos nossos pensamentos e palavras e agimos do mesmo modo com os outros. Quantas vezes fomos tolerados, compreendidos e perdoados? Experimentemos analisar uma situação na qual estejamos nos sentindo injuriados e recordemos em quantas situações semelhantes já pensamos, nos expressamos e agimos da mesma forma...

Jesus também nos disse que é fácil amar aqueles que nos amam, ser amoroso com quem nos agrada, mas aceitar e amar aqueles que nos afrontam e ofendem, exige de nos um equilíbrio interior apoiado na compreensão e tolerância, uma atitude de humildade e o exercício real do desapego.

Como agir perante ingratidões, insultos e injúrias?

Quando conseguimos analisar as situações com serenidade, somos capazes de enxergar que aquele que nos insultou ou injuriou, o fez por ignorância ou em relação a um determinado comportamento nosso. Por vezes, trata-se de um companheiro enfermo do corpo ou da alma ou que esteja atravessando um momento infeliz - portanto, temos condições de compreender seu desequilíbrio e não podemos permitir que a mágoa e o ressentimento se instalem em nos, nos acorrentando a aquela pessoa ou situação, nos envenenando e nos causando mais sofrimento.

Lembremos que emoções como a cólera, o ódio, o desejo de vingança são forças negativas que prejudicam o nosso equilíbrio físico e mental, interferindo em nossas atividades diárias e que podem até nos levar a sérios desajustes orgânicos e espirituais.

A verdadeira caridade consiste em não nos fixarmos nas imperfeições alheias, mas em procurar nas pessoas o que há de bom e positivo. Todos, sem exceção, temos no nosso intimo, as sementes de bons sentimentos e muitas qualidades positivas.

É preciso aprender a aproveitar sempre aquilo que nos seja útil e construtivo numa situação dolorosa e jamais perder as oportunidades de desfazer incompreensões, criando entendimento por onde passarmos, tornando menos difícil a nossa vida e a dos que caminham conosco.

O mundo ensina-nos a revidar sempre, mas Jesus nos mostra com o exemplo de sua vida, o perdão a todos, infinitamente.

Deus aceita-nos como somos, é infinitamente paciente para com as nossas imperfeições, jamais nos cobra por aquilo que ainda não temos condições de entender e ainda assim nos oferece sempre a oportunidade de corrigir nossos enganos, de nos aprimorarmos espiritualmente e de servir segundo a nossa capacidade.

É, portanto, dever do nosso coração, cultivarmos o amor espelhando-nos em Jesus, buscando compreender as situações que nos ferem e a nossa participação nelas, aceitando os companheiros difíceis como eles são e perdoando sempre, para que nossa vida se transforme em luz ainda no plano terreno, antecipando as alegrias futuras que teremos no Plano Maior.

Emmanuel, no livro “Refúgio”, na bela mensagem “Humildade do Coração”, nos deixa palavras de estímulo e reflexão: [...] “O Mestre recordava-nos, no capítulo das bem-aventuranças, que é preciso trazer a mente descerrada à luz da vida para que a sabedoria e o amor encontrem seguro aconchego em nossa alma. [...]

Cada companheiro da estrada é campo a que podemos arrojar as sementes abençoadas da renovação. Cada dar é uma bênção para os que prosseguem acordados no conhecimento edificante. “Cada hora na marcha pode converter-se em plantação de beleza e alegria, se caminhamos obedecendo aos imperativos do trabalho constante no infinito Bem.”

QUESTÃO REFLEXIVA:

Como lidamos com ato de ingratidão, insulto ou injúria, a que todos estamos sujeitos em nosso mundo?

Bibliografia

- A Bíblia de Jerusalém.
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Kardec, Allan - O Livro dos Espíritos - Ed. FEESP.
- Xavier, Francisco C./Emmanuel – Religião dos Espíritos.
- Xavier, Francisco C./Emmanuel – Refúgio.

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

quinta-feira, 6 de junho de 2024

12ª Aula Parte A – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

Bem-Aventurados os Pacíficos

Os Pacíficos

“Bem aventurados os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus” (Mt 5:9)

A palavra “pacificare” vem do latim e é composta por duas palavras: pax (paz) e facere (fazer), ou seja, pacificador é aquele que “faz ou promove a paz”. Pacífico se origina da mesma palavra.

Pacífico significa ter conquistado a paz dentro de si mesmo, mas ainda é um estado passivo de paz, uma atitude de não violência perante si mesmo e o mundo.

Pacificador significa ter conquistado a paz dentro de si mesmo, mas possuir também a capacidade e o dinamismo interior para transformar uma situação não pacifica e estabelecer ou restabelecer ativamente a serenidade necessária.

Uma pessoa pode ser pacífica e não ser pacificadora, mas jamais será uma pacificadora se não tiver antes pacificado a si mesma. E preciso notar também a diferença entre uma pessoa verdadeiramente pacífica e uma pessoa aparentemente pacífica, apenas contida; esta, em algum momento, mostrara sua real natureza e “perderá a paciência” (a atitude pacífica e tolerante), por exemplo, expondo o conflito interior que ainda a domina. Não perdemos o que não temos, nem exteriorizamos realmente o que não somos. E fácil pedir ou falar de paz, mas não é fácil vivê-la.

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, Cap. IX, item 7, Instruções dos Espíritos, encontramos: “Sede pacientes, pois a paciência é também caridade, e deveis praticar a lei de caridade, ensinada pelo Cristo, enviado de Deus. A caridade que consiste em dar esmolas aos pobres é a mais fácil de todas. Mas há a uma bem mais penosa e consequentemente bem mais meritória, que é a de perdoar os que Deus colocou em nosso caminho, para serem instrumentos de nossos sofrimentos e submeterem a prova a nossa paciência. Sede, pois, pacientes, sede cristãos: esta palavra resume tudo.”

A maior das batalhas que um ser humano pode enfrentar é o confronto consigo mesmo, a identificação e o enfrentamento de suas limitações, a necessidade de desenvolvimento das qualidades espirituais. Se não existissem conflitos interiores dentro de cada um de nós, também não existiriam os conflitos exteriores, alguns que parecem intransponíveis, na família, na sociedade, entre as nações. 

Sem paz, a nossa inquietação e desconforto interior manifestam-se em atitudes grosseiras e impacientes, gerando mais conflitos e instabilidade ao nosso redor. Somos até capazes de conviver sem grandes confrontos, mas se ainda houver desarmonia dentro do nosso coração, o equilíbrio dificilmente será conquistado assim como a paz interior.

No Sermão do Cenáculo, quando Jesus fala ao coração de seus discípulos e diz (Jo 14:27): “Deixo-vos a paz, minha paz vos dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se perturbe nem se intimide vosso coração”, qual o significado de suas palavras? Essa era a paz interior, plena de alegria e esperança no futuro, sólida e conquistada por esforço próprio e não a paz instável e ilusória que o mundo material oferece. A paz do Mestre é apresentada ao mundo sem temor algum.

Quem é realmente um pacificador, um promotor da paz?

É aquele que transformou o “homem velho” que tinha dentro de si, arraigado aos costumes e crenças, dogmas e imperfeições do passado no “homem novo”, de mente e coração abertos ao autoconhecimento e ao crescimento espiritual. É o Homem que Vive no mundo, mas sem apego as ilusões que ele oferece.

A paz interior promove um estado de alegria e bem-estar que se exterioriza em paciência, tolerância, compreensão e respeito por si mesmo e por todos os seres. Para aquele que a tem em si, já faz parte de sua natureza ser bom e desapegado, partilhar bens e experiências e servir com amor e humildade, como Jesus ensinou, depois de lavar os pés dos discípulos, ao dizer (Jo 13:16): “o servo não é maior do que o seu senhor nem o enviado maior do que quem o enviou”.

Quem tem a paz em si mesmo, irradia imperceptível e continuamente esse estado de alma e envolve a tudo e a todos, gerando um ambiente de bem-estar e harmonia, contagiando as pessoas ao seu redor e multiplicando a paz na família, na sociedade e no mundo.

OS PERSEGUIDOS POR CAUSA DA JUSTIÇA

“Bem aventurados os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reina dos Céus.” (Mt 5:10).

Nesta bem-aventurança, Jesus mostra a transitoriedade da injustiça na Terra e a recompensa futura que aguarda os injustiçados.

O Homem justo é aquele que já compreendeu no seu intimo a Lei Divina e já põe em prática o amor e a caridade para consigo mesmo e para com o seu próximo. Parece impossível acreditar que alguém sofra perseguição por ser bom e praticar o bem, mas a história da Humanidade esta repleta de relatos que comprovam esses fatos.

O Homem bom incomoda aqueles que não praticam o bem, é como se os censurasse, o que os faz sentirem-se inferiores e inseguros, feridos, agredidos. O Homem bom muitas vezes acende em outros o desejo de ser igualmente bom, mas inúmeras vezes é submetido a perseguições provocadas pelo despeito, pela inveja e pela antipatia.

No “Livro dos Espíritos” em seus diálogos com os Espíritos da Codificação, Kardec faz todo um estudo sobre o tema. Façamos uma rápida reflexão: O que é justiça?

Em “O Livro dos Espíritos”, Q. 875 e 875a, encontramos o seguinte diálogo entre Kardec e os Espíritos:

“Como se pode definir a justiça?” “A justiça consiste no respeito aos direitos de cada um”.

“O que determina esses direitos?” “São determinados por duas coisas: a lei humana e a lei natural. Como os homens fizeram leis apropriadas aos seus costumes e ao seu caráter, essas leis estabeleceram direitos que podem variar com o progresso. Vede se hoje as vossas leis, sem serem perfeitas, consagram os mesmos direitos que os da Idade Média. Esses direitos superados, que vos parecem monstruosos, pareciam justos e naturais naquela época. O direito dos homens, portanto, nem sempre é conforme a justiça. Só regula algumas relações sociais, enquanto na vida privada ha uma infinidade de atos que são de competência exclusiva do tribunal da consciência”.

Q. 873: “O sentimento da justiça é natural ou é resultado de ideias adquiridas?" “É de tal modo natural, que vos revoltais ao pensamento de uma injustiça. O progresso moral desenvolve sem duvida esse sentimento, mas não o dá; Deus o pôs no coração do homem. Eis porque encontrais frequentemente, entre os homens simples e primitivos, noções mais exatas de justiça do que entre pessoas de muito saber”.

JUSTIÇA DIVINA OU NATURAL

Q. 803: “Todos os homens são iguais perante Deus?”

"Sim, todos tendem para o mesmo fim e Deus fez as suas leis para todos. Dizeis frequentemente: ‘O Sol brilha para todos ’, e com isso dizeis uma verdade maior e mais geral do que pensais.” Todos os homens estão submetidos às mesmas leis naturais; todos nascem com a mesma fragilidade, estão sujeitos às mesmas dores e o corpo do rico se destrói como o do pobre. “Deus não concedeu, portanto, superioridade natural a nenhum homem, nem pelo nascimento, nem pela morte; todos são iguais diante dele”.

Q. 876: “Fora do direito consagrado pela lei humana, qual a base da justiça fundada sobre a lei natural?”

“O Cristo vos disse' ‘Querer para os outros o que quereis para vos mesmos’.”

A Lei Divina ou Natural é, portanto, eterna como o Pai e perfeita, o que a torna imutável e absolutamente justa.

LEI HUMANA

Q. 874: “Se a justiça é uma lei da natural, como se explica que os homens a entendam de maneiras tão diferentes, que um considere justo o que a outro parece injusto?"

“É que em geral se misturam paixões ao julgamento, alterando esse sentimento, como acontece com a maioria dos outros sentimentos naturais, e fazendo ver as coisas sob um falso ponto de vista”.

A lei do “olho por olho, dente por dente” estava entre as primeiras a serem instituídas e, embora, ainda hoje, esteja presente entre nós, a Lei Humana passa por constantes ajustes.

Aos poucos, à medida que cresce a evolução moral dos homens, a Lei Humana vai se aprimorando, aproximando-se lentamente da Lei Divina, como a conquista dos direitos humanos fundamentais, que vem acontecendo nos últimos séculos.

Justiça Natural aplicada a Lei Humana e ao comportamento individual tendemos a pensar que os perseguidores dos homens justos e bons são os homens maus, mal-intencionados, o que é verdadeiro em muitas situações; no entanto, ao longo da História percebemos que terríveis injustiças foram praticadas por homens que acreditavam estar defendendo causas justas, cumprindo o seu dever e fazendo um bem a sociedade ou a comunidade, como por exemplo, as perseguições de Saulo (Paulo de Tarso) aos cristãos, as cruzadas, as guerras Santas.

Entretanto, muitos dos perseguidos por causa da justiça, são Espíritos que nos trazem grandes lições pela forma que enfrentam essas situações, transformando-as em aprendizados para o bem comum.

Podemos lembrar, entre uma infinidade de exemplos, Sócrates, condenado injustamente a beber veneno, por ensinar a juventude a pensar; Estevão, o primeiro mártir do Cristianismo nascente, morto a pedradas; Gandhi e Martin Luther King, assassinados por lutar pela paz e a igualdade; Kardec, acusado de usar indevidamente a arrecadação da Sociedade Espírita de Paris e atacado por sua firmeza na divulgação da Doutrina dos Espíritos.

Q. 879: “Qual seria o caráter do homem que praticasse a justiça em toda a sua pureza?”

“O verdadeiro justo, a exemplo de Jesus; porque praticaria também o amor ao próximo e a caridade, sem os quais não há verdadeira justiça”.

Q. 886: “Qual o verdadeiro sentido da palavra “caridade como a entende Jesus?”

“Benevolência para com todos, indulgência para com as imperfeições alheias, perdão das ofensas”.

E Kardec comenta: “O amor e a caridade são o complemento da lei de justiça, porque amar o próximo é fazer-lhe todo o bem possível, que desejaríamos que nos fosse feito”. Tal é o sentido das palavras de Jesus: “Amai-vos uns aos outros, como irmãos.”

“A caridade, segundo Jesus, não se restringe a esmola, mas abrange todas as relações com os nossos semelhantes, quer se tratem de nossos inferiores, iguais ou superiores. Ela nos manda ser indulgentes porque temos necessidade de indulgência e nos proíbe humilhar o infortúnio, ao contrario do que comumente se pratica.”

Diz Emmanuel, no livro “Religião dos Espíritos”, na mensagem “Justiça e Amor”: “Não permitas que a justiça de tua alma caminhe sem amor para que se não converta em garra de violência. [...] Ora e auxilia em silêncio, porque não sabes se amanhã raiará teu instante de abatimento e de angústia, e manda a regra divina façamos ao outro aquilo que desejamos nos seja feito. Justiça sem amor é como terra sem água”.

QUESTÃO REFLEXIVA:

Reflita e comente: “Querer para os outros o que queremos para nós mesmos.”

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.
 

terça-feira, 4 de junho de 2024

11ª Aula Parte B – CURSO APRENDIZES DO EVANGELHO 1º ANO – FEESP

Bem-Aventurados os Misericordiosos

“Bem-Aventurados os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.” (Mt 5:7)

Dentre as grandes virtudes, a misericórdia está entre as mais belas, pois é a alta expressão da caridade e da compaixão pelo sofrimento do próximo.

Na obra “O Evangelho dos Humildes”, de Eliseu Rigonatti, encontramos a seguinte definição: “Misericordioso é aquele que se compadece da miséria alheia. Ser misericordioso é sentir o coração pulsar de piedade para com os irmãos tocados pela necessidade e pelo sofrimento; é ser compassivo, amigo, tolerante”.

A misericórdia é o sentimento de condolência com a desventura alheia. É um sentimento das almas caridosas, pois estas podem sentir a dor de seu semelhante e se compadecer mais do que se fosse sua própria dor.

A misericórdia e a mansuetude caminham juntas, pois a brandura promove a serenidade, a sensibilidade, para podermos sentir a amargura do outro, possibilitando o sentimento de compaixão.

Esse sentimento permite o esquecimento das ofensas. Eis o caminho para o verdadeiro cristão: o perdão de toda e qualquer ofensa! “Pois, se perdoardes aos homens os seus débitos, também o vosso Pai celestes vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos. (Mt 6:14-15)

Jesus exemplificou em todas as circunstâncias que vivenciou. E ensinou que precisamos:

- Perdoar todas às vezes, tantas vezes quantas forem às agressões que nos forem dirigidas;

- Demonstrar a nosso semelhante à docilidade e a humildade de coração;

- Fazer aos outros o que desejamos que o Pai celeste faça por nós.

E, a propósito, não é exatamente o que nós pedimos na oração do Pai Nosso “... perdoa nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores..." Ou seja, nós pedimos, não simplesmente, perdoa nossas dívidas, mas, expressamente: “assim como nós perdoamos aos nossos devedores”.

Que nós, portanto, não nos esqueçamos de que a medida e proporção que aplicarmos será a nós aplicadas. Mas, conscientes dessa verdade, por que, em certas situações, ainda sentimos dificuldade em perdoar?

Muitas vezes, o que nos impede de agir virtuosamente, com misericórdia, é a aplicação de um certo senso de justiça, resultante de uma avaliação, um julgamento que fazemos do comportamento de nosso semelhante, considerando que esta ou aquela conduta seja reprovável.

Ocorre, no entanto, que quando fazemos isso, quase sempre erramos. No Evangelho Segundo o Espiritismo, cap. X, item 16, encontramos a seguinte lição: "Sede, pois, severos convosco e indulgentes para com os outros. Pensai naquele que julga em última instância, que vê os secretos pensamentos de cada coração, e que, em consequência, desculpa frequentemente as faltas que condenais, ou condena as que desculpais, porque conhece o móvel de todas as ações”.

Como poderíamos, pois, saber quais as reais intenções de nosso próximo? Apenas pela análise dos fatos externos? Lembremos que para Deus, como alerta constantemente o Livro dos Espíritos: “O fato não é nada, a intenção é tudo”.

Por acaso, seríamos nós capazes de saber todas as intenções de nossos semelhantes? Seríamos nós capazes de saber quais são seus sentimentos? Seríamos capazes de saber quais são suas aflições? E, principalmente, seríamos capazes de saber qual é a sua capacidade de compreensão?

Outras vezes, podemos achar que algumas ofensas são muito graves, e, por isso, inaceitáveis. No entanto, bem sabemos, que quanto maior for a agressividade, quanto maior for o comportamento ofensivo de alguém, é porque desconhece a Lei Divina, desconhece a mensagem redentora do Mestre, desconhece as grandes verdades que elevam o Ser.

E, como advertiu o Cristo, de quem mais recebeu, mais será cobrado. Esse “receber” é, neste caso, justamente, ter tido a oportunidade de ouvir a “Boa Nova”.

Devemos sempre lembrar ainda que, sendo os atos de caridade meritórios, tanto maior será o mérito quanto maior tiver sido a ofensa, assim como quanto maior for o esforço e sacrifício que empenharmos em agir com misericórdia. Essa bela virtude – a misericórdia - eleva-nos; aproxima-nos de Jesus.

Na obra “Libertação pelo Amor”, mensagem n° 9, Joanna de Angelis, discorrendo sobre o perdão, exorta: “Perdoa todo tipo de ofensa e de ofensores, de difamadores, de sequazes do mal...” “Quem teme tempestades morais não consegue fortalecer-se para as lutas do progresso espiritual.” “O teu adversário é também a tua chance de superação de melindres, de paixões egóicas, das pequenezes que assinalam a existências.”

Esse é o caminho para nos tornarmos verdadeiros discípulos de Jesus.

BEM-AVENTURADOS OS PUROS DE CORAÇÃO

“Bem-aventurados os puros de coração, porque verão a Deus.” (Mt 5:8).

Em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”, cap. VIII, item 3, diz Kardec que: “A pureza de coração é inseparável da simplicidade e da humildade. Exclui todo pensamento de egoísmo e de orgulho. Eis porque Jesus toma a infância como símbolo dessa pureza, como já a tomara por símbolo da humildade.”

A criança, quase em todas as culturas, é reconhecida como símbolo de pureza.

E embora saibamos, pela Doutrina Espírita, que o Espírito da criança já teve outras existências, e pode ser muito antigo, vemos que, ao renascer, ela não se apresenta como é, pois tudo é sábio nas Leis de Deus.

A criança quando reencarna, independentemente de suas tendências, nasce num estado de inocência, de doçura, o que a faz estar receptiva ao aprendizado, e ainda desperta o carinho dos pais para dar- lhe toda a atenção.

Essa condição de receptividade é que possibilita a esse Espírito reencarnante a oportunidade de novo aprendizado e superação das más tendências. Por isso, disse ainda Jesus: “Em verdade vos digo que todo aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele.” (Mc 10: 15).

O enfoque é desse modo, em relação à condição ideal de receptividade, de disposição para receber o conhecimento sem resistências viciosas.

De fato, quando ficamos adultos, muitas vezes podemos ficar impermeáveis ao ensinamento, ou seja, ficar fechados para novo aprendizado.

Isso seria ótimo se o conhecimento fosse estático, mas, ao contrario, o conhecimento é dinâmico, e, com exceção das grandes verdades, sempre é preciso atualizar-se para não haver ultrapassado.

Mas muitos adultos, repisamos, apresentam grandes resistências, alguns chegam à ira, realmente furiosos com novos conceitos, com novas verdades trazidas a humanidade.

Não vimos em todos os tempos os grupos que se levantaram contra aqueles que traziam novas verdades?

Jesus não foi recebido com hostilidade por muitos que não queriam que a luz a todos alcançasse?

Podemos, então, em síntese, assinalar a seguinte grande diferença entre crianças e adultos:

- As crianças recebem o ensinamento diretamente, sem barreiras, pois elas, quando em tenra idade, não carregam crenças falsas e preconceitos.

- Os adultos, ao contrário, como geralmente possuem muitas crenças falsas, preconceitos, superstições, convícios ideológicas, partidária ou religiosa, etc., para ensiná-los é preciso dar dois passos: o primeiro é provar a inconsistência de uma crença equivocada, de um sistema errado, de um dogma que já se tornou popular, para, depois de vencidas essas barreiras, essas resistências, passar então ao segundo passo que é ministrar o conhecimento.

O oposto da pureza é a malícia, a maquinação, a esperteza, a corrupção, a vaidade, o orgulho.

Pessoas assim são as que mais sofrem, pois sofrem duplamente: primeiro sofrem por uma condição qualquer de aflição a que todos estão sujeitos; e segundo sofrem por terem o amor próprio ferido quase por qualquer coisa.

Quem é orgulhoso, geralmente, acha que sabe tudo, acha que a sua opinião que é a correta, que é a mais importante e, se possível, sempre quer dar a ultima palavra.

O orgulhoso está assim, de certa forma, fechado para o conhecimento, esta numa posição de estagnação, por vontade própria. Mas a lição é bem clara e nos convida a receber o Reino de Deus como uma criança, ou seja, integralmente, sem restrições, sem objeções, sem adaptações.

Sejamos, então, simbolicamente falando, como crianças: tenhamos o coração puro, sempre disposto a aprender, dispostos a rever conceitos, dispostos a rever nossas atitudes, disposto a buscar entendimento cada vez mais sublime do Evangelho, a buscar o caminho que mais nos aproxime do Mestre Maior.

QUESTÃO REFLEXIVA:

O que significa ter o coração puro em nossas ações do cotidiano?

Bibliografia

- A Bíblia de Jerusalém.
- Kardec, Allan - O Evangelho Segundo o Espiritismo - Ed. FEESP.
- Franco, Divaldo/Joanna de Angelis – Libertação pelo Amor
- Godoy, Paulo Alves – Os Quatro Sermões de Jesus
- Rigonatti, Eliseu – O Evangelho dos Humildes

A imagem acima é meramente ilustrativa. Fonte: Internet Google.